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Poesia de José Paulo Paes, Manuais, Projetos, Pesquisas de Poesia

Poesia de José Paulo Paes. Dissertação apresentada ao Curso de Pós-. Graduação em Letras, área de concentração em Literatura Brasileira, do Setor de Ciên-.

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

PorDoSol
PorDoSol 🇧🇷

4.5

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MARCELO CORRÊA SANDMANN
Poesia de José Paulo Paes
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
Graduação em Letras, área de concentração
em Literatura Brasileira, do Setor de Ciên-
cias Humanas, Letras e Artes da Universi-
dade Federal do Paraná, para a obtenção do
grau de Mestre em Letras.
Orientador: Prof. Dr. Édison José da Costa
CURITIBA
1992
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MARCELO CORRÊA S A N D M A N N

Poesia de José Paulo Paes

DissertaçãoGraduação em Letras, área de concentração apresentada ao Curso de Pós- emcias LiteraturaHumanas, Brasileira, do Setor de Letras e Artes da Universi- Ciên- dade Federal do Paraná, para a obtenção dograu de Mestre em Letras.

Orientador: Prof. Dr. Édison José da Costa

C U R I T I B A 1 9 9 2

A S ¿ Z v ¿ a. A me.u-6 pa^ii.

A todo¿ oò me.u¿ am¿go¿.

i i

R esum o

0 p r e s e n t e e s t u d o a b o r d a o d e s e n v o l v i m e n t o d a o b r a p o é - t i c a d o e s c r i t o r b r a s i l e i r o J o s é P a u l o P a e s d e s d e a s u a e s t r é i a , no a n o d e 1 9 4 7 , a t é m o m e n t o m a i s r e c e n t e , e s p e c i f i c a m e n t e o a n o d e 1 9 8 6 , d a t a d a p u b l i c a ç a o d e Um p o r t o d o s , r e u n i ã o d e t o d a a sua- p o e s i a p u b l i c a d a em l i v r o a t é e n t a o. S a o ao t o d o 8 o s t r a - b a l h o s a l c o n t i d o s : 0 a l u n o ( 1 9 4 7 ) , Cúmp 1 i c e s ( 1 9 5 1 ) , N o v a s c a r - t a s c h i l e n a s ( 1 9 5 3 ) , E p i g r a m a s ( 1 9 5 8 ) , A n a t o m i a s ( 1 9 6 7 ) , M e i a p a l a v r a ( 1 9 7 3 ) , R e s i d u o ( 1 9 8 0 ) e C a l e n d á r i o p e r p l e x o , ( 1 9 8 3 ). Num p r i m e i r o c a p i t u l o , , é t r a ç a d o , um p a n o r a m a d a p o e s i a b r a s i l e i r a n o s s e u s p r i n c i p a i s m o m e n t o s d e s d e r o. M o d e r n i s m o d e 2 2 a t é a d é c a d a d e 8 0. A s e g u i r , num s e g u n d _^ o c a p i t u l o , o e s t u d o f o c a com d e t a l h e c a d a um d o s l i v r o s d e P a e s c o n t i d o s , na c i t a d a r e u n i ã o , t e n d o - s e s e m p r e c o m o p a n o d e f u n d o o c o n t e x t o p o é t i c o e h i s t é r i c o - c u l t u r a l c o n t e m p o r â n e o a d a t a d e p u b l i c a ç a o d e s s e s t r a b a l h o s f o r n e c i d o s p e l o " p a n o r a m a ". A o f i n a l , em c a p i t u l o c o n - c l u s i v o , p r o c u r a - s e a r t i c u l a r d e. m a n e i r a m a i s. o r g â n i c a o s d e - s e n v o l v i m e n t o s t e m á t i c o s e f o r m a i s d a p o e s i a d e P a e s ao l o n g o d o t e m p o e d e s t a c a r a s c a r a c t e r í s t i c a s m a i s e s p e c i f i c a m e n t e d e - f i n i d o r a s d e s s a p o e s i a. A o b r a d e P a e s a c a b a por r e v e l a r - s e u m a o b r a q u e s e v a i c o n s t r u i n d o a o l o n g o d o t e m p o numa o p e r a ç a o d e e s t r e i t o d i á l o - g o com a s p o é t i c a s d o m i n a n t e s q u e l h e s a o c o n t e m p o r â n e a s. A c o n - q u i s t a d e u m a v o z p e s s o a l é p r o j e t o q u e p e r m e i a s e m p r e e s s e d i á - l o g o : é em m e i o ao c o n t a t o com o u t r a s v o z e s q u e P a e s v a i d e f i - n i n d o a s u a. No seu m o m e n t o m a i s m a d u r o , o p o e t a s e m o s t r a h e r - d e i r o d a s v e r t e n t e s m a i s p o l ê m i c a s e c o m b a t i v a s d o M o d e r n i s m o i n i c i a l , em s i n t o n i a a g o r a com a s s o l i c i t a ç õ e s d e e n g a j a m e n t o c r í t i c o , d e c a r á t e r a c e n t u a d a m e n t e p o l í t i c o - s o c i a l d e i n í c i o , m a s também m a i s a m p l a m e n t e c u l t u r a l a s e g u i r , a q u e se r e v e l a s e n s í v e l a p o e s i a b r a s i l e i r a a p a r t i r d o s a n o s 5 0 , e a t e n t o ã s

i v

e x p e r i m e n t a ç õ e s d a v a n g u a r d a , s u b o r d i n a n d o c e r t a s c o n q u i s t a s d e s t a s a o p e n d o r c o m b a t i v o d e s u a p o e s i a. S á t i r a , h u m o r , i r o - n i a , um c e r t o t r a v o a m a r g o , c o n c i s ã o e p i g r a m á t i c a , e n x u g a m e n t o d a s f o r m a s , i n t e n ç ã o i n t e r t e x t u a l e m e ta 1 i n g i V l s t i c a s a o o s i n - g r e d i e n t e s f u n d a m e n t a i s d a .sua d i c ç ã o m a i s m a d u r a e p e s s o a l.

V

d i e b r a s i l i a n i s c h e D i c h t u n g a b 1 9 5 0 s e h r s e n s i b e l z e i g t , u n d er i s t d a n n o f f e n fii'r d i e E x p e r i m e n t e d e r A v a n t g a r d e , i n d e m s i c h b e s t i m m t e i h r e r Er r u ng e n sc hf t e n a l s k ä m p f e r i s c h e N e i g u n g i n s e i - n e r D i c h t u n g a u s d r u c k e n. S a t i r e , H u m o r , I r o n i e , e i n g e w i s s e r b i t t e r e r N a c h g e s c h m a c k , e p i g r a m m a t i s c h e Kiïr z e , KiYrzung d e r F o r - m e n , i n t er t ex tu e 11 e u n d m e ta 1 i n g u i s t i sc h e A b s i c h t s i n d d i e w i c h t i g s t e n B e s t a n d t e i l e s e i n e r r e i f e r e n u n d p e r s ö n l i c h e n Au s- d r u c k s we i se.

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S U M Ä R I O

RESUMO. i v ZUSAMMENFASSUNG v i 1 INTRODUÇÃO 1 2 PANORAMA DA MODERNA POESIA BRASILEIRA 13

  1. 1 DUAS CONSIDERAÇÕES 13
    1. 1 O que se e s t á entendendo p o r moderna p o e s i a b r a s i l e i r a 13
    1. 2 A moderna p o e s i a - b r a s i l e i r a e -seus. momentos. - .. 15
      1. 1 Observações i n i c i a i s 15
      1. 2 P r o p o s t a s d e s t a c a d a s 16
      1. 3 Reconhecendo momentos da moderna poesia brasileira 19
  2. 2 MODERNISMO: FASE (19-22-19 30) 21
    1. 1 Um momento de renovação 21
    1. 2 O Modernismo de 19 22 24
    1. 3 A p o e s i a 25
  3. 3 MODERNISMO: 2^. FASE (1930-1945) 40
    1. 1 Da ruptura ã consolidação. 40
    1. 2 A p o e s i a 4 2
  4. 4 GERAÇÃO DE 45 55
    1. 1 Duas versões c o n t r a d i t ó r i a s 55
    1. 2 A Geração de 45 como f a s e da p o e s i a b r a s i - l e i r a 57

V i i i

  • 2 4 3 A p o e s i a
  • 2 5 VANGUARDAS ANOS 5 0 /
  • 2 5 1 Uma f a s e de programas p o é t i c o s c o l e t i v o s
  • 2 5 2 Em s i n t o n i a com o seu tempo
  • 2 5 3 A p o e s i a
  • 2 5 3 1 Concretismo
    • 2 5 3 2 Neoconcretismo
    • 2 5 3 3 P o e s i a P r á x i s
  • 2 5 3 4 Poema P r o c e s s o
    • 2 5 3 5 V i o l ã o de Rua
    • 2 5 3 6 T r o p i c a l i s m o
    • 2 6 PÕS-VANGUARDAS
    • 2 6 1 P o e s i a M a r g i n a l (anos 70)
    • 2 6 2 Poesia- anos
    • 3 - A POESIA DE JOSË - PAULO- PAES.
    • 3 1 O ALUNO ( 1 9 4 7 )
      • 3 1 1 Introdução
    • 3 1 2 A n á l i s e
      • 3 1 3 Conclusão
      • 3 2 COMPLICES ( 1 9 5 1 )
      • 3 2 1 Introdução
      • 3 2 2 A n á l i s e
      • 3 2 3 Conclusão
      • 3 3 NOVAS CARTAS CHILENAS ( 1 9 5 4 )
      • 3 3 1 Introdução
      • 3 3 2 A n á l i s e
      • 3 3 3 Conclusão
      • 3 4 EPIGRAMAS ( 1 9 5 8 )
      • 3 4 1 Introdução
  • 3.4.2 A n á l i s e
  • 3 4 3 C o n c l u s ã o
  • 3 5 ANATOMIAS ( 1 9 6 7 )
  • 3 5 1 I n t r o d u ç ã o
    • 3 5 2 A n á l i s e
    • 3 5 3 C o n c l u s ã o
    • 3 6 MEIA PALAVRA ( 1 9 7 3 )
    • 3 6 1 I n t r o d u ç ã o
    • 3 6 2 A n á l i s e
    • 3 6 3 C o n c l u s ã o
    • 3 7 RESÍDUO ( 1 9 8 0 )
      • 3 7 1 I n t r o d u ç ã o
    • 3 7 2 A n á l i s e
    • 3 7 3 Conclusão
    • 3 8 CALENDÁRIO- PERPLEXO ( 1 9 8 3 )
      • 3 8 1 I n t r o d u ç ã o
      • 3 8 2 A n á l i s e
      • 3 8 3 Conclusão
    • 4 CONCLUSÃO - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 INTRODUÇÃO

Entre as possibilidades do discurso literário, a poesia parece ocupar um lugar bastante peculiar. Há uma certa unani- midade com relação à sua importância e uma reverência acentua- da frente â posição medular que ela ocupa entre os demais gê- neros, como se a própria essencialidade do literário nela se realizasse de maneira privilegiada. Ela é sempre identificada como a melhor"expressão do trabalho criativo com a palavra. No entanto, ao que-^ tudo indica,^1 o texto poético é muito^ pouco fre- qüentado- pelo jã-escasso -público leitor. Prefere-se em geral a prosa de ficção, normalmente mais acessível, e, talvez por isso, mais sedutora. Basta entrar numa livraria ou mesmo numa biblio- teca e constatar: o espaço físico reservado à poesia é relati- vamente muitíssimo mais singelo. Confiram-se ainda os títulos de literatura publicados pelas.editoras e uma mesma conclusão se insinuará. Os leitores comuns fogem do texto poético, situação por vezes não muito distinta da de' -outros leitores, supostamente mais sofisticados, situados em posição de privilégio - alunos de Universidade, professores, críticos, etc. Ou a poesia tor- na-se objeto de culto de uns poucos produtores e receptores, que por sua vez não se incomodam muito em alimentar a súa ina- cessibilidade; ou ela é simplesmente deixada de lado, julgada muito difícil e excessivamente distante do universo imediato

do pals que ecoam afinal no cerne dessas tendências. Ao dese- jo inicial de se mergulhar um pouco mais a fundo no universo do texto poético vem se somar a possibilidade de um conheci- mento melhor da realidade cultural brasileira contemporânea através de um de seus poetas. 0 engajamento intelectual nas coisas do pais, a que tanto se é solicitado, realiza-se de al- guma forma aí. Além destes pontos de justificativa pessoal de escolha, convém destacar, tendo em vista o circuito eminentemente aca- dêmico ao qual este trabalho se encontra destinado, que Paes, pelo que a bibliografia presentemente acessível indica, não foi objeto ainda de estudo de mais vasto fôlego. Por ser um intelectual importante da-s-letras- brasileiras da atualidade, ativo não apenas como poeta, mas também como ensaísta e tradu- tor - e a importância do poeta deverá ser mais. incisivamente assinalada no corpo deste trabalho -, justifica-se assim a de- dicação de tempo, recursos e esforços pessoais e institucionais ao estudo da sua poesia. José Paulo Paes nasceu em Taquaritinga, no interior do estado de São Paulo, em 1926. Seus contatos iniciais mais vi- tais com o universo da poesia se dão já em sua juventude. Augusto dos Anjos, com o seu Eu e outras poesias, é o autor de primeiro impacto sobre a sensibilidade do futuro poeta. Mas é com Bandeira e Drummond que um certo conceito de poesia enquanto linguagem ornamentada e .pomposa, necessariamente me- trificada e rimada, ainda presente em Augusto dos Anjos, vem abaixo e. o poeta descobre o veio da poesia moderna. Entre 1946 e 1949, Paes se estabelece em Curitiba para estudar química industrial no Instituto de Química do Paraná.

Aqui, juntamente a Armando Ribeiro Pinto, Glauco Flores de Sá Brito e Samuel. Guimarães da Costa, organiza a revista "Idéia" e colabora no "Joaquim", de Dalton Trevisan. Nessas duas publi- cações saem os seus primeiros poemas. Ainda em Curitiba, em 1947, viria a público O aluno, seu primeiro livro de poesia. Depois dessa sua significativa permanência por aqui, Paes vai para São Paulo a fim de trabalhar numa empresa farma- cêutica, cidade em que se instalará definitivamente. Paralela- mente a essa atividade profissional, continua escrevendo poe- mas- e produzindo artigos de jornal. Em 1952 sai Cúmplices, seu segundo trabalho poético, todo ele dedicado a Dora, com quem se casa nesse mesmo ano. As ilustrações que acompanham os poemas desse segundo livro haviam sido feitas por Nonê, filho de Oswald de Andrade e amigo de Paes, através de quem o poeta, trava um contato pes- soal com o polêmico e inovador modernista, naquele instante em baixa no cenário da literatura.brasileira. A poesia de Oswald, toda ela feita de condensados-"flashes" poéticos e vincada por um humor muito característico exerce confessada influência so- bre Paes. É, aliás, sob o signo do humor, bebido também da poesia inicial de Drummond, que Paes vai produzir a sua poesia de en- gajamento político-social, aspecto de sua personalidade intec- tual visível já desde os tempos de militância estudantil, mas que iria encontrar formulação poética mais consistente somente agora por volta de meados dos anos 50. Novas cartas chilenas, de 1954, e Epigramas, de 1958, trabalhos que só sairiam em livro em Poemas reunidos, de 1961, compõem a faceta mais mili- tantemente ativa do poeta, nesse instante em plena sintonia

José Paulo Paes, portanto, além de poeta - aspecto que será abordado neste trabalho -, é também tradutor e ainda en- saísta^1 , o que delineia um perfil bastante específico de ar- tista da palavra. Como.ensaísta - e no ensaio, entre as ques- tões variadamente culturais, predominam as relativas ã lite- ratura - ele é também de alguma forma um critico, portanto alguém que exerce uma atividade de reflexão e avaliação da produção literária. Paes vai se debruçar, com as armas da in- teligência e da sensibilidade, sobre determinados textos de criação, para, a partir deles, organizar um texto próprio de intervenção analítico-interpretativa. Há sempre, nesse procès so, um desejo de participação polêmica nas questões da cultu- ra a partir-de uma- operação;^ centrada-no próprio. texto. Com essa faceta suar-sintoniza-se-bem também a de tradutor, a prin clpio ativo nos mais variados.campos, mas- a p a r t i r de certo momento dedicado'apenas ãs traduções literárias e, nesse âmbi to, ã dificílima tarefa de traduzir poesia. Do inglês, do alemão, do francês, do grego clássico e moderno, do latim, etc. - são. muitas as versões de importantes autores, acessí- veis agora também em português. Como.no caso do ensaísta, agora subordinadas a uma intervenção igualmente criativa, sen sibilidade e inteligência são requisitos indispensáveis para o tradutor. Encontrar paralelos poéticos em língua portugue- sa para textos em outras línguas mobiliza uma gama ampla de experiências. Entra aí, por exemplo, o crítico, mas também o criador literário, o artesão da palavra - o poeta, portan- to. A tradução de textos poéticos exige sobremaneira uma ati- vidade de construção verbal, muito mais do que de expressão. O tradutor opera a partir de um primeiro texto para organizar um segundo, que, se não é mais já aquele, quer-se como uma

espécie de sucedâneo do primeiro. Não é totalmente o texto do autor original, mas também não ë totalmente o texto do tra- dutor - ele vai se erigir justamente nessa tensão, tornando-se palavra compartilhada. Na abordagem da poesia de Paes, será interessante verificar em que medida o ensalsta-crltico e o tradutor-r-artesão, figuras que trabalham sempre a partir de um primeiro texto para estabelecer um segundo, entram como ingre- dientes ativos do processo criativo.

Feitas estas considerações iniciais, convém destacar enfim mais incisivamente o objetivo do presente estudo, e que é o de, através de um acompanhamento, sistemático da trajetória poética de José Paulo Paes dentro do contexto amplo da poesia feita modernamente no Brasil, chegaria uma compreensão mais precisa dos traços caracterizadores da poesia- do, autor. Tra- ta-se, portanto, de um estudo que pretende abordar a obra do poeta no seu processo de construção ao longo do tempo e na sua interação com o ambiente, literário e, em ressonância, histõ- rico-cultural que lhe é contemporâneo, para, nessa dupla opera- ção, apreender melhor os seus aspectos definidores.

Para dar conta do objetivo proposto, o presente traba- lho deverá cumprir o seguinte percurso: Num primeiro capítulo, vai-se procurar - traçar um panora- ma do que neste estudo se vai chamar de "moderna poesia brasi- leira", ou seja, da poesia feita no país do Modernismo' ¡.da 'dé- cada de 20 até as produções recentes dos anos 80. A partir do contraste de importantes estudos de caráter historiogrãfico, serão destacados do "continuum" temporal diferentes momentos dessa poesia, nos quais determinados princípios poéticos deve- rão ser assinalados como dominantes. Cada momento será caracte-

arrolados cronologicamente a partir da data referencial rece- bida, são os seguintes: O a l m o (194 7) , Cúmplices (1951) , Novas cartas chilenas (1954) , Epigramas (1958) , Anatomias (1967) , Meia palavra (1973), Resíduo (1980) e Calendário perplexo (1983).

Cada livro do autor será abordado individualmente ao longo desse segundo capituló, no corpo de subcapltulo especi- fico. Vai-se procurar, para cada livro, num primeiro instante, delinear rapidamente o ambiente poético dominante no períod.o da sua elaboração e publicação, bem como destacar, de forma gené- rica, algumas características histõrico-culturáis relevantes então. Um contraponto sistemático com o "panorama da moderna poesia brasileira", traçado no primeiro capitulo, já estará sendo realizado-al. A seguir, ocupando o grosso do espaço re- servado no subcapltulo, serão analisados poemas individuais avaliados como significativos no ¡contexto, do livro em foco, a partir do que se procurará chegar âs suas principais caracte- rísticas formais e. temáticas. Estas, num. terceiro instante, serão então apresentadas de forma mais sintetizada, procuran- do-se elaborar, a partir- daí, algumas conclusões parciais a respeito do livro em questão e da sua significação no traje- to do autor.

Finalmente, na conclusão, será projetado de maneira mais precisa e orgânica o estudo da poesia de Paes no quadro amplo do desenvolvimento da poesia brasileira traçado no "Pa- norama", a fim de que, nessa operação de aproximação e afas- tamento, portanto ria visualização de semelhanças e diferenças, se possa vislumbrar melhor o caráter distintivo da poesia do poeta. Os poemas escolhidos para ilustrar o "Panorama da moderna poesia brasileira" serão abordados sempre em função

da explicitação de aspectos poéticos do momento a que perten- cem. Com relação aos que integram o estudo da poesia de Paes, muitos deverão receber abordagem relativamente bastante minu- ciosa; outros, abordagem mais ligeira, para ilustrar determi- nadd aspecto que se esteja destacandò. Para a análise e interpretação dos textos mais minucio- samente focados, será privilegiada uma perspectiva que parta da consideração dos elementos mais específicos relativos ã com- posição do poema até chegar a observações mais generalizantes que projetem-no num contexto poético e/ou.histõrico-cultural que o transcenda. Aspectos composicionais como construção do verso e da estrofe, ou de unidades poéticas outras (no caso de poemas mais experimentais em que aqueles se encontrem aboli- dos) ; exploração de recursos sonoros, e gráficos; seleção-lexi- cal e organização gramatical; elaboração das imagens, explora- ção das figuras e outros recursos de linguagem; ressonâncias intertextuais; etc. - esses aspectos composicionais deverão ser destacados logo de inicio, para a partir deles poder-se orientar uma leitura mais aprofundada dos "sentidos" mais ime- diatos do texto e partir para uma sua contextualização mais abrangente. Nessa operação, vai-se procurar ter em vista, de um lado, certos estudos que se pautam pelas lições da Fenomeno- logía e do Estruturalismo, além de outros de perspectiva mais tradicional sobre metrificação e formas poéticas, bastante produtivos para uma abordagem do poema enquanto objeto de lin- guagem construido através de técnicas poéticas especificas. De outro lado, como se trata também de um estudo que leva em con- sideração o eixo da diacronia e o contexto mais amplo em que