Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Poemas e Histórias de Cora Coralina: A Vida e a Obra da Poeta Goiana, Notas de estudo de Poética

Uma biografia da poeta goiana cora coralina, conhecida por sua produção tardia, mas rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro. Apoiamos-nos na análise de seu primeiro livro, poemas dos becos de goiás e estórias mais, publicado em 1965, quando ela já tinha quase 76 anos. Neste texto, encontramos informações sobre a autora, sua vida pessoal e profissional, e uma descrição detalhada de sua obra poética, que caracteriza-se pela temática cotidiana, prosaica, e pela comunicabilidade e simplicidade de expressão.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

usuário desconhecido
usuário desconhecido 🇧🇷

4.6

(158)

172 documentos

1 / 11

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais Cora Coralina
Professor Sinval Santana
- A autora
Cora Coralina, pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas poeta e contista
brasileira, uma de nossas mais importantes escritoras. Sua produção iniciou-se
tardiamente, depois de cumprir seu papel de mãe e de esposa. Publicou seu primeiro livro
em junho de 1965 (Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais), quando já tinha quase
76 anos de idade. Mulher simples, doceira de profissão, alheia a modismos literários,
produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em
particular dos becos e ruas históricas de Goiás.
- A obra:
A estreia da poeta goiana Cora Coralina, em 1965, com os Poemas dos Becos de Goiás e
Estórias Mais, passou despercebida pela crítica, provavelmente por estar na periferia
cultural na época. Nascia uma poeta original, de raízes profundas na alma popular, com
uma sabedoria dosada de ironia, de alguém que muito viveu e sofreu, e de um lirismo
singular na Literatura brasileira. Os poemas, quase todos longos, em versos livres e
brancos, à maneira dos modernistas da Primeira Fase/Manuel Bandeira e
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Poemas e Histórias de Cora Coralina: A Vida e a Obra da Poeta Goiana e outras Notas de estudo em PDF para Poética, somente na Docsity!

Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais – Cora Coralina Professor Sinval Santana

- A autora Cora Coralina, pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas poeta e contista brasileira, uma de nossas mais importantes escritoras. Sua produção iniciou-se tardiamente, depois de cumprir seu papel de mãe e de esposa. Publicou seu primeiro livro em junho de 1965 (Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais), quando já tinha quase 76 anos de idade. Mulher simples, doceira de profissão, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás. - A obra: A estreia da poeta goiana Cora Coralina, em 1965, com os Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, passou despercebida pela crítica, provavelmente por estar na periferia cultural na época. Nascia uma poeta original, de raízes profundas na alma popular, com uma sabedoria dosada de ironia, de alguém que muito viveu e sofreu, e de um lirismo singular na Literatura brasileira. Os poemas, quase todos longos, em versos livres e brancos, à maneira dos modernistas da Primeira Fase/Manuel Bandeira e

Segunda/Drummond, Vinícius de Moraes, caracterizam-se pela temática cotidiana, prosaica, apropriando-se da oralidade da linguagem, ao contrário da moda reinante na década de 1960, a era da Poesia Concreta. O diferencial, as marcas pessoais da poeta, que cativou mais tarde Carlos Drummond de Andrade e a tornou conhecida, consagrada, são a tensão poética de seus versos, a comunicabilidade, a simplicidade de expressão, o amor pelo semelhante, a solidariedade e o tom de crônica dos poemas, que visualizam para o leitor, seu mundo, seu universo individual. A poeta universaliza suas impressões, seus conflitos e o de seus semelhantes, especificamente os marginalizados. Percebam nos versos a seguir do poema A Oração do Milho o lirismo da poeta Senhor, nada valho./ Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres./ Meu grão, perdido por acaso,/ nasce e cresce na terra descuidada./ Ponho folhas e haste,e se me ajudardes, Senhor,/ mesmo planta de acaso, solitária,/ dou espigas e devolvo em muitos grãos/ o grão perdido inicial, salvo por milagre,/ que a terra fecundou.

- Textos: Ressalva Este livro foi escrito por uma mulher que no tarde da Vida recria e poetiza sua própria Vida. Este livro foi escrito por uma mulher que fez a escalada da Montanha da Vida removendo pedras e plantando flores.

Eu sou aquele teu velho muro verde de avencas (...) Eu sou estas casas encostadas cochichando umas com as outras. (...) Eu sou o caule dessas trepadeiras sem classe, nascidas na frincha das pedras: Bravias. (...) Eu sou a dureza desses morros, revestidos, enflorados, lascados a machado, lanhados, lacerados. Queimados pelo fogo. (...) Minha vida, meus sentidos, minha estética, todas as vibrações de minha sensibilidade de mulher, têm, aqui, suas raízes. Eu sou a menina feia da ponte da Lapa. Eu sou Aninha. Coralina, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais (Global Editora. Edição do Kindle. Todas as Vidas

Vive dentro de mim uma cabocla velha de mau-olhado, acocorada ao pé do borralho, olhando para o fogo. Benze quebranto. Bota feitiço… Ogum. Orixá. Macumba, terreiro. Ogã, pai-de-santo… Vive dentro de mim a lavadeira do Rio Vermelho. Seu cheiro gostoso d’água e sabão. Rodilha de pano. Trouxa de roupa, pedra de anil. Sua coroa verde de São-caetano. Vive dentro de mim a mulher cozinheira. Pimenta e cebola. Quitute bem feito. Panela de barro. Taipa de lenha. Cozinha antiga toda pretinha. Bem cacheada de picumã. Pedra pontuda.

dentro de mim: Na minha vida – a vida mera das obscuras! Coralina, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais Global Editora. Edição do Kindle. O Prato Azul-Pombinho Minha bisavó – que Deus a tenha em glória – sempre contava e recontava em sentidas recordações de outros tempos a estória de saudade daquele prato azul-pombinho. Era uma estória minuciosa. Comprida, detalhada. Sentimental. Puxada em suspiros saudosistas e ais presentes. E terminava, invariavelmente, depois do caso esmiuçado: “– Nem gosto de lembrar disso...” É que a estória se prendia aos tempos idos em que vivia minha bisavó que fizera deles seu presente e seu futuro. Voltando ao prato azul-pombinho que conheci quando menina e que deixou em mim lembrança imperecível. Era um prato sozinho,

último remanescente, sobrevivente, sobra mesmo, de uma coleção, de um aparelho antigo de 92 peças. Isto contava com emoção, minha bisavó, que Deus haja. Era um prato original, muito grande, fora de tamanho, um tanto oval. Prato de centro, de antigas mesas senhoriais de família numerosa. De fastos de casamento e dias de batizado. Pesado. Com duas asas por onde segurar. Prato de bom-bocado e de mães-bentas. De fios de ovos. De receita dobrada de grandes pudins, recendendo a cravo, nadando em calda. Era, na verdade, um enlevo. Tinha seus desenhos em miniaturas delicadas: Todo azul-forte, em fundo claro num meio relevo. Galhadas de árvores e flores, estilizadas. Um templo enfeitado de lanternas. Figuras rotundas de entremez. Uma ilha. Um quiosque rendilhado. Um braço de mar. Um pagode e um palácio chinês.

Dizia-se aquele, um castigo atinente, de ótima procedência. Boa coerência. Exemplar e de alta moral. Chorei sozinha minhas mágoas de criança. Depois, me acostumei com aquilo. No fim, até brincava com o caco pendurado. E foi assim que guardei no armarinho da memória, bem guardado, e posso contar aos meus leitores, direitinho, a estória, tão singela, do prato azul-pombinho. Coralina, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. Global Editora. Edição do Kindle. O cântico da terra Eu sou a terra, eu sou a vida. Do meu barro primeiro veio o homem. De mim veio a mulher e veio o amor. Veio a árvore, veio a fonte. Vem o fruto e vem a flor. Eu sou a fonte original de toda vida. Sou o chão que se prende à tua casa. Sou a telha da coberta de teu lar. A mina constante de teu poço. Sou a espiga generosa de teu gado e certeza tranquila ao teu esforço. Sou a razão de tua vida. De mim vieste pela mão do Criador,

e a mim tu voltarás no fim da lida. Só em mim acharás descanso e Paz. Eu sou a grande Mãe Universal. Tua filha, tua noiva e desposada. A mulher e o ventre que fecundas. Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor. A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu. Teu arado, tua foice, teu machado. O berço pequenino de teu filho. O algodão de tua veste e o pão de tua casa. E um dia bem distante a mim tu voltarás. E no canteiro materno de meu seio tranquilo dormirás. Plantemos a roça. Lavremos a gleba. Cuidemos do ninho, do gado e da tulha. Fartura teremos e donos de sítio felizes seremos. Cora Coralina SINVAL SANTANA