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Poema sobre Iemanjá e o mito das vítimas, o jovem poeta e o candidato político, Notas de aula de Direito

Este documento contém fragmentos de um poema escrito por um jovem poeta brasileiro sobre o mito de iemanjá e as vítimas encontradas na lagoa de abaeté. O poema aborda temas de vaidade, inveja, beleza, morte e amor. Além disso, o texto menciona uma carta escrita pelo poeta para sua mãe, onde ele expressa seu desejo de ser um escritor e seu interesse na política, especialmente pelo candidato plínio salgado. O documento também descreve como o poeta abandonou a escola e começou a publicar um jornalzinho.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Amanda_90
Amanda_90 🇧🇷

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POEMAS DA
ADOLESCÊNCIA
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POEMAS DA

ADOLESCÊNCIA

POEMAS DA ADOLESCÊNCIA

Querida Cecilia,

no colégio interno (1953/1955), escrevi muitas coisas. escrevia desde 1949, para as revistas infantis, tendo publicado alguns versos e sido premiado (1953) com um livro por um conto irradiado.

segue o trecho de um longo poema sobre o mito das vítimas de Iemanjá, na Lagoa de Abaeté (creio q de 1954). Era um aprendizado

do verso, pautado nos modelos ao meu alcance:

(...)“Das moças bonitas como ela. Conta-se que uma moça bela Numa noite de cheia lua Na lagoa foi banhar. Não acreditava em Iemanjá. Nos seus feitiços e perigos tantos Repletos em seus encantos. Deixando na areia, a roupa sua Nas águas escuras pôs-se a entrar Sem nada porém precisar. Fazendo das mãos uma concha, apanha Água fria e cristalina, tamanha. Ela admirou-se, pois dissemos Ser negra e já conhecemos Sua fama, seu esplendor Sua beleza, inspiração ao cantor. Pôs-se a banhar! O silêncio tão profundo Dava para se sentir.

mudar”. Ganhou Juscelino. [Em verdade, soube do Plínio por intermédio da poeta Amélia Tomás que eu havia conhecido em Cantagalo, no Estado do Rio de Janeiro. Ela me oferecera um livro seu de sonetos e me falou da vasta cultura do candidato integralista].

em seguida fugi da escola pela segunda , rumo a São Paulo e Campinas [na época da celebração do 4 o^ Centenário da capital paulista], abandonando definitivamente a escola.

do mesmo ano, trecho de um longo poema sobre um mendigo – Isaac – que amava Cristo. [Eu era amigo íntimo de um poeta batista].

“Eis que derrepente todos se calaram Jesus e seus apóstolos apontaram No fundo da estrada a caminhar Com seu clarão Divino a irradiar.

Tal clarão aos seres emprestava Uma beleza, um encanto que não tinham.”

a maioria dos poemas da época foram queimados quando fugi do colégio. no mesmo ano publiquei o primeiro exemplar do jornalzinho “A VOZ DA JUVENTUDE” onde, no n.4, de 28 de março de 1956, saiu um soneto de minha autoria:

LUZ ()*

Erétil sobre o solo rochoso e casto O negro farol sombrio e desprezado.

Já não mais acende, tudo é nefasto Seu destino é frio, sempre humilhado.

Então tudo mudou, não mais é casto Aquele rincão de outrora desprezado. Transformou-se, nas rochas, floresceu o pasto Outrora sozinho, agora é habitado.

Oh! Aquele asilo, calmo era escondido Solitário sob o céu estarrecido Vivendo agora feliz, tudo enfim produz.

É este meu coração dantes esquecido Que era o farol tão pobre e desprotegido Que reviveu, e nas trevas nasceu luz!

(* o título do poema era “Luz” mas o tipógrafo encontrou um clichê “À MEIA LUZ” e usou-o como título ou ilustração).

QUEM FOI ISA

Quando eu estudava no Grupo Escolar Rangel Pestana, pela manhã – de 1949 a 1953 – mamãe, para completar o meu tempo livre, colocou- me no Colégio Batista pela tarde, para que eu tivesse melhor base nas matérias primárias. Lá eu conheci Isa. Foi um amor frustrado desde o princípio. Eu a cortejava enquanto ela namorava um amigo meu, mas eu não percebia. Ela alimentava por mim apenas uma admiração “extrafísica”. Dançamos juntos no teatro da escola e por ela recitei o poema de Gonçalves Dias “minha terra tem palmeiras” e cantei – berrei! – a valsa “Saudades do Maranhão” para os seus olhos úmidos. Depois não a vi mais. Fui para o colégio interno e ela mudou-se de Nova Iguaçu (onde vivíamos) para o Rio de Janeiro.

Por fechada a mata ser, Apenas raios a atravessam Constituindo o clima assim Frio, úmido por fim.”

Da Parte IX (As lendas)

“Numerosas são as lendas que cantam Sobre personagens Que vivem ou viveram, assim contam Nestas paragens”.

De XII:

“A lenda da Vitória Régia, li Era formosa a se rivalizar Com o lendário jaboti Que na onça chegou a montar”.

O primeiro capítulo termina colocando o folclore na mão dos “heróis”, os sertanejos. O 2o^ Cap. continua com a descrição das belezas de Azyx, em várias técnicas, algumas repetidas em forma de estribilho:

“A Natureza sempre humilde, bela, em festa, Que beleza Eram os pássaros na floresta!”

Da Parte I: (Gênese) “Sobre a Terra uma nuvem passou E esta nuvem então se transformou Em chuva” (...)

Como vê, era um poema sobre a majestosidade de uma terra maravilhosa, ciclópica. Voltei a usar as palavras com sentido dúbio,

aqui por ignorância, resultando (como anteriormente) na antítese, ironicamente: (Ainda sobre a chuva).

“ Aquelas terras estavam a se banhar “E os pingos de chuva a lhes beijar. E contentes vão Os riachos cada vez maiores Dando água às lindas flores, Que são para nós Um emblema de amor e carinho Ornamentação de nosso ninho; No coração: Relíquia de um amor sincero De uma saudade, um fato mero.”

[De onde vinha tais fantasias e discursos? Que é que eu lia naquela

época, fechado num mundo tão pequeno de uma cidade periférica, sem biblioteca, sem incentivo em casa, lendo o que me vinha pelos textos escolares ou por empréstimo de amigos...]

III “A chuva então foi passageira Já cessou E a passarada, numa carreira, revoou.”

Mais adiante, seguindo o rio Car, a gente encontrava Azyx, a cidade Perdida.

Junto ao Car.

III Aqui aprendeu nossa língua natal Aqui viveu Aqui lutou contra o mal E sobreviveu.”

O poema era a minha forma de declaração de amor a Isa – eu seria o Leonardo do texto, e imaginava situações que não tivemos na realidade. Talvez, por isso, ela fosse uma deusa, algo impessoal e intocável, impossível para mim, que fazia às vezes de herói para merecer a sua admiração.

Azyx teve seu imperador, seus exércitos, que causava inveja às demais tribos, possuía a classe dos “escravos”, “sempre a trabalhar, assegurando ao império, fortuna e abastança”. Possuía um conselho deliberativo de governo de funcionários, e a religião cultuava o Sol, “Akay”.

XII – Cap., 4

“As terras eram divididas E entre os agricultores distribuídas Em partes iguais, onde trabalhavam E um grande lucro a Azyx davam.”

O interessante é que o poema, que prega em favor do regime imperial, defende os camponeses que recebem o valor de um terço da colheita, “humildemente”.

Em Azyx havia até sacrifícios humanos!

Leonardo era idealista, justo, tanto assim que, certa feita, quando Yoko o convida para assistir a bailarina Azk (tipo Ceilão...), ele confessa, após ver (contemplativamente) as estrelas:

5 o^ Cap. – II “ Que me adiante tal ver E contemplar um inocente sofrer?”

Por mais que a insistente Yoko, apelando para as belezas da bailarina, Leonardo continuava ensimesmado:

IV “Que me adianta, Yoko? Fico a pensar Na campanha que estou a planejar”.

Mas Leonardo não se interessa. Yoko pergunta se a campanha é contra as tradições de sua terra. Ao saber que Azk, “a estrangeira” é

brasileira, Leonardo fica emocionado e demonstra entusiasmo...

No circo de pedra, dança Azk, e demais bailarina, para a Lua que nasce, a Deusa Lua:

XVI “A lua atrás dos montes vem nascendo E elas caem ao chão...”

[referindo às bailarinas...]

XVII “Ouve-se um choro de criança, recém-nascida Pois, a pequena perderá a vida”(...)

Leonardo se apresenta Azk como sendo maranhense (!!!!), “onde vivia/o poeta, o escritor”. Azk é carioca, embora viva ali há anos, em sua vida tribal, em nome da arte, “vida rude, sempre a dançar”. Azk hipoteca apoio em nome das reformas, em nome de Atuba, poderoso

senhor de Sepax, que a enviara para este fim. Azk afirma, convidando o amigo a Sepax, que Atuba considera que “as tradições têm maldição”.

O 7o^ Capítulo começa de forma curiosa:

I “Terra de graças, cheia de luz Terra tão rica onde não reina a cruz”.

Repare, Cecília, presta bem atenção nestas contradições que soam mais como ironia do que como imperfeições. Azk é considerada estrangeira, embora Azyx estivesse edificada em plena selva amazônica:

II “Manhã tão bela, tão brasileira Irradiando esta clareira, Resplandecendo o belo Car E a catarata Day ao se banhar”.

O 8o^ Capítulo:

I “Por aquelas florestas uma caravana seguia Era a de Azk que ali então se via.

II

O dia para Leonardo era festivo Além do mais: humano, significativo”.

O poema tem uma mitologia inteira! Primeiro, a descoberta da cidade:

III “ Eis que de repente, como que um sol a raiar Via-se no cimo de um monte, a deslumbrar Sepax, orgulhosa, respeitada, bela e resoluta Reino das Artes, dos templos de pedra bruta”.

Conta que (por lenda) ali viver Akar e sua esposa, com terras e domínios que se estendiam “muito além do rio Car”, até que Akay, o Bem, derrubou o governo do irmão, sublevando os súditos daquele, reconquistando as terras.

VI “Akar, ileal, usou de truques desonestos E n´aqueles campos tristes e funestos Resistiu ao ataque santo, leal” (...)

Um misto de cristianismo e anticristianismo, de paganismo e antipaganismo...

VII “Akar mandou sua mulher o receber Ela sozinha o iria converter Com seus encantos, sua singeleza. Iria o Bem lutar contra a Beleza.”

Que, de Sepax, o seu fundador.”

O 9o^ Capítulo começa descrevendo u’ a manhã purpurosa, em “Azyx, tesouro sem heresia” (assim mesmo, sem h). Azyx, “paraíso da terra”, “refúgio dos amantes”, “das aves canoras”, “Canaã do amor”, mas onde também a superstição dominava, onde o povo “Comete o mal,

pensando que o Bem está a cometer” (III), entregando-se às “tradições”, sinônimo de sacrifícios humanos...

Começa a conversão ao Cristianismo! Em “Chitzen, capital soberba”, “de poder, avareza, luxúria verdadeira”, “Império fictício”, no Laz (palácio governamental)

cintila o Yz (medalhão-símbolo do poder), estando o Sahaky furioso querendo acreditar em algo, mas vacilante. Grita:

XIII “Maldito, maldito aventureiro Maldito seja o estrangeiro! Traidor infame, vil, covarde!”

Referindo-se a Leonardo, perguntando as razões daquele luta se ele, pessoalmente, nenhum mal cometera contra o brasileiro, que lhe queria impor um deus exótico, jurando combatê-lo.

No 10o^ capítulo, o último, Leonardo organiza “cruzadas”. Cinco mil homens “resolvidos a vencer, além de implantar o Deus, também”. A voz de Leonardo soava como a voz de um Deus! Com sua bandeira verde (“como a floresta, com um sol sempre a raiar, a iluminar, o são Pavilhão do Bem, o clamor cristão”. Eu não sei se a bandeira era toda verde (como a de Tiradentes) ou se exibia também um círculo solar (lembrando, simplificando a bandeira do Brasil, terra de Leonardo...).

A mitologia era confusa, algo metamorfoseada, pois Akay, o Sol, surge em Sepax como o Bem mais liberal, voltando a ser apenas o astro-rei após o advento do cristianismo...

Cinco mil homens eram um quarto da população! Um exército de homens, crianças e mulheres, com poucas armas, munições, dispostos a lutar com “tenros corações”... Leonardo clamava ao povo, incitava o direito libertário.

XI “Liberdade! Liberdade! Liberdade! Combatamos a atrocidade Nosso amor, sem preconceito, Será apenas o direito”.

“Nada de escravos” (XII), “deuses impiedosos”, aconselhando a vinda de um sacerdote, prometendo a destruição dos templos profanos e a construção de uma santa igreja. Interessante verificar as influências da educação religiosa. Lembrava a história da destruição do templo asteca para usar as ruínas na edificação da catedral do México...

O poema termina aí. Não volta a mencionar a sacerdotisa Isa que habitava as ruínas da cidade... Sequer explica porque desapareceu aquela “civilização” após o advento do cristianismo...

Existia um Segundo Caderno que, se foi escrito – honestamente, não me lembro...- certamente era incompleto e está perdido.

Isa, a verdadeira, a que estudou comigo no grupo escolar, casou-se e hoje tem filhos. Escreveu-me carta condenando minhas experiências modernistas, apelando a Deus pelo meu futuro, inclusive pedindo que