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Guias e Dicas
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A Vingança de Montresor: O Barril de Amontillado, Notas de aula de Tradução

Narrativa de edgar allan poe sobre a vingança de montresor contra fortunato. Fortunato insulta montresor, que jura vingança. Montresor conhece a paixão de fortunato pelo vinho antigo amontillado e o engana, o levando a um local subterrâneo cheio de ossos, onde o enchaqueia e deixa morrer. Descrição detalhada do encontro entre os dois, de fortunato vestido de bufão e de montresor que pede a ajuda de luchesi para verificar a autenticidade do barril de amontillado.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Mauricio_90
Mauricio_90 🇧🇷

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O"barril"de"Amontillado"
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As! mil! afrontas! de! Fortunato,! eu! as! suportei! o! melhor! que! pude;! mas! quando! ele!
passou!destas!ao!insulto,!jurei!vingança.!Você,!que!conhece!tão!bem!a!natureza!de!
minha!alma,!não!há!de!imaginar!que!proferi!uma!única!ameaça.!Ao"fim"e"ao"cabo,!eu!
me! vingaria,! isso! era! ponto! pacífico,! irrevogável! ! e,! sendo! irrevogável,! a! decisão!
excluía! toda! idéia! de! risco.! Não! devia! apenas! punir,! mas! punir! impunemente.! Um!
mal!não! está!reparado!se!alguma! represália!recair!sobre!quem! o!repara.!Como!não!
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! Claro! está! que! nenhum! ato! ou! palavra! de! minha! parte! dera! ensejo! a! que!
Fortunato!duvidasse!de!minha!boa!vontade.!Continuei,!como!de!hábito,!a!sorrir-lhe,!
sem!que!ele!percebesse!que!eu!sorria,!agora,!à!idéia!de!sua!imolação.!
! Tinha! um! ponto! fraco,! esse! Fortunato,! muito! embora! sob! outros! aspectos!
fosse! homem! de! se! respeitar! e! mesmo! temer.! Orgulhava-se! de! conhecer! vinhos.!
Poucos! italianos! têm! o! verdadeiro! espírito! do! virtuoso.! O! mais! das! vezes,! seu!
entusiasmo! serve! ao! momento! e! à! oportunidade! –! a! praticar! alguma! impostura! à!
custa! de! milionários! britânicos! ou! austríacos.! Em! se! tratando! de! pinturas! e! jóias,!
Fortunato!era,! como! seus!compatriotas,!um!charlatão!–! mas,!em!matéria!de!vinhos!
antigos,! era! sincero.! Nisso! não! diferíamos! substancialmente:! eu! mesmo! era!
entendido!em!boas!safras!italianas!e!comprava!à!larga!sempre!que!podia.!
! Foi! à! hora! do! crepúsculo,! certa! noite! do! desvario! supremo! da! estação!
carnavalesca,! que! fui! ao! encontro! de! meu! amigo.! Ele! me! abordou! com! vivacidade!
excessiva,! pois! bebera! demais.! O! sujeito! usava! uma! fantasia! de! bufão.! Vestia! uma!
peça!justa!e!listrada!e!levava!a!cabeça!encimada!por!um!chapéu!cônico,!de!guizos.!
Fiquei!tão!feliz!de!encontrá-lo,!que!não!queria!mais!parar!de!lhe!apertar!a!mão.!
!Disse!a!ele:!
! !Meu!caro!Fortunato,!que!sorte!encont-lo.!Que!bela!aparência,!é!notável!!
Agora!veja!só:!recebi!um!barril!que!dizem!ser!de!Amontillado,!mas!tenho!lá!minhas!
dúvidas.!
! –! Como?! !disse!ele.!–! Amontillado?! Um! barril?! Impossível!! E! no! meio! do!
Carnaval!!
! !Tenho!lá!minhas!dúvidas!–!repliquei!–!e!cometi!a!tolice!de!pagar!o!preço!de!
um!Amontillado! sem! consultá-lo!a! respeito.! Não!havia! meio! de!encontrá-lo,! e! tive!
medo!de!perder!o!barril.!
! –!Amontillado!!
! –!Tenho!lá!minhas!dúvidas.!
! –!Amontillado!!
! –!E!quero!me!livrar!delas.!
! –!Amontillado!!
! –!Como!você! está! ocupado,!vou!ter!com!Luchesi.! Se! alguém!tem!tino!crítico,!
esse!alguém!é!ele.!Vai!saber!me!dizer...!
! –!Luchesi!não!sabe!a!diferença!entre!um!Amontillado!e!um!xerez.!
! !Mas!não!faltam!os!tolos!que!digam!que!o!paladar!dele!é!páreo!para!o!seu.!
! –!Venha,!vamos.!
! !Para!onde?!
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O barril de Amontillado As mil afrontas de Fortunato, eu as suportei o melhor que pude; mas quando ele passou destas ao insulto, jurei vingança. Você, que conhece tão bem a natureza de minha alma, não há de imaginar que proferi uma única ameaça. Ao fim e ao cabo , eu me vingaria, isso era ponto pacífico, irrevogável – e, sendo irrevogável, a decisão excluía toda idéia de risco. Não devia apenas punir, mas punir impunemente. Um mal não está reparado se alguma represália recair sobre quem o repara. Como não está reparado se o vingador não puder se revelar a quem cometeu o mal. Claro está que nenhum ato ou palavra de minha parte dera ensejo a que Fortunato duvidasse de minha boa vontade. Continuei, como de hábito, a sorrir-lhe, sem que ele percebesse que eu sorria, agora , à idéia de sua imolação. Tinha um ponto fraco, esse Fortunato, muito embora sob outros aspectos fosse homem de se respeitar e mesmo temer. Orgulhava-se de conhecer vinhos. Poucos italianos têm o verdadeiro espírito do virtuoso. O mais das vezes, seu entusiasmo serve ao momento e à oportunidade – a praticar alguma impostura à custa de milionários britânicos ou austríacos. Em se tratando de pinturas e jóias, Fortunato era, como seus compatriotas, um charlatão – mas, em matéria de vinhos antigos, era sincero. Nisso não diferíamos substancialmente: eu mesmo era entendido em boas safras italianas e comprava à larga sempre que podia. Foi à hora do crepúsculo, certa noite do desvario supremo da estação carnavalesca, que fui ao encontro de meu amigo. Ele me abordou com vivacidade excessiva, pois bebera demais. O sujeito usava uma fantasia de bufão. Vestia uma peça justa e listrada e levava a cabeça encimada por um chapéu cônico, de guizos. Fiquei tão feliz de encontrá-lo, que não queria mais parar de lhe apertar a mão. Disse a ele:

  • Meu caro Fortunato, que sorte encontrá-lo. Que bela aparência, é notável! Agora veja só: recebi um barril que dizem ser de Amontillado, mas tenho lá minhas dúvidas.
  • Como? – disse ele. – Amontillado? Um barril? Impossível! E no meio do Carnaval!
  • Tenho lá minhas dúvidas – repliquei – e cometi a tolice de pagar o preço de um Amontillado sem consultá-lo a respeito. Não havia meio de encontrá-lo, e tive medo de perder o barril.
  • Amontillado!
  • Tenho lá minhas dúvidas.
  • Amontillado!
  • E quero me livrar delas.
  • Amontillado!
  • Como você está ocupado, vou ter com Luchesi. Se alguém tem tino crítico, esse alguém é ele. Vai saber me dizer...
  • Luchesi não sabe a diferença entre um Amontillado e um xerez.
  • Mas não faltam os tolos que digam que o paladar dele é páreo para o seu.
  • Venha, vamos.
  • Para onde?
  • Para as suas caves.
  • Não, meu amigo, não; não vou abusar de sua bondade. Logo se vê que você tem um compromisso. Luchesi...
  • Não tenho compromisso nenhum; venha.
  • Meu amigo, não. Não é o compromisso, mas esse resfriado severo que logo se vê que o aflige. As caves são insuportavelmente úmidas. Estão incrustadas de salitre.
  • Vamos assim mesmo. O resfriado não é nada. Amontillado! Você foi trapaceado. E quanto a Luchesi, esse não sabe distinguir um xerez de um Amontillado. A essas palavras, Fortunato apossou-se de meu braço. Vestindo uma máscara de seda negra e puxando um roquelaure rente ao corpo, deixei que ele me arrastasse rumo a meu palazzo. Não havia nenhum criado em casa; todos tinham escapado para festejar, em louvor à época. Eu lhes dissera que não voltaria até a manhã seguinte e dera ordens explícitas de que não dessem um passo para fora da casa. Essas ordens eram suficientes, eu bem sabia, para garantir o sumiço imediato de todos e de cada um, tão logo eu lhes desse as costas. Tirei duas tochas dos castiçais e, entregando uma a Fortunato, conduzi-o com vênias por uma seqüência de aposentos até o arco que levava às caves. Desci por uma longa escadaria em espiral, rogando-lhe que tivesse cautela ao me seguir. Chegamos finalmente ao pé da escada e pisamos o chão úmido das catacumbas dos Montresor. O andar do meu amigo era incerto, e os guizos do chapéu tilintavam às suas passadas.
  • O barril? – perguntou ele.
  • Mais adiante – respondi. – Mas veja só a teia branca que brilha nessas paredes cavernosas. Ele se voltou para mim e me fitou bem nos olhos com duas órbitas turvas que distilavam a reuma da ebriedade.
  • Salitre? – finalmente perguntou.
  • Salitre – repliquei. – Mas quando começou essa tosse?
  • Cof, cof, cof! Cof, cof, cof! Cof, cof, cof! Cof, cof, cof! Cof, cof, cof! Meu pobre amigo não teve como responder por uns bons minutos.
  • Não é nada – disse, afinal.
  • Venha – eu disse, determinado – , vamos voltar. Sua saúde é preciosa. Você é rico, respeitado, admirado, amado; é feliz como eu já fui. Sua falta seria sentida. Não há o menor problema para mim. Vamos voltar; você vai cair doente, e não quero ser o responsável. Além do mais, Luchesi...
  • Basta disso – disse ele. – A tosse não é nada, não vai me matar. Não é de uma tosse que eu vou morrer.
  • Tem razão, tem razão – repliquei. – Também não tenho a menor intenção de alarmá-lo à toa; mas todo cuidado é pouco. Um gole desse Medoc vai nos proteger da umidade. E desarrolhei uma garrafa que tirei de uma longa fileira disposta sobre o bolor.

No canto mais remoto da cripta abria-se outra, menos espaçosa. Tinhas as paredes cobertas de despojos humanos empilhados até a abóbada, à maneira das grandes catacumbas de Paris. Três lados dessa cripta interior ainda conservavam esse adorno. Os ossos tinham sido arrancados do quarto e jaziam promiscuamente pelo chão, formando um montículo de bom tamanho. Na parede posta a nu com a remoção dos ossos, percebemos um recesso ainda mais profundo, com quatro pés de profundidade, três de largura e seis ou sete de altura. Parecia ter sido construído sem fim definido, um mero intervalo entre dois dos suportes colossais do teto das catacumbas, e era fechado por uma das paredes exteriores de granito maciço. Foi em vão que Fortunato, levantando a tocha baça, tentou divisar as profundezas do recesso. A luz débil não permitia que víssemos o seu fim.

  • Vá em frente – eu disse – , o Amontillado está aí dentro. Quanto a Luchesi...
  • É um ignorantão – interrompeu meu amigo, dando um passo incerto adiante, enquanto eu seguia nos seus calcanhares. Num instante, chegou à extremidade do nicho e, sentindo a própria marcha detida pela rocha, ficou ali, estupidamente pasmo. Um momento mais, e eu o agrilhoara ao granito. Na superfície deste havia dois grampos de ferro, a cerca de dois pés um do outro, na horizontal. De um deles, pendia uma corrente; do outro, um cadeado. Passando os elos em volta da cintura, prendê-lo foi coisa de poucos segundos. Estava atônito demais para resistir. Retirando a chave, recuei para fora do recesso.
  • Passe a mão pela parede – eu disse – , não há como não sentir o salitre. Na verdade, tudo é muito úmido. Permita-me implorar de novo, vamos voltar. Não? Então serei obrigado a deixá-lo aqui. Mas antes devo-lhe todas as pequenas atenções a meu alcance.
  • O Amontillado! – exclamou meu amigo, ainda não recobrado do espanto.
  • É verdade – respondi – , o Amontillado. Enquanto dizia essas palavras, eu me ocupava da pilha de ossos que mencionei há pouco. Atirando-os para o lado, logo pus a descoberto alguma argamassa e pedra de cantaria. Com esses materiais e com ajuda da colher, comecei vigorosamente a tapar a entrada do nicho. Mal assentara a primeira fileira de pedras quando percebi que a ebriedade de Fortunato dissipara-se bastante. O primeiro indício foi um grito baixo, lamentoso, do fundo do recesso. Aquele não era o grito de um bêbado. Seguiu-se um silêncio longo e obstinado. Assentei a segunda fileira, e a terceira, e a quarta; então ouvi a vibração furiosa da corrente. O barulho durou vários minutos, durante os quais, para que pudesse escutar com mais satisfação, interrompi o trabalho e me sentei sobre os ossos. Quando finalmente o clangor cedeu, retomei a colher e terminei sem mais interrupção a quinta, a sexta, a sétima fileiras. Agora a parede chegava quase a meu peito. Fiz nova pausa e, erguendo as tochas acima da minha obra, lancei uns raios débeis sobre a figura ali dentro. Uma sucessão de gritos altos e estridentes, explodindo subitamente da garganta daquela figura agrilhoada, pareceu me empurrar com violência para trás. Por um breve momento, hesitei – estremeci. Puxando o punhal da bainha, comecei a explorar o recesso; mas bastou um instante de reflexão para me tranqüilizar. Passei a mão pela alvenaria sólida das catacumbas e me dei por satisfeito. Cheguei mais

perto da parede. Respondi aos berros daquele que clamava. Fiz eco, fiz coro, ultrapassei-os em volume e força. Fiz isso, e o suplicante fez silêncio. Era já meia-noite, e minha tarefa chegava ao fim. Completara a oitava, a nona, a décima fileira. Terminara parte da última, a décima primeira; faltava uma única pedra por assentar e rebocar. Forcejei com seu peso; encaixei-a parcialmente na posição final. Mas então veio do nicho um riso baixo que me eriçou os cabelos. Ouviu-se em seguida uma voz triste, que tive dificuldade de reconhecer como a do nobre Fortunato. A voz dizia:

  • Ha, ha, ha! He, he! Que bela piada, verdade – uma peça excelente. Vamos morrer de rir no palazzo , he, he, he! Com um bom vinho, he, he, he!
  • O Amontillado! – eu disse.
  • He, he, he! He, he, he! Sim, claro, o Amontillado. Mas não está ficando tarde? Será que não estão nos esperando no palazzo , a minha senhora e os outros?
  • Sim – respondi – , vamos embora.
  • Pelo amor de Deus, Montresor!
  • Isso mesmo, pelo amor de Deus! Mas espreitei em vão por uma resposta a essas palavras. Fiquei impaciente. Chamei alto:
  • Fortunato! Nenhuma resposta. Chamei de novo:
  • Fortunato! Nenhuma resposta ainda. Joguei uma tocha pelo vão restante e deixei que caísse para dentro. Não se ouviu mais que um tilintar dos guizos. Senti náuseas – por conta da umidade das catacumbas. Apressei-me a pôr fim à minha obra. Assentei a última pedra e a reboquei. Contra a nova alvenaria, reergui o velho baluarte de ossos. Por meio século, nenhum mortal veio perturbá-los. In pace requiescat! Tradução de Samuel Titan Jr.