Pré-visualização parcial do texto
Baixe pindyck cap 6 edicao 6a e outras Resumos em PDF para Microeconomia, somente na Docsity!
CAPÍTULO 6 PRODUÇÃO ESTE CAPÍTU LO DESTACA os últimos três capítulos enfocamos o lado da demanda do mercado — as preferências e o comportamento dos consumidores. Agora, voltamo-nos para o lado da oferta, examinando o comportamen- to dos produtores. Veremos o modo pelo qual as empresas organizam 6.2 Produção com um insumo variável eficientemente sua produção e como seus custos de produção variam (trabalho) à medida que ocorrem alterações nos preços dos insumos e nos níveis = ne as de produção. Veremos também que há grandes semelhanças entre as 6.3 Produção com dois insumos variáveis decisões de otimização por parte de empresas e por parte de consumi- 6.4 Rendimentos de escala dores — a compreensão do comportamento do consumidor vai nos aju- dar a compreender o comportamento do produtor. Neste capítulo e no próximo examinaremos a teoria da empre- LISTA DE EXEMPLOS sa, que mostra como uma empresa toma decisões de produção com base na minimização dos custos e como os seus custos variam com o volume produzido. O conhecimento da teoria da produção e dos custos 6.1 Malthus e a crise de alimentos ajudará a entender as características da oferta de mercado, A teoria da 6.2 Produtividade da mão-de-obra e produção e do custo é de importância fundamental também para a ad- ministração econômica da empresa. Pense em alguns dos problemas com os quais uma empresa como a General Motors frequentemente se 6.3 Uma função de produção para o trigo defronta. Quantos equipamentos e quanta mão-de-obra na linha de 6.4 Rendimentos de escala na indústria montagem deverão ser empregados em suas novas fábricas de auto- de tapetes móveis? Caso a empresa queira aumentar sua produção, será que deve- ria contratar mais trabalhadores, construir novas fábricas, ou ambos? Será mais lógico que determinada fábrica de automóveis produza di- ferentes modelos ou que cada modelo seja produzido em uma fábrica separada? Quais os custos que a GM deveria esperar para 0 próximo ano? De que forma tais custos poderiam variar ao longo do tempo e como poderiam ser influenciados pelo nível de produção? Questões como essas não se aplicam apenas a empresas privadas, mas também a outros produtores de bens e serviços, tais como órgãos governamen- tais e organizações sem fins lucrativos. 6.1 Tecnologia de produção padrão de vida Às DECISÕES EMPRESARIAIS QUANTO À PRODUÇÃO Nos capítulos 3 e 4, para estudar o comportamento do consumi- dor nós o dividimos em três passos. Primeiro, explicamos como des- crever as preferências do consumidor. Segundo, consideramos o fato de que consumidores possuem restrições orçamentárias. Em seguida, vimos como, dadas essas preferências c as restrições orçamentárias, eles podem escolher combinações de bens para maximizar sua satisfa- ção. As decisões das empresas quanto à produção são análogas às de- cisões dos consumidores quanto à compra de bens e, da mesma ma- neira, podem ser entendidas em três passos: 1. Tecnologia de produção: precisamos de um modo prático de descrever como os insumos (trabalho, capital e matérias- PARTE II 160 PRODUTORES, CONSUMIDORES E MERCADOS COMPETITIVOS teoria da empresa Ex- plicação sobre como as empresas tomam decisões de minimização de custos e como esses custos va- riam com a produção. fatores de produção | In- sumos que entram no processo produtivo (por exemplo, trabalho, capi- tol e matérias-primas). função de produção Fun- ção que mostra o produto máximo que uma empresa pode obter para cada com- binação especificada de in- sumos. primas, por exemplo) podem ser transformados em produção (carros e televisores, por exem- plo). Assim como o consumidor pode alcançar determinado nível de satisfação comprando di- terentes combinações de bens, uma empresa pode gerar determinado nível de produção usan- do diferentes combinações de insumos. Uma fabricante de eletrônicos, por exemplo, pode produzir 10 mil televisores por mês empregando mão-de-obra maciça (se os trabalhadores fi- zerem os aparelhos à mão, por exemplo) e muito pouco capital, ou construindo uma fábrica capital intensiva, totalmente automatizada, e usando pouquíssima mão-de-obra. 2. Restrições de custo: as empresas precisam levar em conta o preço do trabalho, do capital e de outros insumos. Assim como o consumidor está sujeito a um orçamento limitado, a em- presa terá de se preocupar com seu custo de produção. Uma [ábrica que produza, por exem- plo, 10 mil televisores por mês vai querer fazê-lo de uma maneira que minimize seu custo to- tal de produção, o qual é determinado em parte pelo preço dos insumos utilizados. 3. Escolha de insumos: conforme sua tecnologia de produção e o preço do trabalho e outros insumos, a empresa precisará decidir quanto de cada insumo usar, Assim como o consumidor le- va em conta o preço dos diferentes bens ao decidir a quantidade de cada um que será compra- da, a empresa precisa levar em conta o preço dos diferentes insumos ao decidir a quantidade de cada um que será usada. Se nossa fábrica de eletrônicos opera em um país com baixos ní- veis salariais, talvez opte por produzir televisores usando muito trabalho e pouco capital, Esses três passos, que formam os alicerces da teoria da empresa, serão discutidos em detalhes nes- te capítulo e no próximo. Também abordaremos outros aspectos importantes do comportamento em- presarial. Por exemplo: partindo do pressuposto de que a empresa está sempre usando uma combina- ção de insumos minimizadora de custo, veremos como o custo total da produção varia conforme a quantidade produzida e como se pode escolher a quantidade que maximizará os lucros. Começamos este capítulo mostrando como a tecnologia de produção da empresa pode ser repre- sentada na forma de uma função de produção — uma descrição resumida de como os insumos se transfor- mam em produtos. Em seguida, usamos a função de produção para mostrar como a produção muda quando somente um dos insumos (trabalho) varia, mantendo-se os outros insumos fixos. Depois, pas- samos ao caso mais geral no qual a empresa pode variar todos os scus insumos e mostramos como cla escolhe uma combinação minimizadora de custos. Em particular, vamos prestar atenção à escala de ope- ração da empresa. Será que há, por exemplo, vantagens tecnológicas capazes de tornar a empresa mais produtiva à medida que a escala aumenta? [+ BM TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO Durante o processo produtivo, as empresas transformam insumos, também denominados fatores de produção, em produtos. Os fatores de produção são tudo aquilo que a empresa utiliza no processo produtivo. Numa padaria, por exemplo, os insumos incluem o trabalho; matérias-primas, como farinha e açúcar; e o capital investido nos fornos, nas batedeiras c em outros equipamentos necessários à pro- dução de pães, bolos e confeitos. Como se vê, podemos dividir os insumos em amplas categorias de trabalho, matérias-primas e capi- tal, podendo cada uma dessas incluir subdivisões mais limitadas. O trabalho abrange os trabalhadores especializados (carpinteiros, engenheiros) e os não especializados (trabalhadores agrícolas), bem como os esforços empreendedores dos administradores da empresa. As matérias-primas incluem o aço, o plástico, a eletricidade, a água e quaisquer outros materiais que a empresa adquira e transforme em um produto final. O capital inclui o terreno, as instalações, a maquinaria e outros equipamentos, bem co- mo Os estoques. À FUNÇÃO DE PRODUÇÃO As empresas podem transformar os insumos em produtos de várias maneiras, usando várias com- binações de mão-de-obra, matérias-primas e capital, Podemos descrever a relação entre os insumos do processo produtivo e o produto resultante como uma função de produção. Uma função de produção in- dica o produto máximo (volume de produção), q, que uma empresa produz para cada combinação es- pecífica de insumos." Embora na prática as empresas usem inúmeros insumos, para simplificar nossa * Neste capítulo e nos seguintes, usaremos a variável q para o produto da empresa e a variável Q para o produto do setor. 162 | Partell PRODUTORES, CONSUMIDORES E MERCADOS COMPETITIVOS produto médio Produ- to obtido por unidade de determinado insumo. produto marginal Pro- duto adicional gerado ao acrescentar uma unidade a um determinado insumo. [8/8 PRODUÇÃO COM UM INSUMO VARIÁVEL (TRABALHO) Quando uma empresa tem de decidir quanto vai adquirir de determinado insumo, ela tem de comparar o benefício que obterá com o custo. Às vezes, é interessante olhar para o benefício e o custo em uma perspectiva incremental, procurando saber qual seria o produto adicional que resultaria de cer- to incremento do insumo. Outras vezes, vem a ser mais interessante fazer comparações na média, con- siderando o resultado de um aumento substancial do insumo, Analisaremos os benefícios e os custos de ambos os modos. Quando o capital é fixo, mas o trabalho é variável, o único jeito de a empresa aumentar a produ- ção é aumentando o insumo trabalho. Imagine, por exemplo, que você esteja administrando uma fábri- ca de roupas. Embora disponha de determinada quantidade de equipamentos, você poderia contratar mais trabalho, ou menos, para operar as máquinas. Você tem de tomar uma decisão sobre a quantida- de de trabalho que contratará e a quantidade de roupas que produzirá. Para poder tomar essa decisão, necessitará saber de que forma o volume de produção, q, aumenta (se é que aumenta) à medida que o insumo trabalho, L, cresce. A Tabela 6.1 contém essas informações. As primeiras três colunas apresentam o volume de produção que pode ser gerado em um mês com diferentes quantidades de trabalho e mantendo-se o capital fixo em 10 unidades. À primeira coluna apresenta a quantidade de trabalho, a segunda indi- ca a quantidade lixa de capital e a terceira mostra o volume de produção obtido. Quando o insumo trabalho é zero, o volume de produção também é zero. Dessa forma, o volume de produção eleva-se à medida que o trabalho aumenta para um insumo de 8 unidades. Além de tal ponto, o volume de produção diminui: embora, inicialmente, cada unidade de trabalho seja capaz de obter uma vanta- gem cada vez maior do equipamento c de instalações disponíveis, após determinado ponto quanti- dades adicionais de trabalho não são mais úteis e na realidade podem ser contraproducentes. Cinco pessoas podem operar uma linha de montagem melhor do que duas, porém dez pessoas podem tro- peçar umas nas outras. PRODUTO MÉDIO E PRODUTO MARGINAL A contribuição que o trabalho dá ao processo produtivo poderia ser descrita em termos do prodi- to médio e do produto marginal do trabalho. A quarta coluna da Tabela 6.1 apresenta o produto médio do trabalho (PM, ), que é a produção por unidade de insumo trabalho. O produto médio é calculado pe- la divisão do produto total, q, pela quantidade total de insumo trabalho, L. O produto médio do traba- lho mede a produtividade da força de trabalho da empresa, em termos de quanto produto cada unida- de de trabalho produz em média. Em nosso exemplo, o produto médio aumenta inicialmente, porém passa a cair quando o insumo trabalho torna-se superior a quatro. A quinta coluna da Tabela 6.1 apresenta o produto marginal do trabalho (PMg, ). Produto mar- ginal do trabalho é o volume de produção adicional gerado ao se acrescentar 1 unidade de insumo traba- lho. Por exemplo, com o capital fixo em 10 unidades, quando o insumo trabalho aumenta de 2 para 3, o produto total é elevado de 30 para 60, ocasionando um volume adicional de produção igual a 30 uni- TABELA 6.1 Produção com um insumo variável Quantidade Quantidade Produto Produto Produto de trabalho (L) de capital (K) total (q) médio [q,/1) marginal (Aq /AL) 0 10 1) — — | lo lo 10 10 ) 10 30 15 20 3 10 b0 20 30 4 10 80 2% 2% 5 10 E) 19 15 6 10 108 18 13 1 10 m lb 4 8 lo mm 14 0 9 10 108 n —+4 lo 10 100 10 -8 CapítuLo 6 ProODUÇÃO 163 dades (60 = 30). O produto marginal do trabalho pode ser expresso como Ag/AL, isto é, a variação no vo- lume de produção, Ag, resultante do aumento de uma unidade no insumo trabalho, AL. Lembre-se de que o produto marginal do trabalho depende da quantidade de capital empregado. Se o insumo capital aumentar de 10 para 20, por exemplo, é bastante provável que o produto marginal do trabalho aumente, Por quê? Isso ocorre porque os trabalhadores adicionais possivelmente serão mais produtivos se tiverem mais capital para utilizar. Da mesma forma que o produto médio, o produto mar- ginal inicialmente aumenta, depois diminui; nesse caso, após a terceira unidade de trabalho. Resumindo, temos: Produto médio do trabalho = Produto total/insumo trabalho = g/L Produto marginal do trabalho = Variação do produto total/variação do insumo trabalho = MAL INCLINAÇÕES DA CURVA DO PRODUTO A Figura 6.1 apresenta graficamente as informações contidas na Tabela 6.1. (Interligamos todos os pontos da figura com linhas cheias.) A Figura 6.1 (a) mostra que o volume de produção aumenta até atingir o valor máximo de 112; após esse ponto, apresenta diminuição. Essa parte da curva do produto total encontra-se tracejada, indicando que volumes de produção com mais de 8 unidades de trabalho por mês não são economicamente viáveis; nunca pode ser lucrativo utilizar quantidades adicionais de um insumo dispendioso para gerar uma produção menor. A Figura 6.1(b) apresenta as curvas de produto médio e de produto marginal. (As unidades do ei- xo vertical foram trocadas, de produto por mês para produto por trabalhador por mês). Observe que o produto marginal é sempre positivo quando o volume de produção é crescente, sendo negativo quando o volume de produção é decrescente. Não é mera coincidência o fato de a curva do produto marginal cruzar o eixo horizontal do gráfi- co exatamente no ponto correspondente ao volume máximo de produção. Isso ocorre porque o acrésci- mo de mais um trabalhador na linha de produção, tornando-a mais lenta e ocasionando um real decrés- cimo no produto total, implicaria um produto marginal negativo para tal trabalhador. As curvas de produto médio e de produto marginal estão estritamente relacionadas. Quando o produto marginal é maior do que o produto médio, o produto médio é crescente. Esse é o caso que ocorre entre os volumes de produção de 1 a 4 unidades de trabalho na Figura 6.1(h). Se o produto de um trabalha- dor adicional é maior do que o produto médio de cada um dos trabalhadores existentes (isto é, se o produto marginal é maior do que o produto médio), quando se acrescenta esse trabalhador, o produ- to médio aumenta. Na Tabela 6.1, dois trabalhadores produzem 30 unidades de produto, o que resul- ta em um produto médio de 15 unidades por trabalhador. Adicionar um terceiro trabalhador [az com que o produto aumente em 30 unidades (ou seja, para 60), de tal modo que o produto médio aumen- ta de 15 para 20. Da mesma maneira, quando o produto marginal é menor do gue o produto médio, o produto médio é decres- cente, e isso é o que ocorre quando o insumo trabalho é maior que 4 na Figura 6.1(b). Segundo a Tabela 6.1, seis trabalhadores produzem 108 unidades de produto, de tal modo que o produto médio é 18. Um sétimo trabalhador apresenta um produto marginal de apenas 4 = ou seja, menos do que o produto mé- dio =, o que reduz o produto médio para 16. Vimos que o produto marginal está acima do produto médio quando este é crescente, e abaixo do produto médio quando este é decrescente. Deduzimos, pois, que o produto marginal deverá ser igual ao produto médio quando o produto médio atingir seu valor máximo. Tal fato ocorre no ponto E da Figura 6.1(b). Por que, na prática, devemos esperar que a curva do produto marginal seja crescente primeiro para depois se tornar decrescente? Pensemos em uma fábrica de televisores. Menos de 10 trabalha- dores seria insuficiente para fazer funcionar a sua linha de montagem. Entre 10 e 15 trabalhadores poderiam fazê-la funcionar, mas não de um modo muito eficiente. A adição de mais alguns trabalha- dores poderia fazer com que a linha de montagem operasse de um modo muito mais eficiente, e o produto marginal deles seria muito alto. Essa eficiência adicional começaria a diminuir uma vez que a fábrica tivesse mais de 20 trabalhadores. O produto marginal do vigésimo segundo trabalhador, por exemplo, poderia ainda ser bem alto (maior do que o produto médio), mas não tão alto quanto o pro- duto marginal do décimo nono ou do vigésimo. O produto marginal do vigésimo quinto seria ainda menor, igualando-se talvez ao produto médio. Com 30 operários, a adição de um trabalhador geraria mais produto, mas não muito (de maneira que o produto marginal, ainda positivo, seria menor do que o produto médio). Uma vez que a fábrica tivesse mais de 40 trabalhadores, cada trabalhador adi- Carítuio 6 Procução | 165 PRODUTO MARGINAL DA CURVA DE TRABALHO Como vimos, o produto marginal do trabalho é a variação do produto total resultante do aumen- to de uma unidade de trabalho. Por exemplo, no ponto 4, o produto marginal é 20, porque nele a tan- gente da curva do produto total tem inclinação igual a 20. Em geral, o produto marginal do trabalho em de- terminado ponto é dado pela inclinação da curva do produto total naquele ponto. Podemos ver na Figura 6.1(b) que o produto marginal do trabalho inicialmente apresenta uma elevação, atingindo seu pico no ponto correspondente ao insumo trabalho igual a 3, posteriormente decrescendo à medida que percorremos ascendentemente a curva do produto total entre os pontos Ce D. No ponto D, no qual o volume total de produção é maximizado, a inclinação da tangente da curva do produto total é 0, da mesma forma que o produto marginal. Além desse ponto, o produto marginal torna-se negativo. À RELAÇÃO ENTRE PRODUTO MARGINAL E PRODUTO MÉDIO Observe a relação gráfica entre o produto médio e o produto marginal na Figura 6.1(4). No ponto B, o produto marginal do trabalho (a inclinação da tangen- te em relação à curva de produção no ponto B — não mostrada explicitamente) é maior que o produto mé- dio (linha tracejada 08). Como resultado, o produto médio do trabalho aumenta quando nos movemos de B para €. Em €, os produtos médio e marginal são iguais - o produto médio é a inclinação da linha 0C, en- quanto o produto marginal é a tangente da curva de produção no ponto € (note a igualdade entre os pro- dutos médio e marginal no ponto E da Figura 6.1(h)). Por fim, quando nos movemos de C para D, o pro- duto marginal cai abaixo do produto médio; você pode comprovar que a inclinação da tangente da curva de produção em qualquer ponto entre C e D é menor que a inclinação da linha a partir da origem. LEI DOS RENDIMENTOS MARGINAIS DECRESCENTES O produto marginal decrescente do trabalho (e um produto marginal decrescente de outros insu- mos) ocorre na maioria dos processos de produção. A lei dos rendimentos marginais decrescentes diz que, à medida que aumenta o uso de determinado insumo em incrementos iguais (mantendo-se fi- xos os demais insumos), acaba-se chegando a um ponto em que a produção adicional resultante decres- ce. Quando o insumo trabalho é pequeno (e o capital é fixo), pequenos incrementos de insumo traba- lho geram substanciais aumentos no volume de produção, à medida que os funcionários são admitidos para desenvolver tarefas especializadas. Inevitavelmente, entretanto, a lei dos rendimentos marginais decrescentes entra em ação. Quando houver funcionários em demasia, alguns se tornarão ineficientes, e o produto marginal do insumo trabalho apresentará uma queda. A lei dos rendimentos marginais decrescentes geralmente aplica-se ao curto prazo, quando pelo menos um dos insumos permanece inalterado. Entretanto, ela também se aplica ao longo prazo. Mes- mo que sejam variáveis todos os insumos da produção no longo prazo, um administrador pode ter inte- resse em analisar opções de produção para as quais um ou mais insumos devam permanecer inaltera- dos. Suponhamos, por exemplo, que apenas dois tamanhos de fábrica sejam viáveis e a administração tenha de tomar a decisão de construir uma delas. Então, a administração desejaria saber em que ponto a lei dos rendimentos marginais decrescentes passaria a atuar em cada uma das duas alternativas. Não confunda a lei dos rendimentos marginais decrescentes com possíveis alterações na qualidade da mão-de-obra à medida que aumentam as unidades do insumo trabalho (por exemplo, se todos os tra- balhadores com alta qualificação fossem contratados em primeiro lugar, e aqueles com menor qualifica - ção fossem contratados por último). Em nossa análise da produção, adotamos a premissa de que todas as unidades do insumo trabalho têm igual qualidade; por conseguinte, os rendimentos decrescentes re- sultam de limitações no uso dos demais insumos mantidos inalterados (por exemplo, equipamentos), e não do declínio da qualidade dos trabalhadores. Também não confunda rendimentos decrescentes com retornos negativos, À lei dos rendimentos decrescentes descreve um produto marginal declinante, mas não necessariamente um produto marginal negativo. A lei dos rendimentos marginais decrescentes aplica-se a uma tecnologia de produção específica. Ao longo do tempo, entretanto, as invenções e outros avanços tecnológicos podem vir a permitir que to- da a curva do produto total da Figura 6.1(a) seja deslocada para cima, de tal maneira que um maior vo- lume possa ser produzido com os mesmos insumos. A Figura 6.2 ilustra esse fato. Inicialmente, a curva do produto total corresponde a O,, porém avanços tecnológicos podem permitir que toda a curva de pro- duto total seja deslocada para cima, primeiro até O, e depois até O,. Suponhamos que, com o decorrer do tempo, à medida que se aumenta a mão-de-obra na produ- ção agricola, estejam também ocorrendo avanços tecnológicos, tais como sementes geneticamente mo- dificadas que resistem às aplicações de pesticidas, fertilizantes mais poderosos e mais eficazes ou ainda melhores equipamentos rurais. Nesse caso, o produto total sofre uma variação do ponto 4 (com um in- sumo trabalho igual a 6 na curva O) para o ponto E (com um insumo trabalho igual a 7 na curva 0,) e para o ponto € (com um insumo trabalho igual a 8 na curva O,). lei dos rendimentos mor- ginais decrescentes Prin- cípio segundo o qual, con- forme a utilização de um insumo oumenta, com ou- tros insumos mantidos cons- tantes, a produção adicio- nal a partir de determinado ponto decresce. 166 | Parte ll ProDurores, CONSUMIDORES E MERCADOS COMPETITIVOS Produção = por período ta “4 % “% 4 4 [8] 100 fa) | “a I ho I + | S | + | . k “a 0, 50 | “ua | “ss I “4 | : | | 0, | | | l ] Li) 1 2 3 4 5 6 7 E 9 10 Trabalho por período Figura 6.2] Efeito dos avanços tecnológicos A produtividade da mão-de-obra (volume de produção por unidade de trabalho) pode aumentar se houver avanços tecnológicos, mesmo que determinado processo produtivo apresente rendimentos decrescentes pa- ra o insumo trabalho. À medida que nos movemos do ponto A, na curva O, para B, na curva O, e para €, na curva O, ao longo do tempo, a produtividade da mão-de-obra aumenta. A movimentação de À para B e depois para € estabelece uma relação entre um aumento no insumo trabalho e um aumento no produto total, dando a falsa impressão de que não estão ocorrendo rendimen- tos marginais decrescentes. Na verdade, a mudança na curva de produto total sugere que pode não haver nenhuma implicação negativa para o crescimento econômico de longo prazo. De fato, como discutiremos no Exemplo 6.1, não considerar os avanços tecnológicos no longo prazo levou o economista Thomas Malthus a prever erroncamente consequências calamitosas para o crescimento populacional contínuo. Malthus e a crise de alimentos A lei dos rendimentos decrescentes foi de fundamental importância para o pensamento do eco- nomista Thomas Malthus (1766-1834) Malthus acreditava que a quantidade relativamente fixa de terras existentes em nosso planeta seria insuficiente para o suprimento de quantidades necessárias de alimento, à medida que a população mundial crescesse. Segundo suas previsões, quando ocorres- se a queda tanto da produtividade marginal quanto da produtividade média da mão-de-obra e ain- da houvesse mais pessoas para serem alimentadas, o resultado seria a fome em larga escala. Feliz- mente, Malthus estava enganado (embora estivesse correto a respeito da aplicação da lei dos rendi- mentos decrescentes para o trabalho). Nos últimos cem anos, avanços tecnológicos modificaram significativamente a produção de alimentos na maioria dos países (inclusive em países em desenvolvimento, como a Índia), de tal for- ma que o produto médio do trabalho e a produção total de alimentos têm apresentado elevação. Tais avanços incluem novas variedades de sementes de alto rendimento e alta resistência às pragas, me- lhores fertilizantes e melhores colheitadeiras. Como mostra o índice de produção de alimentos na Ta- bela 6.2, a produção global de alimentos tem excedido o crescimento populacional mundial de for- ma contínua desde 1960. Esse aumento na produtividade agrícola mundial é também ilustrado na Figura 6.3, que mostra a produção média de cercais de 1970 até 2001, bem como o índice de preço mundial para alimentos.” Note que a produção de cercais cresceu ininterruptamente nesse período, * Thomas Malthus, Essay on the principle of population, 1798. “Os dados sobre a produção mundial de alimentos per capita são da Organização das Nações Unidas para a Alimen- tação e a Agricultura (FAO). Veja também http://apps.fao.org (selecione “Agriculture”, depois “Agricultural Production Indices"). * Os dados são da FAQ e do Banco Mundial. Veja também http:///apps.fao.org (selecione “Agriculture” e depois, na seção “Data Collection”, selecione “Crops Primary”). 168 |Parreli PRODUTORES, CONSUMIDORES E MERCADOS COMPETITIVOS estoque de capital A quantidade total de ca- pital disponível para em- prego na produção. mudança tecnológica Desenvolvimento de no- vas tecnologias que per- mitem que os fatores de produção sejam utiliza- dos mais efetivamente. Pelo fato de o produto médio mensurar o produto total por unidade de insumo trabalho, torna-se relativamente [ácil obter essa medida (porque o insumo trabalho total e o produto total são as duas úni- cas informações de que necessitamos). A produtividade da mão-de-obra possibilita fazer comparações úteis entre setores, bem como dentro de um setor no decorrer de um longo período. A produtividade é particularmente importante porque ela determina o real padrão de vida que determinado país pode ofe- recer a seus cidadãos. PADRÃO DE VIDA E PRODUTIVIDADE Há uma ligação simples entre a produtividade da mão-de-obra e o pa- drão de vida. Em qualquer ano, o valor agregado dos bens e serviços produzidos por uma economia é igual aos pagamentos feitos a todos os insumos, inclusive salários, locação de capital e lucros de empre- sas. São os consumidores que, em última análise, recebem esses pagamentos de insumos, quaisquer que sejam as formas de pagamento, Consegientemente, os consumidores em conjunto podem aumentar seu consumo no longo prazo simplesmente por meio de uma elevação na quantidade total que produzem. A compreensão das causas do crescimento da produtividade é uma área de pesquisa importante em economia. Sabemos que uma das fontes mais importantes desse crescimento é o aumento do estoque de capital, isto é, da quantidade total de bens de capital disponíveis para uso produtivo. Como um aumento do capital significa mais e melhor maquinaria, cada trabalhador produz mais por hora trabalhada. Uma outra fonte importante do crescimento da produtividade da mão-de-obra é a mudança tecnológica, is- to é, o desenvolvimento de novas tecnologias que permitem um uso mais eficiente da força de trabalho (assim como dos outros fatores de produção) para produzir novos bens e bens de melhor qualidade. Como mostra o Exemplo 6.2, os níveis da produtividade da mão-de-obra, assim como suas taxas de crescimento, diferem consideravelmente de um país para outro. Dado o papel central que a produtividade tem na determinação do padrão de vida da população, compreender essas diferenças é muito importante. Produtividade da mão-de-obra e padrão de vida Será que o padrão de vida nos Estados Unidos, na Eu- ropa e no Japão continuará a melhorar ou será que essas economias apenas conseguirão manter para as gerações fu- turas os mesmos níveis das gerações atuais? A resposta de- pende da produtividade da mão-de-obra, pois a renda real dos consumidores desses países aumenta no mesmo ritmo que a produtividade. Como mostra a Tabela 6.3, o nível de produção por tra- balhador nos Estados Unidos em 2001 foi substancialmente mais elevado do que em outras importantes nações desenvolvidas. Todavia, desde o final da Segunda Guerra Mundial, dois aspectos têm se mostrado particularmente incômodos para os norte-america- nos. Em primeiro lugar, até a década de 1990, 0 crescimento da produtividade nos Estados Unidos foi, em média, mais lento do que o da maioria das outras nações desenvolvidas. Em segundo lugar, para todas as nações desenvolvidas, o crescimento da produtividade entre 1974 e 2001 foi substancialmen- te mais baixo do que havia sido no passado. Entre 1960 e 1991, a taxa de crescimento da produtividade no Japão foi a mais alta, seguida pela da Alemanha e da França. Nos Estados Unidos, o crescimento da produtividade foi o mais bai- xo, inferior até mesmo ao da Inglaterra. Isso se deve em parte a diferenças entre as taxas de investi- mento e as taxas de crescimento do capital entre os vários países. O maior crescimento do capital, durante o período do pós-guerra, ocorreu no Japão, na França e na Alemanha, nações substancial- mente reconstruídas após a Segunda Guerra Mundial. Em alguma proporção, portanto, as taxas mais baixas do crescimento da produtividade verificadas nos Estados Unidos, em comparação com as do Japão, da França e da Alemanha, seriam resultantes da necessidade que tais países tiveram de retomar o desenvolvimento depois da guerra. O crescimento da produtividade encontra-se ligado também ao setor de recursos naturais da economia. À medida que o petróleo c outras reservas naturais começaram a se esgotar, o produto por trabalhador apresentou alguma queda. As regulamentações de caráter ambiental (por exemplo, a ne- cessidade de restaurar a condição original do solo após atividades de extração de carvão em lavras a céu aberto) ampliaram tal efeito, enquanto o público tornou-se mais preocupado com a importância de manter o ar e a água mais limpos. Observemos na Tabela 6,3 que a produtividade nos Estados Unidos cresceu entre 1992 e 2001, particularmente quando comparada à de outros países. Os economistas têm debatido o assunto pa- “Os valores recentes sobre o crescimento, o PIB, O emprego e o PPP foram obtidos na OCDE. Para mais informações, visite a página http://www oecd.org e selecione “Frequently Requested Statistics”, dentro da seção de estatísticas. Capítuio 6 Probução | 169 TABELA 6.3 Produtividade da mão-de-obra nos países desenvolvidos Estados Reino Unicos Jarião Franca ALEMANHA Unico Produção real por trabulhador (2007) 575.575 $52.848 $62.46] 566.369 552.499 Anos Taxa de crescimento anual da produtividade da mão-de-obra (%) 1960-1973 2,29 7,86 470 3,98 2,84 1974-1982 0,22 2 RE 28 153 1983-199] 1,54 24 1,50 2,07 1,57 1992-200] 2,00 119 0,86 210 1,98 ra saber se este vem a ser um fato excepcional de curto prazo ou o começo de uma tendência de lon- go prazo. Alguns deles acreditam que a rápida mudança tecnológica durante a década de 1990, em especial a revolução da informática, criou novas possibilidades para o crescimento da produtividade. Se essa visão otimista estiver correta, observaremos uma continuação das altas taxas de crescimen- to da produtividade nos próximos anos. RX PRODUÇÃO COM DOIS INSUMOS VARIÁVEIS Completamos nossa análise da função de produção no curto prazo, na qual um dos insumos, o trabalho, é variável, e o outro, o capital, é fixo. Agora nos voltaremos ao longo prazo, no qual tanto o tra- balho quanto o capital são variáveis. A empresa pode agora produzir de vários modos, combinando di- [erentes quantidades de trabalho e capital. Nesta seção, veremos como uma empresa pode escolher en- tre combinações de trabalho e capital que geram a mesma produção. Na primeira subseção, vamos examinar a escala do processo produtivo, analisando como a produção muda quando as combinações de insumo são dobradas, triplicadas e assim por diante. ISOQUANTAS Começaremos examinando a tecnologia de produção da empresa quando ela utiliza dois insumos e pode fazer variações de ambos. Suponhamos, por exemplo, que os insumos sejam capital e trabalho, e que estes estejam sendo utilizados para produzir alimento. A Tabela 6.4 relaciona os volumes de pro- dução alcançáveis por meio de diversas combinações de insumos. As unidades do insumo trabalho encontram-se relacionadas na linha superior e as do insumo capi- tal, na coluna situada à esquerda. Cada valor na tabela corresponde ao volume máximo de produção (tec- nicamente eficiente) que pode ser obtido por determinado período (digamos, um ano), com cada combina- ção de trabalho e capital utilizada ao longo desse período. Por exemplo, 4 unidades de trabalho por ano e 2 unidades de capital por ano resultam em 85 unidades de alimento por ano. Observando cada linha, vemos que o volume de produção aumenta à medida que as unidades de trabalho também aumentam, manten- TABELA 6.4 Produção com dois insumos variáveis Trabalho Capitol I 2 3 d 5 | 20 ) 55 65 (15) 2 40 60 (15) 85 90 3 55 (15) 90 100 105 4 65 85 100 no 5 5 (5) 90 105 E 120 * Para obter mais informações sobre a produtividade do trabalho e o padrão de vida, visite o site http://www bls.gov/fIs/. Na seção “GDP per Capita and per Employed Person — International Comparisons”, clique em “Comparative Real Gross Domestic Product per Capita and per Emploved Person, Fourteen Countries, 1960-2002". CapítuLo 6 PRODUÇÃO 171 Ilexibilidade. Por exemplo, restaurantes de fast-food defrontam-se atualmente, nos Estados Unidos, com escassez de trabalho jovem e de baixa remuneração. As empresas têm enfrentado essa situação por meio da automatização — introduzindo o sistema de self-service para saladas e adquirindo equipamentos mais sofisticados de cozinha. Além disso, têm recrutado pessoas mais velhas para ocupar as vagas existentes. Como discutiremos nos capítulos 7 e 8, incorporando essa Ilexibilidade no processo produtivo, os adminis- tradores podem escolher combinações de insumos capazes de minimizar custos e maximizar lucros. RENDIMENTOS MARGINAIS DECRESCENTES Embora tanto o trabalho quanto o capital sejam variáveis no longo prazo, para uma empresa que está escolhendo a combinação ótima de insumo é útil perguntar o que acontece com o produto quando um dos insumos aumenta, enquanto o outro permanece constante. O resultado desse exercício está des- crito na Figura 6.4, que reflete rendimentos decrescentes tanto para o trabalho quanto para o capital. Podemos entender a razão da existência de rendimentos decrescentes no trabalho desenhando uma li- nha horizontal em determinado nível de capital, digamos 3. Fazendo a leitura dos níveis de produção de cada isoquanta, à medida que aumenta a quantidade do trabalho, podemos observar que cada unidade adicional de trabalho é capaz de gerar volumes cada vez menores de produção adicional. Por exemplo, quando o trabalho aumenta de 1 para 2 unidades (do ponto A para o ponto B), a produção aumenta em 20 unidades (de 55 para 75). Entretanto, quando o trabalho aumenta em uma unidade (do ponto E pa- ra o ponto C), a produção aumenta em apenas 15 (de 75 para 90), Assim, há rendimentos decrescentes do trabalho tanto no curto como no longo prazo. Como, ao se adicionar um insumo e manter o outro constante, inevitavelmente os incrementos de produção serão cada vez menores, a isoquanta se torna- rá mais inclinada à medida que mais capital for adicionado no lugar do trabalho e se tornará mais pla- na à medida que o trabalho for adicionado no lugar do capital, Há rendimentos marginais decrescentes também para o capital, Mantendo-se o trabalho fixo, o pro- duto marginal do capital aumentará à medida que o capital for elevado. Por exemplo, quando o capital au- menta de 1 para 2, co trabalho é mantido constante no nível 3, o produto marginal do capital é inicial- mente 20 (75 - 55), mas o produto marginal cai para 15 (90 — 75) quando o capital aumenta de 2 para 3. SUBSTITUIÇÃO ENTRE INSUMOS Havendo dois insumos que possam ser alterados, um administrador deve considerar a possibili- dade de substituir um pelo outro. A inclinação de cada isoquanta indica o volume de cada insumo que pode ser substituído por determinada quantidade do outro, mantendo-se a produção constante. Quan- do o sinal negativo é removido, a inclinação passa a ser denominada taxa marginal de substituição técnica (TMST). A taxa marginal de substituição técnica do trabalho por capital é a quantidade em que se pode reduzir o insumo capital quando se utiliza uma unidade extra de insumo trabalho, de tal forma que a produção seja mantida constante. Tal fato é análogo à taxa marginal de substituição (TMS) da teoria do consumidor. Como descrevemos na Seção 3.1, a TMS mostra como os consumidores substi- tuem um bem pelo outro, mantendo o nível de satisfação constante. Da mesma forma que a TMS, a TMST é sempre medida como quantidade positiva: TMST = -Variação do insumo capital/variação do insumo trabalho = ARAL (para um nível constante de q) onde AK e AL representam pequenas variações de capital e de trabalho ao longo de determinada iso- quanta, Na Figura 6.5 a TMST é igual a 2 quando o trabalho aumenta de 1 para 2 unidades, estando a pro- dução lixa em 75. Entretanto, a TMST cai para | quando o trabalho aumenta de 2 para 3 unidades, e en- tão declina para 2/3 e para 1/3. Nitidamente, à medida que quantidades cada vez maiores de trabalho substituem o capital, o trabalho se torna cada vez menos produtivo, e o capital, relativamente mais pro- dutivo. Por conseguinte, menos capital precisa ser despendido para que se consiga manter constante o volume de produção obtido, e a isoquanta torna-se mais plana. TMST DECRESCENTE Presumimos que exista uma TMST decrescente. Em outras palavras, a TMST cai à me- dida que nos deslocamos para baixo ao longo de uma isoquanta. A implicação matemática desse fato é que as isoquantas são convexas, assim como as curvas de indiferença. A TMST decrescente informa-nos que a produtividade que qualquer unidade de insumo possa ter é limitada. À medida que se adiciona uma quantidade cada vez maior de trabalho ao processo produtivo, em substituição ao capital, a produ- tividade da mão-de-obra cai. Da mesma forma, quando uma quantidade maior de capital é adicionada, em substituição ao trabalho, a produtividade do capital apresenta redução. A produção necessita de uma combinação equilibrada de ambos os insumos. taxa marginal de substitui- ção técnica [IMST) Quan- tidade na qual um insumo pode ser reduzido quando uma unidade adicional de outro insumo é utiliza- da, mantendo-se o produto constante. Na Seção 3.1, explica mos que a taxa marginal de substituição é a quan- tidade máxima de um bem que o consumidor está disposto a deixar de adguirir para obter uma unidade de outro bem. Na Seção 3.1, mostramos que uma curva de indife- rença é convexo se a taxa marginal de substituição diminui ao longo da cur- va, quando percorremos esta de cima para baixo. 172 | Parteli PRODUTORES, CONSUMIDORES E MERCADOS COMPETITIVOS Na Seção 3.1, explica- mos que dois bens são substitutos perfeitos se a taxa marginal de substi- tuição de um pelo outro é constante. Capital por mês 5H Trabalho por mês Figura 6.5] Taxa marginal de substituição técnica Isoquantas possuem inclinação descendente e são convexas, assim como as curvas de indiferença. A inclina- ção da isoquanta em qualquer ponto mede a taxa marginal de substituição técnica — a habilidade da empre- sa em trocar capital por trabalho, mantendo o mesmo nível de produção. Na isoquanta q, à TMST cai de 2 para 1, depois para 2/5 e finalmente para 1,5. Como acaba de sugerir nossa discussão, a TMST está bastante relacionada com os produtos marginais do trabalho (PMg, ) e do capital (PMg,). Para compreender tal fato, imagine algum acrés- cimo de trabalho e uma redução do capital, mantendo-se constante o produto. O acréscimo de pro- duto resultante do aumento do insumo trabalho é igual ao produto adicional por unidade adicional de trabalho (isto é, o produto marginal do trabalho) multiplicado pelo número de unidades de tra- balho adicional: Produto adicional resultante de maior utilização do trabalho = (PMg,)(AL) Do mesmo modo, o decréscimo de produção resultante de uma redução no capital corresponde à perda de produção por unidade reduzida no capital (o produto marginal do capital) multiplicada pelo número de unidades em que o capital foi reduzido: Redução da produção resultante do decréscimo do capital = (PMg,)(AK) Pelo fato de estarmos mantendo a produção constante quando nos movemos sobre uma isoquan- ta, a variação total da produção deve ser igual a zero. Assim, temos: (PMg,)(AL) + (PME) (AK) = 0 Então, reordenando os termos da expressão anterior, temos: (PMg )MPMg,) = —(AK/AL) = TMST (6.2) A equação 6.2 nos diz que a taxa marginal de substituição técnica entre dois insumos é igual à razão entre os produtos marginais dos insumos. Essa expressão será útil quando formos investigar a escolha das quan- tidades de insumos feita pela empresa com o objetivo de minimizar os custos, no Capítulo 7. FUNÇÕES DE PRODUÇÃO = DOIS CASOS ESPECIAIS Dois casos extremos de funções de produção podem ser utilizados para examinar a faixa de pos- sibilidades de substituição de insumos em um processo produtivo. No primeiro caso, apresentado na Fi- gura 6.6, 05 insumos são substitutos perfeitos um para o outro. Aqui, a TMST é constante em todos os pon- tos da isoquanta. Consequentemente, a mesma produção (por exemplo, q,) pode ser obtida principal- 174 PARTE II PRODUTORES, CONSUMIDORES E MERCADOS COMPETITIVOS Capital por mês L| Trabalho por mês JET: ePA Função de produção de proporções fixas Quando as isoquantas possuem formato em L, apenas determinada combinação de trabalho e capital pode ser utilizada para obter determinado nível de produto (como no ponto A na isoquanta q, B na isoquanta g, € na isoquanta q,). Acréscimo apenas de trabalho, ou apenas de capital, não aumenta o volume de produção. mente todos os insumos. Particularmente, seria difícil incrementar o insumo capital em substituição ao in- sumo trabalho, uma vez que os atores são fatores necessários à produção (excetuando-se, talvez, o caso dos desenhos animados). De modo semelhante, seria difícil a substituição de capital por trabalho, uma vez que as produções de filmes e shows de televisão, atualmente, exigem equipamentos sofisticados. Uma função de produção para o trigo As safras agrícolas podem ser produzidas por meio de diferentes métodos, Os alimentos cultivados em grandes fazendas dos Estados Unidos são geralmente produzidos por meio de tecnologia intensiva em capital, que envolve subs- tanciais investimentos de capital, tais como prédios e equi- pamentos, com relativamente pouco emprego do trabalho. Entretanto, os alimentos também podem ser produzidos por meio do uso de pouco capital (enxadas) e grande quan- tidade de trabalho (muitas pessoas com paciência e resis- tência para cultivar o solo). Uma forma de descrever o pro- cesso de produção agrícola é mostrando uma isoquanta (ou então, mais de uma) que descreva a combinação de insumos capazes de gerar determinado nível de produção (ou então diversos níveis de produção). A descrição a seguir se refere a uma estimativa estatística da função de produção do trigo” A Figura 6.8 apresenta uma isoquanta associada à função de produção correspondente à pro- dução de 13.800 bushels de trigo por ano. O administrador da fazenda pode utilizar essa isoquanta para decidir se seria mais lucrativo contratar mais trabalho ou então utilizar um número maior de equipamentos. Suponhamos que a fazenda esteja atualmente sendo operada no ponto 4, com insu- mo trabalho, L, de 500 horas-homem e insumo capital, K, de 100 horas-máquina. O administrador decide fazer uma experiência utilizando menor quantidade de horas-máquina. Para que possa con- tinuar com o mesmo volume anual de produção, ele descobre que necessita substituir essas horas- máquina por 260 horas de trabalho. O resultado dessa experiência informa ao administrador qual é o formato da isoquanta da Tun- ção de produção do trigo. Ao comparar o ponto 4 (onde L = 500€ K = 100) com o ponto B (onde “A função de produção de alimentos em que este exemplo sc bascia é expressa pela equação q = 100(K“ 1, na qual q é o volume anual de produção em bushels de trigo, K é a quantidade anual de máquinas em uso e Léa quantidade anual de horas de trabalho. CapítuLo 6 ProODUÇÃO 175 Capital (horas- máquina por ano) 120 —- 100 -—>—>——>—>—>—>—>—>—>—>——————— DL 000000 80 — Produção = 13.800 bushels por ano 40 — l 760 1000 I I I I I I | I I | I I I I I I I I I I ó ba CU S tt s S Trabalho (horas por ano) EPIs: 6] Isoquanta que descreve a produção de trigo O volume de produção de trigo de 13.800 bushels por ano pode ser obtido por meio de diferentes combinações de trabalho c capital, O processo mais intensivo em capital é representado pelo ponto 4, € o processo mais in- tensivo em trabalho, pelo ponto B. A taxa marginal de substituição técnica entre 4 e B é 10/260 = 0,04. L =760€K = 90), ambos sobre a mesma isoquanta, o administrador descobre que a taxa marginal de substituição técnica é igual a 0,04: (-AK /AL = —(-10)/260 = 0,04). A TMST revela a natureza do trade-off entre um acréscimo de trabalho e uma diminuição no uso de equipamentos, Pelo fato de a TMST apresentar valor substancialmente inferior a 1, o admi- nistrador sabe que, quando o salário de um trabalhador braçal se tornar igual ao custo operacional de uma máquina, ele deverá passar a utilizar mais capital. (Nos atuais níveis de produção, ele preci- sa de 260 unidades de trabalho para poder substituir 10 unidades de capital.) Na verdade, ele sabe que, a menos que o trabalho seja substancialmente mais barato do que o uso da máquina, seu pro- cesso produtivo deve tornar-se mais intensivo em capital, A decisão relativa ao número de trabalhadores a serem contratados e de máquinas a serem utiliza- das não poderá ser completamente resolvida enquanto não discutirmos custos de produção no próximo capítulo. Entretanto, este exemplo ilustra a forma pela qual o conhecimento das isoquantas de produção e da taxa marginal de substituição técnica pode auxiliar um administrador. Ele sugere também a razão pe- la qual a maioria das fazendas dos Estados Unidos e do Canadá, onde o trabalho é relativamente caro, ope- ra em uma faixa de produção em que a TMST é relativamente alta (apresentando uma elevada proporção de capital/trabalho), enquanto as fazendas dos países em desenvolvimento, onde o trabalho é mais bara- to, operam com TMST mais baixa (e menor proporção de capital/trabalho EA combinação ideal de traba- lho/capital a ser utilizada dependerá dos preços dos insumos, assunto que será tratado no Capítulo 7, [+ M:8 RENDIMENTOS DE ESCALA A análise que fizemos sobre a substituição de fatores no processo produtivo nos mostrou o que acontece quando uma empresa troca um insumo por outro mantendo o produto constante. Entretanto, no longo prazo, quando todos os insumos são variáveis, a empresa precisa decidir sobre a melhor ma- Com a função de produção apresentada na nota de rodapé 7, não é difícil (utilizando-se o cálculo integral) de- monstrar que a taxa marginal de substituição técnica pode ser expressa pela equação: TMST = (PMg,/PMg.| = (4) (K/L). Portanto, a TMST diminui à medida que a relação capital/trabalho diminui. Para conhecer um inte- ressante estudo sobre produção agrícola em Israel, veja Richard E. Just, David Zilberman e Eithan Hochman, “Estimation of multicrop production functions”, American Journal of Agricultural Economics 65, 1983, p. 770-780, CapítuLo 6 PRODUÇÃO 177 Capital Capital (horas- A (horas- A máquina) máquina) 6 30 4 4 —t—— — im L 2 30 2 A ! 20 I | 10 0 0 5 10 Trabalho (horas) Trabalho (horas) (a) (b) eps: y) Rendimentos de escala Quando o processo de produção de uma empresa apresenta rendimentos constantes de escala, como mostrado pelo movimento ao longo da linha 04 em (a), o espaço entre as isoquantas é igual, à medida que a produção au- menta proporcionalmente. Entretanto, quando há rendimentos crescentes de escala, como mostrado em (b), as isoquantas situam-se cada vez mais próximas, à medida que os insumos aumentam ao longo da linha. Os rendimentos de escala variam substancialmente entre as empresas e entre os setores. Manti- do tudo o mais constante, quanto mais substanciais forem os rendimentos de escala, maiores tendem a ser as empresas de determinado setor. Tipicamente, as empresas do setor de transformação têm maior probabilidade de apresentar rendimentos crescentes de escala do que as empresas do setor de serviços, pois a atividade de transformação exige substanciais investimentos em equipamentos de capital, As empresas do setor de serviços são mais intensivas em trabalho, e podem ser igualmente eficientes ope- rando em pequena ou em grande escala. Rendimentos de escala na indústria de tapetes A indústria de tapetes nos Estados Unidos concentra- se em torno da cidade de Dalton, na parte setentrional do estado da Geórgia. De um setor industrial relativamente pe- queno, com muitas empresas também pequenas na primeira metade do século XX, cresceu rapidamente e se tornou um grande setor com um elevado número de empresas de todos os tamanhos. À título de ilustração, listamos na Tabela 6.5, classificados pelo valor de suas entregas em milhões de dóla- res no ano de 2001, os dez maiores fabricantes de tapetes.” Atualmente, nesse setor, há quatro empresas relativamente grandes (Shaw, Mohawk, Armstrong c Beaulicu), assim como um número bem expressivo de pequenos fabricantes. Há, também, muitos atacadistas, varejistas, grupos compradores e cadeias nacionais de vendas no varejo. O setor de tape- tes cresceu rapidamente por diversas razões. A demanda dos consumidores por tapetes de lã, náilon e polipropileno para usos residencial e comercial aumentou vertiginosamente. Além disso, inovações como a introdução de máquinas de entufar maiores, mais eficientes e mais rápidas, reduziram os custos, possibilitando o aumento da produção. Juntamente com o aumento da produção, a inovação e a competição colaboraram para reduzir os preços reais dos tapetes. Em que medida, se [or este o caso, o crescimento da indústria de tapetes pode ser explicado pe- la existência de rendimentos de escala? Ocorreram certamente melhorias substanciais no processa- mento de vários insumos-chave (fios mais difíceis de manchar, por exemplo), assim como no proces- so de distribuição da produção para revendedores e consumidores finais. No entanto, o que ocorreu na produção de tapetes? Essa produção é intensiva em capital - as fábricas requerem pesados inves- * Frank O'Neill, “Focus 100 Manufacturers”, Focus, maio 2002, p. 20. 178 Parte ll ProDurorEs, CONSUMIDORES E MERCADOS COMPETITIVOS timentos em máquinas de entufar velozes, as quais transformam vários tipos de fios em tapeçarias também variadas, assim como em máquinas de forrar os tapetes, de cortá-los nos tamanhos apro- priados, de embalá-los e empacotá-los convenientemente. De modo geral, o capital físico (incluindo a fábrica e seus equipamentos) é responsável por cer- ca de 77% dos custos de fabricação de tapetes, enquanto o trabalho é responsável apenas pelos 23% restantes. Ao longo do tempo, os maiores fabricantes de tapetes aumentaram a escala de suas ope- rações pondo em funcionamento máquinas de entufar maiores e mais eficientes dentro de fábricas também maiores. Ao mesmo tempo, o emprego da mão-de-obra nessas fábricas também aumentou significativamente. Qual foi o resultado de tudo isso? Aumentos proporcionais de insumos resulta- ram em aumentos mais do que proporcionais de produto nas fábricas maiores. Por exemplo, dobrar os insumos capital e trabalho fazia com que o produto crescesse 110%, Esse padrão, entretanto, não se mostrou uniforme em todo o setor. Os pequenos fabricantes descobriram que pequenas mudan- ças de escala tinham pouco ou nenhum efeito na produção, isto é, ao aumentarem proporcionalmen- te os insumos, obtinham somente um acréscimo de resultado na mesma proporção. Podemos, pois, caracterizar o setor de tapetes como um em que há rendimentos constantes de escala nas [ábricas pequenas, mas rendimentos crescentes de escala nas lábricas grandes. Esses ren- dimentos crescentes, entretanto, são limitados, de tal modo que, se o tamanho de uma dessas [ábri- cas for aumentado, chegará um momento em que os rendimentos se tornarão decrescentes. o] TABELA 6.5 A indústria de tapetes nos Estados Unidos Entregas de tapetes, 200] (milhões de dólares por ano)* 1. Show Industries 40120 6. Interface Flooring 639,8 2. Mohawk Industries 3.350,0 7. Mannington Mills 555,0 3. Armstrong 1.816,6 8. Collins & Aikman 500,0 4. Beauligu of America 1.300,00 9. The Dixie Group 484,6 5. Dol-Tile 667,0 10. Domco-Tarkett 419,5 *0s dodos da Tabela 6.5 representam os vendas totois de revestimentos em 2001, dos quais 69,1% referem-se o tapecario [carpetes e tupetes). Resumo 1. Uma função de produção mostra a produção máxima que uma em- ta. À laxa marginal de substituição técnica (TMST) do trabalho pe- presa pode obter para cada combinação específica de insumos. to capital corresponde à quantidade em que se deve reduzir o 2. No curto prazo um ou mais insumos do processo produtivo insumo capital, quando uma unidade extra de insumo tra- são fixos, enquanto no longo prazo, todos os insumos são po- balho é utilizada, de tal forma que a produção permaneça tencialmente variáveis. constante. 3. A produção com um insumo variável, por exemplo, o traba- 7. O padrão de vida que um país pode oferecer a seus cidadãos lho, pode ser utilmente descrita em termos de produto médio do está bastante relacionado ao nível de produtividade da sua trabalho (que mede o produto por unidade de trabalho) e de mão-de-obra. Diminuições no crescimento da taxa de produ- produto marginal do trabalho (que mede a produção adicional tividade dos países desenvolvidos devem-se em parte à falta quando se aumenta o trabalho em uma unidade). de crescimento dos investimentos de capital. 4. De acordo com a lei dos rendimentos decrescentes, quando um ou 8. As possibilidades de substituição entre os insumos no proces» mais insumos são fixos, o insumo variável (geralmente o tra- so produtivo variam de uma função de produção na qual os balho) apresenta um produto marginal que diminui à medida insumos são substitutos perfeitos a uma função de produção na que o nível de produção aumenta. qual as proporções dos insumos utilizados são fixas (urina fun- 5. Uma isoquanta é uma curva que mostra todas as combinações são de produção de proporções fixas). de insumos que resultam em determinado nível de produção. 9. Na análise de longo prazo, tendemos a pensar no problema A função de produção de uma empresa pode ser representada de escolha da empresa em termos de escala ou nível de ope- por uma série de isoquantas associadas a diferentes níveis de ração. Rendimentos constantes de escala significam que, do- produção. brando-se todos os insumos, obtém-se o dobro da produção. 6. As isoquantas possuem sempre inclinação descendente pelo Rendimentos crescentes de escala ocorrem quando a produ- fato de o produto marginal de todos os insumos ser positivo. O formato de cada isoquanta pode ser descrito pela taxa mar- ginal de substituição técnica, em qualquer ponto da isoquan- ção aumenta em mais do que o dobro quando se dobram os insumos, ao passo que os rendimentos decrescentes de esca- la acontecem quando a produção não chega a dobrar.