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Artigo de introdução a temas de Técnicas de Pesquisas. Explica a natureza dos estudos qualitativos, sua especificidade, aplicações e espaços que podem ocupar na investigação científica.
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade Departamento de Administração PESQUISA QUALITATIVA - CARACTERÍSTICAS, USOS E POSSIBILIDADES José Luís Neves Mestrado em Administração de Empresas (Proposta de artigo destinado a publicação) São Paulo Novembro/
RESUMO - p.
A pesquisa social tem sido marcada fortemente por estudos que valorizam o emprego de métodos quantitativos para descrever e explicar fenômenos. Hoje, porém, podemos identificar outra forma de abordagem que se tem afirmado como frutífera possibilidade de investigação: trata-se da pesquisa identificada como “qualitativa”. Surgido inicialmente no seio da antropologia e da sociologia, nos últimos 30 anos esse tipo de pesquisa ganhou espaço em áreas como a psicologia, a educação e a administração de empresas. Enquanto estudos quantitativos geralmente procuram seguir com rigor um plano previamente estabelecido (baseado em hipóteses claramente indicadas e variáveis que são objeto de definição operacional) a pesquisa qualitativa não busca enumerar ou medir eventos, nem emprega instrumental estatístico para análise dos dados; seu foco de interesse é amplo, e se define à medida que o próprio estudo se desenvolve. Dela faz parte a obtenção de dados descritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com a situação objeto de estudo. Nas pesquisa qualitativas, o pesquisador procura entender os fenômenos segundo a perspectiva dos participantes da situação estudada.
Os estudos de pesquisa qualitativa diferem quanto ao método, à forma e aos objetivos. GODOY (1995a, p. 62) ressalta a diversidade existente entre os trabalhos qualitativos, e enumera um conjunto de características essenciais capazes de identificar uma pesquisa desse tipo, a saber: (1) o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental; (2) o caráter descritivo; (3) o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida como preocupação essencial do investigador; (4) enfoque indutivo. A expressão “pesquisa qualitativa” assume diferentes significados no campo das ciências sociais. Compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam a descrever e decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social. Trata-se de reduzir a distância entre indicador e indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação (MAANEN, 1979a, p. 520). Estudos qualitativos são feitos no local de origem do dados; não impedem o pesquisador de empregar a lógica do empiricismo científico (adequada para fenômenos claramente definidos), mas partem da suposição de que seja mais apropriado empregar a perspectiva da análise fenomenológica quando se trata de fenômenos singulares e dotados de certo grau de ambigüidade. O desenvolvimento de um estudo de pesquisa qualitativa supõe um corte temporal-espacial de determinado fenômeno por parte do pesquisador. Esse corte define o campo e a dimensão em que o trabalho se desenvolverá, isto é, o território a ser mapeado. O trabalho de descrição tem caráter fundamental em um estudo qualitativo, pois é por meio dele que os dados são coletados (MANNING, 1979, p. 668).
Os métodos qualitativos e quantitativos não se excluem. Embora difiram quanto à forma e ênfase, os métodos qualitativos trazem como contribuição ao trabalho de pesquisa uma mistura de procedimentos de cunho racional e intuitivo capazes de contribuir para a melhor compreensão dos fenômenos. Pode-se distinguir o enfoque qualitativo do quantitativo, mas não seria incorreto afirmar que guardam relação de oposição (POPE & MAYS, 1995, p. 42). Nas ciências sociais, por exemplo, pesquisadores qualitativos estão mais preocupados com o processo social do que com a estrutura social; buscam visualizar o contexto e, se possível, ter uma integração empática com o processo objeto de estudo; nisso residiria a forma de compreender os fenômenos. Uma pesquisa pode revelar a preocupação em diagnosticar um fenômeno (descrevê-lo e interpretá-lo); o autor poderia também estar preocupado com explicar esse fenômeno a partir de seus determinantes, isto é, as relações de nexo causal. Tais pontos de vista não se contrapõem; na verdade, se complementam e podem contribuir, em um mesmo estudo, para um melhor entendimento do fenômeno estudado. JICK (1979, p. 602) chama a combinação de métodos quantitativos e qualitativos de “triangulação”. Faz referência a outros autores, como Campbell e Fiske que em 1959 propuseram a denominação “validação convergente” ou “multimétodo”, com sentido semelhante. No processo de construção e desenvolvimento da ciência, é lícito supor que as teorias venham antes dos fatos, sob a forma de especulação. Na pesquisa organizacional é grande a tentação de formar teorias prematuras dada a insuficiência de dados, e na expectativa de que esses venham a emergir de estudos exploratórios (MAANEN, 1979b, p. 539). O pesquisador não se ocupa simplesmente de acumular dados; coleta-os considerando que seu significado seja útil para os fins da pesquisa e dentro de um contexto. O emprego de métodos qualitativos pode conferir redirecionamento da investigação, com vantagens em relação ao planejamento integral de todos os passos da pesquisa (PIORE, 1979, p. 560). Na década de 70, Michael Piore da Cornell University desenvolveu estudo no campo do efeito da automação sobre a qualificação
profissional na manufatura; uma vez estruturada a pesquisa com enfoque comparativo, à medida que se aprofundou no tema passou a conhecer melhor sua natureza, o que o levou a dar novos rumos à investigação. Dados e métodos qualitativos são tidos como mais atrativos que os quantitativos (MILES, 1979, p. 590); são considerados ricos, completos, globais, reais. Seu valor de face pareceria inquestionável; conduziriam a vínculos mais visíveis de causa e efeito do que tabelas de correlação estatística. Conduziriam a “insights” interessantes e reduzem o efeito da incapacidade do pesquisador. Uma vez expressos sob a forma de um estudo de caso, as constatações ali contidas são inegáveis. Tal visão é ilusória, cabendo ressaltar que tanto a abordagem qualitativa como a quantitativa são capazes de produzir tanto trabalhos de pesquisa bons quanto ruins. Ademais, os dados qualitativos também têm fraquezas consideráveis e problemas. Os métodos qualitativos têm um papel importante no campo dos estudos organizacionais (DOWNEY & IRELAND, 1979, p. 635). Estudos de avaliação de características do ambiente organizacional são especialmente beneficiados por métodos qualitativos, embora estes não sirvam só para essa finalidade. Por outro lado, ainda segundo os autores, o enfoque qualitativo não se presta para questões em que se queira eliminar o viés do observador.
conforme o estudo penda mais para o diagnóstico ou para a explicação dos fenômenos. O que importa nesses estudos não é a forma de que os fatos se revestem, mas sim seu sentido. A natureza do fenômeno influi na determinação da perspectiva mais adequada: se por exemplo se pretende analisar os detalhes complexos de uma burocracia em funcionamento, o método interpretativo pode oferecer um bom ângulo de visão; se por outro lado alguém procura estudar diferenças entre aplicação de regras burocráticas, um estudo comparativo-explicativo seria mais adequado.
Não se nega a existência de problemas relacionados com a essência do método qualitativo. MANNING (1979, p. 668) chama a atenção para os problemas relacionados com o uso da linguagem na expressão das idéias, e do fato de que estas devem ser decodificadas para que a análise qualitativa seja feita. Argumentos são expressos sob a forma de texto, de forma que diferenças de estilo, de contexto ou a intenção de atribuir ao signo um caráter simbólico particular podem não ser captados pelo pesquisador. O próprio texto deve ser objeto de análise, e as diferenças de relação significante-significado podem afetar os resultados da análise, razão pela qual devem elas próprias ser objeto de consideração. A tarefa de coletar e analisar os dados é extremamente trabalhosa e tradicionalmente individual. Muita energia se faz necessária para tornar os dados sistematicamente comparáveis. Além disso, costumam ser grandes as exigências de tempo necessário para registrar os dados, organizá-los, codificá-los e fazer a análise. O problema mais sério porém parece residir no fato de que os métodos para análise e as convenções a empregar não são bem estabelecidos, ao contrário do que ocorre com a pesquisa quantitativa: constatações inovadoras, globais e aparentemente inegáveis podem estar, de fato, erradas. Também preocupados com essas questões, DOWNEY & IRELAND (1979, p. 630) ressaltam que a coleta, a interpretação e a avaliação dos dados são problemáticos em qualquer tipo de pesquisa, seja ela quantitativa ou qualitativa, de forma que a pesquisa organizacional não constitui exceção. A questão da objetividade no discurso científico se coloca não pela existência de um mundo fora da cabeça do pesquisador e outro dentro (KIRK & MILLER, 1986, p. 70), e sim pelo fato de os resultados da pesquisa conterem por si próprios um significado que independe da preferência ou da admiração do pesquisador ou dos leitores do estudo, seja ele quantitativo ou qualitativo: não é menos ìmportante ser objetivo no exame de sociedades do que ao pesquisar fenômenos físicos. Tem-se como impossível a busca de total objetividade nos trabalhos científicos (MELLON, 1990, p. 26), uma vez que os pesquisadores são seres humanos. O problema está em
Embora durante certo tempo considerados como de questionável importância e utilidade pelos pesquisadores que empregam métodos quantitativos baseados em pressupostos positivistas, os estudos qualitativos têm hoje lugar assegurado como forma viável e promissora de investigação. A falta de exploração de um certo tema, o caráter descritivo da pesquisa e a intenção de compreender um fenômeno complexo na sua totalidade são elementos que tornam propício o emprego de métodos qualitativos. Em todo caso, a opção por essa metodologia sempre dependerá de clara definição do problema e dos objetivos da pesquisa. Compreender e interpretar fenômenos a partir de seus significantes e contexto são tarefas sempre presentes na produção de conhecimento, o que contribui para que percebamos utilidade no emprego de métodos qualitativos na investigação científica.
DOWNEY, H. Kirk; IRELAND, R. Duane. Quantitative versus qualitative: the case of environmental assessment in organizational studies. Administrative Science Quarterly, vol. 24, no. 4, December 1979, pp. 630-
GODOY, Arilda S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 2, Mar./Abr. 1995a, p. 57-63. _______________. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 3, Mai./Jun. 1995b, p. 20-29. JICK, Todd. D. Mixing qualitative and quantitative methods: triangulation in action. Administrative Science Quarterly, vol. 24, no. 4, December 1979, pp. 602-611. KIRK, Jerome; MILLER, Marc L. Reliability and validity in qualitative research. Beverly Hills: Sage, 1986. KUHN, Thomas. The structure of scientific revolutions. Chicago: University Press, 1962. MAANEN, John Van. Reclaiming qualitative methods for organizational research: a preface. Administrative Science Quarterly, vol. 24, no. 4, December 1979a, pp. 520-526. _________________. The fact of fiction in organizational ethnography. Administrative Science Quarterly, vol. 24, no. 4, December 1979b, pp. 539-550.