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Pequenos grupos na igreja Batista d breves
Tipologia: Resumos
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Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito final para obtenção do grau de Bacharel em Teologia, pela Faculdade Teológica Batista Equatorial, orientado pelo Prof. Me. Nixon Rocha. BELÉM – PARÁ 2016
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito final para obtenção do grau de Bacharel em Teologia, pela Faculdade Teológica Batista Equatorial, orientado pelo Prof. Me. Nixon Rocha. Banca Examinadora:
Nixon Rocha – Prof. Orientador.
Prof. Examinador.
Prof. Examinador. Aprovado em: ____/____/______ Conceito: __________________
Seminário Teológico Batista Equatorial – STBE Diretor Geral Dr. David B. Riker, PhD.
Diretor Geral Dr. David B. Riker, PhD. Diretor acadêmico Prof. Dr. José Carlos de Lima Costa Diretor administrativo e financeiro Pr. Antonio Ronaldo F. de Souza Secretária e gestora acadêmica Prof.ª Sheila Gomes Carneiro Sousa Coordenador de pesquisa e Pós-Graduação / Coordenação de TCCs Prof. Me. Élcio Sant’Anna Coordenador Acadêmico (Teologia) Prof. Dr. José Carlos de Lima Costa Composição do texto Prof. Esp. Josué da Silva de Lima End.: BR 316, Km 01, 6241. Castanheira. CEP 66645-003. Belém – PA Horário de Atendimento: 13h às 22h. Fone(s): (91) 3235-1522/1605 Fax. (91) 3245- E-mail: fatebe@fatebe.edu.br Site: www.fatebe.edu.br
E todos os dias, no Templo e nas casas, não cessavam de ensinar e de anunciar a Jesus Cristo Atos 5. 42.
O presente trabalho é uma análise teológica dos Pequenos Grupos Multiplicadores (PGMs) e investiga os impactos dos PGMs na experiência comunitária (vida e missão) da Igreja, de acordo com a experiência da Igreja Batista de Breves, na Ilha do Marajó, Pará. Seu objetivo é compreender as dimensões ético-teológicas dos PGMs na Igreja Batista. Para tanto, a metodologia adotada foi pesquisa bibliográfica nos principais referenciais sobre o tema e, pesquisa etnográfica que consistiu em observação participante, entrevista intensiva e análise de documentos. Os dados obtidos na pesquisa foram analisados à luz de um referencial teórico histórico e teológico reformado. A pesquisa constatou que os PGMs, apesar de uma metodologia criada pela igreja contemporânea para solução de problemas de seu tempo, encaixam-se na vida e missão da Igreja como comunidade escatológica do Reino de Deus, mas, é necessário que haja uma constante buscar por tal objetivo, caso contrário, os PGMs podem se tornar estéreis como qualquer organização comunitária da igreja que não condiga com a vontade divina. Palavras-Chave: Eclesiologia. Pequenos Grupos Multiplicadores. Igreja Batista de Breves.
3 Dimensões ético-teológicas dos PGMs na Igreja Batista de Breves: impactos na vida e missão da Igreja .......................................................... 3.1 A missão da Igreja e o aspecto ético do Reino de Deus............................... 3.2 PGMs na Igreja Batista de Breves: Impactos na vida e missão da Igreja..... 4 Últimas observações à guisa de conclusão .............................................. Referências ............................................................................................................... Apêndices ................................................................................................................. 39
Quando os autores dos Evangelho de Mateus e Lucas (que provavelmente redigiram na mesma data) escreveram respectivamente a ordenança de Jesus “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mateus 28. 19-20, grifo nosso), “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações [...] todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum [...] e perseverando unânimes todos os dias no Templo e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração” (Atos 2. 42, 44, 46). Eles não estava apenas narrando um acontecimento do passado, qual seja, uma fala de Jesus e uma narrativa acerca de um evento isolado da igreja que se pretendia salvar do esquecimento e passar às gerações futuras. Eles estavam, antes, também explicando aos seus interlocutores a realidade comunal que eles viviam. Ao narrar os ensinos de Jesus, eles estavam dando fundamento à uma prática contemporânea da Igreja de suas épocas. Como nos diz um certo filósofo Judeu, o presente sempre lança um apelo ao passado, sempre olhamos o passado com as interrogações do presente, e isso não foi diferente com os evangelistas. O trabalho que se segue, faz exatamente o mesmo que fizeram esses autores: uma explicação reflexiva sobre uma prática comunal contemporânea da Igreja de Cristo, os chamados “Pequenos Grupos Multiplicadores” – PGMs, também denominados de células, por algumas igrejas. Por PGM entendemos “Um pequeno grupo de pessoas que se reúne regularmente para glorificar a Deus por meio do fortalecimento de relacionamentos discipuladores e da multiplicação de discípulos”. Nossas reflexões têm como mote os ensinamentos de Jesus de Nazaré e o posicionamento dos apóstolos sobre a comunhão da igreja e como ela deve estar organizada. A indagação que norteia nossas reflexões é: quais os impactos dos PGMs na experiência comunitária (vida e missão) da Igreja, em particular, a Igreja Batista de Breves? O caminho que nos conduziu a esta pesquisa é constituído de nossas próprias experiências enquanto seminarista e membro da Igreja batistas. Foi destes lugares que convivemos com pessoas empenhadas nessa nova configuração comunitária, acompanhamos discussões, ouvimos o posicionamento de
especialistas e, presenciamos (também constituímos) a inserção dos PGMs na Igreja Batista de Breves. Todas essas vivências acenderam em nós o desejo de pensar criticamente sobre esta dinâmica nova para os ambientes comunitários em que estamos. Por isso, nosso objetivo é entender as dimensões ético-teológicas dos PGMs na Igreja Batista de Breves em três blocos: 1) Apontar a legitimidade teológica dos PGMs; 2) Situar a experiência dos PGMs na Igreja Batista de Breves na experiência dos PGMs da Igreja Batista no Brasil: suas diretrizes e postulados teológico-doutrinais; 3) Refletir sobre as dimensões ético-teológicas dos PGMs na Igreja batista de Breves apontando seus impactos na vida e missão da comunidade cristã. Para tanto, a metodologia adotada foi o diálogo entre a pesquisa etnográfica e o método teológico. Sobre o primeiro, Marli André nos diz que consiste em “observação participante, entrevista intensiva e a análise de documento”. A importância deste método consistiu em revelar as representações que movem os atores da comunidade estudada, ou seja, proporcionou o desvendamento do universo simbólico que legitima e embasa os PGMs no imaginário social da Igreja, ao mesmo tempo que nos proporcionou juntar registros textuais dessas crenças. Aos dados obtidos com a pesquisa etnográfica, aplicamos o método teológico, de acordo com Monteiro. Segundo este autor, a Teologia é o exercício da racionalidade humana (que é uma dádiva divina) para compreender a Revelação de Deus aos homens, mas, esse exercício da racionalidade humana dá-se sob os moldes de uma Filosofia crente em Deus. A Filosofia é o amor, amizade à sabedoria e não à doxa, a opinião. Sobre a diferenciação entre ambas, afirma o autor que, “enquanto a ‘doxa’ é opinião – uma assertiva fruto de imediata impressão, sem fundamentação crítica resultante de reflexão histórica, causal, científica, etc., a ‘sofia’ é o saber resultante de uma ousada e profunda busca pela fundamentação das coisas”. Seguimos esse método na análise dos dados por nós obtidos na pesquisa de campo: os submetemos a uma análise teológica que segue os moldes do exercício racional crente em Deus e que se utiliza da sabedoria e não da doxa (opinião). Assumimos em todo o momento o posicionamento do teólogo, de acordo com Monteiro: “O Teólogo além de um pensador da tradição cristã, é um pensador crente em Deus que ao buscar a sabedoria, sob a iluminação do Espírito Santo, ensina as verdades eternas de Deus auxiliando a comunidade na vivência da vida cristã”. Com isto posto, fica clara a relevância de nosso trabalho: ele se insere na tradição teológica que reflete sobre a organização da Igreja (eclesiologia), acerca de um tema recente na história da Igreja: os Pequenos Grupos Multiplicadores e faz isso a partir de uma experiência concreta em uma Igreja Batista, logo, traz contribuição tanto para a eclesiologia, quanto para a Igreja Batista Brasileira. Todavia, faz-se necessário ainda ressaltar que ainda que façamos uma discussão eclesiológica (parte da teologia tradicionalmente ligada a Teologia Sistemática) ao contrário da Teologia Sistemática tradicional que é profundamente dogmática e, em certa medida a-histórica (já que se prende apenas no que o Texto Sagrado ensina), lançamos mão também da Teologia Bíblica e o diálogo com as Ciências Humanas, mas sempre ancorados por uma sólida base reformada. Com a ajuda de Deus, iniciemos, então.
Diante das novas configurações sociais do mundo contemporâneo e a perca de sentido de vida nele reinante, muitos são os desafios que tem se colocado à Igreja Cristã como comunidade que professa um sentido absoluto de vida e de mundo. Dentre as iniciativas da Igreja neste cenário estão os PGMs que são em parte aceitos e em parte rejeitados por parcelas do cristianismo protestante, meio
diferenciamos fundação e formação. Quando os historiadores falam em formação, referem-se não só às determinações econômicas, sociais e políticas que produzem um acontecimento histórico, mas também pensam em transformação e, portanto, na continuidade ou na descontinuidade dos acontecimentos, percebidos como processos temporais. Numa palavra, o registro da formação é a história propriamente dita, aí incluídas suas representações, sejam aquelas que conhecem o processo histórico, sejam as que o ocultam (isto é, as ideologias). Diferenciando-se da formação (que é a história), o mito fundador retrata um momento passado imaginário que se mantém vivo e presente no curso do tempo, apresentando-se como algo perene, quase eterno que atravessa o curso temporal e lhe dá sentido. É bem assim que Tunala apresenta os PGMs em sua obra e nós, aqui, nem de longe pretendemos reafirmar tal ingenuidade. Os PGMs sim possuem história. Mas essa história não pode ser encontrada em um passado bíblico. Lá podemos encontrar a legitimidade teológica (não histórica) para esta ação contemporânea da igreja e isto o faremos a seguir. Mas, com relação a questões históricas, os PGMs originaram-se na década de 1950 como iniciativa do Pr. sul-coreano David Yonggi Cho, pastor da Assembleia de Deus que, após controvérsias com a denominação, fundou a Igreja do Evangelho Pleno. O nome dado pelo pastor a nova configuração comunal foi “célula” e este nome ainda hoje segue em inúmeras igrejas como a Igreja do Evangelho Quadrangular. Na América Latina, na década de 1980, um dos mais expressivos movimentos de igreja em célula foi o do Pastor Colombiano César Dominguez Castellanos da Igreja Missão Carismática Internacional que inspirado na proposta do Pr. David Cho criou o movimento G12. O G12 tinha como ideia central a divisão da igreja em pequenos grupos de 12 pessoas para discipular e evangelizar nas casas. Cada cristão poderia liderar e ensinar 12 cristãos, na medida em que esses grupos crescessem, eles deveriam dividir-se até chegar ao número de 12 cristãos. A rejeição a esse modelo por parte das igrejas protestantes históricas e mesmo as igrejas pentecostais históricas brasileiras como a Assembleia de Deus e Congregação Cristã no Brasil se deu por conta da suposta constatação de crenças místicas estranhas a fé cristã, além de forte sincretismo, afirma Lima. Voltando nosso olhar especificamente às igrejas protestantes históricas, o fato do movimento de igrejas em células ter nascido no meio pentecostal e possuir várias crenças contrárias à do protestantismo histórico fez com que fosse nutrido contra esta nova configuração comunal grande aversão. É exatamente por isso que a Igreja Batista (e Tunala como porta voz) nega a origem histórica dos PGMs e inventa para estes um mito fundador. Para esta denominação é desconfortável dizer que adota uma metodologia criada por pentecostais e ainda afirmar que tal iniciativa é uma boa ideia. Sobre este jogo de forças na escrita da história, podemos dizer de maneira bem Benjaminiana que os PGMs são um bem cultural cujos protestantes históricos não podem olhar sua origem sem horror. Este estranhamento causou grande entrave ao estabelecimento dos PGMs entre os batistas brasileiros. Sobre isso falaremos detalhadamente no capítulo a seguir. Apesar de ser uma iniciativa bem recente da Igreja, os PGMs nem de longe são uma ação ilegítima, quer histórica, quer teologicamente. E, como o povo de Deus não faz diferenciação entre a fé e a vida, terminaremos nosso argumento da legitimidade histórica dos PGMs agora, ao discutirmos as evidências teológicas da legitimidade desta configuração comunal da Igreja do Cristo Jesus de Nazaré.
Como bem esclarece o teólogo Leonardo Boff, “Na fé dizemos que Jesus fundou a Igreja. Essa afirmação é correta e exprime a fé milenar da Igreja. Entretanto – e aqui começa o problema – essa afirmação não é unívoca nem simples”. E por que isso? Porque “Ele não visava fundar uma nova comunidade de fé ao lado das várias existentes em seu tempo [...] Ele quer converter todo Israel. Nesse sentido, não quis uma igreja como um grupo à parte de judeus crentes” Jesus pregou a todo Israel e foram as contingências históricas que forçaram a saída daqueles que nele creram do judaísmo.
Logo, Jesus deu início a uma comunidade escatológica, mas não elegeu ele um colégio eclesiástico tampouco estabeleceu uma forma institucional unívoca de igreja e seu clero à semelhança do que temos hoje. O desenho institucional que a igreja tomou no decorrer dos anos, portanto, não tem origem no Cristo Jesus de Nazaré, mas naqueles que deram continuidade a mensagem que ele anunciou. Como a Igreja surge no meio judaico, o cristianismo herdou o modelo gerontocrático e patriarcal do sacerdócio, bem como o modelo comunal do judaísmo. Este modelo teve diversa mudanças que misturaram o paradigma cúltico de comunidade patriarcal judaico ao modelo do Estado Romano com sua cúria, etc. (principalmente desde Constantino), também com as tradições do Oriente Próximo Antigo (o cristianismo coopta), ou ainda, com as reformas de Carlos Magno quando o modelo judeu originário se aproximou das tradições indo-europeias. A Reforma Protestante também trouxe outros contornos ao Cristianismo que o modificaram daquela prática dos seguidores de Jesus de Nazaré na Palestina ou mesmo do Mundo Antigo do primeiro século de nossa era. Queremos com essas observações deixar claro que o modelo eclesiástico e comunal que a igreja adotou em cada período histórico tem como causa aquilo que ela, no tempo e espaço em que viveu, decidiu adotar, pois achou mais condizente com seus dias, a partir do olhar que possuía na fé em Jesus Cristo. O fato de Jesus não ter estabelecido uma única forma institucional de Igreja nos permite pensar aqui e agora, o modelo eclesiástico que queremos e achamos mais condizente com os nossos dias. Nisso reside a legitimidade teológica primordial do PGMs. Desde que o modelo comunal que vivamos seja o testemunho do domínio de Deus entre os homens, isto é, o Reino de Deus anunciado por Jesus, qualquer modelo que adotemos será legítimo. Corolariamente ligados a essa evidência teológica, há outras que aqui queremos explorar. As escrituras mostram vários momentos em que o povo de Deus de organizou em grupos pequenos para melhor desempenhar sua vida em fé. Essa evidências teológicas podem ser encontradas desde o Antigo testamento. A primeira delas se encontra em Êxodo 18. 14-27. Na passagem, o sogro de Moisés o admoesta acerca da necessidade de dividir em grupos pequenos o povo afim de que ele fosse melhor liderado. Jetro lhe diz: E tu, dentre todo o povo, procura homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; e põe-nos sobre eles por maioria de mil, maioria de cem, maioria de cinquenta e maioria de dez; para que julguem este povo em todo tempo, e seja que todo negócio grave tragam a ti, mas todo negócio pequeno eles o julguem; assim, a ti mesmo te aliviarás da carga, e eles a levarão contigo. (Êxodo 18. 21,22). Aqui não há nenhuma referência sobre PGM, nem poderia, mas há um valor norteador dos PGMs: a necessidade de divisão de tarefas em grupos menores para facilitar o trato com o bem estar do povo. No Novo Testamento, o testemunho de grupos comunais pequenos é bastante amplo. Os cristãos reuniam-se em suas casas devido a proibições oficiais: Na igreja primitiva os Grupos Familiares nasceram de uma necessidade. Esse método não foi elaborado em um concílio teológico, fruto de longas discussões. Era uma necessidade que tinha que ser suprida urgentemente. O cristianismo era visto como um movimento subversivo, o qual estava proibido de se reunir formalmente (Atos 4.18) Apesar de não ser fruto de consenso conciliar, esse modelo deu muito certo. Pois coadunou com a mensagem propagada pelo cristianismo primitivo. Não é exagero que esta contingência encaixou-se no modelo comunal iniciado pelo Cristo Jesus de Nazaré. Ao que tudo indica, o ministério de Jesus foi itinerante, logo, de contato direto com o povo nos espaços em que viviam e trabalhavam: na beira da praia, nos campos, jardins, residências, etc. Apesar de ir ao Templo e às sinagogas, Jesus não ficou preso a esses espaços, sua pregação do Reino de Deus dava-se em todo espaço de vida do povo. Além disso, Jesus não apenas anunciava o Reino, ele demonstrava de maneira prática o que esse reino podia fazer por uma viúva, doente, necessitado, alguém atingido por sofrimentos psíquicos, etc. aspectos que muitas vezes os encontros cúlticos de uma comunidade muitas vezes impede. O resgate de pequenos grupos no cristianismo hodierno ao mesmo tempo
muito específicas. E, apesar disso, não são menos legítimos, a igreja sempre se organizou comunalmente no decorrer de sua existência conforme achou melhor em cada momento. Além disso, essa nova configuração manifesta e anuncia o Reino de Deus de maneira eficaz na sociedade contemporânea. A menos que estes grupos se tornem veículos de ensinamentos contrários à Palavra de Deus, não há nada que os torne algo indesejável e vale lembrar que mesmo igrejas que não seguem o modelo de PGMs podem se tornar veículos de heresias, portanto, isso não está diretamente ligado aos PGMs que, ao contrário, podem ser e em geral são canais de avivamento para a Igreja do Senhor e ótimas ferramentas de evangelização. Com isto posto, vejamos a inserção dos PGMs no meio batista brasileiro à Igreja Batista de Breves.
Para discutirmos o surgimento e desenvolvimento dos PGMs entre os batistas brasileiros, cremos necessário apontar a origem de um caráter que a priori foi um entrave para a adoção dos Pequenos Grupo, mesmo que a igreja no Brasil tenha começado com forte atividade nos lares. Falaremos sobre o caráter templário da Igreja batista que é algo marcante também na Igreja Batista Brasileira. Nascida do Anglicanismo, a Igreja Batista é uma igreja que historicamente classificamos como “templária”, isto é, suas atividades estão principalmente ligadas a um templo. Como vimos, nos primeiros séculos da Igreja, as atividades religiosas das comunidades cristãs estiveram, salvo raras exceções, restritas a espaços domésticos devido perseguições. Este quadro, porém, mudou após a conversão de Constantino quando o Cristianismo obteve liberdade de culto.
É importante salientar, porém, que mesmo as comunidades que se reuniam nos lares seguiam o modelo sinagogal / templário do judaísmo (cultura na qual o Cristianismo nasceu) estando apenas espacialmente limitadas. Este limite teve seu fim definitivo com Constantino que inclusive promoveu diversas reformas na religião cristã reafirmando o caráter templário do Cristianismo. Mas, foi com as reformas de Gregório Magno que o caráter templário do cristianismo chegou ao seu ápice, este item da religiosidade cristã foi um dos marcadores, segundo Valchez, da espiritualidade média ocidental. O caráter templário perdurou toda a Idade Média. O Cristianismo primitivo fortemente comunal se tornou religião sacramental imbuída de rituais. A atividade sacerdotal tornou-se apanágio de especialistas e o povo tornou-se coadjuvante da missa que era realizada pelo sacerdote tendo o Templo como local privilegiado - uma interpretação embasada no Antigo Testamento. E mesmo as diversas ordens religiosas estavam ligadas a abadias ou a bispados com suas catedrais. A Reforma Protestante não eliminou essa característica comunal, antes, ela foi preservada e reafirmada. A pregação e o ensino das Escrituras foram privilegiados, mas esse privilégio não rompeu com a espiritualidade média ocidental, apenas alterou sua liturgia e algumas doutrinas deixando, porém, a mesma dinâmica comunitária medieval, qual seja, o não comprometimento com a vida (em todas as suas nuances) de todos na comunidade que dava espaço para as preocupações acerca do cumprimento de rituais religiosos prescritos pela igreja como atitudes necessária à salvação. Aqui está a gênese do ethos templário batista.
A iniciativa de criação dos PGMs entre os batistas brasileiros é bastante recente. É uma iniciativa que data a década de 1980, momento em que surge na América Latina o Movimento G12, por nós aqui já comentado. Sobre este período e a organização dessa iniciativa no seio batista nos diz Fernando Brandão: Pequenos Grupos são uma novidade para os batistas brasileiros. Em 1988 o Plano Nacional de Evangelização (PNE) promovido por Missões Nacionais disseminou com grande aceitação a estratégia de pequenos grupos então chamados Núcleos de Estudos Bíblicos. Acerca do programa estratégico de Núcleos de Estudos Bíblicos, a publicação oficial dos batistas brasileiros dizia que: O Programa NEBs constituiu-se um dos mais urgentes métodos para o desenvolvimento das nossas igrejas. Não por ser um método novo, visto que foi amplamente usado pela igreja primitiva, como podemos perceber em passagens bíblicas como Atos 5.42; 8.3; 10.24; Romanos 16.15; I Coríntios 16.19; Colossenses 4.15 e Filemom 2. Trata-se, pois, não tanto de uma inovação, mas da recuperação de um programa muito bem sucedido no passado e que, uma vez adaptado ao contexto da sociedade moderna, satisfaz plenamente as necessidades do presente. Como pode-se perceber, já nessa época os batistas brasileiros faziam menção da origem bíblica da metodologia quando, na verdade, no Novo Testamento era apenas contingencial e não intencionalmente adotada pela comunidade como metodologia de crescimento de igreja. Neste período (década de 1980), não só a Igreja Batista Brasileira, mas diversas outras adotavam a metodologia de PGMs. A Igreja Batista, portanto, apenas seguia uma tendência nacional de sua época. A adoção tardia da metodologia de PGMs pelas instâncias oficiais dos batistas brasileiros deu-se por conta da grande resistência nacional à metodologia de Pequenos Grupos devido o ethos templário da igreja e, o mal-estar que o pentecostalismo e neopentecostalismo causaram ao abraçar esse modelo comunal. Tal fato resultou em controvérsias que se arrastaram durante toda a década de 1990 enfraquecendo a metodologia de PGMs entre os batistas até que no auge do Movimento G12 a Convenção Batista Brasileira (CBB) se posicionou oficialmente sobre o movimento G12 e a metodologia de Pequenos Grupos. Vê-se no discurso da CBB uma diferença entre a metodologia em si (considerada boa) e a maneira como o movimento G12 a empregava (considerada fora de padrões estritamente bíblicos pelos batistas), diz o documento:
realização dos PGM. Não houve objeções teológicas nem qualquer membro se opôs ao projeto, até porque se trata de um projeto nacional e não local, logo, tratava-se de inserir a igreja num projeto maior da denominação no país. Com isto posto, no capítulo a seguir, faremos uma análise dos PGMs na vida e missão da Igreja. Apontaremos seu impactos e limitações na experiência da Igreja Batista de Breves. Refletiremos sobre os aspectos ético-teológico deste modelo comunal da Igreja.
Qual a missão da Igreja? Essa é uma pergunta fundamental que deve ser respondida caso queiramos discutir o lugar ocupado pelos PGMs na vida e missão da mesma. Por igreja, seguimos Wayne Grudem que a conceitua como “comunidade de todos os cristãos de todos os tempos”. É importante salientar que a Igreja não possui existência em si mesma, sendo assim, sua missão só poderá ser compreendida se a situarmos no todo da qual faz parte. Esta é uma verdade por muito esquecida e por isso não é raro encontrarmos grupos de pessoas que realizam diversas atividades eclesiásticas como se o grupo a qual pertencem fosse a finalidade de sua fé. Como já dissemos, Jesus não anunciou Igreja, ele não queria criar mais uma facção entre as que já existiam no judaísmo, ele queria converter todo o Israel. Assim sendo, Jesus anunciou o domínio de Deus sobre todas as coisas, domínio este que poria fim a tudo o que faz os homens sofrerem e os afasta de Deus cumprindo, desta maneira, as profecias messiânicas dos profetas. A esse domínio de Deus os profetas chamaram Reino de Deus e foi este Reino que Jesus de Nazaré pregou. Porém, como bem explica Jeremias, a concepção judaica de Reino de Deus era a vinda do messias para estabelecer o domínio pleno de Deus findando a era de sofrimento vigente (onde Satanás era o príncipe) e iniciando uma era de justiça e paz onde o reino seria restaurado a Israel. A despeito disto, a concepção de Jesus era bem diferente e isso pode ser percebido em vários momentos como, por exemplo, a parábola do joio, em Mateus 13. Para Jesus de Nazaré o Reino de Deus possui uma característica que Jeremias chamou de “já e a inda não”: O Reino foi estabelecido com a vinda do Messias (o próprio Jesus), mas ainda não se manifestaria de maneira plena. Ele (o Reino) foi inserido no mundo através daqueles que creram em Jesus (o “já”) e se manifestará plenamente (o “ainda não”) na parusia de Cristo. A parusia coincide com o Dia do Senhor anunciado pelos profetas e será neste momento que o Messias fará o julgamento dos justos e dos injustos. Jesus subiu aos céus de onde voltará para estabelecer plenamente seu Reino neste mundo, mas já iniciou aqui seu Reino e deixou na terra uma parte deste: a Igreja. A Igreja surgiu como comunidade escatológica do Reino de Deus, ela é (ou deveria ser) a manifestação visível do Reino de Deus entre os homens. Ela é o testemunho escatológico do que acontecerá; ao olhar para ela, a humanidade deveria perceber a nova ordem que se estabelecerá neste mundo e, percebendo o seu crescimento, saberiam que o Reino estaria próximo. O historiador John Dominic Crossan, ao falar sobre o que aconteceria, caso algum cristão da Igreja primitiva fosse questionado, por um ouvinte que exigisse provas, em sua pregação escatológica sobre o iminente retorno de Jesus Cristo para pôr fim a era corrente e estabelecer o Reino de Deus, certamente diria:
Cristo para pôr fim a era corrente e estabelecer o Reino de Deus, certamente diria: Temos uma comunidade de 10 a 15 pessoas que se encontra na casa da esquina todos os domingos. Nós acreditamos que o mundo e tudo nele pertence a Deus, por isso, comprometemo-nos a compartilhar metade da nossa comida uns com os outros. Os mais abastados ajudam a todos como podem e compartilhamos tudo de tal forma que não falte nada a alguém. Venha e veja como o mundo está mudando, como ele está se tornando mais justo. Veja com seus próprios olhos como o nosso grupo que chamamos de igreja (eclesia) é diferente, nós temos um grupo igual a esse em cada cidade do Império. Essa é a prova de que uma nova era se inicia. A missão da Igreja, como comunidade escatológica do Reino de Deus implica em deixar que Deus realize nela, como através de Jesus, a sua vontade soberana. E qual é esta vontade? A defesa da justiça e da vida. É exatamente por isso que a recomendação de Jesus é: “mas buscai primeiro o Reino de Deus e sua justiça [...]” (Mateus 6.33, grifo nosso). A sociedade da Palestina nos dias de Jesus era uma sociedade extremamente hierarquizada e autoritária. Nela, todas as diferenças eram transformadas em desigualdades e naturalizadas. A violência era um fenômeno instituído, seja na vida pública ou privada, todas as relações sociais eram realizadas na perspectiva de um superior que manda e um inferior que obedece. Tal rigidez abria margem para relação de tutela e clientela entre aqueles que se consideravam iguais e, de apadrinhamento entre desiguais. O princípio da honra e da vergonha esmagavam a possibilidade de perdão a uma ofensa, por isso, pessoas tidas como “desonradas” ficavam a margem da sociedade, eram discriminadas e duramente excluídas. A xenofobia era muito forte entre os judeus, bem como o sexismo que inferiorizava as mulheres. A classe sacerdotal havia se vendido às autoridades romanas e exploravam o povo. Na comunidade essencialmente agrária, característica de toda aquela região, os romanos cobravam impostos altos que desrespeitavam a tradição camponesa do ano sabático ou ano do jubileu como prevê Êxodo 23.10-11; Levítico 25.2-4; Deuteronômio 15. 1-3, 12-14; Levítico 25. 10-28. Cada vez mais a população se tornava empobrecida e miserável com a perca de suas terras. A religião oficial, parceira dos exploradores do povo, havia esquecido a justiça divina revelada na Lei. A religião judaica dos dias de Jesus era uma religião legalista que acreditava que o alcance da benevolência divina consistia em cumprir ordenanças e prescrições. A obediência era apenas formal e não ética. O importante era cumprir o que era mandado e não fazer isso de coração. O Reino de Deus, na pregação de Jesus, se opunha a essa realidade. Era uma ruptura radical com a ordem do mundo em suas nuances políticas, sociais, morais e religiosas de então. Em uma sociedade extremamente violenta, autoritária e hierarquizada, baseada na relação de um superior que manda e um inferior que obedece, Jesus diz aos que o seguem: Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que tem autoridade sobre eles são chamados benfeitores. Mas não sereis vós assim; antes, o maior entre vós seja como o menor, e quem governa, como quem serve. Pois qual é o maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura não é quem está à mesa? Eu, porém, entre vós, sou como aquele que serve. (Lucas 22. 25- 27). E mais: “E Jesus chamando uma criança, a pôs no meio deles e disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos céus”, pois “aquele que se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no Reino dos céus” (Mateus 18. 3,4). Contra o moralismo da sociedade de sua época e o princípio de honra e vergonha, Jesus andava acompanhado dos socialmente excluídos, dos pobres e afligidos da terra, ele comia junto com publicanos. Deixava-se tocar por pecadores, mulheres de má reputação, por pessoas ritualmente impuras e ainda afirma que para estes, “os doentes”, é que havia se manifestado o Reino de Deus. Contra os valores sociais que impediam o perdão aos erros que conspurcavam o princípio de “honra”, Jesus ensina o perdão aos inimigos e a oração pelos que são perseguidores. Postulou o amor ao próximo e este não mais entendido como “os filhos do teu povo”, forma como prevê o Pentateuco, mas sim