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Essas palavras servem de cifras para descrever como os ... Hughes who loves the Lord and teaches His Word with love, grace and on fire for Him.
Tipologia: Provas
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Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, para a obtenção do título de doutor em Ciências da Religião.
Orientador: Prof. Dr. Alberto da Silva Moreira
Dedico este trabalho à minha família, pessoas que me ajudaram até sem saber: Rosana, Samuel, Maria Clara, Júlia Cristina, Jorge Maurício e Paulo Henrique.
Para que as pessoas sobrevivam na sociedade moderna, qualquer que seja a sua classe, suas personalidades necessitam assumir a fluidez e a forma aberta da sociedade. Homens e mulheres modernos precisam aprender a aspirar à mudança: não apenas estar aptos a mudanças em sua vida pessoal e social, mas ir efetivamente em busca das mudanças, procurá- las de maneira ativa, levando-as adiante.
Marshall Berman.
SAHIUM, Pedro Fernando. Church in connection: igreja, show midiático e juventude. Tese de doutorado em Ciências da Religião. Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião. Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Escola de Formação de Professores e Humanidades. Goiânia: PUC-GOIÁS, 2018.
Desde a entrada do protestantismo no Brasil, percebem-se as mudanças dessa expressão de fé religiosa trazidas para terras tropicais, até as mudanças no campo religioso, em que essa fé se insere atualmente. A igreja Church in Connection (CC) se desconectou de uma igreja que surgiu do desmembramento do presbiterianismo brasileiro. Como já salientaram historiadores da religião, é melhor falar em protestantismos ao invés de protestantismo, dada a diversidade interna dessa vertente do cristianismo. A Church se originou da igreja Presbiteriana Renovada do Brasil (IPRB) que, por sua vez, foi resultado da união das igrejas Presbiteriana Independente (IPI) e Igreja Cristã Presbiteriana (ICP). A Church in Connection é uma instituição brasileira que se inspirou no modus operandi de outra igreja, esta nos Estados Unidos, a Church By the Glades (CBG). Com um catálogo de programações e de organização especialmente preparada para o nicho jovem do mercado religioso, incluindo cultos espetaculares com ambiência de cinema e fazendo largo uso das mídias eletrônicas, a Church em três anos de funcionamento (2014-2016) angariou quase mil participantes nos seus cultos dominicais e envolveu a parcela jovem oriunda de outras igrejas do campo evangélico. Distanciando-se de práticas mágicas como as de cura, ou do uso de dons espirituais, a exemplo das igrejas pentecostais e neopentecostais, a Church usa das técnicas do Sistema Multimídia e da performance dos seus líderes para produzir cultos temáticos, animados, diferentes e repletos de novidades. Com aplicativos de Internet de uso nos smartphones e presença permanente nas mídias eletrônicas, a Church se aproxima do cotidiano experiencial dos jovens. Os fiéis da igreja se veem envolvidos numa instituição empresarial bem organizada, que apresenta a cada domingo um show novo para entretenimento e delírio dos frequentadores. Contudo, esse espetáculo renovado, por meio de um corpo técnico e religioso, vai além de puro entretenimento, e a tríade relacional de religião, show midiático e juventude apresenta importante eixo gerador de sentido e de ancoragem num mundo de infantilização programada, de individualismo e fluxos impessoais. A Church optou por oferecer o espetáculo à juventude e no pacote completo dos seus serviços está inclusa a possibilidade de ancoragem num mundo fluído.
Palavras-chave : Igreja Church in Connection. Juventude. Sistema Multimídia. Espetáculo.
Figura 1 - Divisões do presbiterianismo no Brasil.....................................
Figura 2 – Fachada da igreja em 2015 com o nome fantasia Church in Connection em letras menores................................................................. 52
Figura 3 – Fachada da igreja Church in Connection em julho de 2016... 54
Figura 4 – Fachada da Church in Connection na Av. Brasil Sul, Anápolis, em setembro de 2016............................................................................... 55
Figura 5 – Imagens do Pastor David Hughes, membros da igreja e momento de culto na Church By the Glades............................................ 57
Figura 6 – Imagens da Church in Connection em dia de culto.................
Figura 7 – Organograma e hierarquia da Church in Connection............. 88
Figura 8 – Fotos “retrô” no App para celular da Church in Connection contendo as pastas dos diversos departamentos......................................
Figura 9 – Loja e produtos da marca Cross..............................................
Figura 10 – Loja e produtos da marca Cross........................................... 97
Figura 11 – Momentos do culto na Igreja Church By the Glades.......... 11 5
Figura 12 – Logomarca da igreja Church in Connection....................... 12 1
Figura 13 – Imagens no App do smartphone Agendamento com o Pastor....................................................................................................... 123
Figura 14 – Propaganda da reunião submerso...................................... 126
Figura 15 – Fiéis Church in Connection em momentos de culto............
Figura 16 – Logomarca dos objetivos da Church : Amar a Deus, Amar ao próximo e Servir no mundo.................................................................... 131
Figura 17 – Cenas projetadas durante a pregação................................ 137
Figura 18 – Propaganda de uma rifa a ser realizada na igreja em 2016 ........................................................................................................ 138
Figura 19 - Cenas postadas por membros da Church no Facebook em dias variados........................................................................................... 140
AD Assembleia de Deus
CC Church in Connection
CBG Church By the Glades
IPB Igreja Presbiteriana do Brasil
IPRB Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
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cidade, mas nenhuma com tantos jovens e nem com o tipo de programação alavancada pelas mídias eletrônicas.
Isso aconteceu em julho de 2014 e, a partir daí, passei a frequentar a Church in Connection regularmente, me tornando testemunha do crescimento exponencial da igreja. Minha cabeça estava povoada de perguntas: Quem eram os jovens daquela igreja? De onde eles vêm? Por que esta Igreja cresce tanto? Qual o peso do Sistema Multimídia na atração dessa juventude? O conteúdo religioso do cristianismo é mantido quando a espetacularização dos cultos se torna o eixo fundamental das programações cúlticas? Comecei a fazer anotações e a observar os ritos, as montagens cênicas e o estilo musical gospel que entusiasmavam aquela juventude de fiéis e acrescentava mais gente a cada domingo.
O que me ocorreu naquela época foi que uma igreja que tem os seus cultos no escuro com telões frontais, muita música gospel , luzes coloridas e estroboscópica, corpo técnico e sacerdotal performático e bem preparado, e outras ocorrências cúlticas fluídas - como a renovação quase semanal da decoração do templo – estavam adequadas ao mundo do espetáculo alardeado por Debord (2005), na obra “A sociedade do espetáculo”, de 1967. Esse autor não disse quando essa sociedade do espetáculo começou, mas apontou-a como uma sociedade advinda do desenvolvimento industrial capitalista e da indústria cultural, que pelo marketing e meios precisos de informação e comunicação a tudo transformaria. Seria, então, pensei a priori , a espetacularização da religião pelos meios eletrônicos mais modernos. Assim, os jovens, parcela da sociedade mais atualizada com o Sistema Multimídia, seriam parte do nicho de mercado que se identificaria com a instituição.
Além do mais, pensei: naquela época, o uso dos smartphones com a possibilidade de tirar fotos, fazer selfies e enviá-las a todo o momento para pessoas fora dos cultos da igreja era um grande atrativo para quem, como os jovens que eu observava, queriam compartilhar o que acontecia com eles. Essa “fome” de visibilidade e compartilhamento permanente era incentivada pelos líderes da igreja. As imagens do espaço, dos líderes em performance bem produzida com cores e músicas, do show musical dos louvores e de toda a sorte de novidades que aconteciam no culto, como teatro, dança, projeções de filmes etc., eram registradas e compartilhadas entre os jovens no momento mesmo do culto, e também entre esses
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e outros que não estavam lá. Mais uma vez, Debord (2005) poderia ser a chave para entender a força das imagens que viravam mercadoria e se interpunham nas relações entre as pessoas.
Pensei na invasão da economia, como apontada por Debord (2005), em todas as esferas da vida. Em especial, das imagens transformadas em mercadorias e do espetáculo como a relação de pessoas mediada por imagens. Como ele mesmo disse, conceituando “o espetáculo não [como um] conjunto de imagens, mas [como] uma relação social entre pessoas, mediada por imagens” (DEBORD, 2005, p. 14).
Duas coisas me assaltaram dessa constatação: a primeira é que o espetáculo se tornou a weltanschauung (visão de mundo) dos indivíduos e da sociedade e, por isso, não é de se estranhar a sua ocorrência em todo o tempo e em todo o espaço, incluindo o religioso. O segundo é que, se a religião é uma instituição estruturada e estruturante (BOURDIEU, 1998), ela poderia estar sendo esvaziada do seu sentido e se tornando alheia a tudo que não fosse o imediato prazer e entretenimento dos participantes. A sociedade que se baseia na indústria moderna não é fortuita ou superficialmente espetacular, ela é fundamentalmente espetaculoísta. No espetáculo, a imagem da economia reinante, o fim não é nada, o desenrolar é tudo. O espetáculo não deseja chegar a nada que não seja ele mesmo (DEBORD, 2005, p. 17).
Fiquei por algum tempo pensando que a Church seria de caráter espetaculoísta e, por isso, tão atraente aos jovens. Afinal, não se exige muito compromisso de quem vem participar de um espetáculo a não ser que se entregue à fruição e “se espetacularize”, fazendo poses e imagens de si mesmo, durante as programações. Alguma coisa, contudo, parecia estar me escapando. Com a minha entrada no doutorado em Ciências da Religião, em janeiro de 2015, as aulas e o contato com a bibliografia específica da área me fez ver que existia “mais estrelas no céu do que diziam os meus autores preferidos”. Como, por exemplo, a função do carismático pastor Thiago Vinicius Cunha, cujo papel de sacerdote se misturava ao de profeta e líder virtuoso, não sendo possível a classificação tipológica de Weber (2014) na forma pura, que caracterizava o tipo de liderança exercida dentro de um padrão ideal. As tipologias clássicas se misturaram e, apesar de válidas, se diluíram e compuseram um quadro de exercício de liderança muito mais amplo e concentrado em uma única pessoa. Também em outras categorizações, as mudanças se diluíram e o quadro de
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razões científicas das minhas visitas. Pari passu comecei o estudo das disciplinas e a busca da bibliografia para a pesquisa. Também comecei a montar o projeto de pesquisa para o Comitê de Ética e Pesquisa da PUC – GO. No ano seguinte, o projeto de pesquisa foi aceito sob a autorização do CAEE 56225716.7.0000.0037.
Ao começar as leituras e a separação da bibliografia, percebi que o enfoque das Ciências da Religião para esse trabalho deveria ser transdisciplinar. Busquei, então, leituras que serviriam de aporte para o meu trabalho na antropologia, em especial Geertz (1989), na sociologia com Max Weber (1991, 2014), Durkheim (1977, 2008), Bourdieu (1998), Debord (2005) e outros. Na história, encontrei aporte em March Bloch (2001) e em autores que trabalham as Ciências da Religião de forma transversal com as ciências humanas e sociais como: Assman (1994), Berger (1985, 1996, 2004), Bauman (1999, 2001, 2003, 2008), Bitencourt Filho (2003), Castells (2007, 2008), Eliade (2013, 1999), Hervieu-Lèger (2005), Mariano (1999, 2008), Moreira (2003, 2014, 2015), Thompson (2014, 1995), dentre outros.
A variedade de autores usados na preparação do trabalho contemplou a gama de setores articulados entre si pelo fenômeno religioso. Quando, por exemplo, Assman (1994) discute a temática da imbricação entre mercado e religião, ou economia e religião, ele aponta o fato de que a religião se insere num contexto de mercado global, como também analisa Bourdieu (1998, 2004) ao falar sobre a teoria do campo religioso. A questão da sociedade líquida, denominação de Bauman (2003, p. 52) para caracterizar uma sociedade em que a máxima que impulsiona os “bens sucedidos” é - “acabar constantemente e recomeçar de novo” -, também recoloca a questão econômica nos setores mais variados da vida global moderna. Nesse particular, o objetivo do sistema social e econômico é manter vivo o desejo e não a sua satisfação. A religião, originalmente refratária desse pensamento por tratar de realidades impenetráveis e sólidas, aderiu ao mundo líquido e se aproximou daquela ordenação econômica de mercado anteriormente designada por outros autores.
O fato de estar numa instituição pequena (em 2014 a Church não contava com 300 membros) o seu início trazia benefícios e desafios. Se, por um lado, a liderança do pastor Thiago na fundação desse ministério estava no começo e poderia ser observada sem interferências; por outro lado, como existia um caráter experimental nas programações e nos eventos montados pela Church não se podia dizer, e ainda
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não se pode, se tal empreendimento seria duradouro. O importante é que algo novo estava sendo tentado ali na fusão do Sistema Multimídia com a religião, e acorria para a instituição uma parcela jovem que, mais tarde, eu constataria, era oriunda na sua maioria de outras igrejas do campo religioso Pentecostal.
Como eu já me encontrava inserido no ambiente da igreja e nas suas programações, recebendo pelo Whatsapp da igreja e do pastor as mensagens e programações regulares da instituição, conclui que a pesquisa poderia dar mais frutos se fosse apoiada na diversidade que caracteriza as Ciências da Religião e tivesse a minha inserção intensificada naquele ambiente.
Percebi que seria melhor fazer uma pesquisa qualitativa interpretativa e apoiada em forte base bibliográfica. O cenário social em que a igreja está inserida é amplo e o campo religioso^2 , para usar um termo de Bourdieu (1998), já está delimitado, e a Church tenta um espaço privilegiado nesse mercado, por isso, optei pela escolha de um paradigma qualitativo interpretativo na elaboração e execução da pesquisa. Segundo Herivelto Moreira e Luiz Gonzaga Callefe (2006), o paradigma interpretativo refere-se a uma família de abordagens, como, por exemplo, “etnografia” e “estudo de caso”, mas é um paradigma mais inclusivo, pois evita que essas abordagens tenham a conotação de essencialmente não quantitativas. “O interesse central de todas as pesquisas nesse paradigma é o significado humano da vida social e a sua elucidação e exposição pelo pesquisador” (2006, p. 59-60).
As anotações de campo puderam ser utilizadas, bem como os dados coletados verbalmente pelas entrevistas. Somando-se a isso, pude utilizar com bom aproveitamento as transcrições de conversações entre os membros da igreja nas reuniões e nas conversas que travei com eles. Herivelto Moreira e Luiz Gonzaga Callefe (2006, p. 62) ainda enfatizam que:
Ele [o pesquisador] não está à parte da sociedade como um observador, mas constrói ativamente o mundo em que vive. Não vê seus atributos e comportamentos como ontologicamente externos a si mesmo; só pode
(^2) Mais adiante tratarei especificamente desse conceito, mas, por hora, é suficiente afirmar que para Bourdieu (1998) a sociedade é dividida em espaços, “campos”, de força. No caso do campo religioso, a disputa se dá pelas instâncias religiosas, entre igrejas, seitas, profetas, magos etc. O campo é um mundo social que impõe suas próprias demandas independentes, em certo sentido, do mundo global. Contudo Bourdieu (2004, p. 21-23) salientará que o mundo social externo exercerá pressão sob o campo, mas sempre dentro de uma lógica do próprio campo.