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Guias e Dicas
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Análise de Misery de Stephen King: Adaptação Cinematográfica por Rob Reiner, Notas de aula de Literatura

Neste texto, linda hutcheon discute a visão de alguns críticos sobre a adaptação cinematográfica de misery, onde stephen king acredita ter visto de si mesmo no personagem paul e a visão de hutcheon sobre a importância de mídias performativas em expressar o inconsciente. O autor também analisa as escolhas feitas pelo diretor rob reiner na adaptação do suspense presente no livro e no filme.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE LETRAS
LICENCIATURA EM LETRAS PORTUGUÊS-INGLÊS
IARA ZARDO
MISERY DE STEPHEN KING E A OBRA HOMÔNIMA DE ROB REINER NA
ADAPTAÇÃO CINEMATOGRÁFICA:
OS ELEMENTOS DE SUSPENSE E A CONVERSA ENTRE LITERATURA E CINEMA.
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
PATO BRANCO
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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE LETRAS

LICENCIATURA EM LETRAS PORTUGUÊS-INGLÊS

IARA ZARDO

MISERY DE STEPHEN KING E A OBRA HOMÔNIMA DE ROB REINER NA

ADAPTAÇÃO CINEMATOGRÁFICA:

OS ELEMENTOS DE SUSPENSE E A CONVERSA ENTRE LITERATURA E CINEMA.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

PATO BRANCO

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE LETRAS

LICENCIATURA EM LETRAS PORTUGUÊS-INGLÊS

IARA ZARDO

MISERY DE STEPHEN KING E A OBRA HOMÔNIMA DE ROB REINER NA

ADAPTAÇÃO CINEMATOGRÁFICA:

OS ELEMENTOS DE SUSPENSE E A CONVERSA ENTRE LITERATURA E CINEMA.

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação, apresentado à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, do curso de Licenciatura em Letras Português-Inglês da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado. Orientador: Prof. Me. Leandro Zago

PATO BRANCO

Dedico este trabalho à minha família. Aos que me apoiaram e estiveram ao meu lado.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador Prof. Leandro Zago, pela orientação sábia nos momentos mais precisos, pela dedicação e pelo atendimento sempre eficiente. Pelas brincadeiras e pelo alívio de ter uma orientação leve. Meu muito obrigada. À Coordenação do Curso, pelo apoio sempre muito bem vindo. À minha família, por tudo o que sempre fazem. Aos professores Wellington e Rodrigo, pela orientação durante os dois anos de intercâmbio e pela disponibilidade em fazerem parte da banca desse trabalho. À Universidade do Minho, pelos dois anos de acolhida. À CAPES pelo fomento ao intercâmbio. À todos os professores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus Pato Branco, pelos conhecimentos que adquiri nos mais de quatro anos em que estudei nessa instituição. A todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram e fizeram parte da minha trajetória, o meu mais sincero agradecimento.

RESUMO

ZARDO, Iara. Misery de Stephen King e a Obra Homônima de Rob Reiner na Adaptação Cinematográfica: os elementos de suspense e a conversa entre literatura e cinema. 2017. x f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Licenciatura em Letras. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Pato Branco, 2017.

Cinema e literatura possuem uma relação que não é novidade: a adaptação. Essa faz parte do cotidiano dos diversos públicos consumidores de arte (e existe desde os primórdios da construção das manifestações artísticas). A começar com os irmãos Lumière, criadores do cinematógrafo que permitiu a experiência do cinema que evolui, e é cada vez mais apreciado como arte, a sétima arte tirou das obras literárias uma parte que se tornou fundamental para si: a narrativa. Tanto cinema quanto literatura têm a capacidade de trazer prazer e divertimento a partir das histórias construídas de acordo com o suporte em que operam. Por isso, tratar de adaptação em termos como “traição,” “deformação,” “perversão,” “infidelidade” e “profanação” (STAM, 2000, p. apud HUTCHEON, 2013, p. 23) não se encaixa na perspectiva que vê cada obra como individual, pois faz parte de uma nova construção, em uma nova mídia, partindo de uma releitura. No âmbito da adaptação como uma obra nova, original, estudar-se-á a obra Misery de Stephen King e a homônima de Rob Reiner, a fim de elencar elementos de suspense que se distanciam e se aproximam nas duas obras, levando em conta a forma como os dois autores construíram esse importante elemento de tensão para a narrativa de terror. Mesmo utilizando-nos de uma perspectiva que compara uma obra à outra, a fidelidade ao livro na adaptação de Rob Reiner não foi o escopo principal deste trabalho. Certo é que, por se tratarem de obras que partem de mídias diferentes, o foco deste Trabalho de Conclusão de Curso foi o de identificar as diferentes formas de como se deu o desenvolvimento da narrativa (no livro e no filme) com a finalidade de causar o efeito de suspense no receptor. Para tanto, a fim de embasar este trabalho sobre adaptação cinematográfica na compreensão da relação entre a literatura e o cinema, serão consideradas as obras de Linda Hutcheon, José Domingos de Brito e José Carlos Avellar.

Palavras-chave: Misery. Stephen King. Adaptação Cinematográfica. Suspense. Rob Reiner.

ABSTRACT

ZARDO, Iara. Misery by Stephen King and the Homonym film by Rob Reiner in the Context of Film Adaptation: the elements of suspense and the interaction between literature and cinema. 2017. x f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Licenciatura em Letras. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Pato Branco, 2017.

Cinema and literature have a relationship that is not new: the adaptation. This is part of the daily life of the various consumers of art and has existed since the beginning of the construction of artistic manifestations. It all started with the Lumière brothers, the creators of the cinematograph that allowed the cinema experience to evolve and to be increasingly appreciated as art. The seventh art took from the literary works a part that became fundamental for itself: the narrative. Both cinema and literature have the capacity to bring pleasure and fun from the stories built according to the media in which they operate. For this reason, dealing with adaptation in terms such as "betrayal," "deformation," "perversion," "infidelity" and "profanation" (STAM, 2000, p.45 apud HUTCHEON, 2013, p.23) does not fit the perspective who sees each work as individual because it is part of a new construction, in a new media, starting from a re-reading. In the adaptation as a new, original work, we will study the work Misery , by Stephen King and the homonym from Rob Reiner in order to list elements of suspense that are distanced and approached in both works, taking into account the form as the two authors have constructed this important element of tension for the horror narrative. Even following a perspective that compares one work with another, fidelity to the book in Rob Reiner's adaptation was not the main object of this research. Certainly, because they are works that depart from different media, the focus of this work was on identifying the different forms through which the narrative (in the book as well as in the movie) developed in order to cause the suspense effect on the receiver. For that, to theoretically support this research on film adaptation in the understanding of the relationship between literature and cinema, the works of Linda Hutcheon, José Domingos de Brito and José Carlos Avellar were sought after.

Keywords : Misery. Stephen King. Film Adaptation. Suspense. Rob Reiner.

1. INTRODUÇÃO

O cinema é uma das grandes expressões artísticas do mundo. Desde os irmãos Lumiére, em que ele se resumia às cenas cotidianas de trens chegando e trabalhadores andando, salientando o momento em que os russos mesclaram-no com a narração, muitas histórias foram e são contadas com o cinema, partindo de visões diferentes, agradando espectadores diversos, proporcionando prazer, divertimento, acesso à informação e cultura, entre outros. Outrossim, a sétima arte tem como característica poder se adaptar às diferentes gerações, sendo que, como a música e a literatura, não deixa nunca de ser revista, revisitada e reinterpretada. Cada vez mais, o cinema faz parte da história que está intrínseca ao ser humano, mostrando através da sua linguagem aquilo que antes só podia ser imaginado, criando um marco inconfundível, capaz de apreender tempo e espaço, som e imagem, linearidade e justaposição sinuosa^1 , o movimento e a estaticidade, tudo num só conjunto. A importância de se estudar a adaptação cinematográfica, além da perspectiva que leva o sujeito a compreender melhor a arte que o cerca e a sua própria cultura, é a nova roupagem que é dada às ideologias, conceitos e percepções antes representados exclusivamente através da literatura – valorizando-se a reinterpretação na criação das manifestações artísticas. Levando em conta os gêneros emergentes e digitais e as novas formas de interagir com a literatura e o cinema, é possível considerar que, ao que tudo indica, o futuro da adaptação das expressões artísticas partirá de plataformas como as dos games (jogos), onde o modo interagir exige influência mútua do receptor com a obra. Os elementos são entregues aos receptores a partir de imagem, som, movimento e, muitas vezes, de uma narrativa. A interpretação do receptor é crucial para o desenvolvimento da história, pois a cada nova leitura, pode ser realizada uma nova trajetória a partir de outras escolhas. Exemplos desse formato de game onde a narrativa depende das escolhas do jogador são: Life is Strange, Far Cry, The Walking Dead: A Telltale Series e Trilogia The Witcher^2 , nos quais os jogadores optam com base nas opções que o jogo oferece, desenvolvendo uma narrativa mais interativa. O suporte dos jogos permite uma interação específica que modifica

(^1) Por “justaposição sinuosa” entendemos o processo de montagem que desconstrói a linearidade narrativa. No filme, ao contrário do romance, as trocas de cena são mais imediatas, sem grande necessidade de contextualização, pois esta é dada imediatamente através da imagem. (^2) Fonte: http://www.garotasgeeks.com/10-games-com-narrativas-surpreendentes/.

a história de acordo com as ações. A mídia onde estão impressos os livros, considerando que seu suporte é o papel em branco, permite a transformação de palavras em imagens e sensações, as quais são um reflexo direto da interação do leitor. A mídia que suporta o cinema eleva as relações de imagem e som, causando um efeito no receptor. Constituindo três modos diferentes de montar uma narrativa (que resultam em três maneiras diferentes de recebê-las), estão muito presentes na contemporaneidade e se transformam com frequência. No que interessa esse trabalho de conclusão de curso, as teorias sobre adaptação auxiliam na compreensão de como um texto “salta” de uma mídia para ser transposta em outra. A literatura, por exemplo, contém elementos muitas vezes essenciais e exclusivos que precisam ser retrabalhados e revistos no momento da adaptação para que se encaixem com propriedade e qualidade em uma nova mídia. Portanto, é importante levar em consideração a diferença entre as linguagens a fim de se estudar a relação entre literatura e cinema no movimento de transposição. A estrutura do texto carrega significados e intencionalidades a partir de uma organização específica que respeita, principalmente, a palavra. A estrutura fílmica também tem intenções e traz significados, mas utiliza a imagem, o som, a luz e a cor na composição. Pode-se afirmar que literatura e cinema compõem-se, a sua vez, de uma “estrutura que organiza o imediatamente visível” (AVELLAR, 2007, p. 56): o suporte que dá a possibilidade para a composição. Segundo Linda Hutcheon, não se deve deixar de acreditar que o que Shakespeare fazia era a verdadeira arte pela arte; não obstante, deve-se levar em consideração a verdade de que, desde os primórdios da cultura artística, esta já possuía seus valores capitais e de poder (2013, p. 57- 58). Por isso, uma das perspectivas que a adaptação cinematográfica leva em conta é a questão do mercado, pois ao produzir uma obra com a pretensão de que ela tenha repercussão e sucesso, é necessário se concentrar nos desejos do público alvo, nas narrativas envolventes, em causar efeitos que agradem o receptor, além das questões sócio-políticas. Provavelmente por esse motivo, dificilmente se veem casos em que um filme foi adaptado à literatura, sendo mais recorrente exatamente o oposto^3. A questão é que tanto literatura quanto cinema possuem suas limitações na busca pelo sucesso, restringindo, de certa forma, o desenvolvimento das expressões artísticas na sociedade: Os obstáculos para a adaptação da obra literária para o cinema, por exemplo, não são de ordem estética, mas de ordem sociológica e como indústria, já que a força do cinema populariza de fato a obra literária. Assim, em cada adaptação para o cinema, a edição literária correspondente aumenta suas vendas” (MACHADO, 2009, p. 84). (^3) http://onedio.co/content/22-popular-movies-that-were-turned-into-books-for-some-reason-12834.

obras foram adaptadas no ano de 2017: It – A coisa^16 e A Torre Negra^17 já lançado nos Estados Unidos. Segundo o website oficial de Stephen King (o StephenKing.com), sua inspiração para escrever Misery veio de um conto escrito por Evelyn Waugh que se chama “The Man Who Loved Dickens.” O conto trata da história de um homem mantido prisioneiro na América do Sul que se apaixona pelas histórias de Dickens e faz com que o comandante que o aprisiona leia para ele. King afirma que a ideia de adaptar surgiu enquanto dormia em um vôo de Nova Iorque para Londres e diz: “Eu em perguntei o que aconteceria se Dickens fosse mantido em cativeiro” (tradução nossa)^18. Recentemente, Stephen King assumiu que Misery é uma obra sobre dependência às drogas: “Misery é um livro sobre cocaína. Annie Wilks é a droga. Ela era minha fã número um” (tradução nossa)^19. Novamente de acordo com o website oficial, em 2003 o autor recebeu a “ National Book Foundation Medal ” por “ Distinguished Contribution to the American Letters ” e em 2014 a “ National Medal of Arts .” Stephen King foi o ganhador do prêmio “ Bram Stoker ” da “ Horror Writers Association ” na categoria Best Novel com o livro Misery, em 1987. Na capa desse mesmo livro, a seguinte declaração: “Stephen King é sem dúvida o mais popular romancista da história da ficção americana. Ele devia aos fãs uma carta de amor. Essa carta é Misery” (tradução nossa)^20. Nem sempre os autores concordam com as adaptações de suas obras, o que é natural e compreensível. Não obstante, Stephen King afirma que quando um leitor está lendo um livro de suspense/terror, ele está em uma situação ideal para o autor, enquanto que no cinema as pessoas costumam rir depois de tomar um susto, seja para aliviar o susto, descontrair, ou pelo formato de interação entre os participantes de uma sala de cinema. Quando questionado sobre o que um filme precisa ter para ser um bom filme de terror, King responde que se você abrir uma garota em cima de uma mesa com um estilete e partes de dentro dela começarem a sair, a platéia vai gritar. Sobre suas obras adaptadas, e a divergência entre a recepção de livro e filme, ele diz: “um pai se sente confortável quando manda seu filho para a universidade?”^21 (GREENE, 2014, tradução nossa)^22. Apesar da reação esperada de quem tem seu trabalho avaliado, modificado, e da

(^1617) It – Part I: The Losers Club, no original em inglês. Dirigido por Andy Muschietti. 18 The Dark Tower, no original em inglês. Dirigido por Nicolaj Arcel.“I wondered what it would be like if Dickens himself was held captive.” (^1920) “Misery is a book about cocaine. Annie Wilkes is cocaine. She was my number-one fan”. 21 “Stephen King is arguably the most popular novelist in the history of American fiction. He owes his fans a love letter. Misery is it.”Em uma entrevista encontrada no Youtube com o título Stephen King: Primeira Entrevista para a TV (1982). (^22) “Does a parent feel comfortable when he sends his kid after college?”

preocupação de que os livros sejam “substituídos” pelos filmes, o autor acredita que filmes não arruínam os livros, pois são duas coisas diferentes e a qualidade do livro não depende do filme, ainda de acordo com a entrevista. Quando escreveu o roteiro de Creepshow, King diz ter se sentido confiante e livre e que, mesmo sendo um roteiro original escrito para cinema, foi também uma adaptação de vários contos que resultaram em um filme. Ao que parece, a adaptação está sempre presente em suas obras. Não cabe aqui emitir juízos de valor quanto ao “potencial literário” de suas obras. Há quem criticou severamente Robert L. Stevenson, por exemplo, por render-se ao mercado quando criou “The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde (1886). Como consequência, as inúmeras adaptações que se seguiram, direta ou indiretamente, até hoje exploram a dualidade das personagens, alimentando filmes e séries televisivas sobre serial killers ( Dexter, Hannibal, The Fall, Criminal Minds, entre outros). Provavelmente o aspecto psicológico de tais romances junto à caracterização de personagens emblemáticas seja o que há de mais atrativo para se aventurar adaptações cinematográficas, sendo o suspense o grande artifício regulador. Rob Reiner, diretor da obra homônima Misery, é ator, diretor, escritor e produtor. Além dessa, adaptou também outra obra homônima de Stephen King: Conta Comigo^23 (1987). Segundo o site de informações sobre cinema, o IMdb^24 , Rob Reiner nasceu em Nova York, Estados Unidos, no ano de 1947. Atua em séries de TV e filmes desde 1961, estreando na série Manhunt. Como diretor, iniciou sua carreira em 1974 com o filme Sonny Boy. Tem 26 obras relacionadas ao seu nome como diretor e como ator figurou 71 aparições, além daquelas em que fez como “ele mesmo,” sem interpretar personagens. Um dos seus últimos trabalhos, realizado em 2017, foi um episódio da série “Jess e os Rapazes” chamado Misery, onde interpreta o pai da personagem principal. Como indica o título do episódio, faz referência ao filme: na relação entre os dois, Jess e o pai (interpretado por Rob Reiner), a filha cuida do pai doente e há momentos em que ela mesma parece Annie Wilkes, forçando-o a ficar na cama, trazendo um ar sombrio e ao mesmo tempo cômico para o episódio. Rob Reiner foi vencedor de duas das cinco indicações que recebeu para o Emmy Awards. Sobre Stephen King, o diretor Rob Reiner declarou em um artigo^25 do The Gardian : “A reputação óbvia de Stephen King é a de um ótimo escritor de terror, mas para mim sempre foi a

(^2324) Stand By Me, no original em inglês. 25 Fonte: http://www.imdb.com/name/nm0001661/awards?ref_=nm_awd.“It was wonderfully scary”: Tim Curry, Rob Reiner and Kathy Bates on the joy of adapting Stephen King.

com a fundamentação teórica dos elementos de suspense, levando-se em consideração as teorias sobre suspense, adaptação cinematográfica e recepção de leitor e espectador.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Sobre o Suspense

A questão principal que nos motiva no âmbito do suspense nas duas obras é: como o livro e o filme criam a ambientação que leva ao suspense? Ou seja, quais são os recursos e os artifícios a que se permitem utilizar ambas as plataformas para tal efeito? Segundo o dicionário, suspense é sinônimo de expectativa: “momento em que a ação retarda ou para momentaneamente seu curso, atrasando seu desfecho e mantendo o expectador, o ouvinte ou o leitor numa expectativa tensa e angustiante sobre o que pode acontecer: filme de suspense^31 .” Primeiramente, na literatura, é importante pensar na estrutura do discurso: “A estrutura do discurso para histórias de suspense começa com um acontecimento inicial alertando o leitor que uma consequência significante acontecerá com o protagonista da história” (JOSE; BREWER, 1984, p. 912, tradução nossa)^32. Para isso, é necessário dar significado a certos elementos. Por exemplo, sem conhecer o personagem, como poderia o leitor sentir o suspense? Perceberemos que Stephen King contempla essa façanha, mas, de modo geral, é a identificação do leitor com o personagem protagonista Paul Sheldon que norteará o desenvolvimento do suspense na obra. Conhecendo os personagens e a trama é que o leitor pode criar as suas previsões que, com o desenrolar dos acontecimentos da narrativa, podem se efetivar (ou não): “a incerteza e a antecipação de possíveis desfechos conduz o leitor a sentir suspense” (JOSE; BREWER, 1984, p. 912, tradução nossa)^33. Sendo assim, considera-se que “é importante que o leitor se importe com o personagem que vai sofrer uma consequência significativa” (Ibid. p. 912, tradução nossa)^34 , pois é dessa forma que a tensão acontece na trama: o leitor conhece o personagem e simpatiza com ele. Quando há um momento em que esse personagem encontra-se em um perigo antecipado (ou percebido) pelo leitor, ele sente a elevação do suspense, que só se acaba com a resolução do problema do personagem. Além do fato de leitores sentirem mais

(^3132) https://www.dicio.com.br/suspense/. the story's protagonist.“The discourse structure for suspense stories begins with an initiating event that alerts the reader that a significant conse” quence could happen to (^3334) “The uncertainty and anticipation of possible outcomes leads the reader to feel suspense.” “It is important that the reader care about the character who will experience a significant consequence.”

integra-se num conjunto de processos narrativos especificamente desenhados para intensificar a tensão e aumentar o interesse do espectador” (ZAGALO; BRANCO; BACKER, 2004, p. 3). As situações de suspense podem ter níveis de fluxo que levarão a uma reação do espectador. O primeiro fluxo, mais intenso, delineia o suspense em si. Nesse momento, “o espectador sabe mais que o personagem.” (Hitchcock apud op. cit., p. 3), momento em que é considerado ideal o desenvolvimento do suspense. Em um fluxo um pouco menos intenso, “podemos colocar a estrutura de curiosidade, na qual o mistério é a sua forma principal” (WIED apud op. cit., p. 3). Nesse âmbito, é dado ao espectador a informação sobre um evento já ocorrido, mas não lhe é dado a saber qualquer informação sobre o “como”’ terá ocorrido essa situação. Assim, a curiosidade é despertada no espectador, que receberá informações controladas no decorrer da narrativa e que podem tanto elevar ainda mais o suspense, quanto acabar com a curiosidade, eliminando o suspense ou talvez ampliando-o. O terceiro fluxo é o da surpresa, em que o espectador será então surpreendido a um dado momento com a apresentação de toda a informação de uma só vez. Sendo assim:

Uma determinada estrutura de suspense pode desencadear, a partir da sua resultante, todo o tipo de emoções desde a alegria à tristeza. Assim, o suspense fílmico consiste na colocação do espectador num estado de ansiedade ou tensão através da apresentação de “situações dramáticas da forma o mais intensa possível” (Truffaut, 1983) até ao momento em que se conhece o resultado da situação por forma a poder aumentar a diversidade de emoção daí resultante (ZAGALO; BRANCO; BACKER, 2004, p. 3).

Seguramente, a diversidade da emoção está diretamente ligada à maneira como a história é narrada. Ao se pensar e se refletir sobre o papel do narrador na relação entre cinema e a literatura surge a pergunta: quem, afinal, é o narrador no cinema? Como lidar com o tempo e a memória? Questões como essa nos levaram à seguinte afirmação: “[o] tempo e a memória com que lidamos no cinema, são de outra natureza: no cinema passado e futuro se encontram entrelaçados com o presente; e o que só existe na imaginação de um personagem aparece tão concreto na cena quanto o próprio personagem” (BRITO, 2007, p. 114). Devido a esse fato, o narrador do cinema é um tipo diferente dos que se encontram na literatura, sendo que o primeiro é colocado em um dualismo quando pode ser visto como controlador dos acontecimentos. Para o cinema, o essencial da imagem de um filme é o conteúdo da imagem do filme:

O cinema não nos dá uma representação concreta, autêntica, das pessoas e coisas, mas uma representação poética: o que importa não está no que se filma mas no colorido

semântico que se contrói; assim como num poema palavra sugere palavra, num filme imagem sugere imagem (AVELLAR, 2007,p. 108). Quem sabe tenha sido essa uma das razões pelas quais o cinema, no século XX, tenha, ainda que inadvertidamente, sugerido fortemente a transformação do romance, obrigando-o a deslocar o seu ponto de vista para o interior dos seres, como no caso dos romances de Joyce e Woolf. Suposições à parte, ao influenciar a literatura, o narrador desloca o foco das descrições das cores de algum objeto (porque antes era necessário para a composição de uma imagem do cenário ou de uma impressão no leitor), pois com a chegada do cinema e da exposição deste ao espectador/leitor, essa necessidade foi substituída pela possibilidade de visualizar a cor. Com isso, ao assistirr ao filme adaptado ou fonte de adaptação para literatura, o receptor jamais poderá ler um livro com os mesmos olhos. Ademais, o cinema mostra que podemos projetar nossos sonhos assim como os sonhamos para uma tela. Podemos também ver o sonho do outro e antecipar essa imaginação através de palavras, como acontece nos roteiros (BRITO, 2007, p. 275), construindo o processo

[...] de invenção cinematográfica (que)^37 pode se resumir como algo que se divide numa primeira fase em que o filme está no imaginário do realizador (o roteiro), numa segunda em que começa a ganhar forma (a filmagem), e naquela em que apura e ganha corpo (montagem) (BRITO, 2007, p. 404).

Em Misery , de Rob Reiner, o narrador parece ter “algo de fotógrafo e de espectador” (AVELLAR, 2007, p. 340), sendo “um tipo desprivilegiado [...] arrastado na corrente dos acontecimentos” (Ibid. p. 83). Segundo Escorel, adaptar um texto para o cinema pode ser mais fácil, mas ao mesmo tempo é mais complicado. A ação elimina a necessidade de construção de uma nova narrativa, mas “trabalhar sobre um material já organizado dramaticamente” (Ibid. p. 163) pode ser um problema na medida em que a transposição mecânica desse material nem sempre é válida: “ao se adaptar um romance parte-se de um material já trabalhado e retrabalhado, de um produto acabado” (Ibid. p. 184). Por outro lado, segundo Pedro Bial, uma história já organizada dramaticamente num livro é “o melhor ponto de partida para um filme” (Ibid. p. 287). Portanto, da literatura para o cinema é necessário que alguns elementos sejam modificados pensando, exatamente, na diferença entre as mídias e o que cada uma delas pode proporcionar como meio

(^37) Adição nossa.