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PARECERES DESCRITIVOS, Notas de estudo de Evolução

Na escola A, além da escrita do nome é descrito se a criança copia frases propostas em aula. Questões sobre ensino/aprendizagem do alfabeto, das letras e dos ...

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Tiago22
Tiago22 🇧🇷

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES
CURSO DE PEDAGOGIA
PARECERES DESCRITIVOS: DISCURSOS QUE CONSTITUEM OS
SUJEITOS ESCOLARES NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Daiane Carine Schneider
Lajeado, junho de 2017
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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

CURSO DE PEDAGOGIA

PARECERES DESCRITIVOS: DISCURSOS QUE CONSTITUEM OS

SUJEITOS ESCOLARES NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Daiane Carine Schneider Lajeado, junho de 2017

Daiane Carine Schneider

PARECERES DESCRITIVOS: DISCURSOS QUE CONSTITUEM OS

SUJEITOS ESCOLARES NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Monografia apresentada na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, do curso de Pedagogia do Centro Universitário UNIVATES, como parte da exigência para a obtenção do título de Licenciada em Pedagogia. Orientadoras: Dra. Cláudia Inês Horn e Dra. Mariane Ohlweiler Lajeado, junho de 2017

Agradeço às minhas colegas da faculdade, de trabalho, amigas e amigos, enfim, a todos que de alguma maneira contribuíram e continuam contribuindo para meu desenvolvimento, seja intelectual, social, cultural ou até pessoal.

“Grande parte da hostilidade à teoria, sem dúvida, vem do fato de que adquirir importância da teoria é assumir um compromisso aberto, deixar a si mesmo numa posição em que há sempre coisas importantes que você não sabe [...]. A natureza da teoria [se é que existe alguma] é desfazer, através de uma contestação de premissas e postulados, aquilo que você pensou que sabia, de modo que os efeitos da teoria não são previsíveis. Você não se tornou senhor, mas tampouco está onde estava antes. Reflete sobre sua leitura de maneiras novas. Tem perguntas diferentes a fazer e uma percepção melhor das implicações das questões que coloca às obras que lê” (Jonathan Culler).

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Informações sobre as escolas, os professores e alunos envolvidos na pesquisa .... 14 Quadro 2 – Atividade dirigida .................................................................................................. 25 Quadro 3 - Escrita ..................................................................................................................... 28 Quadro 4 - Brincar .................................................................................................................... 30 Quadro 5 – Aspectos comportamentais .................................................................................... 32 Quadro 6 – Os “bons” alunos ................................................................................................... 34

SUMÁRIO

  • 1 INTRODUÇÃO
  • 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
  • 3 SOBRE O DISCURSO
  • 4 PARECERES DESCRITIVOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
  • COTIDIANO ESCOLAR 5 PARECE-SER DESCRITIVO: ALUNO E PROFESSOR EM CENAS NO
  • 5.1 Cena 1: Existe desenhar errado?
  • 5.2 Cena 2: Pedro, o menino furacão!...................................................................................
  • 5.3 Cena 3: Augusto, o bom aluno!
  • 6 A (IM)POSSIBILIDADE DE CONCLUIR.......................................................................
  • REFERÊNCIAS
  • APÊNDICES

10 optasse por escolher como tema central do meu projeto de pesquisa os pareceres descritivos na Educação Infantil. Ao escolher meu tema de pesquisa, fui em busca de um aporte teórico que desse conta de enriquecer meu trabalho. Uma sugestão dada por minha orientadora foi a de fazer algumas leituras de autores como Bujes (2015), Veiga-Neto (2015) e Gadelha (2013) que desenvolvem uma perspectiva foucaultiana para buscar conceitos que dessem sustentação e argumentação para minha pesquisa. A escolha de trabalhar com algumas obras de Foucault e de seus comentadores baseou-se na admiração que tenho por esse filósofo, historiador de ideias, teórico social e crítico literário. Por mais densas e complexas que sejam suas obras, se analisadas a fundo trazem intensas reflexões sobre as relações entre o saber, o poder e a constituição dos sujeitos. Veiga-Neto (2005, p.18) atenta para a importância de estudar Foucault: “é no estudo da obra do filósofo que se pode buscar algumas maneiras produtivas de pensar o presente, bem como novas e poderosas ferramentas para tentar mudar o que se considera ser preciso mudar”. Por meio desta pesquisa, portanto, busquei “penetrar” nas escritas dos pareceres descritivos, observando as discursividades presentes nesse “território”. Para tanto, utilizei o conceito foucaultiano de discurso que vai muito além do sentido corriqueiro que atribuímos à palavra, pois, para o autor, discurso é toda produção de sentido. Discursos políticos, discursos pedagógicos, discursos sociais, todos possuem uma característica em comum: produzir sentido para os sujeitos. Portanto, neste projeto almejei investigar o que dizem essas produções de sentido sobre os sujeitos escolares da Educação Infantil. Nessa perspectiva, o problema orientador desta pesquisa foi: Que discursos são produzidos nos pareceres descritivos e de que modos os sujeitos escolares são neles “representados”? Busquei incitar os leitores de minha pesquisa a pensar de uma maneira denominada por Foucault de ativismo pessimista: Eu gostaria de fazer a genealogia dos problemas, das problematizações. Minha opinião é que nem tudo é ruim, mas tudo é perigoso, o que não significa exatamente o mesmo que ruim. Se tudo é perigoso, então temos sempre algo a fazer (FOUCAULT, 1995, p. 256).

11 Assim como Foucault, meu objetivo não é criticar os pareceres descritivos ou até mesmo assumir um posicionamento a favor ou contra, mas sim colocá-los sob suspeita, na tentativa de “descontruir” algumas certezas, proporcionando tanto para mim quanto para os leitores da pesquisa algumas reflexões e problematizações sobre os modos como estas escritas se constituem e o que dizem sobre os sujeitos escolares. A fim de atingir essa meta, consistiram em objetivos específicos deste projeto:

  • Investigar as narrativas dos pareceres descritivos, observando como são abordados aspectos como desenvolvimento cognitivo, psicomotor e emocional;
  • Analisar os discursos que constam nos pareceres descritivos dos sujeitos escolares;
  • Perceber quais as relações discursivas entre as diferentes escritas dos pareceres descritivos analisados. Dessa forma, as questões norteadoras do estudo foram:
  • Como os sujeitos escolares são “descritos” nos pareceres?
  • De que forma os discursos que constituem o professor influenciam nas narrativas que ele desenvolve sobre os alunos escolares por meio dos pareceres descritivos? No capítulo 2 apresento minha escolha metodológica e os detalhes da escolha dos pareceres descritivos; já no capítulo 3 discuto o conceito de discurso segundo a perspectiva foucaultiana e os pressupostos teóricos que o sustentam; no capítulo seguinte faço um breve histórico dessa ferramenta avaliativa utilizada na Educação Infantil e posteriormente disserto sobre ela. No capítulo 5 e seus subcapítulos apresento a análise dos documentos coletados em três escolas de diferentes municípios do Vale do Taquari. No sexto e último capítulo descrevo algumas reflexões que fiz durante minha jornada de estudos que constitui essa monografia. São algumas constatações a partir dos dados obtidos ou, em outras palavras, possibilidades de reflexões sobre o estudo apresentado neste Trabalho de Conclusão de Curso.

13 o confunde com o sentido. A análise do discurso reconhece a dubiedade de sentido de uma mesma palavra ou construção linguística. Portanto, ao ler os pareceres descritivos, refleti não somente sobre o que estava dito, mas sobre todo contexto que envolve a escrita e sobre tudo o que, de uma forma ou de outra, não está explícito, mas faz parte da constituição desses documentos. Os dados empíricos desta pesquisa tiveram como base pareceres descritivos de crianças da pré-escola (4 a 5 anos) de três instituições do Vale do Taquari. Como minha pesquisa tem cunho qualitativo e não quantitativo, estipulei o número de 6 pareceres descritivos por escola, sendo 3 do primeiro semestre e 3 do segundo semestre. As escolas foram escolhidas mediante alguns critérios: deveriam estar situadas em diferentes municípios do Vale do Taquari e pertencer a redes de ensino diferentes (particular e pública). O primeiro contato foi por telefone, sendo que na maioria das vezes conversei com as secretárias das escolas, mas em duas instituições passaram-me para conversar com a coordenadora pedagógica. Nesse primeiro contato requisitei marcar um horário com a direção, coordenação ou responsáveis para conversar sobre minha pesquisa pessoalmente. Senti uma enorme frustração ao iniciar meus contatos com as escolas, pois, de certa forma, se negavam a agendar um horário comigo. Das 8 escolas como as quais entrei em contato apenas 3 aceitaram conversar comigo sobre a pesquisa e aceitaram também contribuir. Portanto, estas três escolas são de municípios distintos do Vale do Taquari, sendo duas municipais e uma particular. Ao fazer o segundo contato com as escolas, que se deu pessoalmente, conversei tanto com a direção quanto com a professora responsável pela escrita dos pareceres, mas não foi realizada nenhuma entrevista, visto que meu objetivo principal estava na leitura e análise dos pareceres descritivos. Ressalto que nessa conversa, as professoras contaram-me brevemente como as escritas dos pareceres descritivos iam sendo constituídas no decorrer dos semestres, relatando alguns detalhes que, ao olhar delas, eram importantes para minha futura leitura e análise dos documentos fornecidos. Para manter o caráter ético da pesquisa, a Carta de Anuência (APÊNDICE 1) foi assinada pelo diretor ou responsável pela instituição de ensino e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE 2) pelo professor responsável pela turma. Por meio desses documentos, tanto o responsável legal da instituição quanto o(a) professor(a) autorizaram a realização do estudo dos documentos coletados, e eu como pesquisadora comprometi-me a

14 seguir as normas éticas quanto à identificação nominal dos participantes do estudo. Por este motivo, atribui às escolas participantes uma letra do alfabeto, enquanto as crianças descritas nos pareceres serão representadas por números (QUADRO 1 ). Quadro 1 - Informações sobre as escolas, os professores e alunos envolvidos na pesquisa Escola Rede de ensino/atendimento Professor/formação Alunos A Escola municipal de Educação Infantil. Atende desde o berçário até a pré-escola. Graduação em Pedagogia. 1 - Criança de 4 anos. 2 - Criança de 5 anos. 3 - Criança de 5 anos. B Escola particular de Educação Infantil. Atende desde o berçário até a pré-escola. Graduação em Pedagogia. 4 - Criança de 4 anos. 5 - Criança de 5 anos. 6 - Criança de 4 anos. C Escola municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Atende desde o berçário até o 6 º ano. Graduação em Pedagogia. Pós- graduação em Gestão, supervisão e orientação educacional. 7 - Criança de 5 anos. 8 - Criança de 5 anos. 9 - Criança de 4 anos. Fonte: Da autora (2017). Realizei uma leitura atenta de cada documento, destacando ao lado de cada parágrafo o assunto que estava sendo abordado. Meu próximo passo foi abrir um documento, separando os excertos dos pareceres descritivos em quadros de termos temáticos, como higiene, atividade dirigida, leitura e contação de histórias, entre outros. Depois de ter organizado os pareceres descritivos desta maneira, passei a reler todo material com bastante atenção, abrindo ainda algumas notas para apontamentos que eu julgava importantes para a construção de minha análise. Segundo Fischer, é no momento da análise da pesquisa, um dos mais importantes da investigação, que nos sentimos mais livres, pois: [...] É aí que nos colocamos verdadeiramente como autores, mesmo que na condição de sujeitos (isto é, assujeitados) em relação a um certo discurso. É o momento do limite, o instante da resistência à sujeição e da compreensão inapelável de que sempre, de alguma forma, somos constituídos por (FISCHER, 2002, p. 58 - 59). Portanto, minha análise dos dados deu-se de um modo muito pessoal. Ao fazer a análise do discurso dos pareceres descritivos, inspirei-me a escrever cenas do cotidiano

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3 SOBRE O DISCURSO

Neste capítulo desenvolvo o conceito central de minha pesquisa, que é o discurso. Fundamentando o debate a partir de Foucault, autor que ressignificou a palavra discurso segundo sua perspectiva, trago também o autor Veiga-Neto. Isso se faz necessário uma vez que esta pesquisa objetivou repensar a escrita dos pareceres descritivos, refletindo sobre que discursos são produzidos nestes documentos e de que modos os sujeitos escolares são neles “representados”. Segundo Veiga-Neto (2005, p.107), para entendermos a fala de Foucault em relação ao discurso e às práticas discursivas que colocam o discurso em movimento, é essencial compreender, inicialmente, o “caráter atributivo que ele confere à linguagem”. Nas palavras do autor: Em vez de ver a linguagem como um instrumento que liga o nosso pensamento à coisa pensada, ou seja, como instrumento de correspondência e como formalização da arte de pensar, Foucault assume a linguagem como constitutiva do nosso pensamento e, em consequência, do sentido que damos às coisas, à nossa experiência, ao mundo (VEIGA-NETO, 2005, p.107). Assim, pode-se dizer que as práticas discursivas interferem em nossas maneiras de constituir o mundo, de compreendê-lo e de falar sobre ele. A linguagem baseia-se no sujeito ativo e não na coisa percebida. Ou, nas próprias palavras de Foucault (1992, p.306), “se a linguagem exprime, não o faz na medida em que imite e reduplique as coisas, mas na medida em que manifesta e traduz o querer fundamental daqueles que o falam”. Conforme Foucault, somos sujeitos gerados em um mundo imerso de linguagens, um mundo por onde discursos circulam há muito tempo, e nós sujeitos somos constituídos desses discursos. Mas o que seria um discurso para o filósofo? É difícil responder essa pergunta, pois tanto para o discurso quanto para o enunciado, Foucault não traz um conceito explícito, o que

17 ele nos dá são pistas, fragmentos de seus pensamentos em relação a esses temas para que nós possamos construir nosso entendimento. Foucault nos convida a pensar juntamente com ele, por esse motivo, afirmo que ao ler suas obras “ A Arqueologia do Saber ”, “ A Ordem do Discurso ” e “ As Palavras e as Coisas ” podemos entender por discurso tudo aquilo que “produz sentido”, seja oral, escrito, ou até uma obra artística, um projeto arquitetônico. Na obra “A arqueologia do saber”, Foucault (2009) centra-se na relação entre as práticas discursivas e os poderes que a atravessam, demonstrando que a produção de discursos em nossa sociedade é intensamente controlada. Segundo o autor: [...] em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade. [...] Sabe-se bem que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar de qualquer coisa (FOUCAULT, 20 09 p.8-9). Compreender que existem procedimentos que controlam os discursos pode ser difícil para algumas pessoas e confesso que ao iniciar minha pesquisa partilhei desse mesmo sentimento. Como o que eu digo, penso, escrevo, as decisões que eu tomo, minhas produções, podem ser de algum modo controladas ou sofrer algum tipo de influência? Veiga-Neto nos esclarece isso em seu livro “ Foucault & a Educação ”, expondo que: [...] o sujeito de um discurso não é a origem individual e autônoma de um ato que traz à luz os enunciados desse discurso; ele não é o dono de uma intenção comunicativa, como se fosse capaz de se posicionar de fora desse discurso e sobre ele falar (VEIGA-NETO, 2005, p.110). Portanto, se discurso for tudo aquilo que produz algum sentido, pode-se dizer que há em nossa sociedade um “controle sutil” atuando sobre os sujeitos? Desde a mais tenra idade, discursos produzidos pela família, pela sociedade, pela escola, vão refletindo sobre nós e constituindo modos particulares de ser, agir, pensar. Assim, eu (sujeito) sei que ao entrar em um hospital devo fazer silêncio, que devo respeitar as diferentes etnias, que não devo agredir fisicamente e nem verbalmente outros sujeitos, enfim, esses são apenas alguns exemplos de muitas restrições discursivas que foram se desenvolvendo em inúmeros sujeitos. Foucault envolve-se intensamente no estudo sobre os discursos. Em “A Arqueologia do Saber” ele problematiza e nos faz refletir sobre a importância do discurso e o modo como o estabelecimento de certos discursos em torno dos saberes, em determinadas épocas, acabam por influenciar a realidade e por transformar esses saberes.

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4 PARECERES DESCRITIVOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Inicio fazendo um breve histórico sobre a invenção da infância e o processo de institucionalização da Educação Infantil, a fim de entender todo contexto no qual a avaliação foi sendo inserida. Conforme Ariès (1973), a infância enquanto categoria social que representa um período específico de desenvolvimento fisiológico e sociocultural é um acontecimento recente da história das sociedades ocidentais. Até os fins do século XVII, a criança era vista pela sociedade como um adulto em miniatura, o que fica evidente em uma análise das obras literárias e artísticas desse respectivo período. Esses sujeitos eram tratados realmente como adultos, sem nenhuma distinção ligada à cultura, vestimenta ou educação. A partir desse período, no entanto, ocorreram algumas transformações no modo de ver esse sujeito. Segundo Silveira (2015, p.60), “tem início um processo de reconfiguração social da família, que passa a se organizar em torno da criança, eleita como um ser incompleto (ou em formação), de cuidados especiais”. Por volta do século XVIII, as mulheres começaram a conquistar um espaço no mercado de trabalho e assim apareceram movimentos sociais que objetivavam a busca de um lugar onde essas mães pudessem deixar seus filhos enquanto trabalhavam. Surgem então as creches, que inicialmente eram caracterizadas por seu caráter assistencialista, sem vínculo com a educação. As crianças ficavam nesse espaço sob a guarda de uma “cuidadora” que tinha o compromisso mais voltado à higiene, alimentação e cuidados (SILVEIRA, 2015). A partir da Constituição de 1988, a Educação Infantil é incluída, oficialmente, no sistema educacional brasileiro, sendo regulada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB - Lei nº 9.394/96) que a classificou como a primeira etapa da Educação Básica. Observa-se que esses acontecimentos passam a reverberar sobre uma série de estudos, discussões e congressos sobre a valorização da Educação Infantil.

20 Assim, a infância tornou-se uma etapa específica e fundamental do desenvolvimento humano, caracterizada por técnicas e aparatos educacionais específicos. A família e a escola passam a ser fundamentais no processo de desenvolvimento da criança, cabendo à família o papel de assegurar os cuidados essenciais (saúde, higiene, alimentação), enquanto que a escola, como instituição de socialização, prepara e educa as crianças para o ingresso na vida adulta. Conforme Silveira: Esse processo foi acompanhado, nos séculos XIX e XX, pela produção de um conjunto de saberes científicos sobre o “desenvolvimento infantil”, transformado em objeto de conhecimento de disciplinas emergentes como Psicologia, a Sociologia e a Assistência Social (SILVEIRA, 2015, p. 60). Surge nesse contexto a necessidade de avaliar a Educação Infantil. Nesse sentido, observam-se recentemente duas tradições. A primeira, segundo Barbosa e Horn (2008), foi muito utilizada nos anos 1960 e 1970 e era baseada em objetivos comportamentais, tendo em vista um modelo de desenvolvimento desconsiderando as subjetividades de cada criança. Para as autoras: Os modelos de avaliação constituíam-se de várias lacunas para serem preenchidas com cores ou siglas. Os objetivos (e, por que não dizer, as crianças) eram divididos em áreas afetiva, cognitiva e motora. Para cada área, desenvolviam-se vários aspectos, como, por exemplo: na área motora, o equilíbrio poderia ser verificado através de ações como pular em um pé só e caminhar em linha sinuosa. A professora utilizava-se de situações dirigidas – e, muitas vezes, artificiais – para realizar testes individuais (BARBOSA; HORN, 2008, p. 98). Essas avaliações entregues às famílias eram muito extensas e carregadas de informações fragmentadas, sem muito sentido, pois na verdade falavam pouco sobre a criança, seu desenvolvimento, sua relação com os demais alunos e principalmente sobre suas aprendizagens. Na década de 80, essas avaliações começam a constituir-se de uma forma diferente: [...] com a democratização do país, com os questionamentos sobre o poder e a exclusão social, com a introdução de abordagens mais qualitativas de coleta de dados nas pesquisas e com a ampliação das perspectivas de desenvolvimento (psicologia genética e sócio-histórica), criou-se uma nova forma de abordar a avaliação na educação infantil. Esta tornou-se mais descritiva, menos comparativa, mais singular. Assim, a avaliação com um caráter mais subjetivista foi sendo estruturada a partir da proposta dos pareceres descritivos ou dos relatórios avaliativos (BARBOSA; HORN, 2008, p. 96). Essa segunda forma de avaliar tinha como objetivo ampliar e melhorar a constituição da avaliação na Educação Infantil, trazendo como destaque para esse processo os pareceres