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A Vida Espiritual de Láhiri Mahásaya: Encontros Esquecidos Com O Grande Mestre, Notas de estudo de Autobiografia

Narrativa sobre a vida espiritual de láhiri mahásaya, um grande mestre hindu, e como ele influenciou a vida de sri yuktéswar, o guru de paramahansa yogananda. Os encontros espirituais de láhiri mahásaya com outros mestres e a importância da prática da ioga na vida humana.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Aldair85
Aldair85 🇧🇷

4.8

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PARAMAHANSA YOGANANDA
AUTOBIOGRAFIA
DE UM IOGUE
CONTEMPORÂNEO
“Se não virdes sinais e milagres, não crereis”– João. 4:48.
Dedicada à memória de Lutero Burbank
“Um Santo Americano”
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Baixe A Vida Espiritual de Láhiri Mahásaya: Encontros Esquecidos Com O Grande Mestre e outras Notas de estudo em PDF para Autobiografia, somente na Docsity!

PARAMAHANSA YOGANANDA

AUTOBIOGRAFIA

DE UM IOGUE

CONTEMPORÂNEO

“Se não virdes sinais e milagres, não crereis”– João. 4:48.

Dedicada à memória de Lutero Burbank

“Um Santo Americano”

Introdução

É esta a primeira vez que um autêntico iogue hindu escreve a história de sua vida para leitores do Ocidente. Descrevendo com vívidos detalhes muitos anos de treinamento espiritual com Siri Yukteswar, um mestre que em muito se assemelhava ao Cristo, revela aqui o autor um aspecto fascinante e pouco conhecido da moderna Índia.

Paramahansa Yogananda foi o primeiro grande mestre da Índia a viver no Ocidente durante um longo período (mais de trinta anos). Iniciou na ioga 100.000 estudantes - técnicas científicas para despertar a consciência divina do homem. Neste livro ele explica, com clareza científica, as leis sutis mas definidas pelas quais os iogues realizam milagres e alcançam o autodomínio.

Yogananda, diplomado pela Universidade de Calcutá, escreve, com inesquecível sinceridade e incisiva agudeza. Capítulos cheios de vida são dedicados a suas visitas ao Mahatma Gandhi, a Rabindranath Tagore, a Luther Burbank e a Therese Neumann - a católica estigmatizada da Bavária. Este livro foi traduzido para doze idiomas.

Paramahansa Yogananda - Um Iogue na Vida e na Morte

Paramahansa Yogananda entrou em mahásamádhi (a derradeira vez que um iogue abandona conscientemente seu corpo) em Los Angeles, na Califórnia, em 7 de março de 1952, após concluir seu discurso num banquete em homenagem a Sua Excelência Binay R. Sen, embaixador da índia. O relato da partida do muito amado iogue apareceu no número de março de 1952 de SeIf-Realization Fellowship Magazine (Los Angeles) e no semanário Times de 4 de agosto de 1952.

O grande instrutor mundial demonstrou o valor da ioga (técnicas científicas para chegar à percepção de Deus como realidade) não apenas em vida, mas também na morte. Semanas após haver partido, sua face inalterada brilhava com o divino esplendor da incorruptibilidade.

O sr. Harry T. Rewe, diretor do Cemitério de Forest Lawn, de Los Angeles (onde o corpo do grande mestre jaz temporariamente) enviou a SeIf-Realization Fellowship uma carta com firma reconhecida, da qual são extraídos os seguintes trechos:

“A ausência de quaisquer sinais visíveis de decomposição no cadáver de Paramahansa Yogananda constitui o mais extraordinário caso de nossa experiência... Nenhuma desintegração física era visível no corpo, mesmo vinte dias após a morte... Nenhum indício de bolor revelava-se em sua pele e nenhum dessecamento (secagem) ocorreu nos tecidos orgânicos. Tal estado de preservação perfeita de um corpo, até onde vão nossos conhecimentos dos anais mortuários, é algo sem paralelo... Ao receber o corpo de Yogananda, os funcionários do cemitério esperavam observar, através da tampa de vidro do caixão, os costumeiros e progressivos sinais de decomposição física. Nossa admiração crescia à medida que os dias passavam sem trazer qualquer mudança visível no corpo em observação. O corpo de Yogananda permanecia evidentemente num estado fenomenal de imutabilidade.

“Nenhum odor de decomposição emanou de seu corpo em qualquer tempo ... A aparência física de Yogananda em 27 de março, pouco antes de colocar-se a tampa de bronze no ataúde, era a mesma de 7 de março. Ele parecia, em 27 de março, tão cheio ' de frescor e intocado pela corrupção, como na noite de sua morte. Em 27 de março, não havia, em absoluto, motivo para se afirmar que seu cor po sofrera qualquer desintegração física visível. Por estas razões, declaramos novamente que o caso de Paramahansa Yogananda é único em nossa experiência.”

  • Introdução
  • Paramahansa Yogananda - Um Iogue na Vida e na Morte
  • Índice
  • Capítulo 1 - Meus pais e minha infância
  • Capítulo 2 - A morte de minha mãe e o amuleto místico
  • Capítulo 3 - O Santo com dois corpos
  • Capítulo 4 - Minha fuga interrompida rumo ao Himalaia.
  • Capítulo 5 - Um “Santo dos Perfumes”exibe seus prodígios
  • Capítulo 6 - O Swâmi Tigre
  • Capítulo 7 - O Santo que se levita
  • Capítulo 8 - Jâgadis Chandra Bose, Grande Cientista da Índia
  • Capítulo 9 - O devoto bem-aventurado e seu romance cósmico
  • Capítulo 10 - Encontro meu Mestre, Sri Yuktéswar
  • Capítulo 11 - Dois jovens sem dinheiro em Brindában
  • Capítulo 12 - Anos no eremitério de meu Mestre
  • Capítulo 13 - O santo que não dorme
  • Capítulo 14 - Uma experiência em consciência cósmica
  • Capítulo 15 - O roubo da couve-flor
  • Capítulo 16 - Mais esperto que os Astros
  • Capítulo 17 - Sasi e as três safiras
  • Capítulo 18 - Um maometano, autor de prodígios
  • Capítulo 19 - Meu Mestre, em Calcutá, aparece em Serampore
  • Capítulo 20 - Não visitamos Cachemira
  • Capítulo 21 - Visitamos Cachemira
  • Capítulo 22 - O coração de uma imagem de pedra
  • Capítulo 23 - Recebo meu diploma universitário
  • Capítulo 24 - Eu me torno monge da Ordem dos Swãmis
  • Capítulo 25 - Meu irmão Ananta e minha irmã Nalini
  • Capítulo 26 - A Ciência de Kriya Yoga
  • Capítulo 27 - Fundação de uma escola de Ioga em Ranchi
  • Capítulo 28 - Renascimento e descoberta de Káshi
  • Capítulo 29 - Rabindranáth Tagore e eu comparamos sistemas de educação
  • Capítulo 30 - A Lei dos Milagres
  • Capítulo 31 - Uma entrevista com a Mãe Sagrada
  • Capítulo 32 - Rama é ressuscitado
  • Capítulo 33 - Bábaji, O Cristo-Iogue da Índia Moderna
  • Capítulo 34 - Materialização de um Palácio no Himalaia
  • Capítulo 35 - A vida crística de Láhiri Mahásaya
  • Capítulo 36 - Interesse de Bábají pelo Ocidente
  • Capítulo 37 - Vou à América
  • Capítulo 38 - Lutero Burbank - um santo entre as rosas
  • Capítulo 39 - Teresa Neumann, a estigmatizada católica
  • Capítulo 40 - Regresso à Índia
  • Capítulo 41 - Ídolo na Índia Meridional
  • Capítulo 42 - Últimos dias com meu Guru
  • Capítulo 43 - A ressurreição de Sri Yuktéswar
  • Capítulo 44 - Com Mahátma Gandhi em Wardha
  • Capítulo 45 - A “Mãe Saturada de Beatitude”
  • Capítulo 46 - A mulher iogue que nunca se alimenta
  • Capítulo 47 - Regresso ao Ocidente
  • Capítulo 48 - Em Encinitas, na Califórnia
  • Capítulo 49 - O período de 1940 a
  • Objetivos e Ideais da Self-Realization Fellowship

Capítulo 1 - Meus pais e minha infância

Os traços característicos da cultura hindu têm sido, desde sempre, a pesquisa das verdades últimas e, simultaneamente, a relação entre guru. 1 e discípulo.

Meu próprio caminho conduziu-me a um sábio semelhante a Cristo; sua vida fora cinzelada para a posteridade. Foi ele um dos grandes mestres que constituem o mais valioso patrimônio da índia. Surgindo, altaneiros, em todas as gerações, eles foram erguendo os baluartes que evitaram a seu país o destino de civilizações extintas, como a do antigo Egito e a de Babilônia.

Minhas recordações mais antigas abrangem traços anacrônicos de uma encarnação anterior. Lembro-me claramente de uma existência longínqua - a de um iogue 2 entre as neves do Himalaia. Estes indícios do passado, graças a um elo imensurável, permitiram-me também vislumbres do futuro.

Indefesas humilhações da infância ainda não se desvaneceram de minha memória. Era com ressentimento que eu tinha consciência de ser incapaz de me locomover e de me expressar livremente. Sucessivas ondas de oração erguiam-se dentro de mim ao reconhecer esta impotência física. Minha forte vida emocional exprimiu-se mentalmente, em palavras de muitas línguas. Entre a confusão interna de idiomas, habituei-me, pouco a pouco, a ouvir as sílabas berigalis de meu povo. Como se enganam os adultos ao avaliarem o alcance de um cérebro infantil, julgando que ele se limita apenas aos brinquedos!

A fermentação psicológica, não encontrando possibilidade de se expressar através de meu corpo imaturo, dava origem a muitas e obstinadas crises de choro. Recordo-me da desorientação e do assombro que meu desespero provocava em toda a família. Lembranças mais felizes também me ocorrem: as carícias de minha mãe, as primeiras tentativas que fiz para balbuciar frases e dar os primeiros passos. Estes triunfos infantis, normalmente logo esquecidos, criam, contudo, em nós, um alicerce natural de auto-confiança.

O grande alcance de minha memória não é caso único. Sabe-se de muitos iogues que conservaram a consciência de si mesmos, ininterruptamente, durante a dramática transição da vida para a morte e de uma para outra vida. Se o homem fosse apenas um corpo, sua desintegração física seria para ele o término de sua identidade. Mas se, no decurso de milênios, os profetas falaram a verdade, o homem é essencialmente uma alma, incorpórea e onipresente.

Apesar de insólitas, recordações nítidas da primeira infância não são infreqüentes. Durante minhas viagens por numerosos países, ouvi, de lábios de homens e mulheres verazes, o testemunho de suas recordações de uma idade muito próxima ao período de lactância.

Nasci em 5 de janeiro de 1893, em Gorakhpur, no nordeste da índia, perto das montanhas do Himalaia. Ali passei meus primeiros anos. Éramos oito irmãos: quatro meninos e quatro meninas. Eu, Mu- kunda Lal Ghosh 3 , fui o quarto a nascer e o segundo varão.

Meu pai e minha mãe eram bengalis, da casta Xátria 4. Ambos foram abençoados com uma natureza de santos. O mútuo amor que os uniu, tranqüilo e digno, nunca se expressou com frivolidade. Sua harmonia conjugal perfeita era o foco de serenidade em torno do qual girava o tumulto de oito filhos pequenos.

Meu pai, Bhágabati Charan Ghosh, era bondoso e sério; em certas ocasiões, mostrava grande rigor. Embora lhe tivéssemos muita afeição, nós, crianças, mantínhamos para com ele certa distância que raiava pela reverência. Notável em matemática e lógica, guiava-se principalmente por seu intelecto. Mas minha mãe era uma rainha de corações e educou-nos inteiramente através do amor. Depois que ela morreu, meu pai externou mais sua ternura íntima e eu notei que seu olhar muitas vezes parecia se metamorfosear no olhar de minha mãe.

Foi em presença de mamãe que travamos os primeiros contatos agridoces com as Escrituras. Ela recorria ao Mabábhárata e ao Rarnayâna 5 para exumar histórias que se aplicassem vantajosamente às exigências disciplinares. Instrução e castigo caminhavam de mãos dadas.

1 Mestre espiritual, “o que dissipa as trevas”; do sânscrito gu, trevas; ru, o que dissipa. (Guru-Gita, 17-19) 2 Praticante de ioga, “união”, antiquíssima ciência de meditação em Deus. 3 Meu nome de família foi substituído pelo religioso de Yogananda em 1914, quando ingressei na veneranda Ordem Monástica dos Swâmis. Em 1935, meu guru conferiu-me um título espiritual mais elevado, o de Paramahansa (ver capítulos 24 e 42). 4 A segunda casta, tradicionalmente de legisladores e guerreiros. 5 Estes antigos poemas épicos são um repositório precioso de história, mitologia e filosofia da índia.

  • Por que me orgulhar com um lucro material? - papai respondeu. - Quem procura alcançar o equilíbrio mental não se rejubila com o lucro nem se desespera com o prejuízo. Sabe que o homem chega sem dinheiro a este mundo e dele parte igualmente sem levar uma só rúpia!

Pouco depois de seu casamento, meus pais tornaram-se discípulos do grande mestre Láhiri Mahásaya 8 , de Benares. Esta associação fortaleceu o temperamento, por natureza ascético, de meu pai. Certa ocasião, mamãe fez uma confidência notável à minha irmã mais velha, Roma: “Seu pai e eu nos unimos como marido e mulher apenas uma vez por ano, com o intuito de termos filhos”.

Meu pai conheceu pela primeira vez Láhiri Mahásaya por intermédio de Abinash Babu 9 , empregado de um ramal da Estrada de Ferro Bengala-Nagpur. Em Gorakhpur, Abinash Babu monopolizava meus ouvidos infantis com absorventes histórias sobre muitos santos da índia. Concluía invariavelmente prestando um tributo às glórias superiores de seu próprio guru.

  • Alguma vez lhe contaram em que circunstâncias extraordinárias seu pai se tornou discípulo de Láhiri Mahásaya? - Foi numa tranqüila tarde de verão, quando Abinash e eu sentávamos na varanda de minha casa, que ele me fez esta excitante pergunta. Movi a cabeça em sentido negativo, com um sorriso de satisfação antecipada.
  • Anos atrás, antes de você nascer, supliquei a meu chefe – seu pai -, uma licença de sete dias para ausentar-me do trabalho a fim de visitar meu guru em Benares. Seu pai ridicularizou meu plano.

“- Vai se converter num religioso fanático? - perguntou-me. Concentre-se em seu trabalho no escritório, se quiser progredir.

“Naquele dia, voltando tristemente para casa por uma vereda no bosque, encontrei-me com seu pai que era transportado numa liteira. Ele despediu os servidores que o conduziam e passou a caminhar ao meu lado. Procurando me consolar, começou a discorrer sobre as vantagens de lutar pelo sucesso mundano. Mas eu o escutava distraidamente. Meu coração repetia: - Láhiri Mahásaya, não posso viver sem Te contemplar!

“O caminho nos conduzia à orla de um campo tranqüilo, onde os raios do sol ao entardecer coroavam a ondulante elevação do capim bravo. Estacamos, em admiração. E ali, no campo, a alguns metros de nós, apareceu subitamente a forma de meu grande guru! 10

“- Bhágabati, você é muito duro com seu empregado! - A voz ressoava em nossos ouvidos atônitos. Meu guru desapareceu tão misteriosamente como viera. De joelhos, eu exclamava: - Láhiri Mahásaya! Láhirí Mahásaya! - Durante alguns momentos, seu pai quedou-se imóvel de assombro.

“- Abinash, não só lhe dou licença, mas também a concedo a mim mesmo a fim de partirmos amanhã para Benares. Devo conhecer este grande Láhiri Mahásaya, capaz de se materializar à vontade para interceder por você! Levarei minha esposa comigo e pedirei a este mestre que nos inicie na senda espiritual. Você nos guiará até ele?

“- Sem dúvida! - Eu transbordava de alegria ante a resposta miraculosa à minha prece e a rápida e favorável alteração no curso 1 dos acontecimentos.

“Na noite seguinte, seus pais e eu viajamos de trem para Benares. Lá chegando durante o dia, cobrimos certa distância num trole e depois tivemos de caminhar por ruelas estreitas para atingir a moradia retirada de meu guru. Entrando em sua pequena sala, fizemos uma reverência ao mestre, ensimesmado na habitual posição de lótus. Ele piscou os olhos penetrantes e levantou-os para meu chefe: - Bhágabati, você é muito duro com seu empregado! - Suas palavras eram as mesmas que ele pronunciara dois dias antes no campo de Goralchpur. E acrescentou: - Alegro-me por haver permitido a Abinash visitar-me e terem vindo, você e sua esposa, em companhia dele.

“Para alegria dos esposos, meu guru os iniciou na prática espiritual de Kriya Yoga 11. Seu pai e eu, condiscípulos espirituais, temos sido amigos íntimos desde aquele memorável dia da visão. Láhiri Mahásaya manifestou particular interesse em seu nascimento, Mukunda, e sua vida estará com certeza relacionada com a dele; as bênçãos do mestre nunca falham “.

(^8) Pronuncia-se um tanto Láiri quanto Laíri; é mudo o a final do título: Maáchái. 0 acento tônico recai na primeira e na terceira sílabas de Bábají. Sri Yuktéswar soa Chrii luctésuor. Diz-se Patânjali, Guitânjali, Guita. 9 10 Babu (senhor) é aposto aos nomes próprios em bengali. 11 Os poderes invulgares possuídos pelos grandes mestres são explicados no capítulo 30, “A Lei dos Milagres”. Uma técnica iogue ensinada por Láhiri Mahásaya; acalma e silencia o tumulto sensorial, permitindo ao homem alcançar identidade crescente com a Consciência Cósmica (ver capítulo 26).

Láhiri Mahásaya deixou este mundo pouco depois de eu nele haver entrado. Seu retrato, em moldura ornamentada, sempre permaneceu no altar de nossa família, nas várias cidades para onde meu pai era transferido por necessidade de serviço. Muitas manhãs e muitas noites nos encontraram, à minha mãe e a mim, em meditação ante o improvisado altar, oferecendo flores aromatizadas com pasta de sândalo. juntando incenso e mirra às nossas devoções, honrávamos a Divindade que se manifestara com plenitude em Láhiri Mahásaya.

Sua fotografia teve influência transcendental em minha vida. À medida que eu crescia, o pensamento focalizado no mestre crescia comigo. Em meditação, eu via com freqüência sua imagem fotográfica destacar-se da pequena moldura e, assumindo forma vivente, sentar-se diante de mim. Quando eu tentava tocar os pés de seu corpo luminoso, ele voltava a se transformar em fotografia. No período de transição da infância para a adolescência, aconteceu que Láhiri Mahásaya deixou de ser a imagenzinha exterior encerrada em moldura, para surgir em minha própria mente, convertido e ampliado em presença vívida e luminosa. Em momentos de prova e confusão, eu costumava invocá-lo numa prece, encontrando em seu interior, sua orientação consoladora.

A princípio, eu me afligia por não o ter mais neste mundo, em seu corpo físico. Quando comecei a descobrir sua secreta onipresença, já não volvi a me lamentar. Ele escrevera, amiúde, a todo discípulo de- masiado ansioso em visitá-lo: “Por que vir me contemplar em carne e osso, quando estou sempre dentro do raio de visão de seu kutástha (olho espiritual)?”

Aos oito anos de idade aproximadamente, conheci a bênção de uma cura maravilhosa, graças ao retrato de Láhiri Mahásaya. Esta experiência intensificou meu amor. Enquanto residia em nossa grande pro- priedade familiar de Ichapur, em Bengala, contraí o cólera asiático. Fui desenganado pelos médicos; estes nada mais podiam fazer. Ao lado de meu leito, mamãe impeliu-me freneticamente a olhar para a fotografia de Láhiri Mahásaya, presa à parede, acima de minha cabeça.

_ Curve-se diante dele, mentalmente! - Ela sabia que a excessiva fraqueza me impedia até mesmo de erguer as mãos para saudá-lo. - Se oferecer sua devoção e ajoelhar interiormente diante dele, sua vida será salva!

Olhei fixamente a fotografia e contemplei uma luz cegadora que envolvia meu corpo e o quarto inteiro. Minha náusea e outros sintomas incontroláveis desapareceram ; eu estava curado. Imediatamente me senti bastante forte para inclinar-me e tocar os pés de minha mãe num gesto ele reconhecimento pela fé incomensurável que ela demonstrara ter em seu guru. Minha mãe comprimia a cabeça repetidas vezes contra o pequeno retrato: - O Mestre Onipresente, agradeço-Te por Tua luz ter curado meu filho!

Compreendi que ela também havia testemunhado o resplendor deslumbrante através do qual me recobrei instantaneamente de uma doença fatal.

Um de meus bens mais preciosos é essa mesma fotografia. Oferecida a meu pai pelo próprio Láhiri Mahásaya, ela irradia uma santa vibração. Este retrato teve origem miraculosa. Ouvi a história contada por Káli Kumar Roy, condiscípulo espiritual de meu pai.

Parece que Láhiri Mahásaya tinha aversão a ser fotografado. Não obstante seus protestos, tirou-se um retrato do mestre com um grupo de devotos, entre os quais Káli Kumar Roy. Surpreendido, o fotógrafo descobriu que a chapa, na qual se divisavam claramente as imagens de todos os discípulos, apenas revelava um espaço vazio no centro, onde ele esperava que aparecesse a figura de Láhiri Mahásaya. O fenômeno foi amplamente comentado e discutido.

Certo estudante, fotógrafo perito, Ganga Dhar Babu, jactou-se de que a fugitiva imagem não lhe escaparia. Na manhã seguinte, quando o guru se colocava em posição de lótus, num assento de madeira com um biombo por trás, Ganga Dhar Babu. chegou com seu equipamento. Tomando todas as precauções para o sucesso, tirou sofregamente doze fotografias. Em cada uma encontrou a impressão do assento de madeira com o biombo, mas a figura do mestre novamente havia sumido.

Em lágrimas e com o orgulho despedaçado, Ganga Dhar Babu procurou seu guru. Passaram-se muitas horas antes que Láhiri Mahásaya quebrasse o silêncio com um significativo comentário:

  • Eu sou Espírito. Pode a sua câmara fotográfica refletir o Invisível Onipresente?
  • Vejo que é impossível! Mas, santo senhor, desejo ardentemente um retrato desse templo corpóreo. Minha visão era estreita: até hoje eu não tivera consciência que nele o Espírito habita em plenitude.
  • Regressa, então, amanhã cedo. Posarei para você.

Bem, irmã, sinto que amanhã vou ter um furúnculo. Estou experimentando o ungüento no lugar onde a inflamação vai aparecer.

  • Menino mentiroso!
  • irmã, não me chame de mentiroso até ver o que acontecerá amanhã. - Eu estava indignado. Ela, sem se deixar impressionar, três vezes me chamou de mentiroso. Resolução inflexível como diamante soou em minha voz quando lhe dei esta lenta resposta:
  • Pelo poder da vontade em -mim, afirmo que amanhã terei um enorme furúnculo exatamente neste lugar de meu braço; e o teu furúnculo estará duas vezes mais inchado que hoje.

Na manhã seguinte, encontrei um valente furúnculo no lugar indicado; o de Uma tinha duplicado suas dimensões. Gritando agudamente, minha irmã correu para mamãe. - Mukunda converteu-se em nigro- mante! - Com gravidade, mamãe instruiu-me a nunca usar o poder da palavra para fazer o mal. Sempre recordei seu conselho e o segui fielmente.

Um cirurgião rasgou o meu furúnculo. Uma cicatriz notável, até hoje, mostra onde o médico fez a incisão. Em meu antebraço direito existe um sinal memorável do poder imanente na límpida palavra do homem.

Aquelas frases simples e aparentemente inofensivas a Uma, pronunciadas com profunda concentração, possuíram suficiente força oculta para explodir como bombas e produzir efeitos definidos, embora prejudiciais. Compreendi, mais tarde, que o poder vibratório da linguagem poderia ser sabiamente dirigido para liberar nossa vida de dificuldades e assim operar sem deixar cicatrizes nem censuras 16.

Nossa família transferiu-se para Lahore, no Punjab. Ali comprei um retrato da Mãe Divina, sob a forma da Deusa Káli 17 , que santificou um modesto altar na sacada interna de nossa casa. Dominou-me a convicção inequívoca de que todas as minhas preces pronunciadas naquele santo lugar se realizariam.

Certo dia, de pé nessa sacada, em companhia de Uma, observei dois meninos empinando papagaios de papel sobre o telhado de dois edifícios vizinhos, separados de nossa casa por uma estreita rua.

  • Por que se acha tão quieto? - perguntou-me Uma, dando-me um empurrão por brincadeira.
  • Estou pensando como seria maravilhoso se a Mãe Divina me desse tudo o que eu pedisse.
  • Suponho que Ela lhe daria aqueles dois papagaios! - O riso de minha irmã era de caçoada.
  • Por que não? - Comecei a rezar silenciosamente para obtê-los. Na índia, os meninos fazem competições e apostas com papagaios cujas linhas são recobertas de cola e vidro moído. Cada jogador procura cortar a linha de seu adversário. Finalmente, um papagaio solto voa sobre os telhados; é divertido correr atrás dele para apanhá-lo. Estando Uma e eu numa sacada interior, recoberta de telhas, parecia impossível que um papagaio de linha cortada viesse cair em nossas mãos; sua linha naturalmente passaria flutuando sobre o telhado.

Do outro lado da estreita viela, os competidores começaram o combate. Uma das linhas foi cortada e imediatamente o papagaio flutuou em minha direção. Devido à súbita ausência de brisa, o papagaio permaneceu imóvel por um momento; nessa pausa, a linha enroscou-se num cacto que havia na sotéia do prédio em frente: de tal modo a linha se envolveu no cacto que formou um extenso e perfeito laço no ar, ao alcance de minhas mãos. Entreguei o troféu a Uma.

  • Foi apenas um extraordinário acidente, e não uma resposta à sua prece. Se o outro papagaio cair em sua mão, então acreditarei.

Os olhos pretos de minha irmã mostravam muito mais assombro que suas palavras. Continuei a rezar com intensidade crescente. Um puxão mais forte dado à linha pelo outro jogador causou a perda brusca de seu papagaio. Este veio em minha direção, bailando no vento. Meu útil ajudante, o cacto, novamente prendeu a linha num laço bastante extenso para que eu o pudesse alcançar. Apresentei meu segundo troféu a Uma.

(^16) A potencialidade infinita do som deriva da Palavra Criadora, AUM, o poder vibratório cósmico por trás de toda a energia atômica. Qualquer palavra proferida com límpida compreensão e profunda concentração tem valor materializante. A repetição oral ou silenciosa de palavras inspiradoras provou sua eficiência em sistemas de psicoterapia como, por exemplo, o de Coué; o segredo reside em introduzir um “crescendo” na freqüência vibratória da mente. 17 Káli é um símbolo de Deus sob o aspecto da eterna Mãe Natureza.

  • A Mãe Divina o escuta, certamente! Tudo isto é demasiado misterioso para mim! - E minha irmã pôs-se em fuga, como uma pequena corça assustada.

Capítulo 2 - A morte de minha mãe e o amuleto místico

O maior desejo de minha mãe era o de ver casado meu irmão mais velho.

  • Ali, quando eu contemplar a face da esposa de Ananta, terei encontrado o céu na terra! - Freqüentemente ouvi mamãe expressar com estas palavras o seu arraigado sentimento hindu. pela continuidade da família.

Tinha eu onze anos quando se realizaram os esponsais de Ananta. Mamãe estava em Calcutá, supervisando alegremente os preparativos para o enlace. Papai e eu ficamos sozinhos em nossa casa em Bareilly, ao norte da índia, para onde ele fora transferido, após dois anos de permanência em Lahore.

Anteriormente eu havia presenciado o esplendor dos ritos nupciais de minhas duas irmãs mais velhas, Roma e Uma; para Ananta, entretanto, como primogênito, os preparativos eram muito meticulosos. Mamãe, em Calcutá, recepcionava numerosos parentes que chegavam de regiões distantes , todos os dias. Alojava-os confortavelmente numa casa ampla, recém-adquirida, situada em Amherst Street, 50. Tudo estava pronto: as deliciosas iguarias do banquete, o trono vistoso no qual meu irmão seria carregado até a casa da noiva, as fileiras de luzes coloridas, os gigantescos elefantes e camelos feitos de papelão, as orquestras indiana, inglesa e escocesa, os comediantes e artistas profissionais, os sacerdotes celebrantes dos antigos ritos.

Papai e eu, com espírito festivo, havíamos planejado nos reunir à família em tempo oportuno para a cerimônia. Pouco antes do grande dia, porém, tive uma visão de mau presságio.

Foi em Bareilly, à meia-noite: eu dormia ao lado de meu pai no terraço de nosso bangalô, quando fui acordado pelo franzir peculiar do mosquiteiro estendido sobre a cama. As frágeis cortinas abriram-se e vi a amada figura de minha mãe.

  • Acorde seu pai! Sua voz era apenas um sussurro. - Tomem o primeiro trem que partir, o das quatro da madrugada. Corram a Calcutá, se me quiserem ver! - A aparição desvaneceu-se.
  • Pai, papai! Mamãe está morrendo! - O terror em minha voz despertou-o imediatamente. Em soluços comuniquei-lhe a notícia fatídica.
  • Não se impressione com suas alucinações. Meu pai, como de costume, deu sua negativa a uma situação nova. Sua mãe está de perfeita saúde. Se recebermos notícias más, partiremos amanhã.
  • Papai nunca se perdoará por não haver partido agora. - E a angústia me fez acrescentar: - Nem eu o perdoarei.

A manhã seguinte despontou melancolicamente e, com ela, o telegrama explícito: “Mãe gravemente enferma; casamento adiado; venham imediatamente “.

Papai e eu partimos como dementes. Um de meus tios veio ao nosso encontro numa estação onde tínhamos de baldear. Estrondosa locomotiva puxando seus vagões vinha em nossa direção com velocidade telescópica. De meu tumulto interior brotou a determinação repentina de me atirar aos trilhos, sob as rodas do trem. Sentindo que minha mãe me era violentamente arrebatada, eu não podia suportar um mundo de súbito calcinado até os ossos. Eu amava minha mãe como ao ser mais querido sobre a terra. Seus consoladores olhos negros tinham sido meu refúgio em toda as insignificantes tragédias de minha infância.

  • Ela ainda vive? - Detive-me para fazer esta derradeira pergunta a meu tio. Ele compreendeu, num átimo, todo o desespero em minha face. - Claro que vive! - Eu, porém, dificilmente acreditava,

Quando chegamos à nossa casa em Calcutá, foi só para defrontar, alurdidos, o mistério da morte. Sofri um colapso e depois mergulhei num estado de quase torpor. Muitos anos decorreram antes que meu coração se conformasse. Meu grito e meu pranto, como tempestades renovando-se às próprias portas do céu, afinal impeliram a Mãe Divina a se apresentar. Suas palavras trouxeram o bálsamo da cura às feridas que ainda supuravam:

  • Sou Eu que tenho velado por ti, vida após vida, na ternura de todas as mães! Contempla em Meu olhar os dois olhos negros, os formosos olhos perdidos que andas buscando!

. Eu acalentava o meu filhinho e, ao mesmo tempo, fazia uma prece para que o grande guru. nos percebesse e abençoasse. Minha súplica silenciosa crescia em intensidade; ele entreabriu os olhos e fez sinal para que me aproximasse. Os outros me abriram caminho respeitosamente; reverenciei-o, tocando-lhe os pés sagrados. Láhiri Mahásaya sentou-o, Mukunda, sobre as pernas dele, colocando-lhe a mão na testa, à guisa de batismo espiritual.

  • “Mãezinha, seu filho será um iogue. Semelhante a um motor espiritual, ele conduzirá muitas almas ao reino de Deus.

“Meu coração saltou de alegria porque minha súplica secreta fora atendida pelo guru onisciente. Pouco antes de seu nascimento, Mukunda, Láhirí Mahásaya me dissera que você seguiria o caminho dele.

“Mais tarde, meu filho, sua visão da Grande Luz foi testemunhada por mim e por sua irmã Roma; de um quarto próximo, nós o observávamos imóvel em seu leito. Seu rostinho iluminou-me; sua voz soou com determinação de ferro quando você falou de viajar ao Himalaia em busca do Divino.

“Por estes meios, filho querido, eu soube que sua senda está muito além das ambições mundanas. O mais singular evento de minha vida trouxe-me confirmação posterior - um evento que agora me impele a dar-lhe, de meu leito de morte, esta mensagem,

“Foi uma entrevista com um sábio no Punjab, Quando nossa família vivia em Lahore, a criada entrou certa manhã em meu quarto.

“- Senhora, um estranho sádhu 20 está aqui. Ele insiste em “ver a mãe de Mukunda “. Estas singelas palavras tangeram uma corda profunda em meu coração. Fui imediatamente cumprimentar o visitante. Curvando-me a seus pés, em reverência, senti que estava em presença de um verdadeiro homem de Deus.

“- Mãe - disse ele - os grandes mestres desejam que saiba que sua permanência na Terra não será longa. Sua próxima doença será a última 21. - Houve um silêncio durante o qual não me senti alarmada; ao contrário, experimentei a vibração de uma grande paz. Finalmente ele se dirigiu a mim outra vez:

A senhora deve ser a depositária de certo amuleto de prata. Não lhe darei o talismã agora; para demonstrar a veracidade de minhas palavras, ele se materializará em suas mãos, amanhã, quando estiver meditando. De seu leito de morte, deverá instruir seu filho mais velho Ananta, para que guarde o amuleto durante um ano e então o e o entregue a seu segundo filho. Mukunda entenderá o significado do talismã, proveniente de Grandes Seres. Ele o receberá na época em que estiver pronto para renunciar a todas as esperanças mundanas e começar sua busca vital de Deus. Depois de haver conservado o amuleto por vários anos e quando este já tiver servido a seu propósito, desaparecerá. Mesmo que esteja guardado no esconderijo mais secreto, o talismã voltará ao lugar donde veio.

“Ofereci esmolas 22 ao santo e me inclinei diante dele com grande reverência. Sem aceitar minha oferenda, ele me abençoou e partiu. Na manhã seguinte, enquanto sentada eu meditava, um amuleto mate- rializou-se entre as palmas de minhas mãos, tal como o sádhu prometera. Fez-se notar por seu contato liso e frio. Guardei-o zelosamente durante mais de dois anos, e agora o deixo sob a custódia de Ananta. Não la- mente minha partida, pois serei introduzida por meu guru nos braços do Infinito. Adeus, filhinho; a Mãe Cósmica o protegerá”.

20 Anacoreta; quem adotou sádhana ou uma senda de disciplina espiritual. 21 Quando descobri, por estas palavras, que mamãe tinha conhecimento secreto da breve duração de sua vida, compreendi pela primeira vez porque insistira tanto em apressar os planos para o casamento de Ananta. Embora ela tivesse morrido antes do casamento, seu desejo materno natural fora o de assistir às cerimônias nupciais. 22 Um gesto habitual de respeito para com os sádhus.

Uma rajada de luz desceu sobre mim com a posse do amuleto; muitas recordações adormecidas despertaram. O talismã, redondo e autenticamente antigo, estava coberto de caracteres sânscritos. Compreendi que procedia de mestres de vidas anteriores, os quais guiavam invisivelmente meus passos. Havia outro significado ainda, mas seu possuidor, se assim o preferir, pode não desvendar completamente a intimidade de um amuleto 23.

Como o talismã afinal se evaporou em meio a circunstâncias profundamente infelizes de minha vida, e como sua perda foi o arauto da chegada de um guru, não o direi neste capítulo.

O menino porém, frustrado em suas tentativas de atingir o Hima1 a ia, viajou para muito longe, todos os dias, nas asas de seu amuleto.

23 O amuleto era um objeto produzido astralmente. De estrutura evanescente, tais objetos devem afinal desaparecer de nosso mundo físico (ver capítulo 43). Inscrito no talismã, havia um mântra ou letra de um canto sonoro. Em parte alguma, os poderes do som e de vach, a voz humana, foram tão profundamente pesquisados como na índia. A vibração AUM que reverbera em todo o universo (o “Verbo” ou “voz de muitas águas” da Bíblia) apresenta três manifestações ou gunas: criação, preservação e destruição (Taittirya Upanishád 1,8) Cada vez que o homem pronuncia uma palavra, ele põe em ação uma das três qualidades de AUM. Esta lei se encontra por trás daquele mandamento que, em todas as Escrituras, impõe ao homem o dever de falar a verdade. O mântra inscrito no amuleto possuía, quando pronunciado de modo correto, uma potência vibratória espiritualmente benéfica. 0 alfabeto sânscrito, de construção ideal, compreende 50 letras, tendo, cada uma, pronúncia determinada, invariável. George Bernard Shaw escreveu um ensaio sagaz e, como era de se esperar, satírico, sobre a impropriedade fonética do alfabeto inglês de base latina, no qual 26 letras se esforçam para agüentar, sem êxito, o pesado encargo de indicadoras de sons. Com sua habitual crueza (“Se a introdução de um alfabeto inglês custar uma guerra civil ... eu não a lamentarei”), o sr. Shaw propõe a adoção urgente de um novo alfabeto de 42 letras (ver seu prefácio ao livro de Wilson O miraculoso nascimento da linguagem , Philosophical Librairy, N ' Y.). Semelhante alfabeto aproximar-se-ia da perfeição fonética do sânscrito, cujo emprego de 50 letras evita erros de pronúncia. A descoberta de sinetes no Vale do rio Indo está levando vários eruditos a abandonarem a teoria corrente de que a Índia tomou emprestado de fontes semíticas o seu alfabeto sânscrito. Algumas grandes cidades indianas foram recentemente dessoterradas em Mohenjo-Daro e Harappa, fornecendo provas de uma cultura eminente que “deve ter tido uma longa história anterior no solo da Índia, pois nos faz retroceder a eras obscuramente suspeitadas” (Sir John Marshall, Mohenjo-Daro e as civilizações do Indo , 1931). Se a teoria hindu da existência extremamente remota do homem civilizado no planeta é correta, torna-se possível explicar por que a mais antiga língua, o sânscrito, é também a mais perfeita (ver capítulo 10). Disse sir William Jones, fundador da Sociedade Asiática: “0 sânscrito, seja qual for a sua antigüidade, possui maravilhosa estrutura; mais perfeita que o grego, mais rica que o latim e mais requintada que qualquer das duas”. E afirma a Enciclopédia Americana: “Desde o ressurgimento dos estudos clássicos, não houve acontecimento mais importante na história da cultura que a descoberta do sânscrito (por eruditos ocidentais) nos fins do século 18. A filosofia, a gramática comparada e a ciência da religião ... ou devem sua própria existência à descoberta do sânscrito ou foram profundamente influenciadas por seu estudo”.

Ouvi alguém subindo as escadas. O assombro e a incompreensão mesclavam-se de repente em mim; meus pensamentos eram velozes mas confusos. “Como é possível que o amigo de meu pai tenha sido intimado a comparecer aqui sem que um mensageiro o fosse chamar? O swâmi não falou com ninguém desde a minha chegada!”

Sem-cerimônia, abandonei o quarto e desci as escadas. A meio caminho, encontrei um homem magro, de pele clara e de média estatura. Parecia estar com pressa.

  • O senhor é Kedar Nath Babu? - A excitação dava colorido à minha voz.
  • Sim. E você não é o filho de Bhágabati que está esperando ror mim? - Ele sorriu amigavelmente.
  • Senhor, como lhe ocorreu vir aqui? Eu sentia frustração e ressentimento por não poder explicar sua presença.
  • Hoje, tudo é misterioso! Há menos de uma hora atrás, eu saía de meu banho no Ganges, quando Swâmi Pranabananda se aproximou. Não tenho a menor idéia de como soube que eu me achava ali, àquela hora. Disse-me ele: - O filho de Bhágabati está à sua espera em meu apartamento. Pode vir comigo - Concordei de bom grado. Caminhamos lado a lado, mas logo o swâmi, usando sandálias de madeira, tomou estranhamente a dianteira, apesar de eu ter, nos pés, sapatos reforçados para andar pelas ruas. - Quanto tempo levará para atingir minha casa? - Pranabananda parou de súbito, para fazer-me esta pergunta. -Cerca de meia hora. - Ele me olhou enigmaticamente. - Devo deixá-lo para trás; nos encontraremos em minha casa, onde o filho de Bhágabati e eu estaremos à sua espera. - Antes que eu pudesse replicar, adiantou-se velozmente e desapareceu entre a multidão. Vim para cá tão depressa quanto me foi possível.

Esta explicação apenas aumentou meu assombro. Perguntei-lhe há quanto tempo conhecia o swâmi.

  • Tivemos alguns encontros no ano passado, mas não recentemente. Foi com prazer que o revi no ghat 25 de banho esta manhã.
  • Não posso crer em meus ouvidos! Será que estou ficando louco? O senhor encontrou Pranabananda numa visão ou realmente o viu, tocou-lhe a mão e escutou o ruído de seus passos?
  • Não sei onde está querendo chegar. - Ele ficou rubro de indignação. - Não lhe estou mentindo. Não pode compreender que só por intermédio do swâmi eu podia saber que você me esperava neste lugar?
  • Pois eu lhe asseguro que esse homem, Swâmi Pranabananda, não se afastou de minha vista um só instante desde que entrei aqui há uma hora atrás. - E sem mais reflexão, contei-lhe toda a história, re- petindo a conversação que tivera com o swâmi.

Seus olhos abriram-se desmesuradamente. - Estamos vivendo nesta era materialista ou estamos sonhando? Nunca esperei testemunhar tal milagre em minha vida! julguei que este swâmi era um homem comum e agora descubro que pode materializar um corpo extra e operar com ele! - Entramos juntos no quarto do santo. Kedar Nath Babu apontou com o dedo para os sapatos sob o estrado.

  • Olhe, são as mesmas sandálias que ele usava no ghat - segredou-me. - E vestia apenas uma tanga, exatamente como agora.

Quando o visitante se inclinou diante dele, o santo voltou-se para mim com um sorriso divertido.

  • Por que ficou espantado com tudo isto? A sutil unidade do mundo dos fenômenos não se acha oculta aos verdadeiros iogues. Eu vejo e converso instantaneamente com meus discípulos na distante Cal- cutá. Eles também podem transcender à vontade qualquer obstáculo de matéria densa.

(^25) Escadaria para que os banhistas possam descer a um rio ou lago; desembarcadouro. De ghats reservados à cremação, os participantes do funeral têm acesso à água para se purificarem e atirarem as cinzas à correnteza.

Foi provavelmente para avivar o ardor espiritual em meu jovem peito que o swâmi condescendeu em falar-me de seus poderes de rádio e televisão astrais 26. Mas, em vez de entusiasmado, senti apenas terror, Talvez porque eu estivesse destinado a empreender minha divina busca sob a direção de determinado guru - Swâmi Yuktéswar, a quem ainda não encontrara - não me senti disposto a aceitar Pranabananda como meu instrutor. Olhei-o com desconfiança, conjeturando se era ele ou seu segundo corpo o que eu tinha à minha frente.

O mestre procurou dissipar minha inquietude, lançando-me um olhar de alento espiritual e dizendo algumas palavras inspiradoras sobre seu guru.

  • Láhiri Mahásaya foi o maior iogue que conheci. Ele era a própria Divindade revestida de carne. Se um discípulo, refleti, pode materializar uma forma carnal extra à vontade, que milagres não estarão ao alcance de seu mestre?
  • Vou lhe dar uma idéia de quanto é inestimável a ajuda de um guru. Eu costumava meditar com outro discípulo durante oito horas, todas as noites. Tínhamos de trabalhar no escritório da estrada de ferro durante o dia. As práticas noturnas tornavam difícil o cumprimento de meus deveres diurnos de empregado, e por isso desejava dedicar meu tempo integral a Deus. Durante oito anos perseverei, meditando metade da noite. Obtive maravilhosos resultados; tremendas percepções espirituais me iluminaram a mente. Mas sempre um véu delgado persistia entre mim e o Infinito. Mesmo desenvolvendo esforços sobre-humanos, a união irrevogável me era negada, Certa noite, fiz uma visita a Láhirj Mahásaya e supliquei sua divina intercessão. Continuei a importuná-lo durante o resto da noite.

“- Angélico guru, minha angústia espiritual é tanta que não posso mais suportar a vida sem ver o Supremo Bem-Amado, face a face!

Que posso fazer? Você deve meditar mais profundamente. Estou apelando a Ti, ó Deus meu Mestre! Contemplo-Te materializado perante mim num corpo físico; abençoa-me para que Te possa perceber afinal sob Teu aspecto infinito!

“Láhiri Mahásaya estendeu a mão num gesto benigno: - Agora você pode ir e meditar. Intercedi por você junto a Brahma 27.

“Em estado de elevação incomensurável, regressei à minha casa. Ao meditar, naquela mesma noite, alcancei o ardente ideal de minha vida. Agora desfruto incessantemente da pensão espiritual. Nunca, desde aquele dia, o Criador Beatífico permaneceu oculto a meus olhos, por trás do véu da Ilusão “.

A face de Pranabananda estava irradiante de luz divina. A paz de um outro mundo penetrou em meu coração; todo o medo voara para longe. O santo fez ainda outra confidência:

  • Alguns meses depois voltei a visitar Láhiri Mahásaya e tentei lhe agradecer por me haver concedido a dádiva infinita. Na mesma ocasião, mencionei outro problema.

“- Guru divino, não posso mais trabalhar no escritório. Por favor, liberte-me. Brahma tem-me constantemente inebriado.

Peça sua aposentadoria à estrada de ferro. Que razão invocarei, contando poucos anos de serviço? Diga o que sente. “No dia seguinte, fiz o requerimento. O médico procurou conhecer que fundamento havia para a solicitação prematura.

“- Durante meu trabalho, experimento uma sensação avassalante que sobe pela espinha dorsal. 28 , penetra meu corpo inteiro e me incapacita para o cumprimento de meus deveres 29.

(^26) A ciência física está, por seus próprios métodos, confirmando a validade de leis descobertas pelos iogues através da ciência mental. Por exemplo, na Real Universidade de Roma, em 26 de novembro de 1934, obtiveram-se provas de que o homem possui poderes de televisão. 0 dr. Giuseppe Calligaris, professor de neuropsicologia, comprimiu certas partes do corpo de um indivíduo e este fez minuciosa descrição de pessoas e objetos situados atrás de uma parede. Disse o dr. Calligaris a outros professores que, ao serem estimuladas certas áreas da pele, o indivíduo recebe impressões supersensoriais e torna-se capaz de ver objetos que, de outra maneira, não poderia perceber. Para fazer o indivíduo discernir objetos situados atrás de uma parede, o dr. Calligaris comprimiu um lugar no lado direito do tórax durante quinze minutos. Afirmou o dr. Calligaris que, estimulados certos pontos do corpo, os indivíduos podem ver objetos a qualquer distância, mesmo no caso de nunca antes os terem visto. (^27) Deus em Seu aspecto de Criador, da raiz sânscrita brih , expandir. Quando o poema “Brahma”, de Emerson, foi publicado no Atlantic Montly em 1857, a maioria dos leitores escandalizou-se. Emerson riu ironicamente: “- Digam Jeová em lugar de Brahma e não sentirão perplexidade alguma”.

Capítulo 4 - Minha fuga interrompida rumo ao Himalaia.

Abandone a sala de aula arranjando algum pretexto fútil e alugue um coche. Pare na travessa lateral onde ninguém de minha casa o possa ver.

Estas foram minhas instruções finais a Amar Mitter, um colega de escola secundária que planejara me acompanhar ao Himalaia. Havíamos escolhido o dia seguinte para empreender a fuga. Era necessário tomar precauções, pois meu irmão Ananta exercia vigilância rigorosa. Ele decidira frustrar os planos de fuga que suspeitava predominarem em minha mente. O amuleto, como um fermento espiritual, trabalhava silenciosamente em meu interior. Eu esperava encontrar, em meio às neves do Himalaia, o mestre cuja face muitas vezes me aparecia em visões.

Minha família estava morando em Calcutá, para onde papai fora definitivamente transferido. Em obediência ao costume patriarcal hindu, Ananta trouxera sua noiva para viver em nossa casa, agora em Gurpar Road n.4. Ali, num quartinho do sótão, eu me entregava a meditações diárias, preparando minha mente para a busca divina.

A memorável manhã chegou com uma chuva pouco auspiciosa. Ouvindo as rodas do coche de Amar, na rua, embrulhei precipitadamente um cobertor, um par de sandálias, duas tangas, um rosário, a fotografia de Láhiri Mahásaya e um exemplar do Bhágavad Gíta. Atirei este embrulho pela janela de meu quarto no segundo andar. Desci as escadas correndo e passei por meu tio que comprava peixe na porta.

  • Que excitação é essa? - Seu olhar me examinou cheio de suspeita. Eu lhe sorri com ar inocente e avancei para a viela. Apanhando meu embrulho, reuni-me a Amar com a cautela de um conspirador. Dirigimo-nos para Chandni Chank, zona comercial da cidade. Durante meses, havíamos economizado o dinheiro de nosso lanche para comprar roupas inglesas. Sabendo que meu esperto irmão desempenharia facilmente o papel de detetive, pensamos iludi-lo, disfarçados em trajes europeus.

Em nosso caminho para a estação, detivemo-nos a fim de que a nós se reunisse meu primo, Jotin Ghosh, a quem eu chamava de Jatinda. Era um novo convertido, suspirando por um guru no Himalaia. Preparamos sua nova roupa e ele a vestiu. ótima camuflagem, pensávamos esperançosos. Uma grande euforia dominava nossos corações.

  • Agora só nos faltam sapatos de lona. - Conduzi meus companheiros a uma loja onde estavam expostos calçados com sola de borracha. - Artigos de couro, obtido pela matança de animais, não devem sr usados nesta sagrada viagem. - Detive-me na rua para remover a capa de couro de meu Bhágavad Gíta e as correias de couro de meu sola topee (capacete) de manufatura inglesa.

Na estação, compramos passagens para Burdwan, donde planejávamos baldear para Hardwar, no sopé do Himalaia. Assim que o trem, como nós, se pôs em fuga, dei rédea solta a algumas de minhas gloriosas previsões, antegozando-as.

  • Imagine só! - exclamei. - Seremos iniciados pelos mestres e experimentaremos o transe da consciência cósmica. Nossos corpos se

carregarão de tal magnetismo que os animais ferozes do Himalaia, ao se aproximarem de nós, ficarão instantaneamente domados. Os tigres não passarão de dóceis gatos caseiros, à espera de nossas carícias!

Este comentário que delineava perspectivas fascinadoras – tanto metafórica quanto literalmente - produziu um sorriso entusiástico em Amar. Jatinda, porém, desviou os olhos e, pela janela, dirigiu-os para a paisagem que fugia.

  • Vamos dividir o dinheiro em três partes. - Jatinda quebrou um longo silêncio com esta sugestão. - Cada um de nós deverá comprar sua própria passagem em Burdwan. Assim, ninguém na estação desconfiará de que estamos fugindo juntos.

Sem de nada suspeitar, concordei. Ao anoitecer, nosso trem parou em Burdwan. Jatinda foi ao guichê de passagens; Amar e eu sentamos na plataforma. Esperamos quinze minutos; depois, infrutiferamente, inquirimos sobre seu paradeiro. Procurando em todas as direções, gritávamos o nome de Jatinda com a insistência do terror. Mas ele se esfurnara nos desconhecidos e obscuros arredores da pequena estação.

Fiquei completamente abatido, num estado de choque próximo do torpor. Não acreditava que Deus pudesse abençoar um incidente tão depressivo! Minha romântica fuga em direção a Ele, a primeira que re- cebera cuidadoso planejamento, redundara num cruel estrago.

  • Amar, devemos voltar para casa. - Eu chorava feito criança, O adeus empedernido de Jatinda é um mau presságio. Esta viagem se destina ao fracasso.
  • É esse o seu amor a Deus? Você não tem forças para suportar o pequeno teste da traição de um companheiro?

Graças à idéia sugerida por Amar, de que se tratava de uma provação enviada por Deus, meu coração se acalmou. Logo nos refizemos com os famosos doces de Burdwan, sitabhog (manjar para a deusa) e motichur (pepitas de pérola doce). Horas depois, tomamos o trem para Hardwar, via Bareilly. Fazendo a baldeação no dia imediato em Moghul Serai, discutimos um assunto vital enquanto esperávamos na plataforma.

  • Amar, poderemos em breve ser interrogados pelos funcionários da estrada de ferro. Não estou subestimando a argúcia de meu irmão! Aconteça o que acontecer, não direi uma só mentira.
  • Só lhe peço, Mukunda, que não fale. Não ria e não faça um gesto enquanto eu falar. Neste momento, um funcionário europeu da estação se aproximou de mim. Ele agitava um telegrama, cujo conteúdo adivinhei imediatamente.
  • Estão fugindo de casa, inconformados?
  • Não! - Fiquei satisfeito por ele haver escolhido palavras que me permitiram dar-lhe esta resposta enfática. Não era a inconformidade mas a “divina melancolia”a responsável por meu comportamento nada convencional.

O funcionário voltou-se, então, para Amar. O duelo de inteligente subtileza que sustentaram dificilmente me permitiu manter a estóica gravidade aconselhada.

  • Onde está o terceiro jovem? - O homem pôs toda autoridade possível em sua voz. - Vamos, diga a verdade.
  • Senhor, noto que está usando óculos. Não pode ver que somos apenas dois? - Amar sorriu descaradamente. - Não sou um mágico, não posso tirar da cartola um terceiro rapaz.

O funcionário, visivelmente desconcertado com esta impertinência, procurou atacar outro campo vulnerável.

  • Qual é o seu nome?
  • Chamam-me de Thomas. Sou filho de mãe inglesa e pai hindu convertido ao cristianismo.
  • Qual é o nome de seu amigo?
  • Eu o chamo de Thompson. Nesta altura, minha hilaridade interior atingiu o zênite; sem cerimônia, caminhei para o trem que, providencialmente , dava o apito de partida. Amar veio atrás, acompanhado pelo funcionário, que se tornara crédulo e obsequioso a ponto de nos alojar em um compartimento reservado a europeus. Evidentemente lhe doía ver dois jovens de sangue semi-inglês viajarem numa seção destinada aos nativos. Quando se despediu cortesmente, reclinei-me para trás, no assento, em gargalhadas incontroláveis. O semblante de Amar expressava incontida satisfação por haver logrado um funcionário europeu veterano.

Na plataforma, eu dera um jeito de ler o telegrama. Era de meu irmão Ananta e dizia: “Três jovens bengalis, vestidos à inglesa, fogem de casa, direção Hardwar, via Moghul Serai. Favor detê-los até minha chegada. Ampla recompensa por seus serviços.”

  • Amar, eu o preveni que não deixasse em sua casa itinerários com horas assinaladas. - Eu o reprovava. - Meu irmão deve ter encontrado algum, lá.

Meu amigo reconheceu sua falta, como um cordeiro. Paramos brevemente em Bareilly, onde Dwarka Prasad 31 esperava por nós.

com um telegrama de Ananta. Dwarka tentou valentemente nos deter. Convenci-o de que nossa fuga não fora empreendida por motivos fúteis. Como já o fizera em ocasião anterior, Dwarka recusou meu convite de partir para o Himalaia.

(^31) Mencionado no capítulo 2.