Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Evolução das Teorias da Firma em Mudanças Tecnológicas: Industrial, Fordista e de Informaç, Notas de aula de Economia

Este artigo analisa a evolução das teorias da firma em relação a mudanças tecnológicas em três paradigmas: revolução industrial, fordista e de tecnologias da informação. As teorias da firma não apresentam um corpo teórico único e coerente, pois estão condicionadas por diferentes filiações metodológico-teóricas, enfatizam aspectos distintos (produção ou transação) e se baseiam em contextos institucionais, históricos e setoriais diversos. Ao mesmo tempo, determinadas firmas conseguiram explorar economias de escala e escopo, e reduzir custos de transação, através de inovações em energia elétrica, motores a combustão e organizacionais fordistas-tayloristas.

O que você vai aprender

  • Como as teorias da firma estão condicionadas por diferentes filiações metodológico-teóricas?
  • Quais inovações tecnológicas contribuíram para alterar a estrutura da indústria?
  • Qual foi a evolução das teorias da firma em relação às mudanças tecnológicas?
  • Quais aspectos das teorias da firma enfatizam (produção ou transação)?
  • Como as firmas conseguiram explorar economias de escala e escopo?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Vinicius20
Vinicius20 🇧🇷

4.5

(183)

407 documentos

1 / 30

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
Paradigmas Tecnológicos e Teorias
Econômicas da Firma
Paulo Bastos Tigre
Professor Titular do Instituto de Economia da UFRJ
Fevereiro de 20051
RESUMO
O processo de mudanças tecnológicas e institucionais tem importantes
repercussões na estrutura da indústria, à medida que cria e destrói empresas
e mercados. Tal processo impõe a necessidade de reformular
constantemente os ramos da ciência econômica que estudam o
funcionamento da atividade produtiva. Este artigo analisa a evolução das
teorias da firma à luz das mudanças tecnológicas ocorridas em três
paradigmas: (i)a revolução industrial britânica, que dominou a economia
mundial durante todo o século XIX e foi a base de observação para a
elaboração da teoria neoclássica; (ii) o paradigma fordista, que efetivamente
deu origem à economia industrial; e (iii) o paradigma das tecnologias da
informação, cuja construção teórica está baseado, principalmente nas
correntes evolucionistas e neo-institucionalistas. A análise da evolução das
teorias da firma e sua relação com paradigmas organizacionais distintos
mostram que não existe um corpo teórico único e coerente, pois as teorias
estão condicionadas por diferentes filiações metodológico-teóricas, enfocam
aspectos distintos (produção ou transação) e baseiam-se em contextos
institucionais, históricos e setoriais diversos.
1 Uma versão preliminar deste artigo foi publicado na Revista de Economia Contemporânea
da UFRJ em 1998.
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16
pf17
pf18
pf19
pf1a
pf1b
pf1c
pf1d
pf1e

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Evolução das Teorias da Firma em Mudanças Tecnológicas: Industrial, Fordista e de Informaç e outras Notas de aula em PDF para Economia, somente na Docsity!

Paradigmas Tecnológicos e Teorias

Econômicas da Firma

Paulo Bastos Tigre

Professor Titular do Instituto de Economia da UFRJ

Fevereiro de 2005

1

RESUMO

O processo de mudanças tecnológicas e institucionais tem importantes repercussões na estrutura da indústria, à medida que cria e destrói empresas e mercados. Tal processo impõe a necessidade de reformular constantemente os ramos da ciência econômica que estudam o funcionamento da atividade produtiva. Este artigo analisa a evolução das teorias da firma à luz das mudanças tecnológicas ocorridas em três paradigmas: (i)a revolução industrial britânica , que dominou a economia mundial durante todo o século XIX e foi a base de observação para a elaboração da teoria neoclássica; (ii) o paradigma fordista, que efetivamente deu origem à economia industrial; e (iii) o paradigma das tecnologias da informação , cuja construção teórica está baseado, principalmente nas correntes evolucionistas e neo-institucionalistas. A análise da evolução das teorias da firma e sua relação com paradigmas organizacionais distintos mostram que não existe um corpo teórico único e coerente, pois as teorias estão condicionadas por diferentes filiações metodológico-teóricas, enfocam aspectos distintos (produção ou transação) e baseiam-se em contextos institucionais, históricos e setoriais diversos.

(^1) Uma versão preliminar deste artigo foi publicado na Revista de Economia Contemporânea

da UFRJ em 1998.

ABSTRACT

The structure of the world industry is constantly affected by technological innovations and by an institutional dynamics which destroy and create firms and markets. Historically, the increasing speed of these changes has demanded a continuous reformulation of the economic theories dealing with the firm. This article examines such theories under the analytical framework of technological change in three paradigms: (i) the British industrial revolution which dominated the world economy during the XIX century and was a starting point to the development of the neoclassical microeconomic theory; (ii) the fordist paradigm which gave rise to the industrial economics; and (iii) the information technology paradigm , in which theories are still under development, based mainly on evolutionist and neo-institutionalist frameworks. The analysis of the evolution of the theory of the firm and its relationships with different organizational paradigms shows that theories are based by different methodological affiliations, focus on different aspects (production or transactions) and are based on a diversity of institutional, sectorial and historical contexts.

1. Introdução

Ao examinar as teorias econômicas que estudam o funcionamento das empresas e dos mercados, um leitor atento irá se deparar com uma considerável divergência acerca do papel das diferentes forças que influenciam o crescimento e os objetivos das unidades produtivas. A revisão da literatura especializada revela importantes diferenças conceituais, metodológicas e ideológicas entre as três principais correntes teóricas que estudam a firma: a neoclássica, organização industrial e evolucionista. O que explicaria estas divergências, além do clássico conflito entre “mercado” versus “intervenção estatal” como motor do desenvolvimento, que divide a ciência econômica desde os tempos de Smith e Marx?

Este artigo analisa as teorias econômicas da firma sob a ótica do contexto histórico, institucional e tecnológico no qual foram originalmente desenvolvidas. As empresas e organizações não se desenvolvem no vazio, sendo estruturadas a partir de determinados contextos (ou paradigmas) que sofrem sucessivas transformações. As teorias, por outro lado, tendem a estabelecer princípios e modelos estáveis, buscando adquirir um caráter científico essencialmente intemporal e universal. Como afirmam Shapiro e Varian (1999) “ a tecnologia muda, mas os princípios econômicos não ”. Os economistas são freqüentemente vítimas de suas próprias crenças e cometimentos com sistemas aceitos de pensamento, Em conseqüência, deixam de avaliar adequadamente o papel de novas varáveis, a exemplo da tecnologia, e relutam em incorporarem instrumentais analíticos oriundos de outras correntes do pensamento e áreas da ciência.

Apesar dos economistas reconhecerem que as mudanças tecnológicas e organizacionais são capazes de alterar a estrutura da indústria e o desenvolvimento dos mercados, tais variáveis não foram prontamente

é como a teoria econômica responde ao processo de inovação tecnológica e organizacional na firma-típica de cada paradigma e aos impactos conseqüentes na concentração do capital.

2. A Teoria Neoclássica e a Revolução Industrial Britânica

A teoria neoclássica tradicional, estabelecida a partir dos modelos de equilíbrio geral e parcial, guarda pouca relação com a realidade econômica atual. Sua lógica como modelo abstrato de explicação do funcionamento do mercado nunca chegou a ser abandonada no ensino da microeconomia, dado que não se obteve um modelo alternativo tão fechado e completo. Mas sua aplicação prática para análise de mercados e tomada de decisões nunca logrou muito êxito, apesar das inúmeras tentativas de aperfeiçoar a metodologia utilizada na modelagem econômica e dos esforços para revigorar a teoria como incorporação de elementos da realidade econômica.

Na teoria neoclássica tradicional, o foco de interesse permanece vinculado à teoria dos preços e alocação de recursos. A firma é vista como uma “caixa- preta”, que combina fatores de produção disponíveis no mercado para produzir produtos comercializáveis. O mercado, embora possa apresentar situações transitórias de desequilíbrio, tende a estabelecer condições de concorrência e informações perfeitas. A firma se depara com um tamanho “ótimo” de equilíbrio. As possibilidades tecnológicas são usualmente representadas pela função de produção, que especifica o resultado da combinação possível de fatores. As tecnologias estão disponíveis no mercado, seja através de bens de capital ou no conhecimento incorporado pelos trabalhadores. Por fim, é assumida a racionalidade perfeita dos agentes, diante de objetivos da firma de maximização de lucros.

Neste contexto, a análise interna da firma não constitui uma questão relevante, pois em situação de concorrência perfeita, e na ausência de progresso técnico, a firma teria pouca escolha a fazer. Sua única função é transformar insumos em produtos, e para isso basta selecionar a técnica mais apropriada e adquirir os insumos em produtos, e para isso basta selecionar a técnica mais apropriada e adquirir os insumos necessários no mercado, incluindo trabalho e tecnologia. O ambiente competitivo é simples e inerte, praticamente sem incertezas.

Esta imagem de firma do sistema econômico neoclássico está baseada nos princípios de equilíbrio geral estabelecidos pioneiramente por Leon Walras, onde os mercados determinam preços e quantidades produzidas e o empreendedor é considerado apenas um coordenador da produção. A contribuição de Walras ao construir o modelo matemático de equilíbrio geral, foi tentar ordenar de forma lógica o funcionamento da economia através de uma série de equações simultâneas. Sua preocupação com as leis fundamentais que regem a oferta e a demanda levou-o a adotar uma modelagem matemática onde a firma era apenas um ponto em sua visão sistêmica da economia.

Alfred Marshall (1890), considerado o pai da Economia Industrial, procurou aperfeiçoar o modelo estático walrasiano através das teorias de equilíbrio parcial. Ele não via a economia com suas análises e “leis” como um corpo de dogmas imutáveis e universais, mas como “uma máquina para a descoberta da verdade concreta”. Marshall tinha em mente um modelo idealizado de funcionamento da firma, derivado de observações casuais, que guardava certa analogia com a realidade das firmas típicas de sua época. Ele não assumiu todos os pressupostos do que hoje se denomina concorrência perfeita, como também não identificou os limites do crescimento das firmas nas deseconomias de escala. Com sólida formação matemática em Cambridge e amplo conhecimento empírico da indústria britânica, Marshall procurou submeter a economia ortodoxa a um rigoroso tratamento científico que até hoje constitui a base da microeconomia tradicional.

Apesar destas importantes constatações, a teoria neoclássica tradicional, desenvolvida a partir do início do século XX, acabou dominada pela visão walrasiana que trata a firma como agente individual, sem reconhecê-la como entidade coletiva, dotada de objetivos e regras diferenciadas. Atribui a firma um princípio comportamental único, a maximização do lucro, desconsiderando o princípio de utilidade de cada um dos agentes econômicos. A firma neoclássica apresenta o paradoxo de ser um ator-chave na economia, sem ter uma dimensão correspondente (firma-ponto) e ser passiva (firma autômato). A firma é tratada não como instituição, mas sim como ator, com um status similar ao consumidor individual. Um ator passivo e sem autonomia, cujas funções se resumem em transformar fatores em produtos e otimizar as diferentes variáveis de ação. A natureza das variáveis que a firma manipula não é determinada endogenamente, mas sim pela estrutura de mercado que se impõe a ela. Considerando a disponibilidade de informações, a perfeita capacidade de cálculo e a incerteza probabilizada, a firma se comporta como um autômato, programado uma vez para sempre.

A teoria neoclássica de competição perfeita estava mais preocupada com o sistema de preços do que com competição e organização das firmas. Como afirma Demsetz (1993), a teoria tem origem no debate entre mercantilistas e defensores do livre mercado sobre o papel do Estado na economia. A visão liberal se apoiava na “mão invisível” de Adam Smith, que já no século XVIII apontava para a característica auto-reguladora do sistema de preços. Passados mais de um século, a necessidade de combater aqueles que, a exemplo de Marx, evocavam a necessidade de planejamento central para evitar o caos econômico levou os liberais a examinarem mais atentamente as condições necessárias para o sistema de preços funcionar de forma a substanciar os argumentos de Smith. Tais condições foram formalizadas no modelo de competição perfeita.

Assim, chegou-se a um modelo abstrato e descentralizado da economia que, embora sem focar propriamente a firma, tinha por base uma visão do tipo de firma dominante na revolução industrial. Até meados do século XX, poucos economistas desenvolveram estudos empíricos sobre a firma. Freeman (1993), resenhando a literatura sobre pensamento econômico e inovação, conclui que a explicação mais comum do negligenciamento histórico dos

classe empresarial avessa a riscos que pudessem resultar em sua ruína pessoal.

O uso da escala de produção como fator de aumento da produtividade ainda não despontava como uma estratégia empresarial típica. Por um lado, faltavam recursos técnicos e financeiros para promover investimentos em equipamentos e desenvolver formas de organização que garantissem a produção em massa com qualidade. Por outro, a presença de economias externas em distritos industriais dinâmicos, a exemplo de Manchester, garantia a eficiência coletiva das empresas individuais. As economias externas, como se sabe, derivam da disponibilidade de fatores de produção de baixo custo no mercado, e não de uma melhor utilização dos recursos produtivos no interior da firma. A esse respeito, Marshall observou que as firmas podem usufruir economias externas quando o crescimento de uma indústria permite diluir os custos fixos já investidos na economia como um todo por um volume maior de produção. Ele reconhecia que economias externas podiam ser obtidas com base na coordenação pelo mercado dos fatores de produção (e particularmente dos fatores variáveis de produção) adquiridos frequentemente pela firma. Tais princípios permanecem até hoje adequados para descrever a força de distritos industriais especializados, articulando pequenas e grandes firmas.

Uma questão ainda mais polêmica na teoria neoclássica é a noção de deseconomias de escala. Marshall reconhece as economias de escala proporcionadas pelo uso de maquinaria especializada e atividades administrativas, mas limita tal benefício a algumas industrias e serviços. Para as demais haveria deseconomias tanto internas quanto externas, em função do aumento dos custos variáveis como trabalho e insumos materiais. Os custos unitários sobem porque o aumento da demanda por insumos variáveis pressiona seus preços no mercado (deseconomias externas) e porque os recursos fixos, como máquinas e administradores, não conseguem interagir com um volume maior de produção com a mesma produtividade (deseconomias de escala internas), dada a dificuldade em garantir qualidade, evitar desperdícios e atrasos e controlar a eficiência da mão-de-obra. Como mostra a curva de custo em forma de "U" dos textos de microeconomia, em algum ponto as deseconomias podem superar as economias de escala.

Observando a informalidade dos princípios organizacionais e a dependência dos recursos externos da firma novecentista, podemos reconhecer o realismo circunstancial dos princípios neoclássicos de deseconomias de escala. O aumento da produção dependia do aumento da oferta externa de trabalho e matéria-prima, implicando em um padrão rígido de localização industrial. A grande concentração regional e setorial da indústria indicava que os empresários dependiam não só da oferta de trabalhadores qualificados como também de uma inserção favorável em uma comunidade de negócios. Especializada em um segmento da cadeia produtiva, a firma precisava de mercados consolidados à jusante e à montante para poder operar eficientemente. À medida que o mercado para um determinado bem se expandia, o crescimento da oferta ocorria, não tanto pelo crescimento das

empresas existentes, mas principalmente pela entrada de novas empresas no mercado (Lazonick, 1992).

Apesar dos avanços da automação em determinados segmentos da indústria, havia neste modelo de organização industrial uma "escala típica", determinada pela capacidade nominal dos bens de capital disponíveis no mercado e pelos modelos organizacionais vigentes. Este fato, embora conjuntural, pode ter emprestado certo realismo (ainda que momentâneo) à curva de custo em forma de “U". Inovações organizacionais eram pouco freqüentes, na medida que os próprios trabalhadores qualificados eram responsáveis pela definição do processo produtivo. Trabalhadores eram encarregados não só de estabelecer fluxos e rotinas como também de contratar trabalhadores juniores, que eram por eles treinados e supervisionados, reduzindo assim a necessidade de investir em estruturas administrativas. Dada a inexistência de recursos gerenciais que pudessem ampliar os mecanismos de controle, os empresários tendiam a se restringir à operação de uma única planta, facilitando a entrada de concorrentes. As barreiras à entrada não desempenhavam um papel tão importante na estruturação dos mercados. Os empresários se ocupavam mais com operações de compra e venda de insumos e produtos do que com questões organizacionais internas. O papel da mudança tecnológica na dinâmica econômica, negligenciado pela teoria neoclássica, era igualmente pouco importante para os empresários britânicos do final do século passado. Ao delegar as inovações aos trabalhadores, a firma (ou o capital) não se apropriava diretamente do conhecimento envolvido na definição do processo produtivo, justificando a hipótese neoclássica de exogeneidade tecnológica. A importância das habilidades detidas pelos trabalhadores para o desenvolvimento industrial era tal que, segundo Landes (1969), a produtividade britânica só foi alcançada pela Europa Continental a partir da emigração de mecânicos experientes da Inglaterra para estes países.

O final do século XIX, particularmente o período entre 1873 e 1896, foi um período caracterizado pela deflação, com uma queda média nos preços das commodities de aproximadamente 1/3. A taxa de juros também caiu, a um ponto tal que, segundo Landes (1969, p. 231), os economistas teóricos passaram a admitir a possibilidade do capital ser abundante o suficiente para ser considerado um bem livre. A noção de barreiras à entrada, seja técnica ou financeira, ainda não poderia ser incorporada pelos economistas.

A teoria neoclássica da firma, apesar de seu aperfeiçoamento é, criticada por desconsiderar fatores técnicos e organizacionais, em vez de modelos de equilíbrio. A possibilidade de variação infinitesimal da produção, em resposta à variação nos preços e na demanda, é um exemplo de supremacia do lógico em detrimento do empírico. No entanto, outras premissas fundamentais não parecem irrealistas, quando se leva em consideração o funcionamento do modelo industrial de maior sucesso econômico do século XIX. Isso inclui o princípio de concorrência (embora não perfeita), do caráter exógeno da tecnologia (incorporada nos trabalhadores e máquinas), do tamanho ótimo de equilíbrio da firma (em um ambiente de mudança tecnológica lenta) e de

aumento substancial tanto no volume quanto na velocidade da produção. Ao mesmo tempo, as inovações permitiram que determinadas firmas concretizassem a Iógica dinâmica do crescimento e competição pela exploração das oportunidades para obter economias de escala e de escopo e para reduzir os custos de transação. Em conseqüência, muitos ramos da indústria se tornaram oligopolistas.

Cabe lembrar que, do ponto de vista econômico, a inovação em si, ou seja, a primeira aplicação comercial de uma invenção, pode não representar impactos significativos. Muito mais importante são a velocidade e a abrangência da difusão destas inovações na economia. A difusão de inovações depende de um conjunto de fatores condicionantes favoráveis, incluindo inovações complementares, criação de infra-estrutura apropriada, quebra de resistência de empresários e consumidores, mudanças na legislação e aprendizado na produção e uso de novas tecnologias. Assim, embora a inovação abra oportunidades para empresas crescerem, criarem mercados e exercerem um poder monopolista temporário, somente sua difusão ampla tem impacto macroeconômico.

Além das revoluções nos transportes e comunicações, três sistemas de inovações contribuíram para alterar a estrutura da indústria, gerando novos modelos de firmas e mercados: a eletricidade , o motor à combustão e as inovações organizacionais fordistas-tayloristas. Tais inovações contribuíram também para mudar o centro dinâmico do capitalismo para os Estados Unidos e, em menor escala, para a Alemanha e a França.

A eletricidade levou quase um século para se difundir como a principal fonte de energia industrial, desde a invenção do telégrafo elétrico em 1840 até a quase completa substituição dos motores a vapor e outras fontes de energia primária na indústria americana por volta de 1930 (Ayres, 1984). Uma série de inovações complementares foi necessária para viabilizar os investimentos na construção de uma complexa infra-estrutura de geração e distribuição. Uma vez difundida, a eletricidade contribuiu para a concentração industrial de duas formas distintas.

Primeiro, as novas fontes de energia permitiram a exploração mais ampla das economias de escala, através do desenvolvimento de máquinas maiores e mais eficientes e de sistemas integrados de produção, a exemplo da linha de montagem. Segundo, a eletricidade permitiu a criação, por inventores- empresários, de grandes firmas inovadoras que praticamente monopolizaram o novo e dinâmico setor produtor de equipamentos de geração, transmissão e aplicação de energia. Os nomes de inventores como Werner Siemens, Alexander Graham Bell, Thomas Edison, Elihu Thompson e George Westinghouse praticamente se confundem com as grandes empresas oligopolistas que passaram, juntamente com empresas automobilísticas, químicas e de petróleo, a liderar a indústria mundial no século XX. A eletrificação das grandes cidades européias e norte-americanas permitiu a criação da indústria de eletrodomésticos, como máquinas de costura (Singer), aspiradores de pó (Hoover) e ferros elétricos. O setor elétrico já nasceu oligopolizado, pois partiu da exploração de "monopólios temporários",

baseados em produtos inovadores que poucas empresas em todo o mundo souberam imitar com sucesso. A entrada nestes mercados exigia elevados investimentos em atividades de pesquisa e desenvolvimento, marketing e serviços que implicavam uma capacidade de organização muito superior à empresa neoclássica da revolução industrial britânica.

A invenção do motor a combustão interna , por sua vez, deu origem ao automóvel, ao trator, ao caminhão e ao avião. Embora seus primeiros desenvolvimentos tenham ocorrido na Inglaterra, por volta de 1860 o centro da atividade tecnológica passou para a França e Alemanha. Neste país, o pioneirismo de Nicolaus Otto na produção de motores estacionários a gasolina permitiu o desenvolvimento posterior de veículos autopropulsionados por um grupo de engenheiros que vieram a formar a Daimler-Benz, o primeiro fabricante de automóveis do mundo, hoje líder no mercado de ônibus e caminhões. Ao contrário da indústria de equipamentos elétricos, a indústria automobilística nasceu competitiva. No início do século haviam nos Estados Unidos cerca de cem fabricantes de automóveis, organizados de forma quase artesanal, configurando uma estrutura da indústria algo próxima da concorrência marshaliana. Poucas décadas depois, graças a inovações organizacionais, a Ford e a General Motors dominavam amplamente o mercado, consolidando um oligopólio que vigora até hoje.

O grande sucesso do motor a gasolina gerou outro gigante do século XX: as empresas petroleiras. A integração vertical das atividades de exploração, transporte, refino e distribuição levaram a Standard Oil Company a se tornar a maior empresa americana no início do século 2. O controle direto de uma ampla gama de recursos produtivos e o domínio que exercia sobre o mercado de petróleo e derivados levou a Suprema Corte a exigir seu desmembramento em 1911, por violação do "Sherman Antitrust Act". A decisão permitiu a formação de outras empresas de petróleo, mas não impediu a consolidação de um oligopólio global conhecido como “as sete irmãs". Fora dos Estados Unidos, a indústria do petróleo só se desenvolveu efetivamente na Inglaterra, graças a seu domínio colonial das regiões produtoras do Kuwait e Iraque que começaram a produzir em 1908. A estrutura da indústria mundial de petróleo foi condicionada pelas altas barreiras à entrada, erigida pela grande escala e integração vertical da produção, e pelo poderio imperialista e naval norte-americano e britânico.

A terceira área de inovação tecnológica que favoreceu a transformação da firma e do mercado foi a produção em massa , associada à Henry Ford e à indústria automobilística. As origens do sistema de produção em massa podem ser encontradas na obra de Adam Smith, através de suas famosas observações sobre as vantagens da divisão do trabalho em uma fábrica de alfinetes. Tal princípio foi explorado posteriormente por teóricos industriais como Charles Babbage, que comparava a fábrica a uma máquina complexa, com máquinas e trabalhadores especializados em tarefas específicas organizadas de forma sistêmica. Mas foi somente com Frederick Taylor, através de seus Princípios da administração científica , publicado em 1911, que as vantagens da economia de escala foram definitivamente demonstradas. Taylor foi consultor de Henry Ford em seu projeto de linha de

concentração. Sraffa levanta a contradição do “dilema de Marshall” – como conciliar concorrência com retornos crescentes de escala?^3

Joan Robinson (1933) formulou sua teoria da concorrência imperfeita ao perceber o irrealismo da situação de concorrência perfeita, onde nenhum produtor teria individualmente condições de afetar os preços. A evidência empírica das grandes firmas usufruindo economias de escala levou-a a afirmar que cada firma tinha um monopólio para seus produtos, que era resultado da preferência dos consumidores, apesar da existência de substitutos muito próximos produzidos por outras firmas. E. H. Chamberlain desenvolveu idéias similares simultânea e independentemente.

As críticas ao modelo concorrencial levaram à identificação do oligopólio como a forma mais típica de estrutura da indústria. Kaldor (1934) argumenta que “cada vendedor está em concorrência direta somente com outros poucos vendedores e que a cadeia destes grupos oligopolistas compõe todo o mercado. O oligopólio é, na realidade, a condição mais geral”. E. A. Robinson (1931) trabalhou uma teoria da concorrência monopolista dando mais realismo às teorias neoclássicas dos mercados e das firmas. A teoria assume nova dimensão ao deslocar o centro de interesse da questão do equilíbrio das condições de produção e de distribuição de bens e serviços para o estudo do comportamento e das interações entre produtores. Neste contexto, a firma passa a assumir o papel principal, dada a possibilidade de recorrer à diferenciação de produtos e a estabelecer uma política de vendas. Assim, incorporam-se à firma variáveis consideradas exógenas na teoria neoclássica, como a tecnologia e os preços.

As contribuições de Sraffa, Joan Robinson, Chamberlain permitiram reformular a ortodoxia dominante, mas mantiveram o arcabouço estático que caracterizava a economia neoclássica. Segundo Coutinho (1983), a primeira ruptura consistente e bem-sucedida do impasse em que se encontrava a microeconomia marshaliana e walrasiana ocorreu somente em 1952, quando Steindl publicou Maturidade e estagnação no capitalismo americano. Ele constrói uma teoria consistente e articulada de acumulação e de concentração apoiada em evidências empíricas sobre estruturas de custos, formação de preços e formas de concorrência em condições de oligopólio em nível de setores industriais. Assim, ao contrário da ortodoxia que estabelecia modelos estáticos e abstratos de comportamento da firma e mercados, Steindl se inspira diretamente na realidade do processo de concorrência de seu tempo, reconhecendo o papel crucial da propaganda, da diferenciação do produto e da inovação tecnológica no processo de acumulação do capital. As assimetrias entre firmas constituem um fator essencial na explicação da configuração e transformação das estruturas de mercado. As empresas com menores custos e margens de lucros maiores são, segundo Steindl, as que têm maiores possibilidades de crescer a longo prazo.

O processo de concentração já havia sido reconhecido pioneiramente por Marx, que considerava a centralização do capital uma tendência histórica do capitalismo. Seguindo este insight , Schumpeter reconheceu a importância da grande empresa e da concentração da produção para o progresso técnico. A

relação entre oligopólio e o progresso técnico é mútua: por um lado, o processo de diferenciação do produto conduzia a expansão e a criação de novos mercados oligopolistas. Por outro, os altos custos de P&D, necessários para a sobrevivência das empresas nos mercados dinâmicos, exigiam a presença das grandes empresas. Embora a teoria schumpeteriana não tivesse o reconhecimento das correntes principais do pensamento econômico, sua contribuição influenciou progressivamente as teorias da firma, até serem plenamente incorporadas pelo evolucionismo.

O estudo das conseqüências do processo de centralização do capital na organização da firma e do mercado passou a constituir uma área de crescente interesse. O instrumental analítico se diversificou, passando a incorporar a sociologia, o behaviorismo e ciências do comportamento, além de aperfeiçoar a metodologia empírica. A ruptura com os limites da teoria econômica e com o papel passivo atribuído à firma na microeconomia neoclássica abriu caminho para o desenvolvimento das teorias da firma, como resposta à importância crescente da grande empresa.

A própria existência da firma parecia nebulosa na teoria neoclássica, diante da onipotência atribuída ao mercado. Duas linhas de investigação abordam esta questão. A primeira procura explicar a existência da firma em função das flhas do mercado e foi iniciada por Coase (1937), seguida por Williamson (1979) e por autores de novos enfoques neoclássicos (economia de troca).

A segunda linha, influenciada por Marx e Schumpeter, vê a firma como espaço de produção, lugar de criação de riqueza e inovação. Para Coriat e Weinstein (1995), três concepções podem ser identificadas:

(i) Firma organização: Os behavioristas Simon, Cyert e March vêem a firma como uma ação coordenada entre indivíduos e grupos. Para assegurar a sobrevivência da firma e seus membros tornou-se necessária a conversão do conflito em cooperação , a mobilização de recursos e a coordenação dos esforços. (ii) Firma instituição: Segundo Hodgson (1988), os chamados “velhos institucionalistas” vão além da visão organizacional, incorporando a dimensão social (sistema político, social e jurídico na qual a firma se insere e que limita sua metamorfose). Isso inclui sistemas de propriedade, relações com bancos, condições de produção e de mercado. (iii) Custos de transação e os novos institucionalistas: Coase (1937) introduziu novas questões sobre a natureza da firma, passando a considerá-la uma forma particular de organização econômica, ou seja, um arranjo institucional alternativo ao mercado. A questão fundamental colocada por Coase e, mais tarde desenvolvida por Williamson, é: “por que a firma existe?” Coase criticou a teoria neoclássica por não oferecer resposta ao fato dos mercados não lograrem exercer a coordenação que as firmas fazem internamente. Se assim fosse, “por que uma grande firma não poderia trabalhar tão bem como o mercado?” (Winter, 1993). Além de questionar a capacidade da teoria existente em explicar a organização econômica,

baseados em hipóteses imutáveis. O ambiente da firma passa a ser mais complexo, mas existem condições fundamentais e "dadas" às quais a firma se adapta, a exemplo da tecnologia e das condições de produção. O campo de suas ações é bem mais amplo, mas as firmas ainda são orientadas pelos mesmos princípios de racionalidade. Ela continua sendo fundamentalmente uma caixa-preta que reage mecanicamente ao seu ambiente. Apesar de incorporarem novas idéias, as teorias da firma não romperam radicalmente com a tradição econômica, de forma a acompanhar as mudanças radicais ocorridas na tecnologia e na dinâmica competitiva ao longo do século. Tais limitações levam a uma nova trajetória teórica desenvolvida a partir das idéias chaves de Schumpeter

3. O Paradigma das Tecnologias da Informação e

Comunicação e as Novas Teorias da Firma

No último quartil do século XX, as empresas passaram por um novo processo de transformações, caracterizado pela incorporação de novos modelos organizacionais mais intensivos em informação e conhecimento. A globalização e a liberalização dos mercados reduziram os espaços econômicos privilegiados, eliminando muito do caráter idiossincrático das diferentes economias nacionais. As tecnologias da informação e comunicação (TIC) têm um papel central neste processo, pois constituem não apenas uma nova indústria, mas o núcleo dinâmico de uma revolução tecnológica. Ao contrário de muitas tecnologias que são específicas de processos particulares, as inovações derivadas de seu uso têm a característica de permear, potencialmente, todo o tecido produtivo.

A microeletrônica está na raiz da maioria das inovações em produtos, processos e técnicas organizacionais introduzidas nos últimos vinte anos. O microprocessador, desenvolvido pela Intel em 1971, mudou a trajetória tecnológica mundial, até então apoiada no uso intensivo de energia e materiais. Sua difusão, entretanto, exigiu o desenvolvimento de uma nova infra-estrutura, baseada nas telecomunicações digitais (cabos óticos, radio e satélites) que só foram efetivamente completadas nos anos 90. O aperfeiçoamento do “computador em um único chip” abriu caminho para uma onda de inovações complementares e convergentes, cujo ápice pode ser o advento da Internet e do comércio eletrônico, que revolucionaram a organização do sistema produtivo.

Diante das novas trajetórias de organização interna da firma e novas formas de articulação com o mercado, a teoria econômica passou a necessitar de reformulações. A maior fragilidade das teorias da firma e da organização industrial é sua incapacidade de atribuir a importância devida ao papel da mudança tecnológica na configuração da firma e dos mercados. Embora Schumpeter tivesse levantado estes aspectos desde meados dos anos 50, suas idéias não chegaram a influenciar decisivamente o pensamento dominante de sua época, seja por requererem maior aprofundamento e sistematização, seja por estarem adiante de seu tempo. Foi necessária uma mudança visível e empiricamente comprovável na natureza do processo competitivo mundial para que seu trabalho fosse retomado, através da linha

evolucionista ou neo-schumpeteriana. As novas teorias da firma, voltadas para o entendimento deste novo paradigma, ganham força com a análise das empresas japonesas, principalmente pelo trabalho de Aoki e pelas análises históricas de Chandler sobre as inovações organizacionais nas empresas americanas. Esta corrente é frequentemente chamada de neo- institucionalista.

A linha neo-schumpeteriana e evolucionista

As teorias econômicas conhecidas como evolucionistas ou neo- schumpeterianas constituem a mais bem articulada tentativa de construir um novo corpo teórico para o estuda da firma. Sua origem é dupla: por um lado, Freeman (1974, 1997) foi o primeiro a resgatar a contribuição de Schumpeter no sentido de incorporar o progresso técnico como variável-chave do processo evolucionário da firma e do mercado. Freeman recupera, aperfeiçoa e atualiza a teoria dos ciclos longos de Schumpeter, mostrando como a difusão de inovações está no centro dos movimentos cíclicos da economia mundial. Por outro lado, Nelson e Winter (1982) iniciaram uma linha de investigações apoiada em Simon, Schumpeter e idéias transpostas da biologia evolucionista, lançando as bases para a reconstrução das teorias da firma. A corrente evolucionista se encontra atualmente em pleno desenvolvimento, contando com contribuições de um número crescente de autores.

A transposição de conceitos derivados das "ciências duras", como a física e a biologia, para a economia foi inicialmente proposta por Marshall. Apesar de optar pela mecânica newtoniana, ele acreditava que a analogia mais adequada seria com a biologia, mas considerava esta ciência complexa demais para ser transposta para a economia. " The Mecca of the economist lies in economic biology (...) But biological conceptions are more complex than those of mechanics." (citado em Nelson, 1995).

A linguagem evolucionista ou desenvolvimentista tem sido muito usada por economistas para descrever como a estrutura de uma economia muda ao longo do tempo. Indivíduos e organizações são entidades que "aprendem". Economistas costumam caracterizar certas indústrias como "jovens", outras como "maduras". Mas estas metáforas não derivam propriamente da biologia evolucionista, pois o conceito geral de evolução, adotado pelos economistas, era conhecido antes mesmo de sua aplicação na biologia.

As teorias evolucionistas distinguem-se das teorias neoclássicas e das teorias da organização industrial por descartarem hipóteses básicas do pensamento econômico convencional. Três princípios podem ser destacados como chaves para entender as teorias evolucionistas. O primeiro é que a dinâmica econômica é baseada em inovações em produtos, processos e nas formas de organização da produção. As inovações não são necessariamente graduais, podendo assumir caráter radical causando, neste caso, instabilidade ao sistema econômico. É atribuída grande importância também à interação entre agentes econômicos, articulados em clusters de produção. Os conceitos de "destruição criadora" de Schumpeter, de "paradigmas

conglomeração, participação em redes e estratégias "vazias" (apoiadas na subcontratação). Assim, são retomadas importantes questões da literatura de organização industrial.

A relação entre tecnologia e estrutura da indústria é retomada pelas novas teorias da firma, estabelecendo uma controvérsia com o paradigma “estrutura, conduta e desempenho”, que exerceu considerável influência na legislação antitruste norte-americana. A relação entre estrutura e desempenho já havia sido questionada por Schumpeter que criticou a excessiva preocupação dos economistas contemporâneos com a estrutura dos mercados – concorrência e oligopólio. “O problema visualizado (pelos economistas teóricos) é como o capitalismo administra as estruturas existentes, enquanto que o problema relevante é como ele as cria e destrói”. A busca de posições monopólicas não constitui em si uma prática danosa à concorrência, mas o seu móvel principal. Isto tem implicações importantes para as políticas de concorrência, que consideram a estrutura como a variável exógena que condiciona o comportamento e o desempenho das firmas.

A cadeia de causalidade vem sendo redefinida pela literatura econômica, que passou a admitir a influência mútua dos fatores. O desempenho, assim como a conduta, também influencia a estrutura de mercado. A proposta neo- schumpeteriana, no entanto, vai além destas relações, associando estrutura de mercado com o ciclo de evolução tecnológica do produto. Nelson (1995) argumenta que antes da emergência de um padrão ou projeto dominante, há pouco P&D orientado para melhorar o processo produtivo, porque o projeto do produto ê instável e o mercado para cada produto é pequeno. Com a emergência de um projeto ou padrão dominante, os lucros derivados da exploração de novas formas de produção poupadoras de custos são consideráveis. Freqüentemente o desenvolvimento de um processo de produção melhor envolve a exploração de economias de escala latentes e o estabelecimento de modos de produção intensivos em capital. O argumento proposto por Abernathy e Utterback (1975) é que este modelo de evolução tecnológica causa um padrão particular de evolução da firma e da estrutura da indústria. Nos estágios iniciais de uma indústria, firmas tendem a ser pequenas e a entrada no mercado relativamente fácil, refletindo a diversidade de tecnologias empregadas e sua rápida mudança. Contudo, quando um padrão dominante emerge, e processos de produção especializados são desenvolvidos, barreiras à entrada começam a crescer e aumentam a escala e o capital necessários para produzir competitivamente.

A visão neo-institucionalista

A ênfase no papel das novas formas de organização empresarial como fonte de competitividade tem origem nos estudos pioneiros de Chandler (1977), que centra seu interesse nas instituições e nas características específicas da sua estrutura empresarial. As análises históricas têm uma concepção mais concreta de instituições, centrando-se na corporação, na moderna universidade de pesquisas, no sistema financeiro e nas instituições

reguladoras da atividade econômica internacional, tais como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

A visão institucionalista, segundo North (1990), atribui a performance econômica das nações à natureza de suas instituições. Segundo esta visão, as instituições de hoje guardam fortes conexões com as de ontem; daí a importância da trajetória institucional ou path dependecy. Nenhum arranjo institucional pode ser definido como “ótimo”, pois eles são frutos de contingências culturais e políticas típicas de cada país. Em alguns países as instituições se desenvolveram de forma a favorecer o progresso econômico, enquanto em outros países não. O ambiente institucional determina as oportunidades de lucro, direcionando as decisões e o processo de acumulação de conhecimentos das organizações, gerando trajetórias virtuosas ou viciosas.

Rosemberg e Birdzell (1986), analisando as condições institucionais históricas que permitiram o surgimento da revolução industrial, argumentam que o Ocidente enriqueceu porque rompeu os vínculos com as velhas instituições e deixou o mercado funcionar. As revoluções burguesas foram essenciais para construir um novo sistema regulatório e legal que estimulasse a acumulação, a concorrência e a inovação. Foram criados, ao longo do processo de mudanças institucionais, mecanismos para assegurar o cumprimento das leis e para alterá-las de forma a permitir adaptação às transformações econômicas e sociais. Tal processo permitiu que o Ocidente superasse economicamente o Oriente a partir do século XVII na medida em que este ficou preso a instituições feudais e religiosas que engessavam o processo evolutivo.

A visão institucionalista vem sendo revigorada pelo conceito de Sistema Nacional de Inovações, seguindo uma linha de abordagem iniciada por Freeman (1987) e Lundvall (1988) que vem ganhando contribuições sucessivas da linha neo-schumpeteriana. O principal foco de análise é a interação entre os atores econômicos, sociais e políticos que fortalece capacitações e favorece a difusão de inovações em um determinado país. A literatura neo-Schumpeteriana enfatiza que as trajetórias que emergem de um paradigma tecno-econômico raramente são “naturais”, impulsionadas apenas por fatores científicos e tecnológicos externos. Fatores econômicos e sócio-políticos são muito importantes na determinação de trajetórias tecnológicas em diferentes países. O processo de seleção ocorre dentro de um ambiente específico onde a qualidade das instituições técnicas e científicas, das estratégias do setor privado, dos estímulos e financiamento as inovações cumprem papéis fundamentais. O conceito de Sistema Nacional de Inovação vêm sendo aplicado regionalmente, através dos chamados “arranjos produtivos locais”.

O enfoque nas inovações organizacionais

O sucesso do Japão em implementar uma nova onda de inovações de cunho organizacional nos anos 1970 e 1980 teve profundo impacto sobre os estudos de competitividade. A introdução de técnicas organizacionais como