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Os upanishads Vedanta, Resumos de Filosofia Oriental

Os upanishads vedanta Veda Viasa

Tipologia: Resumos

2024

Compartilhado em 30/01/2025

vinicius-chaves-30
vinicius-chaves-30 🇧🇷

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SUMÁRIO

  • PREFACIO
  • INTRODUÇÃO
  • OS UPANISHADS
  • I. ISHA
  • II. KENA
  • III. KATHA
  • IV. PRASNA
  • V. MUNDAKA
  • VI. MANDUKYA
  • VII. TAITTIRIYA
  • VIII. AITAREYA
  • IX. CHANDOGYA
  • X. BRIHADARANYAKA
  • XI. SWETASVATARA
  • XII. KAIVALYA

Falando a respeito de Swami Brahmananda, quando este ainda era jovem, Sri Râmakrishna disse, certa vez: "Rakhal tem a inteligência penetrante de um rei. Se ele o desejasse, poderia governar um grande reino." Essa observação teve um resultado apropriado. No decorrer dos últimos vinte anos da vida de Swami Brahmananda, ele serviu, com grande sucesso, como líder da Ordem de Râmakrishna. Suas aptidões de executivo estavam à altura da sua excelência espiritual. Na ocasião da partida de Swami Prabhavananda da índia, quando foi escolhido por seus superiores como representante da religião hindu na América, um discípulo de Sri Râmakrishna lhe disse, referindo-se a Swami Brahmananda: "Nunca se esqueça de que você viu um Filho de Deus. Você viu Deus." Esse, então, foi o homem de quem Swami Prabhavananda foi discípulo, e sob cuja orientação passou cerca de doze anos de sua vida. Durante quatro ou cinco meses desse período, mestre e discípulo viveram na maior intimidade; e ouvir o Swami falar a respeito dessa experiência é perceber que, na formação de um monge, do modo como esse processo era concebido por Swami Brahmananda, entrava tanto o amargo como o doce sendo o amargo, entretanto, apenas a última e mais segura prova da doçura. Aquele a quem Deus ama, ele castiga. Em determinada ocasião, Swami Prabhavananda estava tão deprimido com as censuras do seu mestre que decidiu desertar o mosteiro e se esconder para sempre. Com esse pensamento, foi prostrar-se perante Maharaj e, silenciosamente, despedir-se dele. Maharaj disse-lhe que se sentasse e continuou durante algum tempo com suas sérias advertências, lembrando seu discípulo de todos os seus erros; então, com uma súbita mudança no seu procedimento, perguntou: "Você pensa que pode fugir de mim?" As suaves palavras que o Mestre falou dispersaram toda a mágoa do jovem. "Em nenhum momento antes disso", diz Swami Prabhavananda, "eu tinha estado tão profundamente consciente do seu amor e da sua proteção. Todo pensamento de fugir foi esquecido. Suas palavras acalmaram o meu coração ardente. Ele disse então: 'Nosso amor é tão profundo que não deixamos você saber quanto o amamos'." A síntese do que estou tentando dizer é o seguinte: que Swami Prabhavananda introduz na sua interpretação dos Upanishads não somente uma familiaridade erudita com os textos sânscritos, mas também o conhecimento intuitivo que pôde ser extraído da sua íntima associação com alguém que personificava em sua mente e espírito, no mais elevado grau, a grande tradição intelectual e espiritual da Índia. Ele foi discípulo do discípulo de uma pessoa que veio a ser considerada na índia como o último da sua lista de autênticos avatares. Nossa meta nesta tradução não foi realizar uma interpretação literal e, sim, permitindo-nos tanta liberdade quanto julgamos desejável, transpor para um inglês simples e claro o sentido e o espírito do original. Com freqüência, por exemplo, quando tivemos de escolher entre seguir exatamente o texto e explicá-lo posteriormente através de uma nota, ou então ampliar o texto para incluir as explicações necessárias, adotamos a segunda alternativa. No começo de determinados Upanishads, onde uma tradução literal poderia ter resultado em aspereza desagradável ou em pobreza, acrescentamos acreditamos que discretamente algumas palavras. Além disso, de modo geral, nos sentimos livres para recorrer à paráfrase, para alterar a ordem dos detalhes, para omitir eventualmente palavras ou frases, talvez até mesmo uma oração, desde que tivéssemos certeza de estar preservando fielmente a substância e a intenção do original. Em resumo, dirigimos esta tradução mais para o público em geral, que se aproxima dos Upanishads para obter alimento espiritual, do que para o especialista profissional em sânscrito. Com poucas exceções, os textos originais aqui traduzidos estão em verso. Com raras exceções, na tradução usamos a prosa. Apesar do que possa ter sido uma tentação natural, não fizemos nenhum esforço no sentido de utilizar a linguagem usada na King James Version of the Bible, mas exatamente o oposto, sentindo que agindo assim preservaríamos melhor o caráter especial da escritura hindu. O Atman, do sânscrito, que significa o Deus interior, foi traduzido sempre por Eu, 2 embora o equivalente verbal desse termo não apareça em nenhum lugar na filosofia hindu. Achamos melhor nos beneficiarmos da associação cujo emprego já enriqueceu a palavra inglesa do que tentarmos naturalizar uma expressão estrangeira para os ocidentais, totalmente despida de conotação espiritual. A sílaba OM símbolo de Brahman, ou Deus é, para o hindu, divina; e em seus rituais é pronunciada com uma ressonância solene, indefinidamente prolongada. Nossa forma tipográfica para essa saudação ou bênção que é repetida várias vezes

OM ... Paz - Paz Paz

(^2) Self, em inglês.

pretende sugerir o mais aproximadamente possível o modo como é entoada. Os desvios da prosa são leves. Nos cânticos que precedem os vários Upanishads, e especialmente no hino com o qual o Swetasvatara é concluído, utilizamos uma forma que não é prosa, e talvez nem mesmo verso, a não ser por cortesia, mas que nos pareceu produzir um realce que não pode ser imediatamente obtido na prosa habitual. Esse realce parece ser particularmente desejável para um hino, pois nele tanto a substância quanto a forma alcançam uma qualidade poética que os Upanishads não alcançam em nenhum outro lugar. Realmente, a forma que utilizamos foi mais o resultado de um acidente do que de um projeto. Uma passagem como

Vós sois o fogo, Vós sois o Sol, Vós sois o ar, Vós sois a Lua, Vós sois o firmamento estrelado, Vós sois o Brahman Supremo: Vós sois as águas vós, O Criador de tudo!

essa passagem, colocada na maneira sóbria da prosa, pareceria tolhida, confinada ela pedia asas, não importa quão fracas fossem; e, uma vez que tínhamos optado pelo uso de letras maiúsculas e de linhas curtas rítmicas, achamos melhor completar o hino da melhor forma possível no mesmo estilo. Os sumários acrescentados aos títulos não são realmente sumários, pois não fornecem um epítome proporcional das partes que precedem. Eles apenas indicam os temas dominantes. Resta falar a respeito da minha participação no livro. Ela é secundária. Sendo o inglês a minha língua nativa, fiz o que era possível para ajudar Swami Prabhavananda em seu empreendimento. Ele sozinho assume a responsabilidade por todas as idéias e opiniões, por todas as interpretações e declarações.

FREDERICK MANCHESTER

Para realizar o estudo dos Vedas, de acordo com uma longa tradição, e mesmo de acordo com os próprios Vedas, temos de ter um mestre, ou Guru: "Aproximai-vos de um mestre", lemos no Rik, "com humildade e com desejo de servir"; e nos Upanishads: "A muitos não é concedido ouvir falar NAQUELE"

  • significando Deus - "que habita a eternidade. Muitos, embora ouçam falar dele, não o entendem. Maravilhoso é aquele que fala a respeito dele. Inteligente é aquele que aprende a respeito dele. Abençoado é aquele que, tendo aprendido com um bom mestre, é capaz de compreendê-lo." A função de um bom mestre, como o hinduísmo o concebe, é dupla. Ele naturalmente explica as escrituras, em forma e conteúdo; porém, o que é ainda mais importante, ele ensina através da sua vida: através das suas ações diárias, das suas palavras mais casuais, algumas vezes até através do seu silêncio. O simples fato de estar perto dele, de servi-lo e de obedecer-lhe humilde e reverentemente significa acelerar o espírito; e a finalidade do estudo das escrituras não é mera ou primariamente informar o intelecto, e sim purificar e enriquecer a alma:

Como são agradáveis o estudo e o ensinamento dos Vedas! Aquele que se ocupa com essas coisas alcança a concentração E não é mais um escravo de suas paixões; Piedoso, autocontrolado, disciplinado no espírito, Ergue-se para a celebridade e é uma bênção para a humanidade.

Dissemos que o hindu ortodoxo encara os Vedas como o seu texto escrito mais autorizado. Qualquer escritura subseqüente, para ser encarada por ele como válida, tem de ser compatível com os Vedas: poderá desenvolvê-los, ampliá-los, e ainda assim ser reconhecida; não poderá, porém, contradizê- los. Os Vedas representam para o hindu, o mais aproximadamente que um documento humano pode representar, a expressão da verdade divina. Ao mesmo tempo, seria um engano supor que sua lealdade à autoridade dos Vedas seja servil ou cega. Se ele os considera a palavra de Deus, é porque acredita que sua verdade seja comprovável, imediatamente, a qualquer momento, através da sua experiência pessoal. Se o hindu verificasse, após o devido exame, que não eram tão comprováveis, ele os rejeitaria. Se descobrisse que determinada parte deles não era tão comprovável, ele a rejeitaria. E nessa posição as escrituras, ele lhe dirá, o sustentam. O verdadeiro estudo, dizem os Upanishads, não é um estudo deles mesmos, e sim um estudo daquilo "através do qual percebemos o imutável". Em outras palavras, o verdadeiro estudo, na religião, significa vivência direta de Deus. Na verdade, o termo Vedas, como é empregado pelos ortodoxos, não designa apenas um grande corpo de textos transmitidos de geração a geração, porém, em outro sentido, simboliza nada menos do que a verdade inexprimível da qual as escrituras são necessariamente um pálido reflexo. Considerados sob esse segundo aspecto, os Vedas são infinitos e eternos. Eles representam esse conhecimento perfeito que é Deus. Em resumo, eles são idênticos ao Verbo do cristão São João: "No início era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus."

OS UPANISHADS

Sopro Vital do Eterno

I

ISHA

A Vida no mundo e a vida no espírito não são incompatíveis. O trabalho, ou a ação, não é contrário ao conhecimento de Deus, porém, na verdade, se realizado sem apego, é um instrumento para ele. Por outro lado, a renúncia significa renúncia do ego, do egoísmo - não da vida. A finalidade, tanto do trabalho como da renúncia, é conhecer o Eu interiormente e Brahman exteriormente, e perceber sua identidade. O Eu é Brahman, e Brahman é tudo.

ISHA

Preenchidas totalmente com Brahman estão as coisas que vemos, Preenchidas totalmente com Brahman estão as coisas que não vemos. De Brahman flui tudo o que existe: De Brahman, tudo - todavia, ele ainda é o mesmo. OM... Paz - paz - paz.

NO CORAÇÃO de todas as coisas, de tudo o que existe no Universo, habita Deus. Somente ele é realidade. Portanto, renunciando às vãs aparências, rejubilai-vos nele. Não cobiceis a riqueza de ninguém. Bem pode ficar satisfeito de viver cem anos aquele que age sem apego que realiza seu trabalho com zelo, porém sem desejo, não ansiando por seus frutos ele, e somente ele. Existem mundos sem sóis, cobertos pela escuridão. Para esses mundos vão depois da morte os ignorantes, assassinos do Eu. O Eu é um só. Sendo imóvel, ele se move mais rápido do que o pensamento. Os sentidos não o alcançam, pois ele sempre vai primeiro. Permanecendo imóvel, ultrapassa tudo o que corre. Sem o Eu, não há vida. Para o ignorante, o Eu parece mover-se embora ele não se mova. Ele está muito distante do ignorante embora esteja próximo. Ele está dentro de tudo, e está fora de tudo. Aquele que vê todos os seres no Eu, e o Eu em todos os seres, não odeia ninguém. Para a alma iluminada, o Eu é tudo. Para aquele que vê harmonia em todos os lugares, como pode haver ilusão ou pesar? O Eu está em todos os lugares. Ele é brilhante, imaterial, sem mácula de imperfeição, sem osso, sem carne, puro, intocado pelo mal. Aquele que vê, Aquele que pensa, Aquele que está acima de tudo, o Auto-Existente ele e' aquele que estabeleceu a ordem perfeita entre objetos e seres desde o tempo que não tem princípio. À escuridão estão destinados os que se dedicam apenas à vida no mundo, e a uma escuridão ainda maior os que se entregam apenas à meditação. Viver somente no mundo leva a um resultado, meditar apenas leva a outro. Assim falaram os sábios. Aqueles que se dedicam tanto à vida no mundo como à meditação superam a morte através da vida no mundo e atingem a imortalidade através da meditação. À escuridão estão destinados os que cultuam somente o corpo, e a uma escuridão ainda maior os que veneram apenas o espírito. Cultuar somente o corpo leva a um resultado, venerar apenas o espírito leva a outro. Assim falaram os sábios. Os que veneram tanto o corpo como o espírito, pelo corpo vencem a morte, e pelo espírito atingem a imortalidade; 4 A face da verdade está oculta por vosso obre dourado, ó Sol. Removei-o, para que Eu, que sou dedicado à verdade, possa contemplar a sua glória. 5 Ó vós que alimentais, o único que vê, o que tudo controla Ó Sol que ilumina, fonte de vida para todas as criaturas retende a vossa luz, reuni os vossos raios. Possa Eu contemplar através da vossa graça a vossa forma mais abençoada. O Ser que aí habita - mesmo esse Ser sou Eu. Permiti que minha vida agora se una à vida que tudo permeia. As cinzas são o fim do meu corpo. OM... Ó mente, lembrai-vos de Brahman. Ó mente, lembrai-vos das vossas ações passadas. Lembrai-vos de Brahman. Lembrai-vos das vossas ações passadas.

(^4) Em sânscrito, este verso e os cinco precedentes são extremamente obscuros. Os comentaristas os explicam de diversas

maneiras, e não muito claramente. (^5) Neste verso, o Sol simboliza o Eu, ou Brahman, como é comum nos Vedas. O orbe dourado, bem como os raios e a

luz, do verso seguinte, é Maya, o mundo da aparência.

II

KENA

O poder que está por trás de todas as atividades da Natureza e do homem é o poder de Brahman. Perceber essa verdade é tornar-se imortal.

KENA

Que a quietude desça sobre os meus membros, Minha fala, meu fôlego, meus olhos, meus ouvidos; Que todos os meus sentidos se tornem claros e fortes. Que Brahman se mostre a mim. Que eu jamais negue Brahman, e nem Brahman a mim. Eu com ele e ele comigo - possamos morar sempre juntos. Que seja revelada a mim, Que sou dedicado a Brahman, A sagrada verdade dos Upanishads. OM... Paz - paz - paz.

QUEM COMANDA a mente para que ela pense? Quem ordena que o corpo viva? Quem faz a língua falar? Quem é o Ser radiante que conduz o olho à forma e à cor, e o ouvido ao som? O Eu é o ouvido do ouvido, a mente da mente, a fala da fala. Ele também é o alento do alento, o olho do olho. Ao abandonarem a falsa identificação do Eu com os sentidos e com a mente, e ao saberem que o Eu é Brahman, os sábios, ao deixarem este mundo, tornam-se imortais. O olho não o vê, nem a língua o exprime, nem a mente o alcança. Não o conhecemos e nem podemos ensiná-lo. Ele é diferente do conhecido, e diferente do desconhecido. Foi o que ouvimos dos sábios. Aquilo que não pode ser expresso em palavras mas pelo qual a língua fala sabei que é Brahman. Brahman não e' o ser que é adorado pelos homens. Aquilo que não é compreendido pela mente, mas pelo qual a mente compreende sabei que é Brahman. Brahman não é o ser que é adorado pelos homens. Aquilo que não é visto pelo olho, mas pelo qual o olho vê sabei que é Brahman. Brahman não é o ser que é adorado pelos homens. Aquilo que não é ouvido pelo ouvido, mas pelo qual o ouvido ouve - sabei que é Brahman. Brahman não é o ser que é adorado pelos homens. Aquilo que não é trazido pelo sopro vital, mas pelo qual o sopro vital é trazido, sabei que é Brahman. Brahman não é o ser que é adorado pelos homens.

Se pensais que conheceis bem a verdade de Brahman, sabei que conheceis pouco. 0 que pensais ser Brahman no vosso Eu, ou o que pensais ser Brahman nos deuses não é Brahman. Deveis, portanto, aprender o que é realmente a verdade de Brahman. Não posso dizer que conheço Brahman totalmente. Nem posso dizer que não o conheço. Aquele dentre nós que melhor o conhece é quem entende o espírito das palavras: "Eu nem sei que não o conheço". Aquele que verdadeiramente conhece Brahman é quem sabe que ele está além do conhecimento; aquele que pensa que sabe, não sabe. O ignorante pensa que Brahman é conhecido, porém os sábios sabem que ele está além do conhecimento. Aquele que percebe a existência de Brahman por trás de todas as atividades do seu ser - seja sensação, percepção ou pensamento somente ele obtém a imortalidade. Através do conhecimento de Brahman, vem o poder. Através do conhecimento de Brahman, revela-se a vitória sobre a morte. Abençoado o homem que enquanto ainda vive percebe Brahman. O homem que não o percebe sofre sua maior perda. Quando deixam esta vida, os sábios, que perceberam Brahman como o Eu em todos os seres, tornam-se imortais.

Em determinada ocasião, os deuses obtiveram uma vitória sobre os demônios e, apesar de o terem feito apenas através do poder de Brahman, ficaram extremamente vaidosos. Eles disseram a si próprios: "Fomos nós que derrotamos os nossos inimigos, e a glória é nossa." Brahman percebeu a vaidade deles e apareceu diante deles. Porém eles não o reconheceram. Os outros deuses então disseram ao deus do fogo: "Fogo, descobri para nós quem é esse misterioso espírito." "Sim", disse o deus do fogo, e aproximou-se do espírito. O espírito lhe disse: "Quem sois vós?" "Sou o deus do fogo. Aliás, sou muito conhecido."

III

KATHA

O segredo da imortalidade é encontrado na purificação do coração, na meditação, na realização da identidade do Eu interiormente e de Brahman exteriormente. Pois a imortalidade é simplesmente a união com Deus.

KATHA

Om... Que Brahman nos proteja, Que ele nos guie, Que nos dê força e entendimento correto. Que o amor e a harmonia estejam com todos nós. OM... Paz - paz - paz.

EM DETERMINADA OCASIÃO, Vajasrabasa, esperando obter um favor divino, executou um ritual que exigia que ele se desfizesse de todos os seus bens. Ele teve o cuidado, porém, de sacrificar somente o seu gado e, dele, somente os animais inúteis - os velhos, os estéreis, os cegos e os aleijados. Ao observar essa avareza, Nachiketa, seu filho mais novo, cujo coração havia recebido a verdade ensinada nas escrituras, disse para si mesmo: "Certamente, um devoto que ousa levar presentes tão inúteis está destinado à total escuridão!" Refletindo assim, dirigiu-se ao pai e falou: "Pai, eu também vos pertenço: para quem me dareis?" Seu pai não respondeu; porém, quando Nachiketa repetiu a pergunta uma e outra vez, ele replicou impacientemente: "Eu vos darei à Morte!" Nachiketa disse então para si mesmo: "Sou de fato o melhor dentre os filhos e discípulos de meu pai, ou estou, pelo menos, na categoria intermediária, não na pior; porém, de que valor serei para o Rei da Morte?" Estando, porém, determinado a seguir a palavra do pai, disse: "Pai, não vos arrependais da vossa promessa! Considerai como tem acontecido com aqueles que partiram antes, e como será com aqueles que vivem agora. Como o milho, um homem amadurece e cai ao solo; como o milho, ele brota novamente na estação propícia." Após falar assim, o rapaz viajou para a casa da Morte. Porém o deus não estava em casa, e Nachiketa esperou durante três noites. Quando finalmente o Rei da Morte voltou, seus servos lhe disseram: "Um Brahmin, parecido com uma chama de fogo, chegou à vossa casa como hóspede, e vós não estáveis aqui. Desse modo, uma oblação deverá ser feita a ele. Ó Rei, devereis receber vosso hóspede com todos os rituais costumeiros, pois se o chefe de uma casa não mostrar a devida hospitalidade a um Brahmin, perderá o que mais preza os méritos das suas boas ações, sua integridade, seus filhos e seu gado." O Rei da Morte, então, aproximou-se de Nachiketa e deu-lhe as boas-vindas com palavras polidas. "Ó Brahmin", disse ele, "Eu vos saúdo. Vós sois de fato um hóspede digno de todo respeito. Permiti, eu vos imploro, que nenhum mal caia sobre mim! Passastes três noites em minha casa e não recebestes minha hospitalidade; pedi, portanto, três dádivas - uma para cada noite." "Ó Morte", replicou Nachiketa, "que assim seja. E como primeira dessas dádivas peço que meu pai não fique ansioso a meu respeito, que sua ira se acalme, e que, quando me mandardes de volta, ele me reconheça e me dê as boas-vindas." "Pela minha vontade", declarou a Morte, "vosso pai vos reconhecerá e vos amará como antes; e, ao ver-vos vivo novamente, ficará com a mente tranqüila, e dormirá em paz." Nachiketa então disse: "No céu não há medo de modo algum. Vós, Ó Morte, não estais lá, nem naquele lugar onde o pensamento de ficar velho faz com que a pessoa estremeça. Lá, livres da fome e da sede, e longe do alcance da dor, todos rejubilam e são felizes. Vós conheceis, Ó Rei, o sacrifício do fogo que leva ao céu. Ensinai-me esse sacrifício, pois estou cheio de fé. Esse é o meu segundo desejo." Consentindo, então, a Morte ensinou ao rapaz o sacrifício do fogo, e todos os rituais e cerimônias que o acompanhavam. Nachiketa repetiu tudo o que havia aprendido, e a Morte, satisfeita com ele, disse: "Vou conceder-vos uma dádiva adicional. A partir de hoje esse sacrifício será denominado Sacrifício Nachiketa, em vossa homenagem. Escolhei agora vossa terceira dádiva." Nachiketa, então, pensou consigo mesmo, e disse: "Quando um homem morre, há esta dúvida: Alguns dizem que ele existe; outros dizem que ele não existe. Se vós me ensinásseis, eu conheceria a verdade. Esse é o meu terceiro desejo." "Não", replicou a Morte, "mesmo os deuses certa vez ficaram intrigados com esse mistério. A verdade com relação a isso é realmente sutil, não é fácil de ser compreendida. Escolhei alguma outra dádiva, Ó Nachiketa." Porém, Nachiketa não quis aceitar a recusa.

O homem que aprendeu que o Eu está separado do corpo, dos sentidos e da mente, e que o conheceu por completo, a alma da verdade, o princípio sutil - tal homem verdadeiramente o alcança, e se torna extremamente satisfeito, pois encontrou a fonte e o local onde habita toda a felicidade. Verdadeiramente acredito, Ó Nachiketa, que as portas da felicidade estão abertas para vós.

Nachiketa Ensinai-me, Ó Rei, eu vos suplico, o que sabeis estar além do certo e do errado, além da causa e do efeito, além do passado, do presente e do futuro.

O Rei da Morte Do objetivo que todos os Vedas proclamam, o qual está implícito em todas as penitências, e em busca do qual homens levam vidas de continência e de serviço, dele falarei sucintamente. Ele é - OM. Esta sílaba é Brahman. Esta sílaba é de fato suprema. Aquele que a conhece realiza o seu desejo. Ela é o apoio mais forte. É o símbolo mais elevado. Aquele que a conhece é reverenciado como um conhecedor de Brahman. O Eu, cujo símbolo é OM, é Deus onisciente. Ele não nasce. Ele não morre. Ele não é nem causa nem efeito. Esse Ser Antigo não nasceu, é eterno, imperecível; embora o corpo seja destruído, ele não é aniquilado. Se o assassino pensa que ele mata, se o assassinado crê que ele é morto, nenhum dos dois conhece a verdade. O Eu não mata nem é morto. Menor do que o menor, maior do que o maior, esse Eu habita para sempre dentro dos corações de todos. Quando um homem está livre de desejos, com sua mente e seus sentidos purificados, ele contempla a glória do Eu e está sem sofrimento. Apesar de sentado, ele viaja para longe; embora descansando, ele move todas as coisas. Quem, a não ser o mais puro dos puros, pode perceber esse Ser Fulgurante, que é a felicidade e que está além da felicidade? Ele não possui forma, embora habite a forma. No meio do transitório, ele permanece perene. O Eu é supremo e tudo permeia. O homem sábio, conhecendo-o em sua verdadeira natureza, transcende toda dor. O Eu não é conhecido através do estudo das escrituras, nem através da sutileza do intelecto, nem através de muito aprendizado. Mas é conhecido por aquele que anseia por ele. 7 O Eu revela verdadeiramente a ele o seu genuíno ser. Um homem não poderá conhecê-lo através do aprendizado, se não desistir do mal, se não controlar seus sentidos, se não acalmar sua mente, e se não praticar a meditação. Para ele os Brahmins e os Kshatriyas são apenas alimento, e a morte é em si um condimento.

Tanto o eu individual como o Eu Universal penetraram na caverna do coração, o domicílio do Mais Alto, porém os conhecedores de Brahman e os chefes de família que realizam os sacrifícios do fogo enxergam a diferença entre eles como entre a luz do Sol e a sombra. Possamos realizar o Sacrifício Nachiketa, que transpõe o mundo do sofrimento. Possamos conhecer o imperecível Brahman, que nada teme, e que é o objetivo e o refúgio daqueles que procuram a liberação. Sabei que o Eu é o cavaleiro, e que o corpo é a carruagem; que o intelecto é o cocheiro, e que a mente são as rédeas. 8 Os sentidos, dizem os sábios, são os cavalos; as estradas por onde passam são os labirintos do desejo. Os sábios consideram o Eu como aquele que se deleita quando está unido ao corpo, aos sentidos e á mente. Quando um homem não possui discernimento e sua mente está desgovernada, seus sentidos são incontroláveis, como os cavalos rebeldes de um cocheiro. Porém, quando um homem possui discernimento e sua mente está controlada, seus sentidos, como os cavalos bem-domados de um cocheiro, obedecem alegremente às rédeas.

(^7) Existe uma outra interpretação desta frase, que envolve o mistério da graça: "Aquele que o Eu escolhe, por esse ele é

alcançado." (^8) Na psicologia hindu, a mente é o órgão da percepção.

Aquele que não possui discernimento, cuja mente está instável e cujo coração está impuro, nunca alcança o objetivo, e nasce sempre de novo. Mas aquele que possui discernimento, cuja mente está firme e cujo coração é puro, atinge a meta e, após tê-la alcançado, não nasce nunca mais. O homem que possui um entendimento sólido como cocheiro, uma mente controlada como rédeas

  • ele é que atinge o final da jornada, a morada suprema de Vishnu, o que tudo permeia. 9 Os sentidos originam-se dos objetos físicos, os objetos físicos, da mente; a mente, do intelecto; o intelecto, do ego; o ego, da semente não-manifestada; e a semente não-manifestada, de Brahman a Causa sem Causa. Brahman é o fim da jornada. Brahman é a meta suprema. Esse Brahman, esse Eu, profundamente oculto em todos os seres, não é revelado a todos; mas àqueles que vêem, puros de coração, de mente concentrada a eles é revelado. Os sentidos do homem sábio obedecem à sua mente; sua mente obedece ao seu intelecto; seu intelecto obedece ao seu ego; e seu ego obedece ao Eu. Acordai! Acordai! Aproximai-vos dos pés do Mestre e conhecei AQUELE. O caminho é como a lâmina afiada de uma navalha, dizem os sábios. É estreito e difícil de trilhar! Sem som, sem forma, intangível, imperecível, sem gosto, sem cheiro, eterno, sem começo, sem fim, imutável, além da Natureza, assim é o Eu. Quem o conhece como tal está livre da morte.

O Narrador O homem sábio, tendo escutado e aprendido a verdade eterna revelada a Nachiketa pelo Rei da Morte, é glorificado no céu de Brahman. Aquele que canta com devoção esse segredo supremo na assembléia dos Brahmins é recompensado com dádivas imensuráveis!

O Rei da Morte O Auto-existente fez com que os sentidos se voltassem para fora. Conseqüentemente, o homem olha para o exterior, e não vê o que está no interior. Raro é aquele que, ansiando pela imortalidade, fecha os olhos para o exterior e contempla o Eu. Os tolos seguem os desejos da carne e caem na armadilha da morte que tudo abrange; porém os sábios, sabendo que o Eu é eterno, não procuram as coisas transitórias. Aquele através de quem o homem vê, saboreia, cheira, ouve, sente e tem prazer é o Senhor onisciente. Ele é, verdadeiramente, o Eu imortal. Quem o conhece, conhece todas as coisas. Aquele através de quem o homem vivência os estados de sono ou de vigília é o Eu que tudo permeia. Quem o conhece não sofre mais. Aquele que sabe que a alma individual, que aproveita os frutos da ação, é o Eu que está sempre presente interiormente, senhor do tempo, do passado e do futuro expulsa de si todo o medo. Pois esse Eu é o Eu imortal. Aquele que vê o Que-Nasceu-Primeiro - nascido da mente de Brahman, nascido antes da criação das águas e o vê habitando o lótus do coração, vivendo entre elementos físicos, efetivamente vê Brahman. Pois esse Que-Nasceu-Primeiro é o Eu imortal. 10 Aquele ser que é o poder de todos os poderes, e que nasceu como tal, que se incorpora nos elementos e existe nestes, e que penetrou no lótus do coração, é o Eu imortal. Agni, o que tudo vê, o que se esconde nos gravetos, como uma criança bem-protegida no útero, que é venerado diariamente por almas despertas, e por aqueles que oferecem oblações no fogo do sacrifício ele é o Eu imortal. 11 Aquele no qual o Sol se levanta e no qual se põe, aquele que é a fonte do todos os poderes da Natureza e dos sentidos, aquele que não pode ser transcendido por nada esse é o Eu imortal.

(^9) Vishnu aqui eqüivale a Brahman. (^10) Brahman, a existência absoluta, impessoal, quando associado com o poder denominado Maya - o poder de evoluir

como universo empírico - é conhecido como Hiranyagarbha, o Que-Nasceu-Primeiro. (^11) A referência diz respeito ao sacrifício védico. Agni, cujo nome significa fogo, é considerado como podendo ver tudo,

o fogo simbolizando Brahman, o Revelador; os dois gravetos, que quando esfregados produzem o fogo, representam o coração e a mente do homem.