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OS TRÊS MOSQUETEIROS. Volume 1. ALEXANDRE DUMAS. Coleção Livros de Bolso - 398. Publicações Europa América. Digitalização e Arranjo. Agostinho Costa.
Tipologia: Notas de aula
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Volume 1 ALEXANDRE DUMAS Coleção Livros de Bolso - 398 Publicações Europa América Digitalização e Arranjo Agostinho Costa Texto Digitalizado Para Ser Lido Por Deficientes Visuais
Romance histórico, Os Três Mosqueteiros pertencem com efeito a esse gênero literário que Walter Scott pôs em moda por volta de 1820. Dumas teceu as suas ficções sobre uma trama do século XVII, misturando personagens reais das mais altamente colocadas com personagens imaginárias. A sua inspiração faz agir e falar Luís XIII e Richelieu, Ana de Áustria e Buckingham, reviver toda uma época em que se sucedem as aventuras dos seus heróis, D’Artagnan, Athos, Porthos, Aramis e essa fascinante Milady, à volta da qual a ação se desenrola com inegável poder dramático. Gerações de leitores foram subjugados por esta obra brilhante, cheia de movimento, de cor e de espírito. Hoje, passado mais de um século, o livro conserva toda a sua frescura. Do mesmo autor, nesta coleção: A TULIPA NEGRA O CONDE DE MONTE-CRISTO Título Original: Les Trois Mosquetaires Tradução de Adelino dos Santos Rodrigues Os Três Mosqueteiros Alexandre Dumas Direitos Reservados por Publicações Europa-América Lda. Apartado 8 2726 MEM MARTINS CODEX PORTUGAL
Calcule-se como foi grande a nossa alegria quando, ao folhearmos o manuscrito, nossa derradeira esperança, encontramos na vigésima página o nome de Athos, na vigésima sétima o nome de Porthos e na trigésima primeira o nome de Aramis. A descoberta de um manuscrito completamente desconhecido numa época em que a ciência histórica atingiu tão alto grau de desenvolvimento pareceu-nos quase milagrosa. Apressamo-nos por isso a solicitar autorização para mandar imprimi-lo, a fim de nos apresentarmos um dia com a bagagem de outro na Academia de Inscrições e Belas-Artes, se não chegássemos, coisa muito provável, a entrar na Academia Francesa com a nossa própria bagagem. Tal autorização, devemos dizê-lo, foi-nos graciosamente concedida, o que consignamos aqui para dar desmentido público aos mal-intencionados que pretendem que vivemos sob um governo assaz mediocremente disposto a respeito dos escritores. Ora, è a primeira parte desse precioso manuscrito que oferecemos hoje aos nossos leitores, depois de lhe restituirmos o título que lhe pertence, com o compromisso de se, como não duvidamos, esta primeira parte obtiver o êxito que merece, publicarmos imediatamente a segunda. Entretanto, como o padrinho é um segundo pai, convidamos o leitor a responsabilizar-nos, e não ao conde de La Fere, pelo seu prazer ou pelo seu aborrecimento. Posto isto, passemos à nossa história.
Na primeira segunda-feira do mês de Abril de 1625 o burgo de Meung, onde nasceu o autor do Romance da Rosa, parecia encontrar-se em estado de revolução tão completa como se os huguenotes nela tivessem vindo fazer uma segunda Rochelle. Vários burgueses, ao verem correr as mulheres para os lados da rua principal e ouvirem as crianças gritar no limiar das portas, tinham-se apressado a vestir a couraça e, apoiando a sua coragem um pouco duvidosa num mosquete ou numa partazana, dirigiram-se para a estalagem do Franc Meunier, diante da qual se comprimia, engrossando de minuto a minuto, um grupo compato, ruidoso e cheio de curiosidade. Naqueles tempos o pânicos era frequente e passavam-se poucos dias sem que uma ou outra cidade registrasse nos seus arquivos algum acontecimento do gênero. Havia os fidalgos que guerreavam uns com os outros; havia o rei que fazia guerra ao cardeal, e havia o Espanhol que fazia guerra ao rei. Depois, além dessas guerras surdas ou públicas, secretas ou patentes, havia ainda os ladrões, os mendigos, os huguenotes, os lobos e os lacaios, que faziam guerra a toda a gente. Os burgueses armavam-se sempre contra os ladrões, contra os lobos e contra os lacaios, muitas vezes contra os fidalgos e os huguenotes e algumas vezes contra o rei, mas nunca contra o cardeal e o Espanhol. Resultou portanto desse hábito adquirido que na supracitada primeira segunda-feira do mês de Abril de 1625 os burgueses, ouvindo barulho e não vendo nem o pendão amarelo e vermelho, nem a libré do duque de Richelieu, se precipitaram para as bandas da estalagem do Franc Meunier. Chegando lá, todos puderam ver e identificar a causa daquele rumor. Um jovem... - tracemos o seu retrato numa penada, imaginem D. Quixote aos dezoito anos, D. Quixote sem corselete, sem cota de malha e sem escarcelas, D. Quixote de gibão de lã cuja cor azul se transformara num tom indefinível de borra de vinho e azul-celeste. Rosto comprido e moreno, maçãs-do-rosto salientes, sinal de astúcia, músculos maxilares enormemente desenvolvidos, indício infalível pelo qual se reconhece o Gascão, mesmo sem boina, e o nosso jovem trazia uma boina ornada com uma espécie de pluma; olhos francos e inteligentes; nariz adunco, mas finamente desenhado, muito alto para um adolescente, muito pequeno para um homem feito, e que um olhar pouco experiente tomaria por um filho de rendeiro em viagem, sem a sua longa espada que, pendente do boldrié de cabedal, batia nas barrigas das pernas do seu proprietário quando ele estava a pé e no pêlo eriçado da sua montaria quando estava a cavalo. Porque o nosso jovem tinha uma montaria, e essa montaria era até tão notável que dava nas vistas: era um garrano do Béarn, de doze ou catorze anos, de pelagem amarela, sem crinas na cauda, mas não sem gavarros nas pernas, e que, embora caminhasse com a cabeça mais baixa do que os joelhos, e que tornava inútil a aplicação da gamarra, percorria mesmo assim as suas oito léguas por dia. Infelizmente, as qualidades do cavalo estavam tão bem escondidas debaixo da sua pelagem estranha e do seu aspecto incongruente, que numa época em que todos entendiam de cavalos o aparecimento do sobredito garrano em Meung, onde entrara havia pouco mais ou menos um quarto de hora pela
Depois disto, o Sr. D’Artagnan pai cingiu ao filho a sua própria espada, beijou-o ternamente em ambas as faces e deu-lhe a sua bênção. Quando saiu do quarto paterno, o jovem encontrou a mãe, que o esperava com a famosa receita de que os conselhos que acabamos de referir deviam impor uso bastante frequente. As despedidas foram deste lado mais longas e mais ternas do que haviam sido do outro, não porque o Sr. D’Artagnan não amasse o filho, que era a sua única progenitura, mas sim porque o Sr. D’Artagnan era um homem e consideraria indigno de um homem ceder à emoção, ao passo que a Sra D’Artagnan era mulher e além disso mãe. Chorou portanto abundantemente e, digamo-lo em louvor do Sr. D’Artagnan filho, apesar dos esforços que este fez para se manter firme como competia a um futuro mosqueteiro, a natureza levou a melhor e ele verteu muitas lágrimas, de que com grande custo conseguiu ocultar metade. O jovem pôs-se a caminho no mesmo dia, munido dos três presentes paternos e que se compunham, como dissemos, de quinze escudos, do cavalo e da carta para o Sr. de Tréville. Como é fácil de calcular, os conselhos tinham sido dados à margem dos presentes. Com semelhante vade-mécum, D’Artagnan ficou, tanto moral como fisicamente, uma cópia exata do herói de Cervantes, com o qual tão felizmente o comparamos quando os nossos deveres de historiador nos colocaram na necessidade de traçar o seu retrato. D. Quixote tomava os moinhos de vento por gigantes e os carneiros por exércitos, D’Artagnan tomou cada sorriso por um insulto e cada olhar por uma provocação. Graças a isso teve sempre o punho fechado de Tarbes até Meung, e que em média levou a mão à espada dez vezes por dia, todavia nem punho desceu contra nenhum queixo, nem a espada saiu da bainha, só não impediu que a vista do malfadado garrano amarelo provocasse alguns sorrisos no rosto dos transeuntes, mas como por cima do garrano soava uma espada de tamanho respeitável e por cima dessa espada brilhava um olhar mais feroz do que orgulhoso, os transeuntes reprimiam a sua hilaridade, ou se a hilaridade levava a melhor à prudência, procuravam ao menos rir só de um lado, como as máscaras antigas! D’Artagnan manteve-se por tanto majestoso e intato na sua susceptibilidade até à malfadada cidade de Meung. Mas ai, quando desceu do cavalo à porta do Franc Meunier sem que ninguém, estalajadeiro, criado ou moço de estrebaria, viesse segurar-lhe o estribo, D’Artagnan notou a uma janela entreaberta do térreo um gentil-homem elegante e de ar distinto, apesar de ligeiramente carrancudo, que conversava com duas pessoas que pareciam escutá-lo com deferência. D’Artagnan julgou muito naturalmente, conforme era seu hábito, ser o tema da conversa e escutou. Desta vez, D’Artagnan só se enganou metade: não era dele que se falava, mas sim do seu cavalo, O gentil-homem parecia enumerar aos seus ouvintes todas as qualidades do animal, e como, tal como já disse, os ouvintes pareciam ter grande deferência pelo narrador, desatavam a rir a todo o momento. Ora, como um meio sorriso bastava para despertar a irascibilidade do jovem, adivinha-se que efeito lhe produziu tão ruidosa hilaridade. No entanto, D’Artagnan quis primeiro ver bem a fisionomia do impertinente que troçava dele. Cravou pois o olhar orgulhoso no desconhecido e verificou tratar-se de um homem de quarenta a quarenta e cinco anos, de olhos negros e
penetrantes, tez pálida, nariz fortemente acentuado e bigode negro e perfeitamente aparado, envergava gibão e calções cor de violeta com agulhetas da mesma cor, sem nenhum ornamento além dos golpes habituais por onde se via a camisa. Tanto os calções como o gibão, apesar de novos, pareciam amarrotados, como roupas de viagem durante muito tempo fechadas numa mala. D’Artagnan deu-se conta de tudo isto com a rapidez do observador mais minucioso, e sem dúvida por um sentimento instintivo lhe dizer que o desconhecido teria grande influência na sua vida futura. Ora, no momento em que D’Artagnan fixava o olhar no gentil-homem do gibão cor de violeta o mesmo gentil-homem fazia acerca do garrano bearnês uma das suas mais sábias e profundas demonstrações; os seus dois ouvintes desataram a rir e ele próprio deixou visivelmente contra o seu hábito errar, se assim se pode dizer, um pálido sorriso nos lábios. Desta vez já não havia dúvida: D’Artagnan era realmente insultado. Assim, cheio de tal convição, enterrou a boina na cabeça até aos olhos e, procurando imitar alguns dos gestos de corte que vira na Gasconha entre fidalgos em viagem, adiantou uma das mãos na guarda da espada e apoiou a outra na anca. Infelizmente, à medida que avançava a cólera cegava-o cada vez mais e em lugar do discurso digno e altivo que preparara para formular o desafio só encontrou na ponta da língua uma expressão ofensiva que acompanhou com um gesto furioso.
O jovem começou por procurar a carta com grande paciência, virando e revirando vinte vezes as algibeiras, revistando e tornando a revistar o saco, abrindo e fechando a bolsa, mas quando se convenceu de que a carta desaparecera mesmo, teve terceiro acesso de raiva que quase lhe ocasionou novo consumo de vinho e azeite aromatizados. Porque, ao ver aquela jovem cabeça encolerizar-se e ameaçar partir tudo no estabelecimento se a sua carta não aparecesse, o estalajadeiro pegara um chuço, a mulher um cabo de vassoura e os criados nos mesmos paus que tinham servido na antevéspera.
amaldiçoava por não encontrar nada.
grandes estocadas. Por isso, Richelieu e Luís XIII discutiam muitas vezes, enquanto à noite jogavam a sua partida de xadrez, acerca do mérito dos seus servidores. Ambos gabavam o porte e a coragem dos seus, e embora se pronunciassem em voz alta contra os duelos e as rixas incitavam-nos em voz baixa a baterem-se e experimentavam autêntico desgosto ou alegria imoderada com a derrota ou a vitória dos seus. Assim, pelo menos, o dizem as Memórias de um homem que esteve em algumas dessas derrotas e em muitas dessas vitórias. Tréville descobrira o ponto fraco do seu senhor e era a essa sagacidade que devia o longo e constante favor de um rei que não deixou fama de ter sido muito fiel aos amigos. Fazia desfilar os seus mosqueteiros diante do cardeal Armand Duplessis, com um ar velhaco que eriçava de cólera o bigode grisalho de Sua Eminência. Tréville entendia admiravelmente bem a guerra da época, em que, quando se não vivia à custa do inimigo, se vivia à custa dos compatriotas. Os seus soldados formavam uma legião de diabos, indisciplinada para qualquer outro menos para ele. Desleixados, bêbados e barulhentos, os mosqueteiros do rei, ou antes do Sr. de Tréville, frequentavam os botequins, os passeios e os divertimentos públicos, gritando a plenos pulmões e retorcendo os bigodes, fazendo tinir as espadas e deleitando-se ao provocar os guardas do Sr. Cardeal quando os encontravam. Depois, desembainhavam as espadas em plena rua, sempre gracejando, às vezes morriam, mas nesse caso tinham certeza de ser chorados e vingados; quase sempre matavam, e quando isso acontecia também estavam certos de não apodrecer na prisão, pois lá estava o Sr. de Tréville para os reclamar. Por isso, o Sr. de Tréville era louvado em todos os tons, cantado em todas as gamas por aqueles homens que o adoravam e que, apesar de capazes de tudo, tremiam diante dele como escolares diante do professor, lhe obedeciam à mais pequena palavra e estavam prontos a deixar-se matar para se reabilitarem da mais pequena censura. O Sr. de Tréville utilizara tão poderosa alavanca primeiro em proveito do rei e dos seus amigos e depois em seu próprio proveito e dos seus amigos. Mesmo assim, em nenhuma das Memórias desse tempo, que deixou tantas Memórias, se vê que o digno gentil-homem tenha sido acusado, mesmo pelos seus inimigos - e tinha-os tanto entre os escritores como os nobres - , em parte alguma se vê, dizíamos, que o digno gentil-homem tenha sido acusado de tirar proveito dos préstimos dos seus comandados. Apesar de dotado de raro pendor para a intriga, o que o colocava em pé de igualdade com os mais fortes intriguistas, conservara-se um homem honesto. Mais ainda, a despeito das grandes estocadas que derrancam e dos exercícios penosos que fatigam, tornara-se um dos mais galantes frequentadores de vielas, um dos mais finos vadios e um dos mais alambicados declamadores de Febo da sua época. Falava-se das aventuras galantes de Tréville como se falara vinte anos antes das de Bassompierre, e não era pouco. O capitão dos mosqueteiros era pois admirado, temido e amado, o que constitui o apogeu das aventuras humanas. Luís XIV absorveu todos os pequenos astros da sua corte na sua vasta irradiação, mas seu pai, sol pluribus impar, deixou o seu esplendor pessoal a cada um dos seus cortesãos. Além do palácio do rei e do cardeal, havia então em Paris
mais de duzentos pequenos palácios um pouco pretensiosos. Entre esses duzentos pequenos palácios o de Tréville era um dos mais concorridos. O pátio do seu palácio, situado na Rua de Vieux-Colombier, parecia um acampamento a partir das 6 horas da manhã no Verão e das 8 horas no Inverno. Cinquenta a sessenta mosqueteiros, que pareciam revezar-se para apresentarem um número sempre impressionante, andavam constantemente de um lado para o outro, armados como se fossem para a guerra e prontos para tudo. Ao longo de uma das suas grandes escadarias, que ocupava um espaço em que a nossa civilização ergueria um edifício completo, subiam e desciam os solicitantes de Paris candidatos a qualquer coisa, os fidalgos da província ansiosos por se alistarem e os lacaios agaloados de todas as cores que vinham trazer ao Sr. de Tréville os recados dos amos. Na antecâmara, sentados em grandes bancos circulares, descansavam os eleitos, isto é, os que eram convocados. Ouvia-se ali, de manhã à noite, um zumbido de vozes, enquanto o Sr. de Tréville, no gabinete contíguo à antecâmara, recebia os visitantes, ouvia queixas, dava ordens, e como o rei à varanda do Louvre bastava-lhe chegar-se à janela para passar em revista homens e armas. No dia em que D’Artagnan se apresentou a assembléia era imponente, sobretudo para um provinciano acabado de chegar da sua província. É certo que esse provinciano era gascão e que sobretudo naquela época os compatriotas de D’Artagnan tinham fama de não se intimidarem facilmente. Com efeito, logo que se transpunha a porta maciça, cravejada de grandes pregos de cabeça quadrangular, caía-se no meio de uma turba de militares que se cruzavam no pátio, se interpelavam, discutiam e gracejavam uns com os outros. Para se conseguir abrir caminho por entre todas aquelas vagas turbilhonantes era necessário ser oficial, grande senhor ou mulher bonita. Foi pois no meio de tal confusão que o nosso jovem avançou com o coração palpitante, segurando o comprido espadalhão ao longo das pernas magras e com uma das mãos na aba do chapéu, como meio sorriso do provinciano embaraçado que quer fazer boa figura. Ultrapassara um grupo e respirava mais livremente, mas adivinhou que se viravam para o observar e pela primeira vez na vida D’Artagnan, que até àquele dia tivera menos má opinião a seu respeito, se achou ridículo. Chegado à escadaria foi pior ainda: havia nos primeiros degraus quatro mosqueteiros que se divertiam com o seguinte exercício, enquanto dez ou doze dos seus camaradas esperavam no patamar que chegasse a sua vez de participarem na paródia, um deles, colocado no degrau superior, de espada nua na mão, impedia, ou pelo menos esforçava-se por impedir, os outros três de subir. Esses três esgrimiam contra ele com as suas espadas muito ágeis. De início, D’Artagnan tomou as armas por floretes de esgrima e julgou-as de ponta em forma de botão, mas não tardou a verificar por certos arranhões que todas as armas estavam, pelo contrário, bem afiadas e aguçadas e que a cada arranhão não só os espectadores, mas também os atores, riam como loucos. O que ocupava o degrau naquele momento mantinha maravilhosamente os seus adversários a distância. Rodeava-os um círculo de curiosos. A condição estabelecida era a cada toque o tocado deixar a partida e perder a sua vez na audiência em proveito do tocador. Em cinco minutos foram aflorados três, um no
Perante tal pergunta, D’Artagnan apresentou-se muito humildemente, salientou o seu título de compatriota e pediu ao criado de quarto que lhe viera fazer a pergunta que solicitasse por ele ao Sr. de Tréville um momento de audiência, pedido que o criado prometeu em tom protector transmitir oportunamente. Um pouco refeito da sua surpresa inicial, D’Artagnan teve portanto tempo para estudar os trajos e as fisionomias. No centro do grupo mais animado encontrava-se um mosqueteiro corpolento, de ar altivo e com um trajo extravagante qe lhe atraía as atenções gerais. Não trazia naquele momento a sobreveste do uniforme, que aliás não era absolutamente obrigatória naquela época de menos liberdade, mas de maior independência, e sim um gibão azul-celeste, embora um pouco desbotado e coçado, e sobre o gibão um boldrié magnífico, bordado a ouro e que reluzia como as escamas de que a água se cobre sob sol intenso. Uma comprida capa de veludo carmesim caía-lhe com graça dos ombros, descobrindo pela frente apenas o esplêndido boldrié, do qual pendia uma espada gigantesca. O mosqueteiro acabava de sair de guarda naquele instante, queixava-se de estar resfriado e tossia de vez em quando com afetação. Por isso pusera a capa, conforme dizia à sua volta, e enquanto falava do alto da sua empáfia, torcendo desdenhosamente o bigode, os presentes admiravam com entusiasmo o boldrié bordado e D’Artagnan mais do que qualquer outro.
reviravoltas rápidas do pensamento a conversa mudou de súbito para outro assunto.