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Desenho e Ilustração em Moda: Funções e Diferenças, Notas de aula de Desenho

Neste artigo, aprenda sobre o desenho e a ilustração em moda, incluindo suas funções distintas no processo de criação de roupas. Saiba sobre o desenho técnico, o croqui e a ilustração de moda, além da importância de cada uma na indústria da moda. Adicionalmente, conheça o trabalho de fábio lemos, designer e ilustrador de moda.

O que você vai aprender

  • Qual é a diferença entre o desenho técnico e o croqui em moda?
  • Qual é a função do desenho em moda?
  • Como a ilustração de moda difere do desenho técnico?
  • Quais técnicas são usadas na ilustração de moda?
  • Quais são as influências históricas na ilustração de moda?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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*Universidade FUMEC; Belo Horizonte; Minas Gerais; Brasil; 30.310.190.
OS ASPECTOS FUNCIONAIS DO DESENHO NO DESIGN DE MODA
Fábio Lemos*
RESUMO
O presente artigo tem como objeto o desenho de moda para fins de reflexão de suas variadas
funções no design de moda uma vez que, na maioria das vezes, o mesmo ganha um sinônimo
único e geral “croqui”. Aqui, procura-se esclarecer e colocar em evidência uma distinção
dessa linguagem visual no design ao qual possui sua mensagem para fins específicos. É nesse
processo de comunicação que se encontra tal distinção de suas funções e tipos. Enquanto que
o desenho de moda, isto é, o croqui e o desenho técnico vêm com o intuito de traçar um
planejamento do produto a ser confeccionado, outro estilo de desenho de moda entra em cena,
o que chamamos de ilustração e/ou também croqui. Ela vem ultrapassar essa linha carregando
consigo todo um contexto, um comportamento e cultura daquele público para o qual foi
traçado aquele produto. A ilustração está mais ligada à arte que, aliás, se torna referência para
o designer e/ou ilustrador. Ao longo deste estudo, além dessas diferenças, veremos também a
apresentação do trabalho autobiográfico, Fábio Lemos, designer e ilustrador de moda como
também autor desta pesquisa.
PALAVRAS-CHAVE: Moda. Desenho. Croqui. Ilustração. Designer. Estilista. Ilustrador.
O DESENHO NO DESIGN DE MODA
O desenho vem como um suporte para esboçar, traçar, riscar, projetar e, consequentemente,
comunicar uma ideia. Alguns autores ainda traçam uma definição entre as palavras desenho e
design. Denis (2000), citado por Gragnato (2008), ressalta que a palavra design tem sua
origem no latim designare, verbo que abrange tanto o sentido de designar quanto de desenhar.
Nesse aspecto, consideramos que o desenho se reduz ao simples esboço para o design, isto é,
o projeto a ser executado, no caso da moda, a própria roupa. Porém, “nem mesmo a palavra
drawing pode deixar de se referir, de alguma forma, a um projeto, ou seja, a um desígnio, a
um ato de pensamento, mesmo porque essa é a natureza do ato de desenhar” (MARTINS,
2007, p. 2). O mesmo autor ainda afirma que a palavra disegno, em italiano e, desenho, em
português, mantiveram o sentido mais amplo ligado não apenas ao fazer como também
pensar.
Observamos então que a palavra desenho, em nossa e outras línguas, não se aparta da ação de
formar, pensar, planejar, designar uma vez que tais sentidos estão integrados no ato de
desenhar.
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Baixe Desenho e Ilustração em Moda: Funções e Diferenças e outras Notas de aula em PDF para Desenho, somente na Docsity!

*Universidade FUMEC; Belo Horizonte; Minas Gerais; Brasil; 30.310.190.

OS ASPECTOS FUNCIONAIS DO DESENHO NO DESIGN DE MODA

Fábio Lemos*

RESUMO

O presente artigo tem como objeto o desenho de moda para fins de reflexão de suas variadas funções no design de moda uma vez que, na maioria das vezes, o mesmo ganha um sinônimo único e geral “croqui”. Aqui, procura-se esclarecer e colocar em evidência uma distinção dessa linguagem visual no design ao qual possui sua mensagem para fins específicos. É nesse processo de comunicação que se encontra tal distinção de suas funções e tipos. Enquanto que o desenho de moda, isto é, o croqui e o desenho técnico vêm com o intuito de traçar um planejamento do produto a ser confeccionado, outro estilo de desenho de moda entra em cena, o que chamamos de ilustração e/ou também croqui. Ela vem ultrapassar essa linha carregando consigo todo um contexto, um comportamento e cultura daquele público para o qual foi traçado aquele produto. A ilustração está mais ligada à arte que, aliás, se torna referência para o designer e/ou ilustrador. Ao longo deste estudo, além dessas diferenças, veremos também a apresentação do trabalho autobiográfico, Fábio Lemos, designer e ilustrador de moda como também autor desta pesquisa.

PALAVRAS-CHAVE: Moda. Desenho. Croqui. Ilustração. Designer. Estilista. Ilustrador.

O DESENHO NO DESIGN DE MODA

O desenho vem como um suporte para esboçar, traçar, riscar, projetar e, consequentemente, comunicar uma ideia. Alguns autores ainda traçam uma definição entre as palavras desenho e design. Denis (2000), citado por Gragnato (2008), ressalta que a palavra design tem sua origem no latim designare , verbo que abrange tanto o sentido de designar quanto de desenhar. Nesse aspecto, consideramos que o desenho se reduz ao simples esboço para o design, isto é, o projeto a ser executado, no caso da moda, a própria roupa. Porém, “nem mesmo a palavra drawing pode deixar de se referir, de alguma forma, a um projeto, ou seja, a um desígnio, a um ato de pensamento, mesmo porque essa é a natureza do ato de desenhar” (MARTINS, 2007, p. 2). O mesmo autor ainda afirma que a palavra disegno , em italiano e, desenho, em português, mantiveram o sentido mais amplo ligado não apenas ao fazer como também pensar.

Observamos então que a palavra desenho, em nossa e outras línguas, não se aparta da ação de formar, pensar, planejar, designar uma vez que tais sentidos estão integrados no ato de desenhar.

Podemos então afirmar que “é por isso que a primeira associação que comumente é feita entreo designer de moda e seu trabalho passa obrigatoriamente pela questão do desenho, ou seja, para ser um designer de moda a habilidade do desenho é necessária” (GRAGNATO, 2008, p. 39).

O profissional de moda que trabalha com a criação do produto e que possui tal habilidade obtém bom êxito no processo de desenvolvimento deste uma vez que, por meio de seu traço, pode exprimir sua ideia e ser compreendido com precisão. No design de moda, então, o desenho representa o início de um projeto. Ele busca a execução, transformar ele próprio, o desenho, em matéria. É função e trabalho do designer gerar o produto e documentar seu projeto graficamente, sendo necessário que ele tenha a competência para isso, do contrário, ele não será compreendido e, consequentemente, sua ideia não será idealizada conforme seu planejamento.

Puls (2011) destaca o desenho como ferramenta na concepção projetual no design. Um meio pelo qual o designer articula suas percepções, sensações e pensamentos para expressar de forma gráfica suas propostas. Porém, percebemos que, atualmente, nessa sociedade da informação e globalização, o desenvolvimento da padronização e automatização tem levado o designer a não mais ficar distante dessa realidade, trazendo para si, a adoção desses novos recursos para seu processo de representação do design. Puls (2011) enuncia que as novas tecnologias devem ser exploradas como recursos complementares e facilitadores. Essas novas experiências levam o designer aprofundar e aperfeiçoar suas técnicas num processo contínuo onde passa a somar em seus desenhos essas novas informações e tecnologias.

No ramo do vestuário, não de forma diferente, a ideia da roupa é transmitida através desse meio de representação visual. O desenho é originado com base em uma pesquisa prévia de comportamento, tendências e, obviamente, materiais e tecnologia a serem utilizados para, então, a roupa ser desenhada, conceituada, desenvolvida e materializada.

No design de moda, o desenho comunica a concepção e expressão das ideias conceituadas para a concretização dos produtos incorporando neles, segundo Gragnato (2008) valores culturais que geram canais de identificação social e comunicação não verbal de realidades e tendências comportamentais. Sendo assim, o desenho que o designer traça nada mais é do que uma interpretação e representação de seus próprios valores culturais adquiridos na sociedade

Figura 1 – Desenho Técnico

Fonte: Neiva, 2010.

O desenho técnico é um “desenho 2D de uma peça (ou uma série de peças) de roupa feito para representar uma forma tridimensional, como se ela fosse estendida sobre uma superfície plana e vista de cima” (HOPKINS, 2011, p. 80). Normalmente é feito utilizando traços lineares e tracejados e não coloridos, obedecendo a características e técnicas próprias de representação, feitos à mão livre ou através de softwares.

Para Hopkins (2011), o desenho técnico exige do designer a capacidade de conhecer bem a estrutura da peça que ele está traçando. Caso o designer não entenda os elementos básicos de caimento e forma de uma roupa, sua capacidade de elaborar um desenho técnico será comprometida. O designer precisa ter o entendimento das proporções da roupa e da silhueta. Isso o permite traçar as linhas que caracterizam todas as costuras e detalhes da roupa. O objetivo principal dos desenhos técnicos não é a aparência geral, mas sim o entendimento necessário para a materialização do croqui.

Na indústria do vestuário são consideradas a rapidez e alta produtividade, sendo assim, o desenho técnico otimiza esse tempo numa linha de produção fazendo com que todos os detalhes da peça em questão sejam esclarecidos em uma ficha técnica para a confecção de uma peça piloto. Morris (2009) chama esse detalhamento de “desenho de especificação” enquanto que Hopkins (2011) o classifica como desenho planificado. Na ficha técnica são descritas todas as explicações referentes ao forro, acabamentos, ajustes, pences e posições.

Os desenhos técnicos estão voltados para a concretização do projeto à medida que nele se registra o máximo de informações necessárias à confecção da peça piloto e, em seguida, dar continuidade ao processo produtivo em série se for o caso. Com esse desenho também é

possível delinear todos os custos bem como o material a ser utilizado para a confecção do modelo.

É importante levar em consideração que, em grandes indústrias do vestuário, o desenho técnico é desenvolvido através de softwares como o CAD/CAM, Corel Draw, Illustrator e Photoshop a fim de agilizar os processos de desenvolvimento da coleção. Conforme Hopkins (2011), os softwares gráficos surgiram nos anos 1980 e seu rápido desenvolvimento marcou a chegada dos primeiros gráficos vetoriais e bitmaps. [...] gráficos vetoriais são formações geométricas, como linhas, pontos e curvas, que se baseiam em equações matemáticas para representar uma imagem digital. Eles produzem linhas claras que são adequadas para desenhos técnicos ou planificados [...] bitmaps são uma estrutura de dados representada por uma grade de pixels que forma a imagem digital, medida de pontos por polegada [...] Os pixels são os elementos fundamentais das imagens em bitmap, como fotografias digitais e imagens digitalizadas. Quanto mais pixels por unidade uma imagem possui, melhor sua qualidade em termos de cor e resolução. (HOPKINS, 2011, p. 90)

Cada vez mais os programas gráficos vêm se desenvolvendo e ganhando espaço no design oferecendo economia de tempo, aprimorando a execução de toda a cadeia produtiva e permitindo qualquer alteração imediata.

O Croqui

Alguns estilistas ao invés de partirem diretamente para os desenhos técnicos, eles preferem, antes, descrever suas ideias através de “desenhos experimentais” (MORRIS, 2009, p. 126) chamados na indústria do vestuário de croquis (FIG. 2). Figura 2 – Croqui

Fonte: Acervo de Fabiano Souzani para Victor Dzenk.

Já no século XXI este parâmetro de perfeição começa a ser questionado e passa a ter outro padrão de beleza, mas ainda com base no estudo das proporções baseadas no tamanho da cabeça. O croqui de moda passa a ter, de sete cabeças e meia, para nove cabeças, e às vezes até dez, resultando numa silhueta alongada e longilínea tanto para o croqui feminino quanto para o masculino. Contudo, essas proporções são usadas de forma diferente entre os sexos. Para o croqui feminino, as regiões do pescoço e, principalmente, das pernas são mais alongadas enquanto que no masculino, alonga-se mais o tórax.

Além dessa caracterização alongada do corpo, o croqui, normalmente, recebe gestos e movimentos expressivos e dramáticos dando mais vida e valor ao produto ao mesmo tempo em que contribui para sua aprovação.

O croqui enquanto corpo figurativo, não necessariamente precisa seguir proporções reais à forma humana uma vez que essa “estilização tem como objetivo comunicar uma atmosfera ou atitude para além da descrição das roupas” (HOPKINS, 2011, p. 25).

No croqui, o designer busca a representação de textura e caimento dos tecidos como também bordados, aplicações e transparências através de técnicas de colorização tornando esse desenho o mais próximo possível do real. É por meio dele também que o estilista simula as possíveis combinações de produção como cores, formas e padrões. Porém, conforme Morris (2009), nessa fase de idealização dos croquis, o mais importante não é o designer desenvolver desenhos perfeitos, o objetivo do croqui reside em ajudá-lo na trajetória da criação.

Podemos dizer que o croqui é um projeto que visa atender às exigências do mercado com base em tendências considerando os gostos pessoais do público a quem se destina. E, esse mesmo projeto, se dá através de um esboço rápido, dinâmico, cuja finalidade está em transmitir a essência da ideia e, consequentemente, ser confeccionado e comercializado.

A Ilustração de Moda

Outra modalidade de representação gráfica no design de moda é a ilustração de moda (FIG. 4). Esta forma de representação está voltada, principalmente, para o ramo publicitário e artístico. Segundo Soares e Silva (2010), esse tipo de projeto está embasado em lançamento

de tendências, no comportamento, na atitude e estilo do alvo a quem se destina. Os autores ainda ressaltam que na ilustração, respeita-se o tempo de criação artística, com exagero de detalhes onde o artista se faz livre para o uso de quaisquer materiais e técnicas que deseja.

Figura 4 – Ilustração de Moda

Fonte: Elena, 2011.

Aqui, a arte é um forte ponto de referência para essa forma de expressão e ao mesmo tempo divulgação do produto de moda. As mesmas técnicas de pintura usadas em períodos anteriores são usadas para a ilustração de moda.

[...] pelo fato da moda ser uma expressão estética, a apropriação de imagens também do universo das artes ajuda a fazer a interface entre as aparentemente distintas áreas da arte e da moda, que por sua vez, em inúmeros momentos históricos acabam falando a mesma linguagem estética (GRAGNATO, 2008, p. 27).

Assim como as pinturas da história da arte carregam traços do tempo onde estão inseridas possibilitando assim uma análise da história da indumentária, a ilustração de moda também traz consigo esses traços, comportamentos, estética, valores culturais e os interpreta conforme sua época. Se pensarmos a moda se utiliza da arte para dialogar com o público através da linguagem gráfica como esboços, desenhos e ilustrações como elaboração de projeto ou lançar tendências e estilos, a construção dos modelos se assemelha a escultura, pois se preocupa com as formas, equilíbrio, harmonia, estabilidade e estrutura. Os processos de criatividade que geralmente não são distintos; imaginem um pintor em seu cavalete e um estilista em sua mesa de desenho: ambos tentam resolver a problemática das cores, luminosidade, linhas, ritmos e outros elementos compositivos (SOUZA, 2010, p. 2).

Contudo, vale a pena ressaltar que a ilustração se apresenta de forma a ultrapassar as barreiras do simples fazer artístico para fins comerciais e identificação sociológica.

com detalhes de modelagem em suas ilustrações tendo em vista que seu propósito não está diretamente ligado à produção da roupa.

Conforme Geghali e Dwyer (2001) citados por Duarte (2010, p. 55), “é do século XVIII a primeira desenhista de moda de que se tem notícia”, Rose Bertin ou Mme. Bertin era responsável por vestir a rainha Maria Antonieta e além de desenvolver suas criações, ela vestia seus próprios clientes diferenciando-se dos ilustradores que desenhavam roupas já existentes para fins de registros em livros. Esses desenhos ilustrados servem de base tanto para a história da moda quanto para inspirações dos atuais designers.

Outros autores defendem a ideia de Charles Frederick Worth como o primeiro desenhista de moda uma vez que o mesmo, segundo Ricard (2002) citado por Duarte (2010), apresentava suas criações em aquarela e confeccionava os modelos sob medida para seus clientes.

Mas o que nos é importante destacar é que ambos, tanto Mme. Bertin quando Worth desenhavam e confeccionavam seus modelos, o que os caracteriza como estilistas, e mais tarde, no século XX, também chamados de designers de moda.

Duarte (2010) destaca que foi por meio da industrialização e, principalmente com a fundação da escola alemã Bauhaus é que o termo design teve sua origem. A Bauhaus contribuiu com o estabelecimento do designer ao trabalhar com a ideia de que o artista seria capaz de não apenas criar, mas também desenvolver e materializar suas ideias em objetos funcionais.

Sendo assim, observamos que o desenho, enquanto arte, está ligado apenas à questão da expressividade, contudo ao se tornar objeto concreto, o mesmo se torna um objeto de design e o artista, consequentemente, passa a ser, além de artista, um designer.

Dessa forma, percebemos, na moda, o papel do estilista e ilustrador. O estilista na medida em que esboça sua ideia com o intuito de materializá-la para ser consumida, ele, ao mesmo tempo assume o papel de designer. Já com o ilustrador, esse papel, às vezes, está reduzido ao simples fazer artístico dando continuidade e complemento ao trabalho exercido anteriormente pelo estilista/designer.

A ILUSTRAÇÃO DE MODA AO LONGO DA HISTÓRIA

Estudar a história da ilustração de moda é redescobrir a evolução da indumentária e, principalmente, das silhuetas ao longo dos anos além de confirmar a grande influência dos estilos passados no design de moda contemporâneo.

Conforme Blackman (2007) citado por Duarte (2010), a ilustração de moda começa no século XVI, período das grandes navegações, quando os artistas registravam os trajes das novas nações e povos descobertos. Contudo, Soares (2011) e Senna (2011) destacam Israhel Van Meckenem (FIG. 5) como pioneiro da ilustração de moda já no século XV. Israhel Van Meckenem era um ourives e gravurista alemão.

Figura 5 - Israhel Van Meckenem

Fonte: Mitsui, 2012.

Nesse período as ilustrações eram feitas através da xilogravura, técnica em que o artista, por meio de um buril, decalcava uma prancha de madeira deixando em relevo o desenho desejado, em seguida, passava-se a tinta sobre o relevo e pressionava essa prancha de madeira sobre o papel ou até mesmo sobre o tecido criando nele estampas. Porém, por ser uma técnica que exigia para cada desenho um novo bloco de madeira, essa técnica era ao mesmo tempo ineficiente e de alto custo. Com isso, Joannes Gutenberg ainda no século XV, trouxe a revolução da imprensa, o que possibilitou a impressão da ilustração de moda em livros que se propagaram no século XVI e, consequentemente, facilitou o acesso aos modos e costumes de outros povos.

Figura 7 - Alphonse Mucha

Fonte: Mucha, 1897.

No século XX surgem grandes magazines e com eles, as ilustrações de moda ganham força e contribuem, principalmente, para a democratização da moda. Foi nesse período que surgiu um dos principais veículos de comunicação de moda até os dias de hoje. Especificamente em 1867, que surgiu a revista Harper’s Bazaar e logo à frente, em 1892, a Vogue em que “o editor responsável foi Arthur Baldwin Turnure (...). Nesses primeiros anos da revista destacam-se as capas ilustradas por George Plank” Soares (2011, p. 2) e Senna (2011, p. 2).

Com o advento da Primeira Guerra Mundial, a ilustração de moda sofre uma pequena queda e a indústria cinematográfica cresce rapidamente trazendo com ela a fama para figurinistas e estilistas, entre eles, como lembra Morris (2009), Erté (FIG. 8) ilustrador de moda para a Harper’s Bazaar por vinte anos.

Figura 8 – Erté

Fonte: Erté, 1924

Com a chegada de Coco Chanel e Madame Vionnet, as quais liberaram as mulheres dos espartilhos surgindo assim uma nova silhueta que rejeitava babados e panos que restringiam a praticidade, ilustradores como Eduardo Garcia Benito, Guillermo Bolin, Douglas Pollard e também George Plank (FIG. 9) apresentavam em suas ilustrações mulheres magras e alongadas. Daí para frente, a ilustração ao mesmo tempo que registra as novas silhuetas, ela vai além uma vez que reforça um novo padrão de beleza. Foi também a partir daqui que os ilustradores assumiram a influência da Art Déco em seus trabalhos em substituição ao estilo Art Nouveau utilizado até então e “os desenhos passaram a refletir a frivolidade conforme a nova silhueta „melindrosa‟ assumia um papel central” (Hopkins, 2011, p. 13).

Figura 9 - George Plank

Fonte: Plank, 1917.

Figura 10 – Antonio Lopez

Fonte: Lopez, 1960.

Nessa segunda metade do século XX, a ilustração de moda começa a entrar em declínio devido à evolução dos processos de fotografia e editoração. Essa evolução tecnológica trouxe rapidez e facilidade na captura de imagens obrigando os artistas a reverem seus conceitos e mesclar suas técnicas tradicionais com a tecnologia.

Na década de 1970, ao lado das fotografias, as ilustrações de moda evoluíram com uma expressão artística pop e psicodélica. “Os desenhos se tornaram mais experimentais, e a figura de moda passou a ser representada na forma mais abstrata que reconhecemos hoje, com braços e pernas alongados em poses sinuosas e curvilíneas” (HOPKINS, 2011, p. 18).

Zoltan, conforme Morris (2009), foi um dos primeiros ilustradores a incluir em seus trabalhos montagens tridimensionais com colagens de tecidos, flores, pedras semipreciosas e materiais orgânicos e inorgânicos para recriar a moda.

Novas técnicas foram inseridas às ilustrações de moda a partir dos anos 1980 e se estendendo até os dias atuais. As ilustrações passaram a receber não apenas pinceladas de aquarela, nanquins, guaches e canetas hidrográficas como também lápis de cor, tinta acrílica, pastel seco e oleoso, colagens e, talvez sua maior revolução, técnicas digitais através de softwares como o CAD no fim dos anos 1980.

A Ilustração Digital

A ilustração digital teve início na década de 1980, se expandindo nos anos de 1990 até os dias atuais. Por meio dela tornou-se possível chegar a um nível maior de realismo ao mesmo tempo em que a arte se une à tecnologia. “Se o objetivo da moda é criar um ideal e capturar a atmosfera e o espírito de sua época, a apresentação digital da arte de moda deve continuar a exercer uma forte influência sobre a cultura de massa” (HOPKINS, 2011, p. 134).

Segundo Nakata (2010) ignorar as modificações tecnológicas advindas dos processos de digitalização significa ter uma concepção retrógrada desses processos. O ilustrador contemporâneo precisa vencer o impacto inicial causado pela introdução dessas novas tecnologias e buscar conhecê-las não para que a ilustração deixe de ser uma arte, mas para que haja um aprimoramento sobre as técnicas antes utilizadas como únicas.

Com o avanço da tecnologia, a ilustração de moda ganhou novas técnicas e, atualmente, os ilustradores estão cada vez mais obrigados a acompanhar esse processo. Muitos, inclusive, ainda usam suas técnicas manuais mescladas às digitais. Conhecer as mais variadas técnicas sejam elas tanto com o uso da tecnologia digital ou manual possibilita o ilustrador aperfeiçoar suas habilidades e, principalmente, opções para escolher a melhor técnica afim conseguir o efeito desejado.

Figura 11 – Jason Brooks

Fonte: Brooks, 2012.

CAD/CAM foi introduzido n indústria da moda da década de 1980 desenvolvido, à princípio “para a indústria têxtil e vestuário, no âmbito do processo de fabricação e produção, que inclui a criação de produtos têxteis, a elaboração e classificação de modelagens” (PINHEIRO, MATOS, 2010, p. 252).

Com a disseminação e criação dessas tecnologias, torna-se possível também a expansão dos trabalhos por parte dos próprios ilustradores, como destaca Pinheiro e Matos (2010), através de portfólios online e websites pessoais, o que torna, para os ilustradores, um desafio. Além de correr em busca de conhecimento das técnicas tradicionais, ele não deve, nos dias atuais, se limitar apenas nelas, mas acompanhar os processos tecnológicos e se diferenciar.

Conforme Hopkins (2011) a capacidade de desenhar a mão livre não deixará sua importância no mundo da moda motivo pelo qual deve ser treinada e mantida. Contudo, são cada vez mais frequente nas ilustrações de moda os aprimoramentos digitais sobre as técnicas tradicionais.

FÁBIO LEMOS, DESIGNER E ILUSTRADOR DE MODA

Fábio Cristiano Silva Lemos, 25, é brasileiro, natural de Abaeté, interior do estado de Minas Gerais. Formado em Administração de Empresas, contudo, sua paixão pela moda, especificamente pelo desenho, o levou a dar continuidade à sua carreira acadêmica com esse foco.

Desde seus nove anos de idade, Fábio Lemos já demonstrava facilidade para retratar graficamente os objetos que via pela frente. Começou desenhando personagens de desenhos animados quando Raynislley Raquel, uma desenhista profissional em sua cidade, que viu seus pequenos e infantis traços, começou a investir nas habilidades do garoto, ensinando-o alguns truques voltados para o desenho da figura humana. Fábio, então, com sua facilidade de aprender as técnicas de desenho e, principalmente, com sua curiosidade, começou a evoluir seus traços até que sua instrutora mudou-se fazendo com que o pequeno artista curioso começasse a se desenvolver sozinho. Sem aquela antiga orientação, buscava desenhar pessoas que encontrava em revistas e catálogos de moda e sempre que via publicado algum desenho, ia para sua mesa e não saía de lá até descobrir, por meio de inúmeros experimentos, qual técnica aquele determinado artista utilizou para produzir aquele efeito. Com isso, Fábio foi

desenvolvendo seu talento e técnicas bem como adquirindo cada vez mais o gosto pelo desenho.

Atualmente, Fábio Lemos trabalha como ilustrador freelancer e figurinista. Além de ilustrador, o artista também cria seus próprios modelos, desenvolvendo assim tanto o papel de ilustrador quanto o de designer.

Para um bom croqui, Fábio busca a expressão. O ilustrador e designer diz que a atitude com que os croquis se “posicionam” e “olham” pode dizer muito o que aquela imagem quer passar e, principalmente, gera uma identificação com o público-alvo e daí, a comunicação se tornou eficaz.

Seu estilo parte do realista para o não realista, dramático, excêntrico e expressivo. Seus croquis são cuidadosamente planejados. Segundo o designer, sua inspiração parte, sobretudo, de seu envolvimento com o protestantismo que o leva, na maioria dos seus trabalhos, a se inspirar nos princípios desse movimento acoplados à história da indumentária e da arte. A seguir, alguns trabalhos de Fábio Lemos (FIGs. 12, 13 e 14).

Figur 12 – A Vinha

Fonte: Desenhos do autor