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Orixás: Entre Culto e Mercantilização no Patrimônio Afro-Brasileiro de Salvador, Notas de aula de Cultura

Este artigo reflete sobre o processo de espetacularização e mercantilização do patrimônio afro-brasileiro em salvador, usando os orixás como matéria-prima. O texto revela como a cosmologia do povo-de-santo transforma o espaço dos terreiros de candomblé em um mundo sagrado, enquanto a paisagem paisagística os reduz a representações estáticas e desconexas do contexto cultural. A natureza dos orixás, como força pura e energia concentrada, é fixada em objetos e espaços, mas a sua essência é intocável e irreprodutível.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Saloete
Saloete 🇧🇷

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V ENECULT - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura
27 a 29 de maio de 2009
Faculdade de Comunicação/UFBa, Salvador-Bahia-Brasil.
ORIXÁS NOS ESPAÇOS PÚBLICOS DE SALVADOR:
UM PROCESSO DE DESSACRALIZAÇÃO-ESTETIZAÇÃO-
ESPETACULARIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO AFRO-BRASILEIRO
Fábio Macêdo Velame1
Resumo:
Esse artigo visa realizar uma rápida reflexão sobre um processo que se apresenta de
forma ampla em Salvador, a espetacularização e mercantilização do patrimônio afro-
brasileiro tendo com matéria-prima, os Orixás, os deuses africanos nagôs da Bahia. A
mercantilização opera uma apropriação e agenciamento das divindades seculares
transformando-as em instrumentos publicitárias e fetiches mercadorias para: nutrir o
desenvolvimento da indústria cultural, turística, do entretenimento, e do capital
financeiro em face da importância que a cultura passou a ter no cenário contemporâneo
da dinâmica do capitalismo de acumulação flexível na pós-modernidade; as estratégias
de governabilidade do estado local na periferia do capital, na competitividade global
entre as cidades, fornecendo-lhe um produto diferente, singular e ‘’exótico’’ que elas
possam oferecer no mercado mundial, com a contribuição na construção de suas
imagens publicitárias no manejo dos conflitos, antagonismos sociais e estereótipos
baianos. O trabalho tem como objetivo revelar como a cosmologia do povo-de-santo
através do seu ‘’olhar cosmológico’’ da natureza nos terreiros de candomblé da Bahia
são agenciados, mutilados, deturpados e substituídos pelo conceito de paisagem
presente nos espaços públicos com temáticas afro-brasileiras na cidade do Salvador
através do ‘’olhar paisagístico’’ e da reprodução técnica produzindo um
desencantamento e uma dessacralização do cosmo via estetização da natureza através do
enquadramento, emolduração, da fixação do quadro e da janela.
Palavras-chave: Cidade, Patrimônio Cultural Afro-brasileiro, Candomblé,
Mercantilização.
Esse ensaio tem como objetivo, revelar, como o patrimônio cultural afro-
brasileiro, manifestado na cosmologia do povo-de-santo com o seu ‘’olhar
cosmológico’’ sobre a natureza nos terreiros2 de candomblé3 da Bahia são agenciados,
1 Professor Assistente DE da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFBA e Doutorando do Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia, PPGAU/UFBA. Endereço Postal: Rua
Caetano Moura, 121 - Federação - CEP: 40210-350 -Salvador-BA – Brasil. E-mail: fabio.velame@hotmail.com/
fabio.velame@ig.com.br.
2 Denomina-se terre iro o lugar onde as sociedades (ebé ) do povo de santo, em sua forma de candomblé, instalaram-se, organiza ram-
se e desenvolveram-se. Segund o Juana Santos: [... ] o ‘’terreiro’’, termo que ac abou sendo sinônimo da ass ociação e do lugar onde se
pratica a r eligião tradicional africana. Esses ‘’te rreiros’’ constituem ve rdadeiras comunidades que apresenta m características
especiais. Uma parte dos membros do ‘’terreiro’’ habi ta no local ou nos arredores do mesmo, f ormando às vezes um bairro, um
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V ENECULT - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura 27 a 29 de maio de 2009 Faculdade de Comunicação/UFBa, Salvador-Bahia-Brasil. ORIXÁS NOS ESPAÇOS PÚBLICOS DE SALVADOR: UM PROCESSO DE DESSACRALIZAÇÃO-ESTETIZAÇÃO- ESPETACULARIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO AFRO-BRASILEIRO

Fábio Macêdo Velame^1

Resumo:

Esse artigo visa realizar uma rápida reflexão sobre um processo que se apresenta de forma ampla em Salvador, a espetacularização e mercantilização do patrimônio afro- brasileiro tendo com matéria-prima, os Orixás, os deuses africanos nagôs da Bahia. A mercantilização opera uma apropriação e agenciamento das divindades seculares transformando-as em instrumentos publicitárias e fetiches mercadorias para: nutrir o desenvolvimento da indústria cultural, turística, do entretenimento, e do capital financeiro em face da importância que a cultura passou a ter no cenário contemporâneo da dinâmica do capitalismo de acumulação flexível na pós-modernidade; as estratégias de governabilidade do estado local na periferia do capital, na competitividade global entre as cidades, fornecendo-lhe um produto diferente, singular e ‘’exótico’’ que elas possam oferecer no mercado mundial, com a contribuição na construção de suas imagens publicitárias no manejo dos conflitos, antagonismos sociais e estereótipos baianos. O trabalho tem como objetivo revelar como a cosmologia do povo-de-santo através do seu ‘’olhar cosmológico’’ da natureza nos terreiros de candomblé da Bahia são agenciados, mutilados, deturpados e substituídos pelo conceito de paisagem presente nos espaços públicos com temáticas afro-brasileiras na cidade do Salvador através do ‘’olhar paisagístico’’ e da reprodução técnica produzindo um desencantamento e uma dessacralização do cosmo via estetização da natureza através do enquadramento, emolduração, da fixação do quadro e da janela.

Palavras-chave: Cidade, Patrimônio Cultural Afro-brasileiro, Candomblé, Mercantilização.

Esse ensaio tem como objetivo, revelar, como o patrimônio cultural afro- brasileiro, manifestado na cosmologia do povo-de-santo com o seu ‘’olhar cosmológico’’ sobre a natureza nos terreiros^2 de candomblé^3 da Bahia são agenciados,

(^1) Professor Assistente DE da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFBA e Doutorando do Programa de Pós- Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia, PPGAU/UFBA. Endereço Postal: Rua Caetano Moura, 121 - Federação - CEP: 40210-350 -Salvador-BA – Brasil. E-mail: fabio.velame@ig.com.br. fabio.velame@hotmail.com/ (^2) Denomina-se terreiro o lugar onde as sociedades (ebé) do povo de santo, em sua forma de candomblé, instalaram-se, organizaram- se e desenvolveram-se. Segundo Juana Santos: [...] o ‘’terreiro’’, termo que acabou sendo sinônimo da associação e do lugar onde sepratica a religião tradicional africana. Esses ‘’terreiros’’ constituem verdadeiras comunidades que apresentam características especiais. Uma parte dos membros do ‘’terreiro’’ habita no local ou nos arredores do mesmo, formando às vezes um bairro, umarraial ou um povoado. Outra parte de seus integrantes mora mais ou menos distantes daí, mas vem certa regularidade e passa

mutilados e deturpados pelo ‘’olhar paisagístico’’ da sociedade mais ampla, que representam com o seu olhar etnocêntrico os Orixás^4 , os deuses africanos nagôs da Bahia, nos espaços públicos com temáticas afro-brasileiras. Com o ‘’olhar paisagístico’’ e com a reprodução técnica efetuou-se um desencantamento e uma dessacralização do cosmo afro-brasileiro via ‘’estetização’’ da natureza, processo esse que opera através do enquadramento, emolduração e da fixação da janela pictural. Esse processo de dessacralização e estetização do patrimônio afro- brasileiro que se apresenta de forma ampla em Salvador, visa a espetacularização e mercantilização desse patrimônio, tendo como matéria-prima os Orixás. A mercantilização da cultura opera uma apropriação e agenciamento das divindades seculares transformando-as em instrumentos publicitárias e fetiches mercadorias para: nutrir o desenvolvimento da indústria cultural, turística, do entretenimento no cenário contemporâneo da dinâmica do capitalismo de acumulação flexível na pós- modernidade; as estratégias de governabilidade do estado local na periferia do capital, na competitividade global entre as cidades, fornecendo-lhe um produto diferente, singular e ‘’exótico’’ que elas possam oferecer no mercado mundial, com a contribuição na construção de suas imagens publicitárias no manejo dos conflitos, antagonismos sociais e estereótipos baianos. Partiremos do verdadeiro habitat dos Orixás, o espaço sagrado^5 dos terreiros de Candomblé, o seu cosmo. Onde eles são verdadeiramente simbolizados e cultuados. A

períodos mais ou menos prolongados no ‘’terreiro’’, onde eles dispõem às vezes de uma casa ou, na maioria dos casos, de um quartonuma construção que se pode comparar a um ‘’compound’’. (SANTOS, 1998, p. 32).

(^3) A palavra candomblé é, atualmente, segundo Julio Braga: ‘’Nome pelo qual é conhecida, na Bahia, a comunidade religiosa afro- brasileira.’’ (BRAGA, 1995, p. 128). Estas sociedades são autônomas, não há hierarquias e relações de obediência entre os terreirosde candomblé. São unidades singulares onde cada um segue o seu curso, sua vida, sem a interferência dos demais. Entretanto, organizam-se e agrupam-se em relações de parentesco, amizade, e cooperação nas chamadas nações de candomblé. (^4) Os Orixás são as divindades nagôs reunidos em um panteão tendo no terreiro o seu lar. Em seus estudos, na África e no Brasil, Pierre Vergerengloba os vivos e os mortos. Os Orixás seriam, em princípio, um ancestral comum divinizado, que em vida estabelecera vínculos e estabelece ligações dos Orixás à noção de família, ou seja, a família numerosa oriunda de um mesmo antepassado, que relações que lhe garantia um controle sobre certas forças da natureza e do cosmos, como o trovão, o vento, as águas doces ousalgadas. Os Orixás seriam, também, aqueles que possuíssem a capacidade de exercer certas atividades como a caça, a pesca, o trabalho com metais, ou ainda, adquirindo o conhecimento das propriedades das plantas e de sua utilização para atividadesmedicinais e litúrgicas. E por fim Orixás é uma força pura, energia pura e concentrada da natureza, axé imaterial.

(^5) O espaço sagrado, segundo Mircea Eliade, é ‘’[...] ‘’forte’’, significativo, o único que é real, que existe realmente [...] revelação de uma realidade absoluta’’ (ELIADE, 1992, p. 21).sagrado no mundo, que possui como conseqüência destacar um território cósmico que o envolve e torná-lo qualitativamente Todo espaço sagrado implica em uma hierofania, irrupção ou manifestação do diferente. O sagrado ocorre porque existe o profano. Os dois só existem em suas relações e eles se relacionam não de maneirapolarizada ou dicotômica, mas sim de forma simultânea, coexistente, se conectam ao mesmo tempo, acontecem em um mesmo instante.qualitativamente as diversas partes da sua massa. O espaço geométrico pode ser cortado e delimitado seja em que direção for, sem Um espaço profano para Mircea Eliade é ‘’[...] um espaço homogêneo e neutro: nenhuma rotura diferencia qualquer diferenciação qualitativa – e, portanto, sem qualquer orientação – de sua própria estrutura’’ (ELIADE, 1992, p. 62). É umterritório desconhecido, estrangeiro, desocupado, fluida, indeterminado, amorfo, disforme, povoado de espectros, estranhos, monstros, demônios, que cercam e envolvem o cosmo, o ‘’nosso mundo’’.

No ‘’olhar cosmológico’’ do universo cultural do povo-de-santo não existem as manifestações artísticas ocidentais vinculadas a contemplações, experimentações, perceptos (novas percepções), afeições e blocos de sensações, mas uma arte^8 afro- brasileira singular que possui o seu sentido e diferença em seu valor de culto vinculada por sua dimensão ritual constituída pelo fluxo de energia vital, que lhe dinamiza. Nesse universo cultural as obras de artes com o seu valor artístico, só existem enquanto possuidora de valor de culto, enquanto artefato sacralizado. A obra de arte nessas comunidades através do ‘’olhar cosmológico’’ está intrinsecamente relacionada e conectada com o recebimento, contenção, potencialização, desenvolvimento, distribuição e compartilhamento do axé^9 , ou seja, a um processo dinâmico de fluxo de axé, de energia vital que possibilita a presença no mundo. O ‘’olhar cosmológico’’ do povo-de-santo fixa a morada dos Orixás em seus assentos. O caráter sagrado do assento é conferido por meio de um oro, cerimônia ritual, no decorrer do qual o axé é

(^8) Segundo Walter Benjamin em ‘’A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica’’, a forma mais primitiva de inserção da obra de arte no contexto da tradição se exprime no culto religioso, sendo que ela nunca se separa completamente de sua funçãoritual, a obra de arte sempre tem um valor teológico e sagrado, mesmo nas formas mais profanas de culto do belo. O valor de culto, como se coloca, quase obriga a manter secretas as obras de artes (certas estátuas divinas somente são acessíveis aos sumossacerdotes). A obra de arte se inscreve e pertence a uma das noções centrais em Walter Benjamin, a esfera da experiência, definida como aquelas impressões que o psiquismo acumula na memória, no inconsciente, de forma paulatina ao longo do tempo através datradição, às excitações que nunca se tornam consciente. A técnica a partir da revolução industrial, com sua capacidade de reprodução dos artefatos, torna-se um instrumento central para a transposição do valor de culto para o valor de exposição. Ela abriuespaço, caminho e ocasião para a emancipação da obra de arte de seu uso ritual e do seu caráter sagrado, onde a exposição constrói o universo da mercadoria. A aura da obra de arte com a reprodutibilidade técnica desaparece, e com ela o seu valor de uso, retira-sedos objetos culturais de seu invólucro destruindo sua aura. A técnica abre caminho para uma pseudo-aura, o da mercadoria, que assumi um valor de troca, cujo fetichismo suscita no consumidor ou no turista uma atitude alienante alimentada pela esfera davivência. A vivência é definida como aquelas impressões cujo efeito do choque nos sentidos extremamente aguçados pela modernidade é interceptado pelo sistema percepção-consciência, e por isso mesmo somem de maneira instantânea sem seincorporarem à memória. São mercadorias vendidas com uma roupagem de arte tidas como novidades, oriundas da necessidade das massas de fazer as coisas se acercarem e aparentarem humanas, próximas, especialmente em superar o caráter único dos fatos,acolhendo a reprodução destes fatos sob seu domínio não mais inacessível, e da necessidade das massas de desnudar o objeto em seu invólucro. São os sinais de uma percepção cuja capacidade de observar o idêntico no mundo é tão aguçada que consegueperceber este idêntico através da reprodução, inaugura-se à era dos simulacros. Subjuga-se, logo, a esfera da experiência a da vivênciatradição, onde os objetos do mundo transformam-se em fetiches mercadorias. , do valo de culto a exposição, o valo de uso ao de troca, constituindo um verdadeiro, impactuante e profundo abalo da

(^9) O axé é o elemento fundamental, central e dinamizador do candomblé (além do iwa e do ábá), é o elemento imaterial que permeia todos os seres e coisas do mundo. Segundo Pierre Verger, ‘’[...] àse é poder em estado de energia pura [...]’’ (VERGER, 2002, p.18). Juana Santos conceitua o axé da seguinte forma:‘’O àsé é contido nas substâncias essenciais de cada um dos seres, animados ou não, simples ou complexos, que compõem o mundo [...] O àsé é um poder de realização, transmitido através de uma combinaçãoparticular, que contém representações materiais de uma combinação partircular, que comtém representações materiais e simbólicas do branco, do vermelho e do preto, do àiye e do òrun [...] trata-se de um poder que se recebe, se compatrtilha e se distribui atravésda prática ritual, da experiência mística iniciatica durante a qual certos elementos símbolico servem de veículos’’ (SANTOS, 1986, p. 41 a 43).

Fonte: Fábio Velam^ Fig.01:^ Assento dee, Itaparica, Bahia,^ Ogum^ na Cajazeira 08/02/2006..

transmitido e armazenado temporariamente. É o axé que permite aos objetos funcionar e adquirir todo o seu pleno significado sagrado. Como toda força, o axé é transmissível, é conduzido por meios materiais e simbólicos, e acumulável, pode ser transmitida a objetos ou a seres humanos, portanto, dever ser periodicamente alimentado pelos veículos guardadores dos axés de todos os Orixás. O Odá Orixá (ver Fig.02) ou a árvore sagrada (ver Fig.03) são os dois elementos básicos e fundamentais em qualquer assento, sem eles a fixação do axé dos Orixás não se realizaria. Segundo, Pierre Verger:

Era preciso, para que o culto pudesse ser criado, que, assim como os Mogba de Sàngó de que trataremos mais adiante, um ou vários membros da família tivesse sido capaz de estabelecer o Odà Òrìsà, definido por O. Epega como sendo um vaso enterrado no chão, até mais ou menos três quartos de sua altura, pelos seus adeptos. Ele serve de recipiente ao objeto suporte da força, o àse do Òrisà. Este objeto suporte é, segundo Cossard-Binon, a base material palpável, estabelecida pelo orixá, que receberá a oferenda e será impregnada pelo sangue do animal sacrificado. Devidamente sacralizado, será o traço de união entre os homens e a divindade. A natureza desses objetos esta ligada ao caráter do deus, quer por ser dele uma emanação como a pedra do raio, édùn ara, de Sàngó, ou um seixo do fundo de um riacho, ota, de òsun, Oya ou Yemoja, quer seja um símbolo, como as ferramentas de Ògún ou o arco e a flexa de Òsóòsi. (Verger, 2002, p.18).

E Roger Bastide evidencia o vinculo do candomblé com a natureza sacralizada. O ‘’olhar cosmológico’’ do povo-de-santo desvela a importância assumida pelas árvores sagradas (ver Fig.04) no espaço do terreiro e central no assento de alguns dos Orixás:

[...] vê-se também muitas vezes, nas moitas emaranhadas, uma ou duas árvores cujos galhos trazem pendurados pedaços de pano branco chamados ojás, e ao pé

Fig.02: Odá Orixá de Ossain. Fonte: Pierre Verger Terreiro Viva Deus de Cachoeira.^ Fig.03: Assentos de Orixás do Fonte: IPHAN – Arq. João LealLegal.

O universo através do ''olhar cosmológico'' se coloca de tal forma que o homem religioso, ao experimentá-lo, percebe as diversas formas do sagrado e, conseqüentemente, do ser. Antes de qualquer coisa, o cosmos existe, está ali, possui um sistema de funcionamento, de fluxo da vida, e guarda uma transparência, pois possibilita a revelação dos vários aspectos e dimensões do sagrado. O cosmos é a síntese das modalidades das hierofanias, tornando o mundo algo vivo, real e sagrado. A mata sagrada materializa esta síntese. Ela simboliza a floresta africana, possui uma importância fundamental para o povo-de-santo, uma vez que constitui uma imagem mística da terra natal, uma resiginificação da mãe África. A mata sagrada localiza-se na área mais isolada, conservada e guardada do espaço sagrado privado do terreiro. Está na extremidade, longe do acesso dos não iniciados e dos olhares de curiosos. Constitui o ‘’quintal’’ do terreiro, o chamado Ika (SANTOS, 1998, p. 111). Assim é descrito o Ika na África:

Interessante notar que é no Ika-quintal-que Iyá-mi tem instalado Égún, Orò, etc. O Ika também é chamado de èhìnkùlé e conseqüentemente ligado a èhìn, o atrás, o poente, os ancestrais; mas principalmente é chamado de àgbàlá, substantivo derivado do verbo gba: contém, recebe (à + gbà + lá), neste sentido trata-se de um lugar continente [...] Num outro verso, o Ika é comparada a igbó, ‘’mato’’, o espaço – ‘’mato’’, perigoso, povoado de espíritos. (SANTOS, 1998, p. 111).

O mato sagrado contém árvores, ervas, arbustos e folhas sagradas que contêm princípios poderes do axé indispensáveis para os rituais, atividades litúrgicas do terreiro, práticas medicinais e oferendas às divindades (Ver Fig.03 e 04). É um espaço perigoso, acessível somente aos sacerdotes e à alta hierarquia feminina, porque se constitui numa rede de fluxos de axé, de poder que advém de cada vegetal sacralizado. Estas energias interagem umas com as outras, e, unidas, criam uma corrente extremamente potente, uma rede de axé, constituindo cargas muito fortes e prejudiciais a não iniciados e iniciados em ritos incompletos, não preparados para suportar tamanho poder que deve ser mantida imaculada:

Nós queremos aqui levantar um muro em volta de todo o terreiro de fora a fora, pra impedir de uma vez que alguém entre na casa, ou que fique olhando, isolar

qualquer curioso, mas sem derrubar uma árvore, pelo contrário agente tem que plantar mais plantas e árvores principalmente licurizeiros e dendezeiros tanto nesta área do Lessem aqui, e principalmente nesta área aqui deve ficar envolvido pelas árvores, mas o fundamental como eu lhe disse antes é fortalecer o axé [...] está área tem que ficar como axé sempre forte, puro [...] (informação verbal)^10.

Na mata sagrada, são realizados os rituais específicos do culto durante as festas as divindades, assim como são feitos os serviços religiosos a terceiros, interagindo, integrando e aproveitando toda a potencialidade deste campo energético que é a mata sagrada. Também constitui-se em uma das moradas dos ara-orum, os habitantes do orum, os mortos, e dos ancestrais. Algumas árvores, arbustos e plantas além de terem um valor de culto, um valor sagrado, possuem valor medicinal ou são utilizadas na feitura de comidas específicas dos Orixás e ancestrais, os Egum. Segundo Agostinho dos Santos, Ojé Abá (sacerdote do culto aos Egum) do Omo Ilê Aboulá, Itaparica, Bahia:

[...] quando eu comecei a entender era mais aqui cajueiro, era bananeira que tinha por aí esses pés aí de nicurizeiro, são gonçalino e assim [...] É importante sim tem um pé de para-raio como ele ali tomou nota de tudo pegou ali cajueiro brabo que eu mostrei a ele que não é o mesmo cajueiro que dá o caju aí ele por que cajueiro brabo é que os antigos diziam que era cajueiro brabo então a gente continua né com o mesmo aí mostrei o pé de nativo ali mostrei o peteresinho ali arrodiado de onilé que são folhas que servem pra gente fazer pessoas que as vez vem de lá com influência de exu de egum agente faz e ajunta com mais outras folhas e preservar isso tudo é importante junto com a casa isso tudo por que tudo precisa de banho de folha e qualquer influência que chega aqui o crente não sai sem tomar o banho de folha que é o necessário por que se o crente vem pegado é claro que tem que descarregar pra ele voltar já diferente do que ele veio. (CAETANO, Vilson; SOARES, Cecília, 2006). O ‘’olhar cosmológico’’ do povo-de-santo tornam visíveis os Orixás simbolizados por seus emblemas, objetos simbólicos, e assentados em objetos suportes sagrados, ou seja, em vasos, pedras, ferramentas e árvores, onde são depositados os seus axé. Assim Exu é simbolizado por um tridente sobre um montículo de terra, ou por um montículo de terra com búzios, até por um montículo de terra com um pênis em ferro forjado representando a fertilidade; Ogum, deus da guerra e do ferro, pelo conjunto de suas ferramentas de ferreiro em ferro forjado (ver Fig.05); Oxossi, divindade da caça e das matas, por um arco e flecha, o ofá (ver Fig.06); Xangô, deus da justiça, trovão e do fogo, por seu machado duplo, o oxê (ver Fig.07); Ossaim, deus das folhas sagradas, por (^10) Informação fornecida por Balbino Daniel de Paula, Alabá do Omo Ilê Aboulá em Ponta de Areia no município de Itaparica em 10 de maio de 2006.

Portanto, os Orixás, energia em estado puro e concentrado da natureza, que são fixados em vasos, emblemas, ferramentas, pedras, e árvores distribuídos em seus templos e ou assentos com seus respectivos pejis, onde o seu axé é renovado através de seus alimentos, água e suas ervas, do sangue dos animais a eles consagrados, e do comprimento das obrigações de seus filhos constituem algo que é único, autêntico, irreprodutível, inacessível e intocável. Eles têm nessa natureza sagrada oriunda do ‘’olhar cosmológico’’ do povo-de-santo, o seu valor artístico intrínseco e constituído pelo seu valor de culto e seu valor de uso, tem aí a sua aura^13. O terreiro é um bastião da esfera da experiência , formando-se a partir das marcas e impressões inconscientes oriundas dos rituais cíclicos, dos mitos, lendas, histórias, símbolos, ethos (ética, moral e estética), visão do mundo e do cosmos que são transmitidos oralmente de geração em geração numa dimensão temporal própria, que o psiquismo lança na memória individual e coletiva, fundindo-as, formando e alimentando a tradição. Os orixás em seus pejis são objetos culturais, cuja excelência se dá por sua qualidade e capacidade de suportar o processo vital do tempo. São pertences eternos do mundo. Os Orixás em objetos suportes relacionam-se com a cultura^14 (o cultivar, habitar, tomar conta, criar e preservar) tornando-se um fenômeno do mundo. Os espaços públicos na contemporaneidade das cidades, tanto nos centros quanto nas periferias do capital, se inserem na lógica de publicidade e de exposição, são feitos para serem vistos e posteriormente consumidos. Visam à estetização e a espetacularização da natureza, cidade e da vida, sejam eles presentes nas áreas degradadas da cidade que passam por revitalizações visando processos de gentrificações, voltados para as classes médias, com um caráter de empreendedorismo urbano com associações da iniciativa privada com o estado, tanto quanto, e principalmente, presentes na revitalização de centros tradicionais e nos circuitos turísticos. E Salvador não foge a regra, pelo contrário, a partir dos anos de 1990 inúmeras foram às iniciativas de resgate de parques e praças da cidade, seja pelo estado,

(^13) Walter Benjamin define áura como ’’[...] sendo uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais, a aparição única de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja’’. (Benjamin, 1996, p.171). A aura contida nas obras de arte clássicaderiva historicamente da tradição religiosa, dividindo com o objeto de culto as características de ser única, irreprodutível, autêntica e intocável. A característica espacial passa a ser à distância e seu substrato é a autenticidade da obra, concebida como o aqui e o agorada obra de arte, do original, sua existência única no lugar onde ela se encontra, constituem-se na essência de tudo o que foi transmitido pela tradição. (^14) Entende-se aqui cultura dentro da concepção da Antropologia Hermenêutica ou Antropologia Interpretativa de Clifford Geertz: ‘’[...] um padrão de significados transmitidos historicamente, incorporados em símbolos, um sistema de concepção herdadasexpressas em formas simbólicas por meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades em relação à vida.’’ (GEERTZ, 1978, p. 103).

prefeitura e iniciativa privada^15. Sendo que em algumas delas, notadamente nos espaços públicos encontrados nos circuitos turísticos vêem paulatinamente abordando a temática do candomblé, inserindo as divindades nagôs, os Orixás, na composição de suas paisagens, centrado nas diversas representações dos Orixás como: o Dique do Tororó (ver Fig.08), os Correios da Av. Paulo VI (ver Fig.09), o Parque de Pituaçú (ver Fig.10), o Largo de Santana, o Parque das Esculturas, o Centro da Ancestralidade na Av. Oceânica no trecho do Rio Vermelho, a casa de Iemanjá no Rio Vermelho, a Sereia de Itapuã, e a Praça de Mãe Runhó no Engenho Velho da Federação.

Essas representações dos Orixás e elementos ou objetos rituais também estão presentes na decoração de eventos e festas populares durante o ano, como: Santa Bárbara, o Carnaval (ver Fig.11, 12) lavagem do Bonfim, festa de Iemanjá (02/02), lavagem de Itapuã, etc... As representações dos Orixás, nesses espaços públicos, sejam de forma permanente ou temporária nos eventos festivos ocupam o primeiro plano da cena dessas paisagens, essas representações dos Orixás dominam a composição paisagística.

(^15) Nos anos de 1990 em Salvador foram revitalizados os seguintes espaços públicos da cidade: pelo estado via Programa de Áreas Degradadas de Salvador pela CONDER: Parques do Abaeté, Pituaçú, Costa Azul, das Esculturas, Jardim dos Namorados, Atlântico,Dique do Tororó e Jardim de Alá; praças realizadas pela prefeitura municipal via SEPLAM: praças da Piedade, da Sé, Marechal Deodoro, Nossa Senhora da Luz, do Reggae, ACM – Arte, Cultura e Memória, Bahia Sol, Aflitos, Lapinha, Mirante do Bonfim,Campo Grande; praças adotadas pelo Programa Municipal de Adoção de Praças, Áreas Verdes, Monumentos e Espaços Livres: praças da Inglaterra (Banco Excel), Marconi (Lebram), Aquários (Grupo Fator), Newton Rique (Iguatemi), IBIT (Fundação JoséSilveira), Mariquita (Bingo do Rio Vermelho), Amaluz (Loteamento Cidade Luz), Tarumã e São Vicente (Associação de Moradores do Caminho das Árvores), Campo da Pólvora (Tribunal de Justiça da Bahia), Av. ACM e Parque da Cidade (Petrobrás).

Fig.08: Esculturas de Orixás em polietileno de Tati Moreno no Dique do Tororó. Fonte: Fábio Velame, Salvador, Bahia, 2006.

Fig.09: Oxalá em chapa metálica de Mário Cravo nos Correios - Av. Paulo VI. Fonte: Fábio Velame, Salvador, Bahia, 2006. metálica de Mário Cravo no Parque^ Fig.10: Exu dos Ventos em chapa de Pituaçú. Fonte: Espaço MárioCravo, Salvador, Bahia, 2006.

claras e vaporosas para aquilo que estava distante e avança, notadamente, com as abordagens geográficas^17 a partir da segunda metade do século XVIII. O ‘’olhar paisagístico’’ da sociedade mais ampla aliada à reprodução técnica nos espaços públicos opera uma dessacralização do cosmo afro-brasileiro através do processo de ‘’estetização’’ e ‘’espetacularização’’ da natureza. Essa estetização do ‘’olhar paisagístico’’ se dá através do enquadramento, emolduração da natureza, ou seja, a fixação do cosmo numa janela pictural, que retira o valor de culto dos artefatos afro-brasileiros substituindo-os pelo valor de exposição, retiram delas a sua áurea. A moldura, o quadro, a janela do ‘’olhar paisagístico’’ não vêem os deuses que criaram e regem a natureza, não vêem o cosmo sagrado, tornam invisíveis as divindades, os ancestrais, os mortos. O ‘’olhar paisagístico’’ é cego a qualquer hierofania, as diversas manifestações do sagrado no mundo. O ‘’olhar paisagístico’’, nos espaços públicos esvaziam o ‘’olhar cosmologico’’ , segundo Paul Claval,:

A análise antropológica das relações com a paisagem implica, portanto, uma reflexão sobre as formas de visão englobante que caracterizariam o mundo ainda encantado das religiões tradicionais, onde o sagrado estava em todos os lugares, e sobre as relações entre o desencantamento do mundo e a estetização da visão da natureza. (CLAVAL, 2004, p.14).

Os espaços públicos através do ‘’olhar paisagístico’’ dessacraliza a natureza, subjulga o valor de culto, e lança na paisagem o valor de exposição. Possibilitando um raio de visibilidade maior para a sociedade, pois pertence eminentemente à esfera da vivência, onde o efeito do choque é interceptado pela consciência , faz-se necessário à utilização de códigos de representação fáceis e rápidos de serem apreendidos, e conseqüentemente consumidos.

(^17) Os geógrafos preocuparam-se e debruçaram-se sobre a paisagem desde o momento em que a disciplina surgiu. A paisagem nesse campo tem uma 1º etapa de desenvolvimento até segunda metade do século XVIII com os viajantes e os naturalistas cuja abordagemcaracterizava-se pela descrição física do relevo, vegetação, animais, instalações humanas, todavia com uma configuração de quadros sem vida, destacam-se os trabalhos de Bernardin de Saint-Pierre, Lineu, Alexandre von Humboldt; a 2º etapa surgiu no final doséculo XVIII com os avanços da geologia e da ecologia que problematizam a paisagem enquanto ambiente oriundas de interfaces entre atmosfera/litosfera – hidrosfera como suporte da biosfera, é chamado o momento das sínteses, destaca-se o trabalho pioneirode Eduard Suess; a 3º etapa surge no final do século XIX, com os avanços da antropologia, que possibilitou a delimitação da geografia humana e da antropogeografia, caracteriza-se pela proposição da paisagem como interface entre homem-natureza,buscando estudar as relações complexas que se desenvolvem entre os homens e os ambientes onde eles vivem, a influência que o meio exerce sobre os indivíduos e grupos procurando medir as transformações que a atividade humana desencadeia no meioambiente, destaca-se o trabalho de Ratzel, essa abordagem possibilitou o surgimento das leituras funcional, arqueológica, comparativas e análises históricas da paisagem; a 4º etapa epistemológica de abordagem da paisagem surge no anos de 1970 com ainfluência das filosofias fenomenológicas que rompem com o dualismo homem/matéria, mas passa a tratar a paisagem como sendo algo cheio de sentido, significado, de percepções, propõe um retorno as sensações, colocando em suspenso a formação clássica daescola formal, voltando as coisas mesmas, com uma descrição densa, minuciosa, e critica das sensações compreender as paisagens como elas são penetrando no seu sentido, a paisagem é colocada como uma criação do olhar do observador e depende do pontos devista e do enquadramento que este lhe confere, com a fenomenologia o geógrafo não estuda mais a paisagem como apenas uma realidade objetiva mais insere o plano subjetivo, intencional, corporal, simbólico, afetivo, destaca-se os trabalhos de Roger Brunet,Gilles Sautter, Augustin Berque, Watsuji Tetsoro.

Esses códigos de representação são dados pelo ‘’olhar paisagístico’’ que estetiza a natureza nas criações, composições e construções dos espaços públicos enquadrando, congelando e emoldurando os Orixás, agenciando-os, atribuindo-lhes formas antropomórficas, monumentais, gigantescas, desprovidas de qualquer relação simbólica, ritual e espacial com o universo do candomblé, feitas dos mais diversos materiais, da madeira ao aço inox, viabilizados pela possibilidade da reprodução técnica, retirando qualquer vestígio da aura, tornando as coisas humanas, superando o caráter único dos fatos, e vestindo produtos mercadorias vendidas como arte com as mortalhas da aura usurpada da cultura nagô, provocando uma estetização, espetacularização e aureficação do fetiche mercadoria via dessacralização e desencantamento da natureza-cosmo da cultura afro-brasileira. Os espaços públicos compostos pelo ‘’olhar paisagístico’’ constituem o cenário e o palco dos Orixás congelados, sedentários e emoldurados, tornando-os um mero produto diferente e exótico ao entretenimento alimentando o processo vital da sociedade de massa. Sempre permeados de elementos formais e formas referências totalmente legíveis para homem da sociedade de massa atribuindo-lhe uma pseudo-diferença cultural, através de um produto reconhecido e legitimado pelo estado. Servem para matar ou passar o tempo, um tempo em que não estão libertados totalmente do processo vital, constituí-se num tempo de sobra da reprodução da vida, do terreno da necessidade, um tempo voltado para a diversão. O espaço público torna-se mais um palco para o consumo fácil de objetos culturais, devorando-os_._

Conclusão.

O ’’olhar cosmológico’’ da natureza sacralizada do povo-de-santo, no âmbito de uma cultura religiosa tradicional, é esvaziado, mutilado, deturpado e agenciado pelo ‘’olhar paisagístico’’ da sociedade paisagística ocidental. O ‘’olhar paisagístico’’ opera nos espaços públicos em Salvador um processo de ‘’desencantamento’’ do cosmo afro- brasileiro. Essa ‘’dessacralização’’ se dá através da ‘’estetização’’ e ‘’espetacularização’’ da natureza. Processo esse que utiliza como instrumentos e ferramentas de agenciamento a reprodução técnica e o enquadramento, emolduração da natureza sacralizada fixando-a em uma janela pictural, tornando-a profana, independente e autônoma.

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