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A Consciência do Operário em Construção, Notas de estudo de Construção

Vinícius de moraes escreve sobre a transformação de um operário em construção, que, enquanto ergue casas e edifícios, desconhecia a grande missão de sua profissão. Ele descobre que a casa é um templo e a sua liberdade e escravidão, e que a coisa faz o operário e vice-versa. O poema explora as realizações e sofrimentos do operário, que finalmente compreende a importância de sua profissão e a dimensão da poesia.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Luiz_Felipe
Luiz_Felipe 🇧🇷

4.4

(175)

222 documentos

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Operário em Construção
Vinícius de Moraes
Era ele que erguia casas
Onde antes so' havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as asas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Nao sabia por exemplo
Que a casa de um homem e' um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa quer ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato como podia
Um operário em construção
Compreender porque um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pa', cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com sour e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Alem uma igreja, à frente
Um quatel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Nao fosse eventuialmente
Um operário em contrucão.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
`A mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma subita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão
Era ele quem fazia
Ele, um humilde operário
Um operario em construção.
Olhou em torno: a gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
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Operário em Construção

Vinícius de Moraes

Era ele que erguia casas Onde antes so' havia chão. Como um pássaro sem asas Ele subia com as asas Que lhe brotavam da mão. Mas tudo desconhecia De sua grande missão: Nao sabia por exemplo Que a casa de um homem e' um templo Um templo sem religião Como tampouco sabia Que a casa quer ele fazia Sendo a sua liberdade Era a sua escravidão.

De fato como podia Um operário em construção Compreender porque um tijolo Valia mais do que um pão? Tijolos ele empilhava Com pa', cimento e esquadria Quanto ao pão, ele o comia Mas fosse comer tijolo! E assim o operário ia Com sour e com cimento Erguendo uma casa aqui Adiante um apartamento

Alem uma igreja, à frente Um quatel e uma prisão: Prisão de que sofreria Nao fosse eventuialmente Um operário em contrucão. Mas ele desconhecia Esse fato extraordinário: Que o operário faz a coisa E a coisa faz o operário. De forma que, certo dia `A mesa, ao cortar o pão O operário foi tomado De uma subita emoção Ao constatar assombrado Que tudo naquela mesa

  • Garrafa, prato, facão Era ele quem fazia Ele, um humilde operário Um operario em construção. Olhou em torno: a gamela Banco, enxerga, caldeirão Vidro, parede, janela Casa, cidade, nação! Tudo, tudo o que existia

Era ele quem os fazia Ele, um humilde operário Um operário que sabia Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento Nao sabereis nunca o quanto Aquele humilde operário Soube naquele momento Naquela casa vazia Que ele mesmo levantara Um mundo novo nascia De que sequer suspeitava. O operário emocionado Olhou sua propria mao Sua rude mão de operário De operário em construção E olhando bem para ela Teve um segundo a impressão De que nao havia no mundo Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro dessa compreensão Desse instante solitário Que, tal sua construção Cresceu tambem o operário Cresceu em alto e profundo Em largo e no coração E como tudo que cresce Ele nao cresceu em vão Pois alem do que sabia

  • Excercer a profissão - O operário adquiriu Uma nova dimensão: A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu Que a todos admirava: O que o operário dizia Outro operário escutava. E foi assim que o operário Do edificio em construção Que sempre dizia "sim" Comecam a dizer "não" E aprendeu a notar coisas A que nao dava atenção: Notou que sua marmita Era o prato do patrão Que sua cerveja preta Era o uisque do patrão Que seu macacão de zuarte Era o terno do patrão Que o casebre onde morava Era a mansão do patrão Que seus dois pes andarilhjos Eram as rodas do patrão Que a dureza do seu dia

Sera' teu se me adorares E, ainda mais, se abandonares O que te faz dizer não.

Disse e fitou o operário Que olhava e refletia Mas o que via o operário O patrão nunca veria O operário via casas E dentro das estruturas Via coisas, objetos Produtos, manufaturas. Via tudo o que fazia O lucro do seu patrão E em cada coisa que via Misteriosamente havia A marca de sua mão. E o operário disse: Não!

  • Loucura! - gritou o patrão Nao ves o que te dou eu?
  • Mentira! - disse o operário Nao podes dar-me o que e' meu.

E um grande silêncio fez-se Dentro do seu coração Um silêncio de martirios Um silêncio de prisão. Um siêncio povoado De pedidos de perdão Um silencio apavorado Com o medo em solidão Um silêncio de torturas E gritos de maldição Um silêncio de fraturas A se arratarem no chão E o operário ouviu a voz De todos os seus irmãos Os seus irmãos que morreram Por outros que viverão Uma esperanca sincera Cresceu no seu coração E dentro da tarde mansa Agigantou-se a razão De um homem pobre e esquecido Razao porem que fizera Em operário construido O operário em construção