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Este texto descreve as experiências espirituais vivenciadas durante uma reunião espiritual, onde o espírito santo é percebido como presente e ativo. O autor relata as manifestações que ocorreram, como glossolalia, êxtase e profecias, e reflete sobre a importância dessas experiências na vida espiritual e teórica. O texto também discute a relação entre o batismo do espírito santo e a missão de estabelecer o reino de deus.
O que você vai aprender
Tipologia: Resumos
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Matricula nº: 20805099 NITERÓI/RJ NOVEMBRO DE 2015
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense como Requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Ciências Sociais Orientadora: Profa. Dra. Renata de Sá Gonçalves NITERÓI-RJ NOVEMBRO DE 2015
O presente trabalho se concentra na dinâmica de inserção de campo e em reflexões sobre estratégias do trabalho etnográfico como deixar-se afetar por uma experiência intercultural, avaliando de forma introdutória os resultados de tal caminho metodológico. O trabalho também trata de uma experiência pentecostal específica centrada em práticas rituais de cura e em diferentes sensibilidades corporais. Palavras-Chave Pentecostalismo; Ser afetado; Sensibilidades corporais; Discipulado Orgânico; Pier49.
enfim, as nossas sensações nos coagem a escrever, experimentar, fazem-se presentes em nossas decisões e na relação que construímos com aqueles que estudamos. Durante dois anos fiquei muito preocupado em escrever uma etnografia, mas, talvez não percebia que essa experiência já me "produzia". Há algo de existencial nesse processo. A etnografia não é apenas a descrição detalhada da experiência do outro e sua cultura, mas também de realizar referências exaustivas à nossa relação com os nossos interlocutores e como essa experiência tem nos afetado e como a nossa presença tem afetado os acontecimentos que estamos estudando. Em outras palavras, além de descrever as práticas culturais do outro, é muito importante perceber de que forma a nosso engajamento no lócus de pesquisa etnográfica tem afetado discursos, lugares e percursos de nossos interlocutores. A escrita possui um efeito de demarcação. Não apenas mostra em que lugares e práticas estão localizados os meus interlocutores, mas também expressa para aquele que escreve, o lugar em que está. Falo de um lugar, possuo pertencimentos. Em alguns casos, não apenas dizer em termos ideológicos e políticos, mas também dizer que passamos a pertencer à nossa própria pesquisa. A nossa narrativa ganha fôlego, vida. Pertencemos àquele lugar de liminaridade, peculiar à experiência etnográfica. Não vestimos uma roupa de pesquisador ou apenas performamos um linguajar característico, mas de fato a nossa subjetividade está enraizada no processo. Sem dúvida, nos transformamos nessa relação. Podem ser mudanças muito sutis ou extremas, mas algum desvio acontece nesse jogo de encontros, ligações e dissociações. O nosso esforço para transformar esses encontros em um texto altera a vida de nossos interlocutores e também a nossa. No primeiro capítulo descrevo a minha inserção na pesquisa e o processo de construção da pesquisa como objeto de construção da monografia. Descrevo entre ponderações, mudanças e escolhas, os encontros com interlocutores chaves para o trabalho de campo e a minha inserção na organização pesquisada. No segundo capítulo, descrevo a consolidação de minha inserção no campo e como isso se articulava com as minhas buscas pessoais. No terceiro capítulo, apresento questões de reflexão de metodologia de campo, articulando com a noção de ser afetado (Fravet-Saada, 2005).
A história começa quando eu precisava escolher um tema de pesquisa, em uma disciplina de metodologia de trabalho de campo. Interessa-me por estudos em religião e cristianismo. Importante, então, dizer alguns dos meu pertencimentos sócio-culturais. Era membro da igreja de Nova Vida, situada em Estrela do Norte, bairro da cidade de São Gonçalo. Lá, participava de algumas atividades e pertencia ao corpo de membros da igreja. Alguns de meus parentes fazem parte dessa congregação e, inclusive, ocupam cargos de liderança. O meu tio, o bispo Ademir Batista - irmão de minha mãe, Marlene Batista - é o líder da igreja local e um dos seis bispos que formam a cátedra de bispos da organização Nova Vida. A cátedra de bispos é o posto mais alto de liderança da organização. As dificuldades logo apareceram devido a questões metodológicas e a problema de ordem ética. Aquele era o lugar dos meus afetos (Fravet-Saada, 2005). E aqui me aproprio da noção de afeto como algo não representado , uma comunicação desprovida de intencionalidade e espontânea (Fravet- Saada, 2005). Isso poderia dificultar o movimento de distanciamento e a desconstrução de um senso comum introjetado por um longo período de socialização; um corpo socialmente informado (Bourdieu, 1977). Mas, acredito que o problema maior seria de ordem ética, posto a minha participação nas atividades da igreja e, principalmente, alguns inconvenientes que a pesquisa poderia acarretar junto à liderança da igreja. Algumas impressões indesejadas poderiam ser criadas a partir das atividades comuns à pesquisa, como busca por dados estatísticos da instituição, a realização de entrevistas e o próprio texto etnográfico, que poderia causar estranheza pela linguagem exótica da antropologia. De fato, eu estava em um lugar privilegiado para descrever as atividades da igreja, mas poderia causar alguns problemas com a intimidade e proximidade das minhas palavras. O meu lugar privilegiado, também era um lugar de tensão, pois conheceria alguns atalhos, o que tornaria a minha pesquisa bastante aguda, mas teria problemas quando a anunciasse aos meus interlocutores - amigos, companheiros de trabalho, líderes etc -. Seguindo conselhos de minha orientadora, a professora doutora Renata Gonçalves, busquei um novo lugar para pesquisa. O meu desejo era permanecer com o tema cristianismo e, por isso, escolhi uma outra igreja evangélica, a Bola de Neve Church 1 em São Gonçalo. Já havia visitado o lugar algumas vezes sem objetivos acadêmicos. A pesquisa tornou-se interessante pelas peculiaridades da instituição em relação às outras igrejas também (^1) A instituição adotou o termo em inglês church para compor o nome da organização.
lugares e as pessoas apertavam-se devido ao pouco espaço. As dimensões do salão não comportavam mais aquela quantidade de pessoas. Logo depois de ter chegado ao lugar, buscava concentrar-me no meu objetivo, o trabalho de campo. Fiquei em pé, entoando as canções e pensando na estratégia de trabalho. Pensei em simplesmente observar e escrever tudo que se passava na reunião. Conclui que seria indiscrição demais. Outra estratégia seria apenas participar do culto como um visitante, interessado no culto religioso. Entretanto, concluiria a partir de outras visitas, que aquele lugar se tornaria um lócus, um recorte, uma descrição etnográfica, objeto de reflexão teórica, mas também um ótimo lugar para se adorar a Deus e sentir o Espírito Santo. Para um cristão e postulante a etnógrafo, o lócus de pesquisa era também um lugar de afetos , de experiência religiosa. Acredito nessa abordagem, sem ocultar as ambiguidades, expressando afetos , inclinações, não abrindo mão do objetivo de se produzir um texto etnográfico. No caso de Fravet-Saada (2005), deixar-se ser afetada era o caminho para trabalho etnográfico; caso contrário não passaria de entrevistas e comunicações triviais e rasteiras. No meu caso, ser afetado era minha condição. Eu já era um cristão e poderia fazer proveitos, tomando algumas precauções. As informações colhidas no campo se tornariam dados para a construção de um objeto científico. Fravet-Saada, inclusive, propõe a separação das operações de conhecimento no tempo: "...no momento em que somos mais afetados, não podemos narrar a experiência; no momento em que a narramos não podemos compreendê- la.O tempo da análise virá mais tarde." (Fravet-Saada, 2005, p.160). Voltando ao culto, lá estava eu, no meio de um dos meus momentos litúrgicos prediletos, o louvor , a adoração. Esse momento ritual se caracteriza pelo entoar de uma sequência de canções, geralmente 5 ou 6 músicas. Na Bola de Neve Church, inicia-se com a leitura de um texto bíblico pelo pastor ou pastora e, após isto, o microfone é passado ao líder de adoração 3
. Já na leitura do texto bíblico, existe um fundo melódico bastante envolvente. As canções começam, e as sonoridades percorrem todo salão. As melodias são intensas e no caso da Bola de Neve Church, dois estilos musicais prevalecem na organização do ritual, o rock, o reggae e as suas diversas modalidades. Ouço melodias intensas, envolventes. Os fiéis tornam-se adoradores. Os seus corpos afetam-se mutuamente, no balanço do instrumental. Melodias longas e persistentes. Algumas canções são repetidas em trechos chaves, onde o refrão parece penetrar o corpo de cada adorador. Alguns são "arremessados" pelo refrão para a posição do ajoelhar-se, outras esticam as mão e o corpo para o alto, buscando tocar a Divindade. A música se torna um (^3) É a pessoa responsável pela equipe de música, incluindo vocalistas e instrumentistas.
portal de entrada dessa Divindade tão ansiada, o Espírito Santo. A voz rouca da líder de adoração , o refrão da canção e a densidade do aparato instrumental expressam a imagem de um fervor crescente entre os adoradores. No balanço do Espírito Santo , o louvor é o ambiente de algumas manifestações extraordinárias como a glossolalia 4 e o êxtase. Nesse contexto tais expressões são modalidades da experiência do Batismo do Espírito Santo. Essa experiência é descrita como um manifestação sobrenatural e real com Deus. Seria uma segunda iniciação, após a conversão/salvação. Os corpos tremem e gemem. A vocalista lança a sua voz estridente e grave pelo templo e as notas alcançadas pelas canções que entoa se tornam forças que eclodem pelos corpos adoradores provocando um movimento característico. Cada corpo é estimulado para afetarem-se mutuamente. O poder do Espírito Santo 5 flui do cantor, dos instrumentistas e percorre para os adoradores. A unção do Espírito Santo parte daqueles que ministram as canções, mas irrompe difusamente também dos corpos membros. O Espírito Santo não possui lugar, ou, em melhores palavras, possui lugar nos corpos. O corpo do fiel é o templo do Espírito Santo. Lá Ele faz morada e deve se manifestar através do corpos dos fiéis. As vozes altissonantes ecoam e colidem-se. A canção persiste na voz rouca da líder de adoração e a intensidade aumenta. A entrega dos corpos à adoração alcança efeitos visíveis. É o fenômeno dos corpos adoradores afetados. Há uma diversidade de impressões da minha parte. Nesse momento, também adoro. Percebo algumas partes do corpo aquecendo. As minhas mãos pegam fogo. Quando as alço para o alto, elas aquecem ainda mais. Uma Presença toca-me bem no peito. Sinto apenas prazer e a ansiedade do estudante de antropologia em seu trabalho de campo dissipa. Uma Presença , uma Pessoa segura as minhas mãos. A canção sai doce dos lábios. Logo me comovo ao cantar para a Divindade vir. As lágrimas intensas se derramam nos olhos. Esqueço do trabalho de campo e me "corrompo", deixando-me à vontade nessa experiência transcendental. Então, O Espírito Santo também pode ser fogo. No decorrer do ritual, canto estrofes de música que descrevem a Divindade como Fogo. Clamamos para que Ele derrame e manifeste o Fogo do Espírito Santo. A melodia persistente parece demarcar um lugar de transição. O corpos estão engajados na adoração , mas parece que alguma manifestação é aguardada. Desde o início, todos sentimos o (^4) A glossolalia diz respeito ao fenômeno do falar línguas estranhas ou línguas dos anjos. Além de ser um termo utilizado em obras teológicas, também é apropriado em abordagens como a antropológica. Csordas também cunha a expressão glossolalia para indicar o fenômeno de falar em línguas nas igrejas católicas carismáticas. (^5) Os termos poder e unção são sinônimos. A unção é o poder de Deus no corpo do fiel para executar a vontade de Deus , segundo a concepção nativa.
apontavam momentos de adoração intensa e suave. O líder de adoração , nesse caso o pastor organizador do evento, insidia a sua voz por todo o auditório e todos que eu podia enxergar pareciam corresponder às canções. Todos adoravam , inclusive eu. Então, uma Presença que se manifestava, envolveu-nos mais intensamente. Enquanto, as vozes aumentavam o volume, os instrumentistas correspondiam ao momento e aumentavam as batidas da bateria e os riscos da guitarra. Os instrumentos demarcavam a Presença manifesta do Divino. Cantávamos “ Majestade Santa, Majestade Santa, Majestade Santa ”. A menina que estava dançando na frente dos instrumentistas manifestou o que chamamos de risos sobrenaturais 7
. Enquanto, a coreógrafa dançava e aumentava os risos , outros fiéis manifestavam cânticos espirituais 8 . Os cânticos espirituais são canções espontâneas entoadas em lindas melodias. Alguns corpos adoradores tremiam e sacudiam. Com as mãos para cima, esses fiéis pareciam receber cargas de eletricidade. Tudo era muito intenso e diverso. Com as luzes baixas, velas e abajours, aquele auditório se transformara numa aconchegante casa e ambiente de adoração , onde todos tinham liberdade, sem amarras de regras rígidas e liturgias. Terminada a adoração, o pastor organizador do Skwelch apresentou resumidamente o que seria um projeto e visão teológica em algumas pinceladas. Das palavras do pastor, lembro-me da expressão que mudaria os rumos do meu projeto etnográfico e da minha própria vida: Cultura do Reino 9 . Segundo essa perspectiva, os cristãos receberam a missão de estabelecer o Reino de Deus agora, e para isso receberiam o mesmo poder que estava em Jesus Cristo e fariam as mesmas obras que a dele e ainda maiores, literalmente. Isso era uma bomba em minhas concepções teológicas! Mas, o efeito disso não acarretaria em mim apenas mudanças no projeto etnográfico e no paradigma teológico, mas transformações radicais em meu estilo de vida (Geertz, 1978). Já estava afetado (Fravet-Saada, 200 5 ). (^7) O riso sobrenatural são gargalhadas espontâneas simultaneamente a um estado de êxtase, causados pelo Espírito Santo , segundo a concepção nativa. (^8) Cânticos espirituais são canções e melodias espontâneas. Segundo a retórica local, o cânticos espiritual é um dos efeitos do batismo do Espírito Santo. (^9) Cultura do Reino está ligada à noção de Eclésia , igreja no grego. Eclésia era a estratégia de ocupação do Estado Romano de regiões antes dominadas por povos bárbaros. Através dessas ocupações uma nova cultura seria estabelecida nos meandros da vida cotidiana daqueles “bárbaros”. Nas Escrituras Sagradas existem muitas referências à Eclésia. Tomando emprestado a expressão, que no original grego significa chamados para fora , Paulo, o apóstolo dos gentios, denomina o ajuntamento de cristão de igreja. Então, segunda a leitura da teologia do Reino agora , a igreja tem a missão de estabelecer na sociedade uma nova cultura. Não se trata de ganhar regiões a partir de guerras, mas através de relacionamentos, infiltrar-se em todas as áreas da sociedade transmitindo às pessoas uma nova cultura, a Cultura do Reino (Liebscher, 2013 )
Logo depois dessa experiência, freneticamente procurei as referências do movimento para entendê-lo melhor. Desde a arte musical à teologia, fui assimilando e mapeando os representantes do movimento. Em novembro e dezembro, fui atraído para conhecer mais detalhes dessa proposta. Entremeios ao entusiasmo da descoberta de um movimento pentecostal, eu progressivamente me ausentava da Bola de Neve Church e também do projeto etnográfico. As coisas pioraram quando ocorrera a mudança de endereço da instituição para uma região mais distante ainda de minha casa. Era uma local muito maior, com capacidade para mais de 3.000 pessoas. O local anterior comportava apenas 150 pessoas, transbordando pessoas. Visitei mais duas vezes a instituição, mas fui desestimulado a continuar as visitas pelas dificuldades em me deslocar até o lugar. Simultaneamente, descobria o movimento de Cultura do Reino. O Skwech era apenas a ponta do "iceberg". No próprio Brasil existiam outras referências do movimento que haviam se estabelecido nos anos 2000. Os movimentos Dunamis , Nova Geração , O Verbo , Vivo por ti – Igreja em Movimento são alguns desses representantes. As raízes do movimento no Brasil estão no movimento pentecostal americano. Inclusive, os representantes da Cultura do Reino no Brasil mantêm algum tipo de vínculo com as lideranças americanas. O Pastor Ed, organizador do Skwelch , é filho espiritual 10 do apóstolo Randy Clarck. Ed, como ele prefere ser chamado, sem a denominação de cargo, é um dos cinco pastores da Rede Apostólica Global Awakening. E a Global Awakening ainda forma outra rede ainda maior, a Aliança para o Avivamento, que seria a reunião de outras denominações que compartilham o paradigma da Cultura do Reino. Nessa rede de relacionamentos estão incluídos a Bethel Church do pastor Bill Johnson e as igrejas de Moçambique da missionária Heid Baker. Por que Skwelch? Ed conta no site^11 do movimento Skwelch que no período em que realizava seminário teológico em Londres, ele e mais um amigo estavam em oração , buscando uma direção do Espírito Santo quanto ao seu destino nELe , quando ouviram em voz audível a expressão Skwelch. Rapidamente foram procurar no dicionário e encontraram três significados. Dentre eles, tirando o pé da lama. Ed ainda conta que por direção do Espírito Santo , ele foi morar em São Gonçalo. O Divino havia estabelecido que seria na (^10) Filho espiritual é um tipo de discípulo. Explicarei com mais detalhes no tópico Tornando-se discípulo e filho espiritual. (^11) Skwelch.worldpress.com
novidade; um visual arrojado, arte musical bem produzida e um estilo pentecostal alternativo que não perdia a suas referências. Após o sermão, o pastor Ed tomou a palavra e começou a falar sobre o poder de Deus. Naquele dia, algo seria dito que mudaria radicalmente a minha perspectiva sobre a minha própria experiência religiosa. “Todos os cristãos podem orar por enfermos, para que esses sejam curados. O poder de Deus não é derramado sobre homens especiais, mas Deus promete derramaria sobre todos os seus filhos ”; isto mudaria tudo. Para ilustrar, Ed pediu que segurássemos um objeto em nossas mãos. “Cremos que Deus pode fazer desaparecer esse objeto de nossas mãos, ok? A doença é como esse objeto. Simplesmente oramos para a doença desaparecer e fazemos isso em nome de Jesus Cristo ”. Depois de estimular as pessoas a orarem por enfermos, Ed contou uma das suas experiências com o sobrenatural de Deus. Nos disse que, no dia anterior, depois do último ensaio para o Skwelch , ele e os seus discípulos foram comer alguma coisa. Já era madrugada, não havia muitos lugares abertos. Mas, perto do shopping havia um trailer de cachorro quente, hambúrguer etc. Quando estava se aproximando do lugar, Ed teve uma impressão 14 com o dono do trailer. Ele viu a imagem de duas crianças e a palavra faculdade de forma mentalizada. Ele abordou o homem e disse “Boa noite, eu estou desenvolvendo a minha espiritualidade e queria contar a minha impressão que tive com você”. O homem assustado, perguntou a Ed sobre o que a bíblia significaria para ele. Ed respondeu que a bíblia era para ele um livro de regra de fé e prática. O homem mais tranqüilizado, permitiu ao Ed contar a visão que teve. “Eu vi duas crianças, você tem dois filhos?”, o homem respondeu que tinha duas filhas. Ed, então prosseguiu, “Na minha impressão , eu também vi a palavra faculdade. Você precisou trancar a faculdade por causa do trabalho, não é?, o homem disse que sim. Ed continuou “Vejo que apesar de ter trancado, você ainda almeja terminar a faculdade para dar melhores condições de vida às suas duas filhas, correto?”. Assustado o homem confirmou. Ed perguntou se poderiam orar juntos e o homem disse que sim. Então, Ed colocou as mãos sobre o peito do homem e orou “ Pai revele-se ao seu filho ”. Ed contou que o homem deu um salto para atrás e disse “Uau cara, o que é isso? Eu senti uma voz aqui!”. Ed o encorajou e voltou a orar. O homem começou a chorar e disse que Deus Pai estava falando com ele “Persevera meu filho, persevera!”. Essa é uma das histórias incríveis do sobrenatural de Deus que conheci desde que conheci o pastor Ed e seus discípulos e filhos espirituais. No momento final da reunião, os (^14) Impressão pode ser uma sensação, uma visualização, um palavra que vier à mente etc., usada pelo Espírito Santo para dizer alguma mensagem e dar alguma direção para ação, segunda a concepção nativa.
pastores Ed Rocha e Danieli Rocha, cônjuge de Ed, juntos com os discípulos colocaram-se à frente do público para que as pessoas recebessem a oração. Fui à fila e esperei a minha vez. Quando chegou a minha vez, Ed perguntou-me sobre o que ele poderia orar por mim. Eu disse que queria aquela unção. Então, ele colocou as mãos sobre a minha cabeça. Logo senti uma espécie de eletricidade. Ed ministrou a transferência de unção e então, fui arremessado para o chão tamanha a unção e sobrenatural de Deus. Fui ao chão chorando. Ed ajudou-me a levantar e continuou a orar por mim, quando mais uma vez fui ao chão, tremendo todo o corpo. O meu corpo tremia freneticamente. Foi uma experiência intensa. Aquela experiência reforçou ainda mais o desejo de continuar pesquisando o movimento e, principalmente, estava implodindo pouco a pouco a minha religião. Então, decidi arriscar e entrei em contato com o pastor Ed via rede social. Sugeri ao Ed para realizar um Skwelch na UFF. Ele disse "Isso é de Deus , vamos conversar".
Além de conversar sobre um possível Skwelch na UFF, falei sobre o meu projeto monográfico e Ed concordou em ajudar-me. Na verdade, o meu projeto etnográfico foi profundamente afetado por essa nova experiência. Não foi uma decisão estratégica, mas apesar do passional (Fravet-Saada, 2005) ter impulsionado à nova aventura, a decisão de deixar as visitas à Bola de Neve Church colocou-me em situação confortável do ponto de vista da logística. Ed morava próximo à minha casa e os próximos encontros aconteceriam na própria Universidade que estudava. Uma junção perfeita. Por conta do evento na UFF, Ed enviou um dos seus filhos espirituais , o Isaque Pinheiro. Nos encontramos e ele falou muitos detalhes de quem era Ed Rocha e sua esposa Danieli Rocha e sobre a rede apostólica que estaria por trás, a Global Awakening. Isaque era de uma igreja em Nova Friburgo e ocupava cargos importantes e exercia alguma influência na instituição. Segundo o próprio Isaque, depois do grande mover no Espírito que experimentou nas reuniões que participara com Ed, ele deixou a antiga igreja e começou a seguir o novo mentor. No início do seu discipulado, Isaque foi convidado para um evento da Global Awakening. Segundo ele, foi um divisor de águas profundo. Nada mais era como antes. Lá, afirmou ter presenciado manifestações miraculosas do Espírito Santo. Em um dos dias da
ao Tesouro na UFF. Antes, havíamos orado para receber do Pai a palavra de conhecimento e , assim procurarmos as pessoas. Isaque havia falado antes da oração que sentia que acharíamos alguém na orla com muita tristeza. Essa pessoa estaria se perguntando sobre a existência de Deus e estaria próxima a uma árvore. Fomos, Isaque e eu, em direção à orla. Estávamos no estacionamento da UFF Gragoatá, próximo ao bloco de Educação Física. Fomos andando em direção à quadra, inclinando na diagonal na direção da orla. Quando estávamos próximos avistamos uma pessoa perto de uma árvore, sentando defronte à praia. Ele estava a sós. Nos aproximamos do rapaz e nos apresentamos. Isaque perguntou se poderíamos ficar ali para conversarmos com ele. Daí, Isaque começou a contar as suas impressões , "Nós acreditamos que recebemos uma palavra do Pai para dizer a você. O Espírito Santo me mostrou uma pessoa perto de uma árvore na orla, que estava um pouco triste. Isso faz sentido pra você?". O rapaz confirmou e nos disse que sentia-se como se Deus o tivesse abandonado. Isaque, então falou sobre como o Pai se importava com ele a ponto de nos revelar sobre emoções dele, como também de nos mostrar a sua localização. Continuamos a conversa e ele nos disse que era estudante de graduação de Arquivologia da UFF. Ele falou sobre a tristeza que estava sentindo. Depois de ouvi-lo, nós começamos a encorajá-lo a confiar no amor de Deus e o Isaque disse que ele possuía um destino. Isaque disse "Cara, a sua visão crítica sobre a sociedade e sobre a igreja que você nos contou não é um defeito seu. O Pai te separou para estabelecer uma reforma. Isso faz parte de sua identidade. Talvez, pessoas o fizeram acreditar que esses sentimentos que você tem a respeito de determinadas coisas que acontecem na sociedade, na igreja seja um defeito seu, uma mania de criticar tudo. Acredite que o Pai que está guiando você e te levando a essas opiniões. Isso faz parte do seu destino , da sua real identidade ". Aquilo causou impacto não apenas a ele, mas também a mim. Estava em uma aventura antropológica, mas acima de tudo em uma jornada pessoal. As coisas dentro de mim estavam mudando, eu estava cada vez mais afetado (Fravet-Saada, 2005). A noite terminou em lanche para todos, inclusive para o estudante de Arquivologia que encontramos na orla. Mas, uma pergunta ressoava dentro de mim: o que, afinal de contas, eles queriam dizer com destino?
Terminado o ano de 2013, fiquei algum tempo sem contato com o Isaque e o Diego. No começo de 2014 estava em um período com algumas dificuldades pessoais. A sobrecarga no trabalho havia me levado a um estado de stress perigoso. Às vésperas das férias em março, precisei de uma consulta psiquiátrica, tamanho o nível de ansiedade. Estava no limite de resiliência do meu corpo. Já era volta às aulas em meados de março de 2014 e em um dia comum estava voltando da aula. A situação havia piorado um pouco, pois eu não tinha me adaptado aos remédios. Parecia que a ansiedade estava piorando pelo uso de antidepressivos, junto com uso de ansiolíticos. Enfim, era um período difícil. Quando estava caminhando da UFF até ao terminal rodoviário de Niterói, que fica próximo às Barcas S/A, encontrei Isaque na altura da praça Caminho Niemeyer. Ele estava a caminho da UFF para dar oficinas. Ele me convenceu a voltar e a participar da oficina. Naquela noite haveria Caça ao Tesouro depois da oficina. Outras pessoas tinham se juntado ao Isaque e ao Diego. Agora mais três rapazes também participavam do treinamento, Pedro França, Lincoln Castro e Paulo - nome fictício. Paulo era amigo de longa data do Isaque e estava a algum tempo sem vê-lo. Ele era diretor de um dos movimento cristãos que atuam nas universidades do estado do Rio de Janeiro. Naquele dia, o Diego não estava presente. Éramos cinco. A aula daquela noite era sobre palavra de conhecimento e palavra profética. Depois de percorrermos algum textos bíblicos sobre o assunto, Isaque nos ensinou sobre a abordagem. Os dois dons espirituais mencionados acima se manifestam geralmente através de impressões. São impressões que podem ser palavras, objetos, nome de pessoas etc. O imagético multissensorial (Csordas,