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Este documento contém dois poemas intitulados 'o operário no mar' e 'poema da necessidade'. O primeiro poemas descreve as reflexões e sentimentos de um operário comum, enquanto o segundo aborda a necessidade de cumprir várias tarefas e desejos. Ambos os poemas exploram temas como a vida, a morte, o amor e a necessidade.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de aula
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Não perca as partes importantes!
Fernando Pessoa em “Poemas de Alberto Caeiro” “Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei.”
Confidências de um Itabirano
Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento1 do que na vida é porosidade e comunicação. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. De Itabira trouxe prendas2 que ora te ofereço: este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa... Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!
Poema da Necessidade
É preciso casar João, é preciso suportar Antônio, é preciso odiar Melquíades é preciso substituir nós todos.
É preciso salvar o país, é preciso crer em Deus, é preciso pagar as dívidas, é preciso comprar um rádio, é preciso esquecer fulana.
É preciso estudar volapuque, é preciso estar sempre bêbado, é preciso ler Baudelaire, é preciso colher as flores de que rezam velhos autores.
É preciso viver com os homens é preciso não assassiná-los, é preciso ter mãos pálidas e anunciar O FIM DO MUNDO.
um só desespero branco... Podeis ver: o que era corpo foi comido pelo gato.
As moças que’ ainda estão vivas (hão de morrer, ficai certos) têm medo que eu apareça e lhes puxe a perna... Engano. Eu fui moça, Serei moça deserta, per omnia saecula.
Não quero saber de moças. Mas os moços me perturbam. Não sei como libertar-me. Se o fantasma não sofresse, se eles ainda me gostassem e o espiritismo consentisse, mas eu sei que é proibido vós sois carne, eu sou vapor.
Um vapor que se dissolve quando o sol rompe na Serra.
Agora estou consolada, disse tu do que queria, subirei àquela nuvem, serei lâmina gelada, cintilarei sobre os homens. Meu reflexo na piscina da Avenida Paraúna (estrelas não se compreendem), ninguém o compreenderá.
Tristeza do Império Os conselheiros angustiados ante o colo ebúrneo das donzelas opulentas que ao piano abemolavam "bus-co a cam-pi-na se-rena pa-ra li-vre sus-pi-rar" esqueciam a guerra do Paraguai, o enfado bolorento de São Cristóvão, a dor cada vez mais forte dos negros e sorvendo mecânicos uma pitada de rapé, sonhavam a futura libertação dos instintos e ninhos de amor a serem instalados nos arranha-céus de Copacabana, com rádio e telefone automático
Na noite lenta e morna, morta noite sem ruído, um menino chora. O choro atrás da parede, a luz atrás da vidraça perdem-se na sombra dos passos abafados, das vozes extenuadas. E no entanto se ouve até o rumor da gota de remédio caindo na colher.
Um menino chora na noite, atrás da parede, atrás da rua, longe um menino chora, em outra cidade talvez, talvez em outro mundo.
E vejo a mão que levanta a colher, enquanto a outra sustenta a cabeça e vejo o fio oleoso que escorre do queixo do menino, escorre pela rua, escorre pela cidade (um fio apenas). E não há ninguém mais no mundo a não ser esse menino chorando.
Morro da Babilônia A noite, do morro descem vozes que criam o terror (terror urbano,cinquenta por centode cinema, e o restoque veio de Luanda ou se perdeu na língua geral).
Quando houve revolução,os soldados espalharam no morro, o quartel pegou fogo, eles não voltaram. Alguns, chumbados, morreram. O morro ficou mais encantado.
Mas as vozes do morro não são propriamente lúgubres. Há mesmo um cavaquinho bem afinado que domina os ruídos da pedra e da folhagem e desce até nós, modesto e recreativo, como uma gentileza do morro.
Os Mortos de Sobrecasaca
Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis, alto de muitos metros e velho de infinitos minutos, em que todos se debruçavam na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca.
Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos. Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava que rebentava daquelas páginas.
Brinde no Juizo Final
Poetas de camiseiro, chegou vossa hora, Poetas de elixir de inhame e de tonofosfã, Chegou vossa hora, poetas do bonde e do rádio, Poetas jamais acadêmicos, último ouro do Brasil
Em vão assassinaram a poesia nos livros, Em vão houve putschs, tropas de assalto, depurações. Os sobrecicentes aqui estão, poetas honrados, Poetas diretos da Rua Larga. (as outras ruas são muito estreitas, Só nesta cabem a poeira, O amor E a Light
Inocentes do Leblon
Os inocentes do Leblon não viram o navio entrar. Trouxe bailarinas? trouxe imigrantes? trouxe um grama de rádio? Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram, mas a areia é quente, e há um óleo suave que eles passam nas costas, e esquecem.
Canção do Berço
O amor não tem importância. No tempo de você, criança, uma simples gota de óleo povoará o mundo por inoculação, e o espasmo (longo demais para ser feliz) não mais dissolverá as nossas carnes.
Mas também a carne não tem importância. E doer, gozar, o próprio cântico afinal é indiferente. Quinhentos mil chineses mortos, trezentos corpos [de namorados sobre a via férrea e o trem que passa, como um discurso, irreparável: tudo acontece, menina, e não é importante, menina, e nada fica nos teus olhos.
Também a vida é sem importância. Os homens não me repetem nem me prolongo até eles. A vida é tênue, tênue. O grito mais alto ainda é suspiro, os oceanos calaram-se há muito. Em tua boca, menina, ficou o gosto do leite? ficará o gosto de álcool?
Os beijos não são importantes. No teu tempo nem haverá beijos. Os lábios serão metálicos, civil, e mais nada, será o amor dos indivíduos perdidos na massa e só uma estrela guardará o reflexo do mundo esvaído (aliás sem importância).
Bolero de Ravel
A alma cativa e obcecada Enrola-se infinitamente numa espiral de desejo E melancolia Infinita, infinitamente
La Possession du Monde
os homens célebres visitam a cidade. obrigatoriamente exaltam a paisagem, alguns se arriscam no mangue, outros se limitam ao pão de açúcar, mas somente georges duhamel passou a manhã inteira no meu quintal. ou antes, no quintal vizinho do meu quintal sentado na pedra, espiando os mamoeiros, conversava com o eminente neurologista.
houve uma hora em que êle se levantou (em meio a erudita dissertação cientifica). ia, talvez, confiar a mensagem da europa aos corações cativos da jovem américa... mas apontou apenas para a vertical e pediu ce cocasse fruit jaune.