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Introduzir o regionalismo romântico, ressaltando os vários escritores e suas respectivas obras. OBJETIVOS. Ao final desta aula, o aluno deverá: avaliar a ...
Tipologia: Exercícios
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Introduzir o regionalismo romântico, ressaltando os vários escritores e suas respectivas obras.
Ao final desta aula, o aluno deverá: avaliar a importância da vertente regionalista na literatura brasileira e sua ligação com a terra e o homem da terra; reconhecer a forma como os autores românticos trabalham o regionalismo.
Para compreender bem esta aula, é importante que você reveja os conceitos de romantismo tratados na aula 3.
Candido Portinari, 1944. Os Retirantes (Fonte: http://2.bp.blogspot.com).
Literatura Brasileira I
O espírito do Brasil regional (Fonte: http://sempapel.files.wordpress.com).
Olá tudo bem? A partir de agora vamos estudar o regionalismo na estética romântica, para isso, começaremos discutindo a opinião de Afrâ- nio Coutinho (1986) que tão bem estudou esta vertente literária, no diz respeito ao romance. Para ele desde o Romantismo, com a valorização do “genius loci” (espírito local), um fato da maior significação foi a crescen- te importância do Brasil regional. As influências geográficas, econômi- cas, folclóricas, tradicionais, que deixaram traços marcantes e caracterís- ticas distintivas na vida, costumes, temperamento, linguagem, expressões artísticas, maneiras de ser e sentir, agir e trabalhar, “fizeram-se perceber na vida intelectual brasileira desde que a consciência nacional brotou para a independência política e cultural”. (p. 246). É só observarmos a grande variedade regional que o nosso país apre- senta, para percebermos que a literatura, aquela mais presa à terra e ao homem da terra, não poderia fugir a esta diversidade. E este é um filão muito rico das nossas letras. Os textos que representam o homem e a terra, do Oiapoque ao Chuí, isto é, do extremo norte ao extremo sul, dão bem a medida das diferenças regionais, contribuindo para enriquecer o acervo cultural. Vamos falar mais sobre isso?
Literatura Brasileira I
evidente que o nosso José de Alencar ocupa um lugar importante no Regi- onalismo romântico. Mas, antes de estudarmos sua obra regionalista, que- remos falar sobre outros autores importantes: Bernardo Guimarães, Franklin Távora e Visconde de Taunay, ambos envolvidos com o Regionalismo.
Bernardo Guimarães (Fonte: http://miltonribeiro.opsblog.org).
Bernardo Guimarães ficou famoso com a publicação de A escrava Isaura (1875), drama de uma mucama mestiça, que se enquadra na lite- ratura de combate ao sistema escravocrata. Grande parte do sucesso deste escritor se deve à forma simples e fácil com que construiu suas narrativas, uma técnica primitiva de contar, sem nenhuma sofisticação. Ele tem, de fato, uma concepção primária de romance, em conseqüên- cia da influência dominadora da literatura oral. Mesmo assim, seu ro- mance constitui um acréscimo na evolução do romance entre nós. Ele soube escolher os assuntos, soube explorar a tradição do interior minei- ro, onde nasceu, sendo, por isso, considerado o iniciador do Regionalis- mo romântico em nossa literatura. Em contato demorado com a reali- dade da vida rural de sua província, ouvindo as histórias, lendas e tradi- ções que povoavam a imaginação popular, não foi difícil para ele recri- ar, nos seus romances, ao jeito de quem despretensiosamente conta uma história, tudo o que vivera e sentira.
O Romance regionalista no Romantismo (^) Aula
A Escrava Isaura (Fonte: http://www.guindaste2.theblog.com.br).
Seus romances, ainda hoje, podem oferecer interesse, pelo que repro- duzem de usos e costumes, paisagens e tradições da vida rural mineira ou goiana, no século XIX. O registro de aspectos característicos do viver sertanejo da época é o que de mais importante existe em seu Regionalis- mo: quer fixar a descoberta dos diamantes na região de Barragem ( Garim- peiro , 1872) ou a briga dos sertanejos ( Ermitão de Muquém , 1869). Ao in- corporar inúmeros brasileirismos, foi alvo de várias críticas. José Veríssimo disse que ele escrevia mal, sem apuro e sem beleza de estilo, com erros grosseiros e desrespeitos à gramática. É certo que os cometeu, o que não impede a afirmativa de que sua contribuição ao enriquecimento da língua literária foi significativo. Ele foi espontâneo, escrevendo numa linguagem simples, coloquial, em tom de conversa. Por isso, Antonio Cândido (1997) chama de “contador de casos” e destaca palavras do autor sobre a região representada nos romances:
A índole do homem ali é plácida e calma na aparência, como o céu que o cobre, mas no fundo é ardente de sentimento e de paixão. O sopro das paixões lhe ruge n’alma violento e tormentoso como os pavorosos temporais que atroam aquelas solidões. (p. 76).
Quanto à estrutura dos seus romances, Antonio Cândido (1997) des- taca que os seus livros começam por uma situação de equilíbrio e bonan- ça, definida principalmente pela descrição eufórica da paisagem em que se vai desenrolar a ação; a partir daí, procura surpreender na personagem o nascimento da paixão, cujo percurso e estouro descreverá, mostrando que a euforia é como a placidez aparente do sertão e do sertanejo. Para
O Romance regionalista no Romantismo (^) Aula
Cor clara e tez delicada como de qualquer branca: olhos pretos e grandes; cabelos da mesma cor, compridos e ligeiramente ondeados; boca pequena, rosada e bem feita; dentes alvos e bem dispostos; nariz saliente e bem talhado; cintura delgada, talhe esbelto e estatura regular (...) Traja-se com muito gosto e elegância; canta e toca piano com perfeição. Como teve excelente educação, e tem uma boa figura, pode passar por uma senhora livre e de boa sociedade. (GUIMARÃES, 1978, p.34). Por oposição, vem-nos à memória a personagem Berloleza, escrava de O cortiço (1890), romance naturalista de Aluízio Azevedo. A negra é apresentada com as cores sombrias do Realismo/Naturalismo, sempre suja e trabalhando para João Romão como um animal: “A negra, imóvel, cercada de e escamas e tripas de peixe, com uma das mãos espalmada no chão e com a outra segurando a faca de cozinha”. (AZEVEDO, 1987, p. 64). Não mais a idealização, mas a brutal realidade com todos os detalhes.
Franklin Távora (Fonte: http://www.mensagensvirtuais.com.br).
Franklin Távora pode ser considerado quase um escritor de transição do Romantismo para o Realismo, tal a sua preocupação em representar a realidade. Desafeto de Alencar, de quem condenava a excessiva imagina- ção, foi um defensor da literatura regionalista, que ele dividiu em duas partes: “literatura do Norte e literatura do Sul”. Diz ele, no prefácio de O Cabeleira (1876), sua obra mais famosa:
Literatura Brasileira I
“Não vai nisto, meu amigo, um baixo sentimento de rivalidade que não aninho em meu coração brasileiro. Proclamo uma verdade irrecusável. Norte e Sul são irmãos, mas são dois. Cada um há de ter uma literatura sua, porque o gênio de um não se confunde com o do outro.”
Como bom cearense, ele puxou a brasa para sua sardinha, dizendo que no Norte a literatura se conserva “em sua pureza, em sua genuína expres- são”. O autor cultivou a narrativa de características históricas e explorou um dos fenômenos importantes da nossa realidade nordestina “ o cangaço. O Regionalismo de Távora funda-se em três elementos: o senso da terra, da paisagem que condiciona estreitamente a vida de toda a região; o patriotismo regional e a disposição polêmica de reivindicar a superiori- dade do Norte, reputado mais brasileiro que o Sul. Sua importância foi sentir o valor literário de um levantamento regional, sentir como a ficção é beneficiada pelo contato com uma realidade concretamente demarcada no espaço e no tempo, limitando, assim, a fantasia romântica.
O cabeleira (Fonte: http://literaturainformal.zip.net). O Cabeleira é romance do cangaço, onde se narra a vida de José Go- mes, apelidado o Cabeleira, nascido e morto no século XVII. Reconstituição histórica de um cangaceiro famoso, aqui predomina a pre-
Literatura Brasileira I
Eu repito, disse ele com calor, isto de mulheres, não há que fiar. Bem faziam os nosso do tempo antigo. As raparigas andavam direitinhas que nem um fuso...Uma piscadela de olho mais duvidosa, era logo pau... Contaram-me que hoje lá nas cidades...arrenego!... não há menina por pobrezinha que seja, que não saiba ler livros de letra de forma e garatujar no papel... que deixe de ir a fonçonatas com vestidos abertos na frente como raparigas fadistas e que saracoteiam em danças e falam alto e mostram os dentes por dá cá aquela palha com qualquer tafulão malcriado...pois pelintras e beldroegas não faltam....Cruz!...Assim, também é demais; não acha? Cá no meu modo de pensar, entendo que não se maltratem as coitadinhas, mas também é preciso não dar asas às formigas...Quando elas ficam taludas, atamanca-se uma festança para casá-las com um rapaz decente ou algum primo, e acabou-se a história. (TAUNAY, 1980, p. 41).
As donzelas sertanejas eram alienadas do convívio humano, para manterem sua pureza. Isso não é invenção do autor, mas o registro da realidade social sertaneja. Já estando prometida a um noivo, Manecão, ela nem sabe que ama Cirino, é a própria representação da inocência. Assim temos o famoso triângulo amoroso – Cirino ama Inocência que ama Cirino, mas já está comprometida com Manecão – e comprometimento no sertão é coisa séria. Diz Inocência para Cirino: “Mecê não conhece o que é palavra de mineiro...ferro quebra, ela não ...Manecão há de ser genro dele...” Agora, o final não contarei para ninguém, desejamos que vocês procurem o livro, que existe em qualquer biblioteca. Leiam essa história de amor passada no sertão brasileiro. Garantimos que vão gostar... E para terminar esta aula sobre o romance regionalista no Romantis- mo, vamos conversar, mais uma vez, sobre Alencar. Vocês já devem ter notado que este escritor é peça fundamental não só do nosso Romantis- mo, como do processo literário brasileiro, pois ele, com seu projeto de brasilidade, foi determinante para autonomia da literatura brasileira. E, em se tratando de romance regionalista, ele contribuiu muito para dar às regiões que representou, sobretudo à região nordeste, um cunho peculiar. Vocês já devem ter notado, também, que em se tratando de romance regionalista, surge a tendência ao realismo, isto é, a de descrever com minúcias, os aspectos característicos da região. Já falamos sobre o capítulo que abre Inocência – “O sertão e o sertane- jo” -, que induz alguns críticos a dizerem que este romance representa a transição para o Realismo. Isto não é verdade, pois a espinha dorsal do romance é a paixão entre as jovens personagens e o obstáculo para a realização desse amor. Tema tipicamente romântico. A descrição “realis- ta” do espaço é, sim, um traço do Regionalismo, pois as diferenças regio-
O Romance regionalista no Romantismo (^) Aula
acontece com o romance regionalista de Alencar. Para citar apenas dois – O Gaúcho (1870) e O Sertanejo (1875) distinguimos muito bem o que é Rio Grande do Sul e o que é do sertão cearense. O primeiro foi muito combatido por Franklin Távora, por ser produ- to somente da imaginação do autor, uma vez que Alencar não conhecia a região sul do país. O Gaúcho apresenta uma mudança na postura política do autor, pois é o primeiro a ser escrito depois da desilusão sofrida por Alencar, que ambicionava uma cadeira do Senado e teve seu desejo frus- trado pelo Imperador. O protagonista do romance prefere a convivência dos animais à dos humanos, desiludido que está com a sociedade. Manuel Canho, o gaúcho, deseja vingar a morte do pai. É um homem revoltado contra a mãe, que desposara, pouco depois de viúva o involuntário cau- sador da morte do marido. É o primeiro romance assinado com o pseudô- nimo de Senior (velho). Entre os romances regionalistas de Alencar, o que mais nos agra- da é, sem dúvida, O Sertanejo , que se prende a reminiscências da infân- cia do escritor, quando tomou conhecimento da lenda do Boi Estácio, que ele recriou como Boi Dourado. Aqui, inspirou-se na memória co- letiva, no ciclo do gado, criado livre e selvagem em espaços imensos. É famoso o episódio da vaquejada, em que o narrador descreve o boi Dourado, objeto de desejo dos vaqueiros sertanejos, por ser um ani- mal indômito, valente e livre.
Era um boi alto e esguio. Seu pelo na cor, longo, fino e sedoso, brilhava aos raios do sol com uns reflexos luzentes, que justificavam o nome dado pelos vaqueiros ao lindo touro. Em vez das largas patas e grossos artelhos dos animais de trabalho, ele tinha as pernas delgadas e o jarrete nervoso dos grandes corredores. Os chifres não se abriam para diante em vasta curva , mas ao contrário erguiam- se quase retos na fronte como dardos agudos e à semelhança da armação do veado. Esta particularidade indicava que o barbatão não se criara nas várzeas, mas que desde garrote se acostumara a bater as brenhas mais espessas e a atravessar os bamburrais emaranhados. (ALENCAR, 1986, p. 51).
O episódio da vaquejada, que é longo, cheio de aventuras perigosas vividas por Arnaldo, o sertanejo e pelo boi Dourado, perseguido pelos vaqueiros, termina com a vitória de Arnaldo que, não escraviza nem mata o boi, como era desejo dos demais, mas lhe imprime a marca de Dona Flor e o deixa viver livremente. Como um ser da natureza, ele conversa com o boi vencido:
O Romance regionalista no Romantismo (^) Aula
E, mais adiante:
“Aí, no seio da natureza, sem muros e tetos que se interponham entre ele e o infinito, é como se repousasse no puro regaço da mãe pátria acariciado pela graça do Deus, que lhe sorri na luz esplêndida dessas cascatas de estrelas.”
Percebam o trio romântico aí presente: natureza, pátria e Deus, irmana- dos numa só exaltação. Os muros e os tetos representam a civilização, que cerceia e reprime a natureza, com o infinito apontando para a liberdade. Em momento algum, Arnaldo quer possuir Flor, mas ele quer, sim, mantê-la vir- gem, “pura e imaculada”. É a primeiro personagem com preocupações ecoló- gicas, fazendo de Alencar o primeiro preservacionista nacional. Muitas vezes, incorremos no erro de lermos a obra de Alencar de forma ingênua. É o caso de O Sertanejo. Precisamos aprender a ler nas entrelinhas, isto é, ler mais atentamente, para usufruir de toda a significa- ção do texto. Antonio Cândido (1997), ao concluir a leitura que fez dessa obra, ressalta:
A sua arte literária é, portanto, mais consciente e bem armada do que suporíamos à primeira vista. Parecendo um escritor de conjuntos, de largos traços atirados com certa desordem, a leitura mais discriminada de sua obra revela, pelo contrário, que a desenvoltura aparente recobre um trabalho esclarecido dos detalhes, e a sua inspiração longe de confirmar-se soberana, é contrabalançada por boa reflexão crítica. Tanto assim, poderíamos dizer, que na verdade não escreveu mais do que dois ou três romances, ou melhor, nada mais fez, nos vinte e um publicados, do que retomar alguns temas básicos, que experimentou e enriqueceu, com admirável consciência estética, a partir do compromisso com a fama, assumido n’ O Guarani. (P. 292).
Comprovamos a veracidade dessas palavras de Antonio Cândido, quando nos damos conta dos vários textos escritos por Alencar, única e exclusivamente para não só comentar sua obra, mas também para adver- tir o leitor para alguns aspectos importantes. Já falei a vocês, rapidamen- te, sobre Como e porque sou romancista, livro publicado depois da sua morte, onde ele fala sobre sua formação literária e as influências sofridas, lem- bram? Foi quando comentamos o parentesco com Balzac, sobretudo, em seu romance urbano. São vários os prefácios e posfácios que acompa- nham seus romances, com o intuito de esclarecer o leitor, pois Alencar foi um autor extremamente cioso de seu público e bastante atacado pela crí- tica contemporânea.
Literatura Brasileira I
No prefácio a Sonhos d’ouro , intitulado “Bênção paterna”, ele traça o plano de sua obra. Embora, a esta altura, vários livros já estivessem pu- blicados, existe, de fato, um plano a que todas as obras obedecem, como é o caso do prefácio à A comédia humana (“Avant-propos”), de Balzac. O plano esboçado em “Bênção paterna” é uma tentativa de ordenar sua criação literária, já realizada e por se realizar, sob um critério cronológico de evolução da nacionalidade. Na concepção do autor, a literatura nacio- nal é a alma da pátria. Muitas vezes não fala apenas da literatura produzi- da por ele e sim da literatura nacional que, contaria, a essa altura, três fases: a aborígene (das lendas e tradições indígenas), a histórica (do con- sórcio do colonizador com o elemento autóctone) e a fase da infância da literatura, iniciada após a independência. É curioso o fato de Alencar não se situar, ele mesmo, em nenhum estilo de época; nunca toma a estética romântica como ponto de referên- cia para as suas elaborações teóricas e rejeita a denominação de Realis- mo, embora aprove “as verdades do que chamam a escola realista.” A sua estética é a do nacionalismo, em que a vida brasileira, no sentido amplo de tempo e espaço, é o caminho a ser trilhado, ora nas asas da imaginação, ora no cotidiano social. É interessante observarmos, a título de curiosi- dade, as referências que Alencar e Balzac fazem, em seus prefácios, às críticas injustas de que são objeto. O espírito polêmico do nosso autor atraía, indevidamente, os ataques de seus inimigos. Os prefácios, posfácios, prólogos e trechos de seus romances revelam um homem ressentido, amar- gurado pela incompreensão da crítica. Mas ele encontrava consolo junto ao “seu velho público, amigo de longos anos e leitor indulgene”, que foi, de fato, quem o consagrou; e alfinetava, quando podia, a presunção dos críticos que se julgavam donos da verdade. Diz ele:
“Os críticos, deixa-me prevenir-te, são uma casta de gente, que tem a seu cargo desdizer de tudo neste mundo, O dogma da seita é a contrariedade. Como os antigos sofistas, e os reitores da Idade Média, seus avoengos, deleitam-se em negar a verdade.”
Em Alencar, o homem público e o escritor são duas faces da mesma moeda, de tal forma, a vivência daquele se reflete neste; o tom amargura- do das obras do romancista escritas depois de 1870 é um exemplo dessa contaminação. Por ser Alencar tão compromissado com o seu meio e a sua época, a obra peca, às vezes, por excessivo engajamento, isto é, deixa transparecer demasiadamente os intuitos moralizantes, nacionalistas e seus ressentimentos políticos.
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Vimos nesta aula que o romance, para ser autenticamente regionalista, tem que fazer da região (a terra, o homem, hábitos e costumes) um ele- mento estruturante da ação, isto é, esta região vai atuar sobre os aconte- cimentos, por isso é “estruturante”. Ela estrutura a narrativa. Ela é um elemento substantivo da narrativa e não apenas um cenário, um elemento adjetivo. O Regionalismo se apresenta na literatura brasileira de forma variada, sofrendo os efeitos dos diferentes momentos literários. Assim, o Regionalismo romântico vai incorporar o sentimento ufanista, aquele que exalta a terra e o homem brasileiros. Só que, aqui, ele exalta a terra e o homem da região, tomando esta como uma mini representação do nosso país. Ao exaltar o homem e a terra de uma determinada região, o autor se insere no projeto nacionalista, que idealiza a realidade brasileira. O ro- mance regionalista no Romantismo, portanto, marcado pelo momento de exaltação nacional, cria um tipo de herói – o herói regional – de estatura quase épica com seu aspecto de super-homem, em luta contra um destino fatal, traçado pelas forças superiores do ambiente. É evidente que José de Alencar ocupa um lugar importante no Regionalismo romântico; além dele, destacam-se ainda Bernardo Guimarães, Franklin Távora e Viscon- de de Taunay. Bernardo Guimarães enquadra- se na literatura de combate ao sistema escravocrata. Grande parte do sucesso deste escritor se deve à forma simples e fácil com que construiu suas narrativas, a uma técnica primitiva de contar, sem nenhuma sofisticação. Já Franklin Távora pode ser considerado quase um escritor de transição do Romantismo para o Realismo, tal a sua preocupação em representar a realidade. Cultivou a narrativa de características históricas e explorou um dos fenômenos im- portantes da nossa realidade nordestina- o cangaço. Como vimos, o Regi- onalismo de Távora funda-se em três elementos: o senso da terra, da pai- sagem que condiciona estreitamente a vida de toda a região; o patriotis- mo regional e a disposição polêmica de reivindicar a superioridade do Norte, reputado mais brasileiro que o Sul. Em Alfredo Taunay, destaca- mos que a terra e o homem são apresentados num ritmo musical admirá- vel, revelando um profundo conhecimento dos problemas sociais, abor- dados com bom senso e eficiência. Quanto a Alencar, notamos que o homem público e o escritor são duas faces da mesma moeda, de tal forma a vivência daquele se reflete neste; o tom amargurado das obras do ro- mancista escritas depois de 1870 é um exemplo dessa contaminação. Por ser Alencar tão compromissado com o seu meio e a sua época, deixa transparecer demasiadamente os intuitos moralizantes, nacionalistas e seus ressentimentos políticos.
O Romance regionalista no Romantismo (^) Aula
a) O que você entende por romance ‘autenticamente’ regionalista? b) Comente o romance regionalista de Alencar. c) Defina o ‘herói regional’. d) Por que Franklin Távora é considerado um escritor de transição do Romantismo para o realismo?
Certamente, você deve estar lembrando aqui que o romance para ser autenticamente regionalista tem que fazer da região (a terra, o homem, hábitos e costumes) um elemento estruturante da ação, isto é, esta região vai atuar sobre os acontecimentos, por isso é “estruturante”. Ela estrutura a narrativa. Ela é um elemento substantivo da narrativa e não apenas um cenário, um elemento adjetivo. Para ser regional uma obra de arte não somente tem que ser localizada numa região, senão também deve retirar sua substância real desse local. Essa substância decorre, primeiramente, do fundo natural – clima, topografia, flora, fauna, etc, - como elementos que afetam a vida humana na região; e em segundo lugar, das maneiras peculiares da sociedade humana estabelecida naquela região e que a fizeram distinta de qualquer outra. Esse último é o sentido do regionalismo autentico. O Regionalismo se apresenta na literatura brasileira de forma variada, sofrendo os efeitos dos diferentes momentos literários. Assim, o Regionalismo romântico vai incorporar o sentimento ufanista, aquele que exalta a terra e o homem brasileiros. Só que, aqui, ele exalta a terra e o homem da região, tomando esta como uma mini representação do nosso país. Ao exaltar o homem e a terra de uma determinada região, o autor se insere no projeto nacionalista, que idealiza a realidade brasileira. Como já sabemos, este escritor é peça fundamental não só do nosso Romantismo, como do processo literário brasileiro, pois ele, com seu projeto de brasilidade, foi determinante para a autonomia da literatura brasileira. E, em se tratando de romance regionalista, ele contribuiu muito para dar às regiões que representou, sobretudo, à região nordeste, um cunho peculiar. Em se tratando de romance regionalista, surge a tendência ao realismo, isto é, a de descrever com minúcias, os aspectos característicos da região. A descrição “realista” do espaço é, sim, um traço do Regionalismo, pois as
O Romance regionalista no Romantismo (^) Aula
De praxe, eis o momento de você avaliar como anda seu aproveita- mento na disciplina, ok? Pois bem, pensamos que é hora de você expres- sar esse grau respondendo a alguns questionamentos de modo bem práti- co. Vamos lá?!
a) Com base na leitura da aula, você consegue reconhecer as principais caracterís- ticas do romance romântico regionalista? ( ) Sim ( ) Não ( ) Só lendo de novo a aula ( ) Isso não ficou claro
b) Ainda pensando na nesta aula, dê uma nota para seu entendimento sobre o assunto ali tratado
ALENCAR, José de. O sertanejo. Soão Paulo: Ática, 1986. AZEVEDO, Aluízio. O cortiço. São Paulo: Ática, 1987. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1977. CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. Belo Hori- zonte: Itatiaia, 1997. CASTELLO, José Aderaldo. A literatura brasileira. Origens e Unidade. São Paulo: Ed. EDUSP, 1999. COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. Romantismo. Rio de Ja- neiro: Sul Americana, 1986. v. 3. GUIMARÃES, Bernardo. A escrava Isaura. São Paulo: Ática, 1978. TAUNEY, Alfredo. Inocência. São Paulo: Ática, 1980.