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O que o jovem quer da vida?, Resumos de Cultura

[13] Jovens desengajados ou sem projetos vitais, sonhadores, ... Mas, quando se trata de guia-los a caminhos futuros que eles julgarão gratificantes.

Tipologia: Resumos

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Boto92
Boto92 🇧🇷

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O que o jovem quer da vida?
Como pais e professores podem orientar e motivar os adolescentes.
William Damon - São Paulo: Summus, 2009.
Sobre o autor: estudioso do desenvolvimento humano e aluno de Jean Piaget é professor de
Educação e diretor do Centro de Pesquisas da Adolescência na Universidade de Stanford desde
1997
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Aviso ao leitor: este resumo não substitui a leitura da obra, construída com base na descrição
de casos de projetos vitais de adolescentes que participaram da pesquisa que originou o livro.
Neste resumo optamos por negligenciar vários exemplos e manter o foco nos conceitos.
Portanto, caro leitor deste resumo: assim que puder, leia a obra completa.
Neste resumo os números entre colchetes indicam o número da página na obra completa.
Também conta com notas de rodapé, que visam apontar a relação dos conceitos do autor com
os do Programa ou esclarecer determinadas opções de “cortes” no texto original.
[11]
Apresentação à edição brasileira por Ulisses F Araújo
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...uma parcela dos jovens brasileiros e sua luta para dar sentido à vida conciliando estudo e
trabalho, mas, acima de tudo, demonstrando que estão construindo um projeto de vida calcado
na realidade do mundo em que vivem. Eles parecem estar cientes de que para atingir a
felicidade pessoal e profissional futura, necessitam preparar-se por meio dos estudos e iniciar-
se em uma profissão.
[12] O título da obra O que o jovem quer da vida? prenuncia a discussão que Willian Damon
quer promover com os próprios jovens, seus pais, professores e todos aqueles envolvidos de
alguma maneira, com a formulação de políticas públicas e trabalhos sociais com as juventudes
(sim, no plural, pois não se pode falar de um único tipo de juventude nas multifacetadas
sociedades contemporâneas).
[13] Jovens desengajados ou sem projetos vitais, sonhadores, superficiais e com projetos vitais
(nobres ou antissociais) são as categorias que o autor desenvolverá no transcorrer do livro.
Além disso, discute o papel da família, escola, mentores e outros membros de instituições
sociais podem ter na construção e no apoio aos projetos vitais nobres (morais) dos jovens.
Essa discussão ajuda a compreender os valores da juventude contemporânea na perspectiva da
chamada “psicologia positiva”, que estuda as fortalezas e as virtudes humanas, e não apenas as
debilidades e patologias. Ou seja, o foco é promover, de forma pró-positiva, a construção de
projetos vitais nobres por parte dos jovens, ajudando-os a desenvolver um sentido de bem
estar duradouro por toda a vida, além de encorajá-los a realizar suas mais altas aspirações
pessoais e profissionais.
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http://www.williamdamon.com/
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O que o jovem quer da vida?

Como pais e professores podem orientar e motivar os adolescentes.

William Damon - São Paulo: Summus, 2009.

Sobre o autor: estudioso do desenvolvimento humano e aluno de Jean Piaget é professor de Educação e diretor do Centro de Pesquisas da Adolescência na Universidade de Stanford desde

Aviso ao leitor: este resumo não substitui a leitura da obra, construída com base na descrição de casos de projetos vitais de adolescentes que participaram da pesquisa que originou o livro. Neste resumo optamos por negligenciar vários exemplos e manter o foco nos conceitos. Portanto, caro leitor deste resumo: assim que puder, leia a obra completa.

Neste resumo os números entre colchetes indicam o número da página na obra completa. Também conta com notas de rodapé, que visam apontar a relação dos conceitos do autor com os do Programa ou esclarecer determinadas opções de “cortes” no texto original.

[11]

Apresentação à edição brasileira – por Ulisses F Araújo^2

...uma parcela dos jovens brasileiros e sua luta para dar sentido à vida conciliando estudo e trabalho, mas, acima de tudo, demonstrando que estão construindo um projeto de vida calcado na realidade do mundo em que vivem. Eles parecem estar cientes de que para atingir a felicidade pessoal e profissional futura, necessitam preparar-se por meio dos estudos e iniciar- se em uma profissão.

[12] O título da obra – O que o jovem quer da vida? – prenuncia a discussão que Willian Damon quer promover com os próprios jovens, seus pais, professores e todos aqueles envolvidos de alguma maneira, com a formulação de políticas públicas e trabalhos sociais com as juventudes (sim, no plural, pois não se pode falar de um único tipo de juventude nas multifacetadas sociedades contemporâneas).

[13] Jovens desengajados ou sem projetos vitais, sonhadores, superficiais e com projetos vitais (nobres ou antissociais) são as categorias que o autor desenvolverá no transcorrer do livro. Além disso, discute o papel da família, escola, mentores e outros membros de instituições sociais podem ter na construção e no apoio aos projetos vitais nobres (morais) dos jovens.

Essa discussão ajuda a compreender os valores da juventude contemporânea na perspectiva da chamada “psicologia positiva”, que estuda as fortalezas e as virtudes humanas, e não apenas as debilidades e patologias. Ou seja, o foco é promover, de forma pró-positiva, a construção de projetos vitais nobres por parte dos jovens, ajudando-os a desenvolver um sentido de bem estar duradouro por toda a vida, além de encorajá-los a realizar suas mais altas aspirações pessoais e profissionais.

(^1) http://www.williamdamon.com/ (^2) http://www.uspleste.usp.br/uliarau/

[14] Assim, projetos, objetivos, finalidades dão sentido à vida das pessoas, organizam pensamentos e ações e estão relacionadas com sistemas de valores. Se de forma intencional e dialética os projetos vitais e as finalidades de vida das pessoas atendem a um duplo objetivo – o de buscar simultaneamente a felicidade individual e coletiva -, baseiam-se em princípios da ética. Podemos, então, estar diante de valores morais – ou do que William Damon denomina “projetos vitais nobres”.

Como o próprio autor esclarecerá nas páginas 53 e 54 deste livro, esse tipo de objetivo de vida não é algo simples e comum, como divertir-se por uma noite, passar numa prova ou comprar um par de sapatos. O projeto vital pressupões um desejo de fazer diferença no mundo, de realizar algo de sua autoria que possa contribuir para a sociedade. Por isso a definição adotada pelo autor é a de que “projeto vital é uma intenção estável e generalizada de alcançar algo que é ao mesmo tempo significativo para o eu e gera consequências no mundo além do eu ”. Assim, um projeto vital é a razão por trás das metas e dos motivos imediatos que comandam o comportamento diário. Se o projeto vital tem características de alcance social, beneficiando o próprio sujeito e aqueles à sua volta, pode ser considerado nobre. Se visar metas destrutivas, contra o interesse de alguns ou da sociedade pode ser considerado antissocial.

[17]

Prefácio

A ideia de estudas projetos vitais seduziu-me de uma forma diferente. Não me pareceu apenas mais um tema de pesquisa, e sim o coroamento do trabalho que venho realizando há mais de trinta anos acerca do compromissão moral, educação do caráter e desenvolvimento humano. E não é só isso: em uma época em que a sensação de vazio generalizada assoma como um dos maiores perigos psicológicos contemporâneos, o estudo sobre motivação e projetos vitais pareceu-me crucial num sentido social. (...) Nenhum de meus estudos anteriores era sobre projetos vitais (...) um estudo que conduzi sobre compromisso moral chegou à conclusão de que pessoas que perseguem objetivos nobres são cheias de alegria, apesar dos constantes sacrifícios que enfrentam para realiza-los.

[18] (...) me levou a investigar como os jovens encontram seu projeto vital. Os adolescentes os têm? Em caso afirmativo, como os adquirem? Que projetos, além daqueles relacionados à carreira inspiram os jovens hoje? O que acontece quando os jovens são incapazes de encontrar uma causa para se devotar? Este livro é um balanço dos primeiros insigths que meus alunos e eu fomos adquirindo em nossa pesquisa inicial nesses questionamentos^3.

(...) Com efeito, na década de 1990 a política educacional estava completamente dominada por abordagens que encaravam com desconfiança os padrões morais – aliás, quaisquer padrões -, como se fossem vestígios de um tradicionalismo insensível. A autoestima havia se tornado o Santo Graal da educação, e os pais [e professores] foram aconselhados a evitar “traumatizar” seus filhos (supostamente) frágeis ao exercer sua autoridade com demasiado vigor ou a exigir deles um esforço na busca de excelência e na aceitação de desafios, e ao controlar seu comportamento segundo restrições éticas. Em resposta a isso escrevi Grandes Expectativas^4.

(^3) No final deste resumo é apresentado o questionário completo utilizado na pesquisa. (^4) Greater expectations – sem edição no Brasil.

notas”, “evitar a reprovação” (...). Mas raramente (ou nunca) você ouvirá o professor debater com os alunos projetos vitais mais amplos do que quaisquer desses objetivos. Por que as pessoas leem ou escrevem poemas? Por que os cientistas isolam os genes? Por que, de fato, batalhei para ser um professor? Por incrível que pareça (...) nunca vi um caso sequer de um professor que compartilhasse com os alunos as razões pelas quais ele ou ela escolheu a profissão de educador. Também não costumo ouvir esse tipo de conversa na família ou na mídia. Como podemos esperar que o jovem encontre um significado no que está fazendo se tão raramente atraímos sua atenção para o projeto vital e o significado pessoal do trabalho que executamos em nosso dia a dia?

[23]

1 – Jovens vidas sem rumo

As perspectivas de vida de um jovem no mundo de hoje estão longe de ser exatas. Há apenas poucas décadas, quase todo jovem já sabia, ao final da adolescência, onde ia viver, qual ocupação e com quem ia se casar. Hoje a maior parte dos jovens não tem respostas a estas questões nem ao chegar na vida adulta. (...) Quanto à formação de sua família , por todo o mundo os jovens adultos estão adiando ou rejeitando o casamento. (...)

Alguns dos jovens de hoje saúdam essas mudanças e as novas oportunidades que elas oferecem. Eles têm aspirações claras para seu futuro, são motivados, cheios de energia, otimistas e criam planos realistas para atingir suas ambições. Em resumo, eles encontraram um projeto vital que os inspira e lhes dá direção.

[24] Ao mesmo tempo muitos dos seus pares estão atrapalhados, diante das sérias escolhas que terão que fazer ao chegarem à idade adulta sentem-se sem rumo. (...) Talvez [diante das incertezas econômicas dos países] estejam receosos dos riscos e escolhas que devem fazer. Ou talvez considerem as perspectivas disponíveis desinteressantes ou destituídas de significado. [25] (...) Nos dias de hoje, filhos crescidos sentem-se confortáveis morando com a família; eles realmente parecem apreciar o convívio com os pais e se comunicam com eles muito mais abertamente do que fez a geração de seus pais quanto ela própria era jovem.

[26] O problema não é o papel dos pais na vida dos filhos, mas sim a própria realização pessoal deles. Durante a adolescência, certa dose de autoanálise e experimentação é saudável. Trata-se de um período (...) rumo a uma autoidentidade madura. (...). [27] E essa tarefa de “formação da identidade” pode, sim, em alguns casos, levar anos de escolhas postergadas a fim de resolvê-la com sucesso.

No entanto seu atraso é caracterizado mais pela indecisão do que pela reflexão motivada, mais pela confusão do que pela busca de objetivos claros, mais pela ambivalência do que pela determinação. (...) Sem um sendo de direção, oportunidades são perdidas, podendo dar lugar à dúvida e ao retraimento. Adquirem-se costumes estranhos e deixam-se de lado hábitos positivos (...). De fato, a desobrigação prolongada dos papéis sociais adultos é uma receita para a ansiedade e a depressão. Permanecer descomprometidos com carreira, família e com outras responsabilidades comunitárias sérias é uma posição insustentável, que se torna cada vez mais desconfortável com o tempo. [28] Enquanto alguns progridem, outros parecem estar empacados, mesmo que não arrumem encrencas.

UM ESTUDO SOBRE OS PROJETOS VITAIS DO JOVEM

[29] Em minha investigação sobre o papel dos projetos vitais na juventude conduzimos [com minha equipe] uma série de estudos que incluíram avaliações e entrevistas detalhadas com adolescentes e jovens adultos (...). Por ora, apenas observarei que nossas descobertas iniciais revelam uma sociedade na qual jovens com projetos vitais são exceção à regra.

[35] Mas meu argumento é diferente: esses estudantes [focos de outro estudo] brilhantes não perderiam a motivação na faculdade se soubessem melhor o que querem realizar e por quê. Se encontrassem projetos vitais mais importantes do que notas e prêmios durante os primeiros anos de esforço extenuante e grandes realizações, continuariam no mesmo pique ao entrar na faculdade. Estariam ávidos por adquirir mais conhecimentos e habilidades que os ajudassem a realizar os seus desejos. (...) Trabalho pesado e competição nunca quebrantaram o espírito dos jovens, desde que acreditassem no que estão fazendo^6.

[37] (...) Mas, com certeza, está faltando algo. No passado, alguns educadores chamaram esse elemento perdido de “motivação”, e eu concordo que motivação está, de fato, faltando. Mas eu diria também que o cerne do problema é a falta de uma fonte de motivação, uma falta de projetos vitais – o que, a longo prazo, pode destruir as bases de uma vida feliz e plena.

DESCOMPROMETIDOS, MAS PRESTES A ENCARAR O MUNDO

[38] O descompromisso de hoje não tem sentido pessoal, social ou político; não tem um foco objetivo. De maneira involuntária, isso o torna uma forma mais pura de descompromisso, um descompromisso até mesmo com o descompromisso. (...) É antes de tudo, a ausência de algo – uma espécie de espaço vazio em um panorama que, em outro tempo e lugar, seria preenchido com atividades dinâmicas. (...)

[39] Quanto à riqueza, nossa pesquisa descobriu padrões similares entre grupos de jovens ricos e não ricos: uma pequena parcela de jovens em ambos os casos está fortemente motivada e profundamente comprometida; a maioria busca algo positivo para dar significado à vida; e uma minoria significativa de cada grupo dá poucas mostras de tentar encontrar algo que valha a pena. Portanto, acredito que devemos procurar respostas além dessas explicações [de grupo social].

INSATISFAÇÃO NA MEIA IDADE

[40] Pelo menos os estudantes [universitários] com os quais conversei tentaram, na meia-idade, identificar um interesse que pudesse lhes dar um ponto de partida na busca de algo significativo. (...) [41] De qualquer modo, se desconforto era tamanho que lançar-se ao desconhecido pareceu-lhe (s) uma alternativa melhor do que permarece (rem) no cominho atual. (...)

Mas Brittany teve sorte (...). Pouco antes de deixar a faculdade, esbarrou na disciplina de astrofísica, que frequentou apenas para completar o curso de ciências. Inesperadamente

(^6) Como advertência ao leitor deste resumo, vale lembrar que para o autor um projeto vital nobre implica na satisfação do “eu” individual e do “eu” coletivo, ou seja, os projetos vitais nobres são aqueles vinculados à uma ética e a uma moral altruístas e voltadas para a atuação no mundo, sem esquecer as necessidades individuais de sobrevivência do “eu” individual no mundo do trabalho.

maior do que nós mesmos. Essa constante dedicação combate nossas tendências autodestrutivas de alienação.

[48] (...) [na história da psicologia a] a “revolução cognitiva” levava a sério [pela primeira vez] o poder da mente racional no fortalecimento da saúde mental aos construir sistemas de crença positivos com base no projeto vital e no sentido de vida (...).

O novo campo da psicologia positiva que estuda os elementos – chave motivadores da felicidade humana (...) mostrou que a noção de se ter um projeto vital destaca-se na lista dos traços característicos que levam à felicidade. Essa nova área da ciência baseia-se em uma série de descobertas que combinam os insights da psicologia e da economia e revelam um sem- número de verdades que contrariam as noções intuitivas acerca da felicidade. Uma dessas descobertas é o paradoxo de que as pessoas mais felizes raramente são aquelas que fazem muito esforço para ter satisfação. (...) Nem status, fama, [dinheiro], ou outros esforços semelhantes que servem de alimento ao ego, tornam as pessoas significativamente mais felizes: as alterações positivas no estado de espírito que essas recompensas criam geralmente mostram-se temporárias, desaparecendo logo após o brilho inicial.

O que importa para a felicidade é o comprometimento com algo que a pessoa considere envolvente, desafiador e atraente, especialmente quando ela faz uma valiosa contribuição ao mundo (...).

A busca de projetos vitais nobres é exemplo de tal comprometimento. Um projeto vital nobre pode levar alguém a fazer diferença no mundo. Eles [portadores de um projeto vital nobre] veem o mundo através de uma lente otimista, enxergam a si próprios como extremamente eficazes. Tendem a considerar o fracasso uma oportunidade de aprendizado (...) e estão seguros de que bons resultados podem se seguir a reveses temporários. (...)

[50] (...) crianças que respondem com resiliência a circunstâncias difíceis têm quatro características-chave: noção de projeto vital (projetando-se do presente para o futuro)^8 , autonomia^9 , competência social^10 e habilidades para resolver problemas^11. Dessas quatro, eu diria que a principal é a noção de projeto vital, pois ele gera a motivação para que a criança estabeleça todas as outras.

(...) o projeto vital auxilia os jovens a controlar seus sentimentos – inclusive impulsos autodestrutivos que afloram repentinamente na mente de todo jovem de tempos em tempos (...) a juventude é um período de emoções abrasadoras (...). Na época da puberdade, uma repentina explosão na capacidade dos neurônios sobrecarrega os sistemas cognitivo e emocional do adolescente. O resultado é uma infusão de energia no que quer que atraia a atenção do jovem, o que pode levar a comportamentos extremos e, às vezes, perigosos. Por essa razão, o período da adolescência pode ser arriscado parra o próprio jovem e para os outros (...).

(^8) Aprender a ser (^9) Aprender a aprender (^10) Aprender a conviver (^11) Aprender a fazer (o autor não utiliza esse vocabulário, mas é produtivo apontarmos essas relações)

[51] Ainda assim, exatamente a mesma explosão neuronal que gera essas emoções de difícil controle e o comportamento irrequieto é capaz de melhorar a capacidade de julgamento e de raciocínio do adolescente. O desenvolvimento do cérebro no início da adolescência pode expandir a gama de interesses e aumentar o nível de seriedade com a qual ele se dedica a esses interesses. Adolescentes podem se tornar – e tornam-se, de fato – tão devotados a tocas instrumentos musicais ou desenvolver programas de computador, por exemplo, quanto a dirigir em alta velocidade quando estão bêbados. A questão é: qual será a escolha do jovem?

Conforme observa Ronald Dahl: “(...) essas emoções abrasadoras podem ser canalizadas de maneira saudável, a serviço de objetivos elevados. As paixões estão enraizadas nos mesmos sistemas subcorticais [do cérebro] que os impulsos biológicos e os elementos primitivos da emoção. Ainda assim, a paixão entrelaça-se com os mais alto nível de empenho humano: paixão por ideias e ideais (...) e a paixão inspira sentimentos transcendentes”.^12

[52] O projeto vital dota a pessoa de alegria nos bons momentos e de resiliência nos momentos ruins, e isso permanece por toda a vida. Entretanto, adolescentes e jovens adultos são particularmente mais suscetíveis, e uma juventude motivada por projetos vitais não apenas evita os riscos do comportamento autodestrutivo como também demonstra uma atitude notavelmente positiva que desperta a avidez por conhecer o mundo (...). Pessoas com projetos vitais deixam de pensar nelas mesmas, tornando-se, em vez disso, fascinadas pelo trabalho ou pelo problema que tem em mãos. Enquanto mobilizam sua capacidade física e mental para chegar a uma solução, podem descobrir aptidões que jamais pensariam ter: talentos não experimentados, novas habilidades, reservas de energia não explorada. Sentem uma onda de excitação enquanto se encaminham para os seus objetivos. Desligam-se das pequenas preocupações do dia a dia, de onde estão, de que horas são – sem suma, de todas as fronteiras mentais normalmente apresentadas pelo universo físico e material. (...) A pesquisa é clara: embora a absorção no projeto vital possa ser extenuante, traz também um profundo sentimento de satisfação, bem-estar e alegria. (...) Todos os que escreveram sobre satisfação psicológica identificaram [a] combinação de noção de progresso e estabilidade emocional como uma de suas condições-chave^13.

OS SINAIS INCONFUNDÍVEIS DO PROJETO VITAL

[53] Mas o que é exatamente projeto vital? E como reconhecê-lo?

Projeto vital é uma intenção estável e generalizada de alcançar algo que é ao mesmo tempo significativo para o eu e gera consequências no mundo além do eu.

Escolhemos essa definição porque ela destaca dois pontos-chave:

1 – projeto vital é uma espécie de objetivo, mas tem longo alcance e é mais estável que os objetivos mais simples e comuns como “divertir-se esta noite”;

2 – o projeto vital pode ajudar na busca pessoal de um sentido de vida mais além do aspecto pessoal (...). O projeto vital comunica-se com o mundo além do eu. Isso implica um desejo de

(^12) Quanto a isso vale a pena rever o texto “Por uma Educação interdimensional” de Antônio Carlos Gomes da Costa ou, ainda, o texto “Ética biofílica” de Erich Fromm, postados em nosso AVA. 13 Ou seja, para o autor, o engajamento no projeto vital é diferente da bitolação (não reflexiva, portanto) em uma causa ou em uma ideia.

O problema principal é que qualquer suposto indicativo comportamental de sucesso – ou de fracasso, se for o caso – pode ser enganoso. Um jovem pode estar empenhado em diversas atividades e sair-se bem em todas elas, mas ainda lhe faltar um verdadeiro direcionamento. (...) Como poderíamos determinar com antecedência que esses indivíduos estavam no caminho para o sucesso apesar de sua aparente incapacidade – que no que se refere ao desenvolvimento, de fato já estavam progredindo quando eram jovens? (p.ex.: uma pessoa bem sucedida nos negócios, mas com déficit de aprendizado).

[58] Aqui acredito que a solução de Piaget seja a chave. Mais reveladora do que quaisquer parâmetros comportamentais em particular, como aprovação em exames, prêmios conquistados, popularidade ou até mesmo o nível geral de felicidade exibido, é a direção e o significado dos esforços de um jovem. Os indicativos são: o jovem está se empenhando para alcançar uma meta que valha a pena? Ele encontrou projetos vitais satisfatórios para motivar e direcionar seus esforços? Eles são compreendidos e valorizados pelas pessoas de que ele necessita para apoiá-lo enquanto está crescendo?

Quando duas condições cruciais se aplicam – o movimento progressivo em direção a um projeto vital satisfatório e uma estrutura de apoio social compatível com esse esforço - , tudo indica que a criança será bem-sucedida (...). A vida, como tantos eventos atléticos, é basicamente um jogo de recuperação.

(...) à medida que o aprendiz lida com novos e difíceis desafios, quase sempre há um declínio inicial nas habilidades. São cometidos erros em tarefas que antes pareciam fáceis, e o aprendiz sente-se mais “burro” do que nunca. O caso é que os “erros idiotas”, em retrospecto, nada mais são do que erros de crescimento. Uma vez que o aprendiz passa por essa baixa, a performance eleva-se rapidamente a novos patamares^14.

[59] (...) Quando os adultos são capazes de enxergar isso, os jovens se dão conta de que há pessoas que acreditam neles. E essa mensagem pode fazer enorme diferença na busca de um caminho.

PROJETO VITAL NOBRE x PROJETO VITAL ANTISSOCIAL

(...) e quanto aos propósitos ruins? São tão “ verdadeiros” quanto os positivos e os sociais? Eles funcionam da mesma forma como motivadores? Podemos, de fato, determinar se o projeto vital de alguém é bom ou mau, nobre ou antissocial?

(...) Para ser qualificado com um projeto vital valioso, o como e o por que de uma ação devem ser orientados por um forte senso moral. Encontrar um propósito nobre significa tanto devotar- se a uma causa que valha a pena como fazê-lo de maneira honrada.

(^14) Cabe como sugestão que o leitor faça uma breve pesquisa de estudo sobre os conceitos piagetiano de “equilibração”, “desequilibração” e “acomodação”; e do vigotskiano “zona de desenvolvimento proximal”. Links sugeridos: http://www.psicoloucos.com/Jean-Piaget/teoria-equilibracao.html http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/adaptacao-equilibracao-626714.shtml http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/vygotsky-conceito-zona-desenvolvimento- proximal-629243.shtml http://pt.wikipedia.org/wiki/Zona_de_desenvolvimento_proximal

[60] Com base em minhas observações do projeto vital na vida humana, em leituras e discussões com outros colegas e minhas próprias reflexões sobre o assunto, concluo que:

1 – somente um projeto vital positivo, social, pode fornecer inspiração, motivação e resiliência duradoura;

2 – projetos vitais destrutivos ou antissociais podem ter efeitos intensamente motivados por certo tempo, mas ao final eles se extinguem, lentamente ou subitamente, com atividade autodestrutiva;

3 – projetos vitais nobres promovem o bem-estar dos outros; projetos antissociais prejudicam os outros.

[61]

ENTÃO, ONDE SE PODE ENCONTRAR UM PROJETO VITAL?

Em nossa sociedade, o trabalho é um dos principais locais em que as pessoas encontram projeto vital; e no trabalho, assim como em qualquer outra área da vida, esse projeto acrescenta energia, resiliência e realização a longo prazo.

[62] Tradicionalmente o trabalho motivado por um projeto vital é denominado “vocação”; mesmo a palavra tendo uma conotação tão sublime, poucos a empregam para falar dos seus trabalhos. Uma consequência infeliz disso é que os jovens raramente são encorajados a identificar uma vocação para si. Em vez disso, sempre os aconselhamos a procurar um emprego que assegure sustento e segurança financeira, deixando para trás o ideal de vocação.

(...) Max Weber escreveu que todas as pessoas têm uma vocação particular, que reflete três qualidades intrínsecas: suas próprias habilidades; a necessidade que o mundo tem dos serviços que essas habilidades podem proporcionar; e a satisfação que têm em servir a sociedade à sua maneira.

Quando se pensa no trabalho como vocação em vez de um simples emprego, a experiência de trabalhar se transforma (...).

O vital na questão da vocação é que as pessoas entendam que é algo a ser encontrado até mesmo nos empregos e nas empreitadas mais simples.

[64]

CIÊNCIA E FÉ EM ACORDO

(...) Durante grande parte da era moderna, defensores da ciência e defensores da fé enfrentaram-se em batalhas verbais. Mas o projeto vital humano é um fenômeno em que não há batalhas, porque as tradições da ciência e da fé dizem essencialmente o mesmo.

[65] A maior parte dos exemplos deste livro é retirada de fontes seculares como o trabalho, a família e a cidadania. Mas não há dúvida de que o projeto vital religioso pode promover o mesmo tipo de benefício psicológico e social.

REALISMO E O BEM MAIOR

3 – Realizações científicas

4 – Fé religiosa e espiritualidade

5 – Esportes

6 – Artes

7 – Serviço comunitário

8 – Temas políticos

Vemos que a família é a primeira entre as fontes de projetos vitais para os jovens. Para alguns trata-se de ficar com os pais; para outros de constituir sua própria família (...).

[74] O que essa descoberta revela é que os jovens de hoje sentem-se conectados à família de tal maneira que causaria inveja a muitos das gerações anteriores. Essa noção de ligação é a base da comunicação íntima e frequente entre os filhos crescidos de hoje e seus pais, a que me referi anteriormente.

(...) descobriu-se que a religiosidade desempenha papel positivo no desenvolvimento saudável (...) [75] Isso mostra que o propósito baseado na fé tem o poder de encaminhar a vida em direções positivas, pelo menos para aqueles jovens que se tornam verdadeiros devotos.

Entre as menos frequentes fontes de projetos vitais contemporâneas, a mais notável por sua baixa classificação em nossa coleta de dados é o interesse político e social. (...) Na atual geração de jovens, há muito pouco anseio pela liderança política. (...) Na verdade, muitos jovens demonstram pouco interesse na sociedade além do círculo fechado de sua família e de seus amigos mais próximos. Essa falta de interesse pode ser conferida na sua pouca consciência cívica. (...)

[77] (...) O cinismo é manifestado em relação à ação política em todos os níveis, até mesmo na escola. Questionada sobre como funciona a administração na escola uma garota disse “O diretor e os vices provavelmente tomam as decisões, e dizem o que está acontecendo e não se preocupam com isso”. Um sentimento palpável de futilidade – uma sensação de “para quê” – é a postura da maioria dos estudantes em relação à participação política.

(...)

Isso é de alguma forma incomum e singular? Por acaso a juventude não foi sempre uma época de buscar prazeres pessoais e relacionamentos íntimos em vez de participação na sociedade civil? Os jovens alguma vez já foram guiados por um senso de dever cívico ou dedicaram-se a propósitos sociais e políticos além da própria vida diária? De fato, não há muito tempo no futuro para se interessar por tais coisas?

As desconfortáveis respostas a essas questões são: (1) sim, a atual falta de dedicação dos jovens a projetos vitais civis é incomum por quaisquer padrões históricos; (2) não, a juventude não é, por tradição, um período exclusivamente de objetivos pessoais em detrimento dos cívicos; e (3) muitos jovens normalmente são atraídos por questões cívicas e politicas no final da adolescência. Na verdade, há razão para crer que as orientações cruciais na vida de uma

pessoa são incubadas durante a adolescência. Se a preocupação cívica não está entre elas, pode nunca surgir^15. (...)

[78] Todas as teorias de desenvolvimento humano retratam a adolescência como o período em que o jovem formula sua identidade. O componente cívico de sua identidade é a sujeição a um sistema de crenças morais e sociais, um tipo de ideologia pessoal, com a qual o jovem assume compromisso.

[79]

OS DESENGAJADOS, OS SONHADORES, OS SUPERFICIAIS E OS QUE TÊM PROJETOS VITAIS

Nossa amostra nacional inicial de jovens identificou quatro grupos, que chamarei de desengajados (25%), sonhadores (25%), superficiais (30%) e os que têm projetos vitais (20%).

Os desengajados são aqueles que não manifestaram nenhum projeto vital. Não fazem esforço nem parecem buscar um objetivo; alguns são apáticos e desinteressados; outros preocupam-se somente com o prazer pessoal.

Os sonhadores são aqueles que exprimem ideias sobre projetos vitais que gostariam de ter, mas fizeram ou fazem pouco ou nada para pôr em prática essas ideias. Podem se imaginar fazendo coisas importantes para o mundo, mas não desenvolveram os planos práticos necessários na busca de um projeto vital realista.

Os superficiais estão engajados em atividades que parecem ter no mínimo propósito, mas prestam pouca atenção no significado dessas atividades além do presente; assim, demonstram poucos sinais de comprometimento nessas buscas com o passar do tempo. Pulam de atividades sem demonstrar coerência com o que querem da vida.

[80]

Os que têm projetos de vida são aqueles que encontraram algo significativo a que se dedicar, que sustentaram esse interesse por um período de tempo e que têm clara noção do que estão tentando realizar no mundo e por quê. Eles descobriram uma causa e um objetivo final que inspira seus esforços no dia a dia e os ajuda a planejar um futuro coerente. Eles sabem o que podem realizar e por que, e têm dado um passo atrás do outro para realizar suas ambições (...).

São os sonhadores e os superficiais que têm maior chance de mudar. Os que pertencem a esses grupos podem, a seu próprio modo, deslocar-se na direção de algo que lhes dê significado à vida. Ou poderão ficar prostrados se seus caminhos não os levarem a uma causa ou a um compromisso que absorva sua energia e sua imaginação. Juntos, esses dois grupos abrangem a maioria da população de jovens e, portanto, os riscos de sua jornada são especialmente altos. Nossa responsabilidade como adultos que os auxiliam em seus primeiros passos deveria ser evidente para todos nós.

[81]

(^15) Sobre o conceito de “preocupação cívica”, parece-nos que para o autor, por exemplo, que o voluntariado é uma delas; o ato de votar seria outra. Mais conceitualmente, trata-se da participação nas decisões políticas amplas. Por exemplo, o que se pode aprender numa escola na qual o protagonismo signifique, também, decisões colegiadas.

[92] não se pode negar que a “motivação” experimentada pelos que têm projetos vitais antissociais tem algo em comum com os sentimentos expressados pelos jovens que se dedicam a projetos vitais pró-sociais (...). Nos seus motivos (compromissos com os ideais, fazer a diferença no mundo, intenção de reparar uma injustiça, crenças, sustentação do compromisso por longos períodos, engajamento em planejamento para cumprir a missão), os dois grupos apresentam qualidades compartilhadas. A grande diferença entre os dois tipos reside na natureza contrastante dos projetos vitais adotados. Aqueles que se voltam para o pró-social promovem a vida, pois não celebram a morte ou a destruição; assume a paz e a não violência como meio legítimo para alcançar seus objetivos.

[94] Por hora devemos concluir que, por mais que existam aparentes coincidências entre projetos vitais pró-sociais e antissociais, eles diferem tanto que, de fato, não se pode falar sobre os dois aspectos de uma só vez (...). E o mais importante: projetos vitais pró-sociais asseguram a vida e obedecem aos padrões tradicionais legais, morais e éticos; ao passo que os antissociais celebram a morte e ignoram quaisquer padrões que se interponham no caminho do intento nocivo.

Um jovem pode seguir vários caminhos para chegar a um projeto vital antissocial, mas algo pode ser dito na maioria desses casos: o jovem não teve oportunidades suficientes de encontrar um projeto vital pró-social que pudesse substituir a atração pelo antissocial (...). Se não fornecermos aos jovens orientação positiva que inspire seu comportamento, eles procurarão orientação de tipo menos positivo (...).

Jovens que encontram projetos vitais nobres são idealistas de uma maneira otimista, não de forma raivosa ou egocêntrica. Aprendem a traduzir seu idealismo em realismo, mas não transformam seu realismo em cinismo ou niilismo. Não têm problemas em evitar tendências autodestrutivas e violentas, pois encontram projetos vitais que os inspiram a preencher a vida com atividades positivas^16.

[97]

4 – Perfis de projetos vitais

Os jovens que formam a minoria dentro da minoria dos que têm projetos vitais são fortemente motivados e extremamente eficientes. (...)

Alguns dos objetivos desses doze jovens impressionantes são altruístas (...). Outros estão envolvidos em causas cívicas ou políticas (...). Alguns perseguem ideais artísticos ou científicos (...). Alguns dos jovens estão florescendo como empreendedores (...) e alguns são missionários, cada qual promovendo uma fé religiosa diferente.

[98] (...) Ao examinarmos suas história, e ouvirmos diretamente deles como foram inspirados e motivados por seus projetos vitais, vieram à tona muitas lições de como esses projetos podem ser lapidados cedo na vida.

(^16) É nesse sentido que os profissionais da escola devem estar atentos para que o protagonismo juvenil esteja voltada para práticas pró-sociais. Também nesse sentido é sempre importante ter em mente que a participação e o protagonismo devem ser ensinados e passam por etapas de amadurecimento e consolidação, como descreve Antônio Carlos Gomes da Costa (ver livro “Protagonismo Juvenil”, disponibilizado para a escola ou texto do autor enviado por e-mail).

Pela duração e pela intensidade de sua dedicação, esses jovens são realmente excepcionais. Ainda assim, eles transmitem normalidade reconfortante àqueles que os conhecem: encaram a vida com tranquila, porém determinada autoconfiança, e são motivados. Mesmo com tudo que fazem, raramente transpiram angústia ou estresse. (...) Muitos deles, inclusive, comentam sobre isso, talvez sentindo que precisam frisar esse ponto em meio a tanto reconhecimento por suas conquistas. “Apenas um jovem normal” á a frase frequentemente repetida em muitas das entrevistas (...).

De fato, essa paradoxal normalidade é o que primeiro nos chama atenção nesses jovens. Como a maioria de seus pares, se tiverem a oportunidade de falar sobre a própria vida, eles são francos, sociáveis e conversadores. Demonstram claramente valorizar a oportunidade de falar com adultos que levem suas ideias a sério (...).

[99] A normalidade desses adolescentes altamente determinados em sua aparência, postura e quanto ao desenvolvimento torna-os de particular interesse para nós (...). Quando se trata da questão maior da busca humana de projetos vitais, felizmente, há mais ligação entre o comum e o extraordinário. Toda pessoa, não importa quão talentosa ou dotada, tem capacidade de encontrar um projeto vital e comprometer-se firmemente com ele.

O especial sobre esses jovens altamente motivados é a sua excepcional clareza sobre o projeto vital, que gera neles muita energia positiva extra, que não só os motiva a perseguir seus objetivos apaixonadamente, mas também a adquirir as habilidades e o conhecimento necessários para essa tarefa. No processo, eles tornam-se excelentes aprendizes, e desenvolvem eficiência prática incomum para as pessoas de sua idade (...).

Ryan descobriu seu projeto vital na primeira série – espantosamente cedo até mesmo para jovens altamente determinados (...). Quando uma professora contou aos alunos que as crianças na África estavam morrendo porque não dispunham de água limpa para beber, Ryan ficou apaixonado pela ideia de levantar dinheiro para construir poços. Ele executo serviços extras em casa e poupou 70 dólares (...). Em 2007 (...) já havia construído 319 poços de água potável em catorze países do redor do mundo (...).

[101] Em meio a todos seus prêmios e honrarias, a recusa de Ryan de ser enaltecido é reveladora. Ele compartilha com outros jovens altamente determinados a perspectiva realista de suas próprias contribuições: Ryan é determinado a fazer diferença no mundo, mas não se vê como especial ou superior por isso (...). Ele acredita que as pessoas deveriam contribuir com o que pudessem fazer de melhor, e que todos têm um papel a desempenhar (...). Quanto a si próprio, Ryan tem intenção de ir além: “Quero ultrapassar os meus limites e ver até onde chego”. Essa combinação de ambição e humildade é um dos sinais mais característicos – e reconfortantes – dos jovens altamente determinados.

Se tal combinação é uma causa ou efeito da eficiência dessas pessoas é impossível dizer; mas, certamente, é elemento central na força de caráter que os capacita a enfrentar desafios de enormes proporções em idade tão tenra. Fazer diferença requer tenacidade (...) persistência (...) e otimismo (...). Ao reconhecer os próprios limites (e os de todos), eles resistem à tentação de alimentar expectativas irreais (...).

(...) observamos que muitos jovens que têm projetos vitais haviam criado sua identidade desse modo sistemático e teoricamente orientado.

[111] (...) a busca de um projeto vital alimenta o desenvolvimento de uma teoria de trabalho que forma a base de uma construção sistemática do eu.

[114] Observe que o padrão de descoberta do projeto vital de Barbara é também similar ao dos outros jovens do grupo. Ela foi apresentada ao problema por alguém de fora da família – nesse caso uma amiga (embora no caso dos outros tenham sido professores ou outros adultos). Houve um momento de revelação: algo parecia errado, e precisava ser melhorado ou corrigido.

[115] Eis a sequência de etapas que identificamos na conquista de um projeto vital:

1 – conversa inspiradora com pessoas de fora do círculo familiar;

2 – observação de pessoas que têm projetos vitais em seu trabalho;

3 – primeiro momento de inspiração: algo importante no mundo pode ser corrigido ou melhorado;

4 – segundo momento de inspiração: posso contribuir com algo e fazer a diferença;

5 – identificação do projeto vital, junto com tentativas iniciais de conquistar algo;

6 – apoio da família;

7 – amplos esforços para perseguir o projeto vital de modo original e consequente;

8 – aquisição de habilidades necessárias para essa empreitada;

9 – aumento da eficiência;

10 – elevação do otimismo e da autoconfiança;

11 – comprometimento com o projeto vital em longo prazo;

12 – transferência das habilidades e força de caráter adquiridas na busca de um projeto vital para outras áreas da vida.

[116] Uma vez que o jovem se envolve na busca do projeto vital, sua personalidade começa a se transformar devido às atividades e aos acontecimentos da empreitada. Por necessidade o jovem adquire capacidades como engenhosidade, persistência, conhecimento e tolerância a riscos e revezes temporários (...). Mas é a experiência adquirida na busca do objetivo que transforma essa inclinação em verdadeiro espirito empreendedor, acompanhado das habilidades práticas e das disposições exigidas para um empreendedorismo social maduro.

Virtudes de caráter como diligência, responsabilidade, confiança e humildade ganham força com a experiência de se comprometer com um projeto vital desafiador e ver o resultado disso. E mais: a aquisição de conhecimentos de topo tipo (verbal, matemático, cultural) cresce muito além de tudo que foi previamente aprendido pelo jovem em caso ou na sala de aula.

Talvez o mais importante, a perspectiva do jovem sobre o que é possível fazer (o potencial e também os limites da ambição) amadurece em resultado da exposição à inevitável mistura de sucessos e fracassos que todo empreendimento produz.

[117] O processo de aprendizado toma tempo, exige comprometimento duradouro e muito trabalho, no entanto não é um processo desagradável. Na verdade é algo emocionalmente satisfatório (...).

[118] Os diversos benefícios de ter um projeto vital ajudam a explicar por que esses jovens que encontraram algo com que se comprometer tendem a perseverar. Eles não precisam de estímulo externo uma vez que tenham começado, mas necessitam de apoio – da família em primeiríssimo lugar, de amigos e de outras pessoas quando possível (...).

O apoio ao jovem em sua perseguição de um objetivo pode vir de diversas fontes e sob vários aspectos.

[119] Além dos pais, outros mentores adultos podem desempenhar papéis decisivos. De fato, é comum que um adulto de fora apresente o projeto vital ou encoraje o jovem a levantar a bandeira.

[120] Em alguns casos, jovens que têm projetos vitais buscam a instrução, o apoio e a inspiração de vários mentores.

[121] O jovem que tem projetos vitais também busca apoio dos amigos: como a maioria dos adolescentes e dos jovens adultos, eles valorizam as amizades e reagem a elas de maneiras que não podem ser reproduzidas em relacionamentos com adultos. (...)

Os jovens com elevado nível de projetos vitais concentram-se tanto nisso que, às vezes, tomam outras decisões, selecionando, por exemplo, quem querem ter como amigos durante o desenvolvimento de sua missão. Mas não seria correto chama-los de bitolados. Na verdade, eles têm os mesmos interesses que os outros jovens.

122 É isso mesmo – os resultados de nosso estudo convenveram-me de que qualquer pessoa pode encontrar um projeto vital e persegui-lo com benefícios significativos para si próprio e para os outros. Mas, conforme comentei, o apoio é essencial nesse percursos.

[123]

5 – Ultrapassando a cultura do imediatismo

O único grande obstáculo para que o jovem descubra um projeto vital é a fixação em horizontes imediatistas reforçada pelas mensagens que são transmitidas a ele hoje em dia (...)

Mesclando busca de status, consumismo, insegurança, autopromoção e valores superficiais, os agentes da atual cultura pressionam os jovens a perseguir vitórias imediatistas, em detrimento de aspirações duradouras. A triste ironia é que, para muitos jovens, nem mesmo as metas imediatistas estão sendo buscadas (...).

[124] No mundo competitivo de hoje, o idealismo juvenil está perdendo terreno para o desejo bitolado de ganho material e segurança financeira (...).