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Uma visão geral da teologia prática, sua história e seu papel na igreja e na academia. A autoria destaca que a teologia prática é a interpretação da mensagem cristã na ação e na vida total da igreja, e que ela deve ser crítica, pública e focalizada em éticas teológicas. Além disso, a teologia prática examina a relação entre a igreja e seus contextos vividos e busca estabelecer um diálogo vivo entre a igreja e as culturas.
Tipologia: Provas
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James Farris
Em preparação. Palavras-chave: Em preparação.
ABSTRACT In preparation. Keywords : In preparation.
RESUMEN En preparación. Palabras clave : En preparación.
J a m e s F A R R I S. O q u e é T e o l o g i a P r á t i c a? 58
[Edição original página 83]
Fazer a pergunta “O que é Teologia Prática” é entrar num campo vasto e complexo. Para começar, é fun- damental a identificação de quem está levantando a pergunta e quem está respondendo. Por exemplo, um psicólogo, sociólogo ou filósofo, sem nenhuma inserção na Igreja, vai entender esta pergunta de ma- neira totalmente diferente de um/a pastor/a ou um/a teólogo/a com raízes profundas na fé cristã. No campo cultural, há considerável dúvida sobre a palavra “Teologia” e a tarefa teológica. A teologia é chamada “superstição sistematica- mente articulada” por algumas pes- soas nas “ciências exatas”.^1 Dentro de certas partes da cultura moder- na, a teologia é vista freqüente- mente como algo que pertence ao passado. Não pertence ao mundo da “ciência”. É um mistério que, às vezes, é posto na mesma categoria como a alquimia ou a astrologia. Quando a palavra “Prático” é acres- centado a “Teologia” o efeito é algo como “Alquimia Prática” ou “Astro- logia Prática”. Na pior das hipóte- ses, dentro da cultura moderna ou pós-moderna, a Teologia Prática é compreendida como “superstição sistematicamente articulada, que é prática”. A cultura neoliberal que influencia a visão do mundo dominante é alta- mente instrumental. A atitude fun- damental por trás dessa atitude e- conômica — cultural — filosófica é focalizada para resolver problemas. Por isso, qualquer disciplina que não tenha interesse na eficiência, na solução de problemas práticos, ou no lucro, é desvalorizada. A teo-
(^1) Don BROWNING, A Fundamental Practical The- ology, Minneapolis, Augsburg: Fortress, 1991, p. 4.
logia, de uma perspectiva neolibe- ral, ou não é funcional [Edição original página 83/84]
ou é de importância apenas em termos de sua função social. Nessa perspectiva, a Teologia Prática é vista ou como uma contradição to- tal, ou como um instrumento pu- ramente social. A cultura neoliberal faz a pergunta: “Uma disciplina po- de ser prática, sem ser instrumen- tal?” A resposta é, quase sempre, “Não”. Prático, nesse contexto, sig- nifica eficiente, como definido por mercados econômicos ou pelo pragmatismo. Por essas razões, este ensaio não vai lidar com as categorias de questões e abordagens apresenta- das pelos contextos seculares, ou culturais, num sentido amplo. Este trabalho vai destacar o mundo da Igreja, ou das tradições religiosas e suas perguntas e dúvidas sobre o lugar e a identidade da Teologia Prática. Não obstante, muitas pes- soas dentro de tradições religiosas não têm idéias claras sobre o lugar ou a identidade da teologia. Dentro de muitos contextos religiosos, a teologia é freqüentemente vista como “algo” abstrato e teórico “fei- to” por outras pessoas, normal- mente um grupo de elite. A Teolo- gia Prática, como disciplina teológi- ca formal, é quase desconhecida ao nível da igreja local. Na melhor das hipóteses, ouvindo o termo Teolo- gia Prática as pessoas em igrejas locais pensam na Educação Cristã, ou no Aconselhamento Pastoral. Nesse sentido, a Teologia Prática é limitada às disciplinas ministeriais. O propósito deste trabalho é ofere- cer um curto resumo da história e do estado atual da Teologia Prática, a fim de informar melhor as comu- nidades da Igreja e da academia sobre sua função e identidade. A
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te, essa visão geral das disciplinas teológicas dominou as relações en- tre as diversas escolas de teologia. Em termos históricos, essas divi- sões da teologia são relativamente recentes. Uma das convicções inici- ais da Igreja Primitiva era que a vi- da dos crentes deveria ser orienta- da por uma visão básica do mun- do.^3 Como fazer isso era entendido como uma das tarefas centrais na vida da Igreja. Embora o termo teologizar não fosse usado nesta época, o processo e o seu conteúdo representam o berço da teologia cristã. Essa convicção da importância de formar uma visão básica do mundo estava relacionada com a idéia de Paulo de ter a mente de Cristo e criar os frutos do Espírito. Isso não só envolveu a aceitação intelectual da fé Cristã, mas, também, a expe- riência emocional e o comporta- mento certo. Esta visão do mundo não existia em indivíduos, ou não era implantada na hora da conver- são; uma das tarefas centrais da Igreja era formar essas convicções, sentimentos e comportamentos. Por isso, foi prestada grande aten- ção a tais coisas como hinos, litur- gias, manuais espirituais de disci- plina e material educacional.^4 Estes assuntos práticos iniciais geraram debate em termos de como formar a mente de Cristo nos crentes, bem como a suficiência do material edu- cacional, e como essa visão do mundo, a mente de Cristo, deveria se manifestar. Conseqüentemente, a primeira reflexão intencional, ou sistemática, teológica na Igreja Cristã tratou de assuntos práticos ou espirituais. Obviamente, isso in-
(^3) Randy MADDOX , “Recovering Theology as a Practical Discipline: A Contemporary Agen- da”, Theological Studies 51 (1990): 650-672. (^4) M ADDOX , p. 655.
cluiu questões de exegese, mas o problema central era prático. [Edição original página 86/87]
Outra dimensão da discussão teo- lógica na Igreja Primitiva foi os apologéticos. Como a Igreja deve- ria tratar pessoas que questionam ou rejeitam convicções e práticas Cristãs? Esse debate envolveu as- suntos puramente filosóficos e prá- ticos, mas o tópico central era co- mo comunicar a mensagem do E- vangelho. A visão Cristã do mundo era diferente das Religiões de Mis- tério e das várias escolas de filoso- fia. Essas diferenças geraram deba- tes teóricos, ou filosóficos, que e- ram, sem dúvida, abstratos. Po- rém, o tópico central que marcou a discussão era como comunicar o Evangelho à cultura circunvizinha. Em outras palavras, enquanto o debate teológico e filosófico era in- tenso, seu ponto de começo e pro- pósito último era prático. Esse de- bate não foi dirigido exclusivamen- te aos não-crentes. As mesmas perguntas levantadas por pessoas fora da fé estavam sendo levanta- das por pessoas dentro da Igreja. A pergunta sobre como Jesus poderia ser Deus e homem era central. Es- sa era uma questão abstrata e prá- tica, ou espiritual. Por exemplo, a idéia de Jesus como Logos entrou na religião Cristã como uma forma de comunicar o ser de Jesus na lin- guagem Neo-Platônica. Essa ima- gem ajudou a comunicação entre a comunidade Cristã e a cultura e a formar a fé dos crentes. Tudo foi orientado, direta ou indiretamente, para o entendimento da fé, ou vi- são do mundo Cristão, da mente de Cristo, e sua formação. A teologia era profundamente prática. Havia pouca ou nenhuma separação entre a teoria e a prática.
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Os primeiros mil anos da teologia cristã foram orientados pela práxis Cristã, embora dizer isso seja uma generalização. Enquanto muitas questões teológicas fossam alta- mente abstratas ou acadêmicas, a teologia era uma disciplina prática no sentido de responder à pergun- ta: “O que significa ser cristão?”. Os debates e as discussões envol- veram a vida de todos na Igreja e trouxeram implicações imediatas em termos de como formar a men- te de Cristo. Porém, uma divisão começou a a- contecer na prática da Igreja. Dois tipos diferentes de professores co- meçaram a aparecer. Um grupo se especializou na formação dos Cris- tãos nas suas vidas cotidianas. Ou- tro grupo começou a se especializar na formação da santida-
[Edição original página 87/88]
de em grupos pequenos de mon- ges. Porém, em ambos os grupos, a orientação espiritual era feita por mentores que participavam de co- munidades de fé. A especialização começou a apare- cer com o desenvolvimento das Es- colas Catedrais. As Escolas Cate- drais começaram a dominar a tare- fa da formação espiritual. Essa es- pecialização foi formalizada no dé- cimo terceiro século, quando as Es- colas Catedrais começaram a fun- cionar como universidades semi- independentes. Essa transição criou grupos de especialistas acadêmicos que ensinavam a teologia ou trei- navam os monges. Os padres e mentores que viveram e trabalha- ram em comunidades locais conti- nuaram tendo influência considerá- vel, mas seu “ministério prático” era visto em contraste com o “tra- balho acadêmico” dos professores nas universidades. A teologia cres- centemente não foi vista como uma
disciplina prática, mas especulativa, ou teórica. A identidade e função inicial da teologia, como uma disci- plina prática, cuja meta era guiar o desenvolvimento da mente de Cris- to, estava desaparecendo. A distinção entre a Teologia Prática e Especulativa, ou Teórica, foi for- malizada por Tomás de Aquíno no seu Summa. Tomás incluiu as pre- ocupações da teologia monástica na última seção do Summa. Essa seção tratava de como responder à graça de Deus e estava preocupada com a prática. Isso estava em con- traste com a preocupação central de Tomás com a convicção Cristã. Na sua teologia, a convicção foi re- lacionada diretamente à Teologia Teórica ou Especulativa. A prática estava situada em uma subseção chamada Teologia Prática. Um dos resultados desta estrutura era que a prática e a convicção estivessem crescentemente separadas. Outra distinção no Escolasticismo Católico Romano estava entre a prá- tica do Cristão ordinário e a prática de pessoas que procuram as voca- ções espirituais. Isso conduziu a uma subdivisão dentro da Teologia Prática: uma seção inicial foi dedi- cada a clarificar as expectativas éti- cas que pertencem a todos os cris- tãos (Teologia Moral); uma segunda seção (Teologia Espiritual) detalhou o método da elite (…) A divisão es- trutural da Teologia Moral e Espiri- tual no Es- [Edição original página 88/89]
colasticismo Católico Romano (…) deixou a Teologia Moral focalizada em atos, regras, e casuística, com pouca consideração da necessidade para (ou meios de) formar inclina- ções e disposições à ação moral. I- ronicamente, a reação ao Catolicis- mo Romano empurrou as teologias Escolásticas Protestantes na mesma direção. Sua rejeição de qualquer distinção entre Cristão comum e de elite combinou com a preocupação com o perigo de ‘Salvação através de Atos’ e o resultado era a separa-
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sa luz, a Teologia Prática é a inter- pretação da mensagem Cristã na ação da comunidade da Igreja. Há um problema com a palavra “a- ção”. No momento em que nós li- mitamos a Teologia Prática à “in- terpretação da mensagem Cristã na ação da comunidade da Igreja” nós limitamos nossa reflexão ao “fazer” em contraste com o “ser”. Isso re- sulta em um retorno ao estudo das “práticas” do aconselhamento, da educação, da missão e assim su- cessivamente. A comunidade da I- greja é mais que sua a-
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ção. A comunidade da Igreja, ou a vida de solidariedade da Igreja, é a koinonia. Nesse sentido, o objeto da Teologia Prática não é exclusi- vamente a ação da Igreja, mas sua vida. A koinonia da Igreja. A vida da comunidade da Igreja envolve receber, ser e agir. 7 Esses três são inseparáveis. John Deschner en- tende esses três aspectos em ter- mos da adoração, da solidariedade e do serviço. “A Teologia Prática tem a ver com a vida inteira da congregação — a adoração, a soli- dariedade e o serviço”. 8 Essa é uma idéia intrigante, que está relacionada intimamente com o conceito de que todo o entendi- mento humano é um diálogo. O en- tendimento humano é sempre con- textualizado. Nós começamos com nossa experiência, nós a testamos contra a nova informação e formu- lamos outras idéias ou entendimen- tos. Isso é bem parecido com rece- ber, ser e agir. A vida da comunidade da Igreja pode, num certo sentido, começar
(^7) John DESCHNER , “Preface to Practical Theolo- gy”, J. Arthur Heck Lectures, United Theolog- ical Seminary , April 21-22 , 1981, unpub- lished manuscript, p. 9. (^8) D ESCHNER , p. 11.
com a experiência, ou com o con- texto do divino, mas isto acontece em um mundo secular. A Igreja e- xiste em relação a Deus e ao mun- do. O ministério da Igreja é influ- enciado, ou condicionado, através de contextos culturais. Nesse senti- do, a Igreja, indivíduos e institui- ções, entram com a experiência do divino, testam-na em contextos culturais, geram novas maneiras de expressar o divino e avaliam-nas à luz das experiências originais. Esse processo pode resultar num fortale- cimento das experiências do sagra- do originais, ou em novas interpre- tações. Essa idéia é importante à luz da va- riedade enorme de contextos cultu- rais. Há contextos Europeus, Lati- no-Americanos, Asiáticos e assim sucessivamente. Há contextos ricos e pobres. Há contextos de pessoas que são casadas, não-casadas e di- vorciadas. Há contextos heterosse- xuais e homossexuais. A pergunta atual não é se a Igreja deveria tra- tar cada um desses contextos. On- de há os seres hu- [Edição original página 91/92]
manos, a Igreja tem uma missão para ministrar a eles. Isso é axio- matico. A questão é: “Qual é o ob- jeto da Teologia Prática?” A idéia central é que a Igreja não está isolada. Por isso, uma das ta- refas fundamentais da Teologia Prática é trazer o elemento da re- velação, o divino, para diálogo com os desafios presentes, em contex- tos culturais diferentes. A Teologia Prática tem que reconhecer a ten- são que existe entre o contexto di- vino e os contextos vividos. Os e- lementos fundamentais da solidari- edade, da adoração e do serviço e- xistem dentro de uma miríade de contextos. A vida da Igreja envolve escutar, respeitar e entrar em diá-
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logo com as realidades divinas e culturais. Essa realidade, também, levanta a pergunta sobre a possibi- lidade de separar as realidades di- vinas e culturais, mas essa pergun- ta está fora do alcance desta dis- cussão. Neste momento, vale levantar uma série de perguntas. Por que prestar tanta atenção aos contextos cultu- rais? Por que não proclamar, sem outras preocupações, o Evangelho? Nós temos nossos textos e tradi- ções sagradas. Nós temos nossas convicções e credos fundamentais. A missão da Igreja é proclamar o Evangelho. Por que não gastar mais tempo com o divino do que com o cultural? Por que não gastar mais tempo proclamando o absolu- to do que prestar atenção ao relati- vo? Outro modo de levantar estas per- guntas é: “Por que não separar o Sagrado do Profano”? Como todo o conhecimento humano acontece no diálogo, nós não podemos separar o Sagrado do Profano. Nós não po- demos separar o Cristo da Cultura. Outra resposta é que Deus ama contextos seculares e comunidades de crentes. A Igreja é “O Povo de Deus”, mas esses mundos, tam- bém, são “O Povo de Deus”. Qual- quer visão do mundo secular que ignore ou rejeite essa verdade bá- sica é superficial e viola o espírito do Cristianismo. Por isso, quando nós falarmos da vida no contexto da Igreja, nós temos que reconhe- cer sua realidade divina e cultural, no mesmo momento. Outro modo de dizer isso é que a Igreja está si- tuada em um contexto só, a cria- ção, mas dentro desse contexto, Deus fala na voz da cultura e na voz do transcendente.
[Edição original página 92/93]
Uma questão fundamental à Teolo- gia Prática é: “Que método é ade- quado para essa tarefa?” Em ter- mos amplos, a teologia pode ser entendida como um diálogo mutu- amente crítico entre interpretações da mensagem Cristã e interpreta- ções de experiências e práticas cul- turais contemporâneas.^9 Em outras palavras, a teologia Cristã é um di- álogo crítico entre as perguntas implícitas e as respostas explícitas do Cristianismo e as perguntas ex- plícitas e as respostas implícitas de experiências e práticas culturais contemporâneas. Em vez de a cul- tura moderna levantar as pergun- tas e a teologia prover as respos- tas, como em Paul Tillich, Tracy re- conhece que a cultura e a teologia fazem perguntas e oferecem res- postas. Isso exige um diálogo críti- co entre a cultura e a teologia. Esse método pode evitar os extre- mos da Teologia Prática dedutiva, ou indutiva. A teologia dedutiva começa com os princípios eclesioló- gicos e os aplica a situações ou contextos práticos. A teologia indu- tiva começa com o contexto cultu- ral, colocando a situação imediata num papel central, para mudar a ação da Igreja. Esse é o modelo mais usado pelas Teologias da Li- bertação. Em diversas Teologias da Libertação, a situação da pobreza financeira provê o ponto de partida da reflexão teológica. A tarefa é usar a análise estrutural para clari- ficar a situação de opressão, e a- profundar essas perspectivas atra- vés da sabedoria do Evangelho. O objeto dessa análise e reflexão é ajudar a Igreja a agir de modos mais efetivos e fiéis.
(^9) David T RACY , “The Foundations of Practical Theology”, in Practical Theology , ed. Don Browning, San Francisco, Harper and Row,
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mente, a Teologia Prática examina a relação entre a Igreja e seus con- textos vividos. Também, esta defi- nição continua o tema de que a Te- ologia Prática começa e termina com a vida e a ação da Igreja. Don Browning oferece uma defini- ção mais ampla da Teologia Prática. A Teologia Prática deveria ser “crí- tica, pública e focalizada em éticas teológicas”.^14 Browning entende que a palavra “crítica” significa que a Teologia Prática deveria buscar “entendimentos e razões, especi- almente para sua ação prática”. 15 Isso significa que a Teologia Prática deveria ser pública no sentido de relacionar a mensagem Cristã à I- greja e à vida pública. Por conse- guinte, a Teologia Prática deveria incluir a Igreja e a cultura. Inerente a essa perspectiva é que a Teologia Prática não começa e termina com a vida e as ações da Igreja. A Teo- logia Prática, também, deve ser pública. Isso manifesta a influência de David Tracy e o método de cor- relação revisada. Carol Lakey Hess amplia a necessi- dade de diálogo crítico, mas acres- centa o elemento da libertação.^16 No seu modelo, Hess identifica a necessidade de dialogar com as pessoas, comunidades e institui- ções que estão às margens da soci- edade. Hess reconhece a necessi- dade de prestar atenção aos exclu- ídos, mas, ao mesmo tempo, não permite à situação social limitar ou definir a Teologia Prática. Essa perspectiva se encaixa bem com os entendimentos diversos da
(^14) Don BROWNING, "Practical Theology and Reli- gious Education ," Formation and Reflection , Lewis S. Mudge and James N. Poling, eds., Philadelphia, Fortress, 1987, p. 80. (^15) B ROWNING, 1987, p. 80. (^16) Carol Lakey HESS , Conversation and Midwi- fery: A Feminist Approach to Practical Theolo- gy , Unpublished manuscript presented to the International Academy of Practical Theology, June, 1995.
[Edição original página 95/96]
Teologia Prática já apresentados. Porém, de acordo com Hess, pres- tar atenção às pessoas, comunida- des e instituições que estão na pe- riferia da sociedade requer dois a- créscimos importantes. Primeiro, o contexto social de todos os partici- pantes do diálogo deve ser levado em conta. Segundo, a questão da libertação, a análise de atos e es- truturas opressivos para melhorar as ações da Igreja e cultura, têm que se tornar um foco central da Teologia Prática. A teologia nunca é neutra, em termos de valores. Por isso, a Teologia Prática tem que i- dentificar os valores implícitos e explícitos, ou normas, que influen- ciam sua visão da “Mente de Cris- to”. Seguindo esse argumento, a li- bertação deve ser um valor ou norma central.
Em resumo, esta discussão apontou os quatro temas que guiam a Teo- logia Prática. Primeiro, a Teologia Prática está relacionada ao auto- criticismo disciplinado da vida intei- ra, inclusive da ação da Igreja. Se- gundo, a Teologia Prática está rela- cionada à crítica disciplinada de culturas. Terceiro, a Teologia Práti- ca busca estabelecer um diálogo vivo entre a Igreja e as culturas. Quarto, a meta dests diálogo é cri- ticar as perguntas e as respostas oferecidas pela Igreja e pelas cultu- ras a fim de formar a “Mente de Cristo” e transformar o mundo. Es- sa “formação ou atualização da vi- são cristã do mundo” não significa a conversão do mundo ao Cristia- nismo, como entendido tradicio-
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nalmente. Dentro da Igreja Cristã, a “formação da visão cristã do mundo” significa a interpretação e comunicação da verdade dos textos Cristãos no meio das realidades de culturas e como essas verdades podem ser expressas em ação. Isso significa comunicar as perguntas e as respostas oferecidas pela Igreja de modo que desafiem as pergun- tas e as respostas oferecidas pelas culturas. Esse processo será discu- tido em mais detalhe na seção se- guinte. Em vez de tentar oferecer uma de- finição sintética da Teologia Prática, é mais útil descrever seus objetivos básicos. Um dos objetivos da Teo- logia Prática é guiar a vida da Igre- ja. Isto inclui o dese-
[Edição original página 96/97]
jo de reformar a eclesiologia, mas envolve muito mais que isto. Guiar a vida da Igreja significa uma ava- liação crítica da vida e ação da I- greja, levando em consideração as Boas Novas do amor de Deus em Jesus Cristo, o Evangelho, e o uso das “artes e ciências humanas”. Um segundo objetivo da Teologia Práti- ca é oferecer uma visão integrada das disciplinas práticas de ministé- rio. Isso envolve reforçar as várias especialidades de ministério (a missão, o aconselhamento, a edu- cação, a liturgia e assim sucessi- vamente) dentro de uma visão uni- ficada da vida e ação da Igreja. Um terceiro objetivo é construir teolo- gias em relação ao contexto social. Isso poderia ser visto como o de- senvolvimento de teologias locais. Aprender como relacionar a teolo- gia aos contextos sociais diversos de modo que reconheçam as ne- cessidades e realidades específicas e proponham ações pertinentes e específicas. Um quarto objetivo é contribuir à análise social e à con-
versação pública crítica. Esse obje- tivo trata de analisar e responder às realidades sociais em um con- texto público e para propósitos pú- blicos. A Teologia Prática busca contribuir ao bem comum e fazer isto por meio de diálogos com cien- tistas sociais, líderes políticos e ou- tras tradições religiosas a fim de li- dar com os problemas sociais atu- ais. Um quinto objetivo é contribuir com a sabedoria prática para a ta- refa teológica. Isso significa enten- der a teologia como uma disciplina integrada, na qual todas as partes contribuem à vida do todo. Por e- xemplo, a experiência e ação hu- mana informam e revisam a teolo- gia sistemática e a teologia siste- mática informa e revisa a ação hu- mana. Finalmente, um sexto obje- tivo é contribuir para a transforma- ção social. Uma motivação funda- mental da Teologia Prática é a li- bertação ou transformação do mundo. Por causa desse motivo, a Teologia Prática e a Teologia da li- bertação são difíceis de separar. As duas analisam criticamente a ação com o objetivo de transformar a I- greja e o mundo. As diferenças en- tre as duas disciplinas são, na mai- or parte, metodológicas. Para concluir, é importante desta- car que nem todos os teólogos prá- ticos dão ênfase igual a cada um desses objetivos. A Teologia Prática é diversa. Porém, estes temas ou objetivos identificam as [Edição original página 97/98]
preocupações centrais dentro dessa diversidade. Como já citado, no meio dessa diversidade de objeti- vos, há três idéias que unem a Teologia Prática: 1) A reflexão teo- lógica deveria focalizar a experiên- cia e ação concretas: 2) A reflexão teológica deveria ajudar a entender a experiência e guiar a ação, e 3)