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O Processo Empreendedor, Manuais, Projetos, Pesquisas de Empreendedorismo

Esse tipo de empreendedorismo é mais comum em países em desenvolvimento, como ocorre com o Brasil, e também in- fluencia na atividade empreendedora total desses ...

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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O Processo Empreendedor
“O empreendedorismo é uma revolução
silenciosa, que será para o século XXI mais
do que a Revolução Industrial foi para o século XX.
Jeffry Timmons, 1990
A revolução do empreendedorismo
O mundo tem passado por várias transformações em curtos períodos de tempo,
principalmente no século XX, quando foi criada a maioria das invenções que revolu-
cionaram o estilo de vida das pessoas. Geralmente, essas invenções são frutos de ino-
vação, de algo inédito ou de uma nova visão de como utilizar coisas já existentes, mas
que ninguém antes ousou olhar de outra maneira. Por trás dessas invenções, existem
pessoas ou equipes de pessoas com características especiais que são visionárias, ques-
tionam, arriscam, querem algo diferente, fazem acontecer e empreendem. Os empre-
endedores são pessoas diferenciadas, que possuem motivação singular, apaixonadas
pelo que fazem, não se contentam em ser mais um na multidão, querem ser reconhe-
cidas e admiradas, referenciadas e imitadas, querem deixar um legado. Uma vez que
os empreendedores estão revolucionando o mundo, seu comportamento e o próprio
processo empreendedor devem ser estudados e entendidos.
Alguns conceitos administrativos predominaram em determinados períodos do
século XX, em virtude de contextos sociopolíticos, culturais, de desenvolvimento tec-
nológico, de desenvolvimento e consolidação do capitalismo, entre outros. A Figura
2.1 mostra quais desses conceitos foram mais determinantes: no início do século,
foi o movimento da racionalização do trabalho; na década de 1930, o movimento
das relações humanas; nas décadas de 1940 e 1950, o movimento do funcionalismo
estrutural; na década de 1960, o movimento dos sistemas abertos; nos anos 1970, o
movimento das contingências ambientais. No momento presente, não se tem um
movimento predominante, mas acredita-se que o empreendedorismo irá, cada vez
mais, mudar a forma de se fazer negócios no mundo. O papel do empreendedor foi
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O Processo Empreendedor

“O empreendedorismo é uma revolução silenciosa, que será para o século XXI mais do que a Revolução Industrial foi para o século XX.” Jeffry Timmons, 1990

A revolução do empreendedorismo

O mundo tem passado por várias transformações em curtos períodos de tempo, principalmente no século XX, quando foi criada a maioria das invenções que revolu- cionaram o estilo de vida das pessoas. Geralmente, essas invenções são frutos de ino- vação, de algo inédito ou de uma nova visão de como utilizar coisas já existentes, mas que ninguém antes ousou olhar de outra maneira. Por trás dessas invenções, existem pessoas ou equipes de pessoas com características especiais que são visionárias, ques- tionam, arriscam, querem algo diferente, fazem acontecer e empreendem. Os empre- endedores são pessoas diferenciadas, que possuem motivação singular, apaixonadas pelo que fazem, não se contentam em ser mais um na multidão, querem ser reconhe- cidas e admiradas, referenciadas e imitadas, querem deixar um legado. Uma vez que os empreendedores estão revolucionando o mundo, seu comportamento e o próprio processo empreendedor devem ser estudados e entendidos. Alguns conceitos administrativos predominaram em determinados períodos do século XX, em virtude de contextos sociopolíticos, culturais, de desenvolvimento tec- nológico, de desenvolvimento e consolidação do capitalismo, entre outros. A Figura 2.1 mostra quais desses conceitos foram mais determinantes: no início do século, foi o movimento da racionalização do trabalho; na década de 1930, o movimento das relações humanas; nas décadas de 1940 e 1950, o movimento do funcionalismo estrutural; na década de 1960, o movimento dos sistemas abertos; nos anos 1970, o movimento das contingências ambientais. No momento presente, não se tem um movimento predominante, mas acredita-se que o empreendedorismo irá, cada vez mais, mudar a forma de se fazer negócios no mundo. O papel do empreendedor foi

6 Empreendedorismo

sempre fundamental na sociedade. Então, por que o ensino do empreendedorismo está se intensificando agora? O que é diferente do passado? Ora, o que é diferente é que o avanço tecnológico tem sido de tal ordem, que requer um número muito maior de empreendedores. A economia e os meios de produção e serviços também se sofis- ticaram, de forma que hoje existe a necessidade de se formalizarem conhecimentos, que eram apenas obtidos empiricamente no passado. Portanto, a ênfase em empre- endedorismo surge muito mais como conseqüência das mudanças tecnológicas e sua rapidez, e não é apenas um modismo. A competição na economia também força novos empresários a adotar paradigmas diferentes. Por isso, o momento atual pode ser chamado de a era do empreendedorismo, pois são os empreendedores que estão eliminando barreiras comerciais e culturais, encurtando distâncias, globalizando e renovando os conceitos econômicos, criando novas relações de trabalho e novos empregos, quebrando paradigmas e gerando ri- queza para a sociedade. A chamada nova economia, a era da Internet, mostrou recen- temente e ainda tem mostrado que boas idéias inovadoras, know-how, um bom pla- nejamento e, principalmente, uma equipe competente e motivada são ingredientes poderosos que, quando somados no momento adequado, acrescidos do combustível indispensável à criação de novos negócios – o capital – podem gerar negócios gran- diosos em curto espaço de tempo. Isso era algo inconcebível há alguns anos. O con- texto atual é propício para o surgimento de um número cada vez maior de empreen- dedores. Por esse motivo, a capacitação dos candidatos a empreendedor está sendo prioridade em muitos países, inclusive no Brasil, haja vista a crescente preocupação

Quadro 2.1 Algumas invenções e conquistas do século XX 1903: Avião motorizado 1915: Teoria geral da relatividade de Einstein 1923: Aparelho televisor 1928: Penicilina 1937: Náilon 1943: Computador 1945: Bomba atómica 1947: Descoberta da estrutura do DNA abre caminho para a engenharia genética 1957: Sputnik, o primeiro satélite 1958: Laser 1961: O homem vai ao espaço 1967: Transplante de coração 1969: O homem chega à Lua; início da Internet, Boeing 747 1970: Microprocessador 1989: World Wide Web 1993: Clonagem de embriões humanos 1997: Primeiro animal clonado: a ovelha Dolly 2000: Seqüenciamento do genoma humano

8 Empreendedorismo

desenvolvidas relacionadas ao tema. Alguns exemplos são: programas de incubação de empresas e parques tecnológicos; desenvolvimento de currículos integrados que estimulem o empreendedorismo em todos os níveis, da educação fundamental à pós-secundária; programas e incentivos governamentais para promover a inovação e transferência de tecnologia; subsídios governamentais para criação e desenvolvi- mento de novas empresas; criação de agências de suporte ao empreendedorismo e à criação de negócios; programas de desburocratização e acesso ao crédito para peque- nas empresas; desenvolvimento de instrumentos para fortalecer o reconhecimento da propriedade intelectual, entre outros. Particularmente no que se refere à educação empreendedora, os exemplos e ca- sos de sucesso têm sido cada vez mais freqüentes, haja vista o empreendedorismo ter se disseminado rapidamente como disciplina, forma de agir, opção profissional e como instrumento de desenvolvimento econômico e social. Alguns exemplos mun- diais acerca da educação empreendedora foram discutidos na Conferência “Educa- ção Empreendedora na Europa” ocorrida em 2006:

  • Programa Cap’Ten (Bélgica): voltado para educação fundamental, através do qual as crianças são estimuladas a ter idéias dentro e fora da sala de aula, a se organizar em equipes, elaborar o planejamento e implantação de projetos;
  • Boule and Bill create an Enterprise (Luxemburgo): através de histórias em qua- drinhos as crianças são estimuladas a desenvolver habilidades empreendedo- ras e agir de forma empreendedora;
  • Os países da Comunidade Européia se comprometeram a realizar uma com- pleta reforma nos currículos da educação secundária para incorporar o em- preendedorismo de forma mais efetiva nos cursos, o que deve ser finalizado até 2013. Entre as atividades que serão desenvolvidas, incluem-se um período sabático para professores fazerem estágio em empresas, programas abrangen- tes de treinamento de professores, criação de redes de troca de experiência e discussão de casos de sucesso;
  • Na educação superior as recomendações são a sistematização da capacitação de professores para ensinar empreendedorismo de forma abrangente e não apenas com o foco na criação de empresas, o desenvolvimento de estudos de casos de empreendedores locais e regionais, o envolvimento de empreende- dores da vida real na formatação e aplicação dos programas (professores e empreendedores ensinando na sala de aula e fora dela) etc. Além disso, desta- cam-se os programas de miniempresas, através dos quais os estudantes criam e gerenciam um negócio durante a graduação. Um exemplo usado como refe- rência e indicado para ser seguido na Europa e em outros países é o do NFTE

Capítulo 2 | O Processo Empreendedor 9

- Network For Training Entrepreneurship , iniciado nos Estados Unidos e volta- do a ensinar empreendedorismo para jovens de comunidades carentes.

Em todo o mundo, o interesse pelo empreendedorismo se estende além das ações dos governos nacionais, atraindo também a atenção de muitas organizações e entidades multinacionais, como ocorre na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia. Há uma convicção de que o poder econômico dos países depende de seus futuros empresários e da competitividade de seus empreendimentos. Outro exemplo é o in- teresse do Fórum Econômico Mundial, que patrocina a conferência anual de Davos, no qual o tema empreendedorismo tem sido discutido de forma recorrente, já que é considerado de interesse global. A explicação para a focalização de um número cada vez maior de países no em- preendedorismo pode ser obtida ao se analisar o que ocorre nos Estados Unidos. Trata-se do maior exemplo de compromisso nacional com o empreendedorismo e o progresso econômico. Além de centenas de iniciativas dos governos locais e de orga- nizações privadas para encorajar e apoiar o empreendedorismo nos Estados Unidos, o governo americano gasta centenas de milhões de dólares anualmente em programas de apoio ao empreendedorismo. Por causa do sucesso relativo desses programas, os mesmos são vistos como modelos por outros países que visam a aumentar o nível de sua atividade empresarial. Isto tem ocorrido com o Reino Unido, que criou em 1999 a Agência de Serviços para Pequenas Empresas, nos moldes do SBA (Small Business Administration) americano, e também com outros países da Comunidade Européia. A conjunção de um intenso dinamismo empresarial e rápido crescimento econô- mico, somados aos baixos índices de desemprego e às baixas taxas de inflação ocorri- dos, por exemplo, na década de 1990 nos Estados Unidos, aparentemente aponta para uma única conclusão: o empreendedorismo é o combustível para o crescimento eco- nômico, criando emprego e prosperidade. O desafio atual dos americanos é retomar este mesmo dinamismo para vencer a crise do mercado imobiliário de 2007/2008 e que afetou todo o mundo. Economistas e especialistas americanos são unânimes em dizer que a resposta para a saída da crise continua sendo a mesma: estimular e desen- volver o empreendedorismo em todos os níveis. Todos estes fatores levaram um grupo de pesquisadores a organizar, em 1997, o projeto GEM – Global Entrepreneurship Monitor, uma iniciativa conjunta do Babson College, nos Estados Unidos, e da London Business School, na Inglaterra, com o objetivo de medir a atividade empreendedora dos países e observar seu re- lacionamento com o crescimento econômico. Este pode ser considerado o projeto mais ambicioso e de maior impacto até o momento no que se refere ao acompa- nhamento do empreendedorismo nos países. Trata-se de uma iniciativa pionei-

Capítulo 2 | O Processo Empreendedor 11

propícios, e o empreendedor praticamente não encontrava informações para auxi- liá-lo na jornada empreendedora. O Sebrae é um dos órgãos mais conhecidos do pequeno empresário brasileiro, que busca junto a essa entidade todo o suporte de que precisa para iniciar sua empresa, bem como consultorias para resolver pequenos problemas pontuais de seu negócio. O histórico da entidade Softex pode ser confun- dido com o histórico do empreendedorismo no Brasil na década de 1990. A entidade foi criada com o intuito de levar as empresas de software do país ao mercado externo, por meio de várias ações que proporcionavam ao empresário de informática a capa- citação em gestão e tecnologia. Foi com os programas criados no âmbito da Softex em todo o país, junto a incu- badoras de empresas e a universidades/cursos de ciências da computação/informática, que o tema empreendedorismo começou a despertar na sociedade brasileira. Até en- tão, palavras como plano de negócios ( business plan ) eram praticamente desconheci- das e até ridicularizadas pelos pequenos empresários. Passados 20 anos, pode-se dizer que o Brasil entra neste novo milênio com todo o potencial para desenvolver um dos maiores programas de ensino de empreendedorismo de todo o mundo, comparável apenas aos Estados Unidos, onde mais de 2.000 escolas ensinam empreendedorismo. Seria apenas ousadia se não fosse possível. Ações históricas e algumas mais recentes desenvolvidas começam a apontar para essa direção. Seguem alguns exemplos:

  1. Os programas Softex e Genesis (Geração de Novas Empresas de Software , In- formação e Serviços), criados na década de 1990 e que até há pouco tempo apoiavam atividades de empreendedorismo em software , estimulando o ensi- no da disciplina em universidades e a geração de novas empresas de software ( start-ups ). O programa Softex foi reformulado e continua em atividade. In- formações podem ser obtidas em www.softex.br.
  2. O programa Brasil Empreendedor, do Governo Federal, que foi dirigido à ca- pacitação de mais de 6 milhões de empreendedores em todo o país, destinan- do recursos financeiros a esses empreendedores, totalizando um investimento de R$8 bilhões. Este programa vigorou de 1999 até 2002 e realizou mais de 5 milhões de operações de crédito.
  3. Ações voltadas à capacitação do empreendedor, como os programas Empretec e Jovem Empreendedor do Sebrae, que são líderes em procura por parte dos empreendedores e com ótima avaliação.
  4. Os diversos cursos e programas sendo criados nas universidades brasileiras para o ensino do empreendedorismo. É o caso de Santa Catarina, com o pro- grama Engenheiro Empreendedor, que tinha como objetivo capacitar alunos de graduação em engenharia de todo o país. Destaca-se também o programa

12 Empreendedorismo

Ensino Universitário de Empreendedorismo, da CNI (Confederação Nacional das Indústrias) e IEL (Instituto Euvaldo Lodi), de difusão do empreendedo- rismo nas escolas de ensino superior do país, presente em mais de duzentas instituições brasileiras, envolvendo mais de 1.000 professores em 22 estados do país.

  1. Houve ainda um evento pontual que depois se dissipou, mas que também contribuiu para a disseminação do empreendedorismo. Trata-se da explosão do movimento de criação de empresas pontocom no país nos anos de 1999 e 2000, motivando o surgimento de várias empresas start-up de Internet, desen- volvidas por jovens empreendedores.
  2. Especial destaque deve ser dado ao enorme crescimento do movimento de incubadoras de empresas no Brasil. Dados da Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas) mostram que, em 2008, mais de 400 incubadoras de empresas encontravam- se em atividade no país.
  3. Mais recentemente, várias escolas estão criando programas não só de cria- ção de novos negócios, mas também focados em empreendedorismo social e empreendedorismo corporativo. Existem ainda programas específicos sendo criados por escolas de administração de empresas e de tecnologia para forma- ção de empreendedores, incluindo cursos de MBA (Master of Business Ad- ministration), e também cursos de curta e média duração, e ainda programas a distância (EAD).
  4. O crescente movimento das franquias no Brasil também pode ser considerado um exemplo de desenvolvimento do empreendedorismo nacional. Segundo a Associação Brasileira de Franchising, em 2007 havia mais de 1.200 redes de franquias constituídas no país, com cerca de 65.000 unidades franqueadas, o que correspondeu a R$46 bilhões de faturamento consolidado do setor.

Um fato que chamou a atenção dos envolvidos com o movimento de empreende- dorismo no mundo e, principalmente, no Brasil foi o resultado do primeiro relatório executivo do Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2000), onde o Brasil apareceu como o país que possuía a melhor relação entre o número de habitantes adultos que começam um novo negócio e o total dessa população: 1 em cada 8 adultos. Como se sabe, este estudo tem sido realizado anualmente e no gráfico apresentado anterior- mente o Brasil aparece em 2007 na nona posição, com um índice de criação de em- presas (TEA) de 12,72 no momento da pesquisa, ou seja, em cada 100 pessoas, cerca de 13 desenvolviam alguma atividade empreendedora. Isso corresponde a mais de 15 milhões de pessoas envolvidas em novos negócios.

14 Empreendedorismo

plantada. É necessário agora regá-la com zelo, visando à obtenção de um pomar com muitos frutos no futuro.

Análise histórica do surgimento do empreendedorismo

A palavra empreendedor ( entrepreneur ) tem origem francesa e quer dizer aquele que assume riscos e começa algo novo. Antes de partir para definições mais utilizadas e aceitas, é importante fazer uma análise histórica do desenvolvimento da teoria do empreendedorismo (Hisrish, 1986).

Primeiro uso do termo empreendedorismo

Um primeiro exemplo de definição de empreendedorismo pode ser creditado a Marco Polo, que tentou estabelecer uma rota comercial para o Oriente. Como em- preendedor, Marco Polo assinou um contrato com um homem que possuía dinheiro (hoje mais conhecido como capitalista) para vender as mercadorias deste. Enquanto o capitalista era alguém que assumia riscos de forma passiva, o aventureiro empreen- dedor assumia papel ativo, correndo todos os riscos físicos e emocionais.

Idade Média

Na Idade Média, o termo empreendedor foi utilizado para definir aquele que gerenciava grandes projetos de produção. Esse indivíduo não assumia grandes riscos, e apenas gerenciava os projetos, utilizando os recursos disponíveis, geralmente pro- venientes do governo do país.

Século XVII

Os primeiros indícios de relação entre assumir riscos e empreendedorismo ocor- reram nessa época, em que o empreendedor estabelecia um acordo contratual com o governo para realizar algum serviço ou fornecer produtos. Como geralmente os preços eram prefixados, qualquer lucro ou prejuízo era exclusivo do empreendedor. Richard Cantillon, importante escritor e economista do século XVII, é considerado por muitos como um dos criadores do termo empreendedorismo, tendo sido um dos primeiros a diferenciar o empreendedor – aquele que assumia riscos –, do capitalista

  • aquele que fornecia o capital.

Século XVIII

Nesse século, o capitalista e o empreendedor foram finalmente diferenciados, provavelmente devido ao início da industrialização que ocorria no mundo. Um exemplo foi o caso das pesquisas referentes a eletricidade e química, de Thomas Edi-

Capítulo 2 | O Processo Empreendedor 15

son, que só foram possíveis com o auxílio de investidores que financiaram os expe- rimentos.

Séculos XIX e XX

No final do século XIX e início do século XX, os empreendedores foram freqüen- temente confundidos com os gerentes ou administradores (o que ocorre até os dias atuais), sendo analisados meramente de um ponto de vista econômico, como aqueles que organizam a empresa, pagam os empregados, planejam, dirigem e controlam as ações desenvolvidas na organização, mas sempre a serviço do capitalista. Aqui cabe uma breve análise das diferenças e similaridades entre administra- dores e empreendedores, pois muito se discute a respeito desse assunto. Todo em- preendedor necessariamente deve ser um bom administrador para obter o sucesso, no entanto, nem todo bom administrador é um empreendedor. O empreendedor tem algo mais, algumas características e atitudes que o diferenciam do administrador tradicional. Mas para entender quais são estas características adicionais é preciso en- tender o que faz o administrador.

Diferenças e similaridades entre o administrador e o empreendedor

O administrador tem sido objeto de estudo há muito mais tempo que o em- preendedor e, mesmo assim, ainda persistem dúvidas sobre o que o administrador realmente faz. Na verdade, não se propõe aqui encontrar respostas detalhadas para o tema, mas sim fornecer evidências ao leitor para um melhor entendimento dos papéis do administrador e do empreendedor. As análises efetuadas por Hampton (1991) sobre o trabalho do administrador e a proposição desse autor de um modelo geral para interpretar esse trabalho talvez resumam as principais abordagens existen- tes para se entender o trabalho do administrador ao longo dos últimos anos. A abordagem clássica ou processual, com foco na impessoalidade, na organiza- ção e na hierarquia, propõe que o trabalho do administrador ou a arte de administrar concentre-se nos atos de planejar, organizar, dirigir e controlar. O principal divulga- dor desse princípio foi Henry Fayol, no início do século XX, e vários outros autores reformularam ou complementaram seus conceitos com o passar dos anos. Outra abordagem sobre o trabalho do administrador foi feita por Rosemary Stewart (1982), do Oxford Center Management Studies, que acreditava que o traba- lho dos administradores é semelhante ao dos empreendedores, já que compartilham de três características principais: demandas, restrições e alternativas. Nesse método de Stewart não há a preocupação de estudar o conteúdo do trabalho do adminis- trador. As demandas especificam o que tem de ser feito. Restrições são os fatores

Capítulo 2 | O Processo Empreendedor 17

O empreendedor de sucesso possui características extras, além dos atributos do administrador, e alguns atributos pessoais que, somados a características sociológicas e ambientais, permitem o nascimento de uma nova empresa (Quadro 2.3). De uma idéia, surge uma inovação, e desta, uma empresa.

Pessoalidade

Uso do relacionamento interpessoal

Foco nas organizações e ações conjuntas

Utilização da hierarquia

PROCESSO Fraco Fraco

Forte

Forte

Restrições, demandas e escolhas (STEWART) Forte

Fraco

Forte

PAPÉIS (MINTZBERG) Forte Forte

Médio

Média

AGENDA (KOTTER) Forte Forte

Médio

Forte

ABORDAGENS

Quadro 2.2 Comparação das quatro abordagens do papel do admnistrador

Eles têm a visão de como será o futuro para seu negócio e sua vida, e o mais importante: eles têm a habilidade de implementar seus sonhos. Eles não se sentem inseguros, sabem tomar as decisões corretas na hora certa, principalmente nos momentos de adversidade, sendo isso um fator-chave para o seu sucesso. E mais: além de tomar decisões, implementam suas ações rapidamente. Os empreendedores transformam algo de difícil definição, uma idéia abstrata, em algo concreto, que funciona, transformando o que é possível em realidade (Kao, 1989; Kets de Vries, 1997). Sabem agregar valor aos serviços e produtos que colocam no mercado. Para a maioria das pessoas, as boas idéias são daqueles que as vêem primeiro, por sorte ou acaso. Para os visionários (os empreendedores), as boas idéias são geradas daquilo que todos conseguem ver, mas não identificaram algo prático para transformá-las em oportunidade, por meio de dados e informação. Para Schumpeter (1949), o empreendedor é aquele que quebra a ordem corrente e inova, criando mercado com uma oportunidade identificada. Para Kirzner (1973), o empreendedor é aquele que cria um equilíbrio, encontrando uma posição clara e positiva em um ambiente de caos e turbulência, ou seja, identifica oportunidades na ordem presente. Porém, ambos são enfáticos em afirmar que o empreendedor é um exímio identificador de oportunidades, sendo um indivíduo curioso e atento a informações, pois sabe que suas chances melhoram quando seu conhecimento aumenta. Eles implementam suas ações com total comprometimento. Atropelam as adversidades, ultrapassando os obstáculos, com uma vontade ímpar de “fazer acontecer”. Mantêm-se sempre dinâmicos e cultivam um certo inconformismo diante da rotina. Eles se dedicam 24h por dia, 7 dias por semana, ao seu negócio. Comprometem o relacionamento com amigos, com a família, e até mesmo com a própria saúde. São trabalhadores exemplares, encontrando energia para continuar, mesmo quando encontram problemas pela frente. São incansáveis e loucos pelo trabalho.

São visionários

Sabem tomar decisões

São indivíduos que fazem a diferença

Sabem explorar ao máximo as oportunidades

São determinados e dinâmicos

São dedicados

Quadro 2.3 Características dos empreendedores de sucesso

( continua )

18 Empreendedorismo

Quando se analisam os estudos sobre o papel e as funções do administrador, efe- tuados por Mintzberg, Kotter, Stewart, e ainda sobre a abordagem processual do tra- balho do administrador, pode-se dizer que existem muitos pontos em comum entre o administrador e o empreendedor. Ou seja, o empreendedor é um administrador, mas com diferenças consideráveis em relação aos gerentes ou executivos de organiza- ções tradicionais, pois os empreendedores são mais visionários que os gerentes. Assim, quando a organização cresce, os empreendedores geralmente têm difi- culdades de tomar as decisões do dia-a-dia dos negócios, pois se preocupam mais com os aspectos estratégicos, com os quais se sentem mais à vontade. As diferenças

Quadro 2.3 Características dos empreendedores de sucesso (continuação)

São otimistas e apaixonados pelo que fazem

São independentes e constroem o próprio destino

Ficam ricos

São líderes e formadores de equipes

São bem relacionados (networking) São organizados

Planejam, Planejam, Planejam

Possuem conhecimento

Assumem riscos calculados

Criam valor para a sociedade

Eles adoram o trabalho que realizam. E é esse amor ao que fazem o principal combustível que os mantém cada vez mais animados e autodeterminados, tornando-os os melhores vendedores de seus produtos e serviços, pois sabem, como ninguém, como fazê-lo. O otimismo faz com que sempre enxerguem o sucesso, em vez de imaginar o fracasso. Eles querem estar à frente das mudanças e ser donos do próprio destino. Querem ser independentes, em vez de empregados; querem criar algo novo e determinar os próprios passos, abrir os próprios caminhos, ser o próprio patrão e gerar empregos. Ficar rico não é o principal objetivo dos empreendedores. Eles acreditam que o dinheiro é conseqüência do sucesso dos negócios. Os empreendedores têm um senso de liderança incomum. E são respeitados e adorados por seus funcionários, pois sabem valorizá-los, estimulá-los e recompensá-los, formando um time em torno de si. Sabem que, para obter êxito e sucesso, dependem de uma equipe de profissionais competentes. Sabem ainda recrutar as melhores cabeças para assessorá-los nos campos onde não detêm o melhor conhecimento. Os empreendedores sabem construir uma rede de contatos que os auxiliam no ambiente externo da empresa, junto a clientes, fornecedores e entidades de classe. Os empreendedores sabem obter e alocar os recursos materiais, humanos, tecnológicos e financeiros, de forma racional, procurando o melhor desempenho para o negócio. Os empreendedores de sucesso planejam cada passo de seu negócio, desde o primeiro rascunho do plano de negócios até a apresentação do plano a investidores, definição das estratégias de marketing do negócio etc., sempre tendo como base a forte visão de negócio que possuem. São sedentos pelo saber e aprendem continuamente, pois sabem que quanto maior o domínio sobre um ramo de negócio, maior é sua chance de êxito. Esse conhecimento pode vir da experiência prática, de informações obtidas em publicações especializadas, em cursos, ou mesmo de conselhos de pessoas que montaram empreendimentos semelhantes. Talvez essa seja a característica mais conhecida dos empreendedores. Mas o verdadeiro empreendedor é aquele que assume riscos calculados e sabe gerenciar o risco, avaliando as reais chances de sucesso. Assumir riscos tem relação com desafios. E para o empreendedor, quanto maior o desafio, mais estimulante será a jornada empreendedora. Os empreendedores utilizam seu capital intelectual para criar valor para a sociedade, com a geração de empregos, dinamizando a economia e inovando, sempre usando sua criatividade em busca de soluções para melhorar a vida das pessoas.

20 Empreendedorismo

Quadro 2.

Comparação dos domínios empreendedor e administrativo (adaptado de Hisrich, 1986)

Domínio Empreendedor

Domínio Administrativo

Pressões nesta direção

Dimensões-chave

Pressões nesta direção

do negócio

Mudanças rápidas:

Dirigido pela percepção

Orientação

Dirigido pelos recursos

Critérios de medição

  • Tecnológicas

de oportunidades

estratégica

atuais sob controle

de desempenho; sistemas

  • Valores sociais

e ciclos de planejamento

  • Regras políticasOrientação para ação;

Revolucionário com

Análise das

Revolucionário de

Reconhecimento de várias

decisões rápidas;

curta duração

oportunidades

longa duração

alternativas; negociação

gerenciamento de risco

da estratégia; redução do risco

Falta de previsibilidade

Em estágios periódicos

Comprometimento

Decisão tomada passo

Redução dos riscos pessoais;

das necessidades; falta

com mínima utilização

dos recursos

a passo, com base

utilização de sistemas

de controle exato;

em cada estágio

em um orçamento

de alocação de capital

necessidade de

e de planejamento formal

aproveitar maisoportunidades;pressão pormais eficiênciaRisco da obsolescência;

Uso mínimo dos recursos

Controle dos

Habilidade no emprego

Poder, status e recompensa

necessidade

existentes ou aluguel dos

recursos

dos recursos

financeira; medição

de flexibilidade

recursos extras

da eficiência; inércia e alto

necessários

custo das mudanças; estruturada empresa

Coordenação das

Informal, com muito

Estrutura gerencial

Formal, com respeito

Necessidade de definição clara

áreas-chave

relacionamento

à hierarquia

de autoridade e

de difícil controle;

pessoal

responsabilidade; cultura

desafio de legitimar

organizacional; sistemas

o controle

de recompensa; inércia

da propriedade;

dos conceitos administrativos

desejo dos funcionáriosde serem independentes

Capítulo 2 | O Processo Empreendedor 21

Quadro 2.

Comparação entre gerentes tradicionais e empreendedores (Hisrich, 1998)

Temas

Gerentes Tradicionais

Empreendedores

Motivação principal

Promoção e outras recompensas tradicionais

Independência, oportunidade para criar algo

da corporação, como secretária, status, poder etc.

novo, ganhar dinheiro

Referência de tempo

Curto prazo, gerenciando orçamentos semanais,

Sobreviver e atingir cinco a dez anos de

mensais etc. e com horizonte de planejamento anual

crescimento do negócio

Atividade

Delega e supervisiona

Envolve-se diretamente

Status

Preocupa-se com o status e como é visto na empresa

Não se preocupa com o status

Como vê o risco

Com cautela

Assume riscos calculados

Falhas e erros

Tenta evitar erros e surpresas

Aprende com erros e falhas

Decisões

Geralmente concorda com seus superiores

Segue seus sonhos para tomar decisões

A quem serve

Aos outros (superiores)

A si próprio e a seus clientes

Histórico familiar

Membros da família trabalharam em grandes empresas

Membros da família possuem pequenasempresas ou já criaram algum negócio

Relacionamento com

A hierarquia é a base do relacionamento

As transações e acordos são a base

outras pessoas

do relacionamento

Capítulo 2 | O Processo Empreendedor 23

empreendedor herdeiro, e o empreendedor “normal”/planejado). No entanto, este li- vro destina-se principalmente àqueles interessados em criar novos negócios de sucesso, visando à diminuição da mortalidade das pequenas empresas brasileiras e buscando contribuir para a consolidação do espírito empreendedor dos brasileiros. Então, o empreendedor é aquele que detecta uma oportunidade e cria um ne- gócio para capitalizar sobre ela, assumindo riscos calculados. Em qualquer definição de empreendedorismo encontram-se, pelo menos, os seguintes aspectos referentes ao empreendedor:

  1. Tem iniciativa para criar um novo negócio e paixão pelo que faz.
  2. Utiliza os recursos disponíveis de forma criativa, transformando o ambiente social e econômico onde vive.
  3. Aceita assumir os riscos calculados e a possibilidade de fracassar.

O processo empreendedor envolve todas as funções, atividades e ações associa- das com a criação de novas empresas. Em primeiro lugar, o empreendedorismo en- volve o processo de criação de algo novo, de valor. Em segundo, requer a devoção, o comprometimento de tempo e o esforço necessário para fazer a empresa crescer. E em terceiro, que riscos calculados sejam assumidos e decisões críticas tomadas; é preciso ousadia e ânimo apesar de falhas e erros. O empreendedor revolucionário é aquele que cria novos mercados, ou seja, o indivíduo que cria algo único, como foi o caso de Bill Gates, criador da Microsoft, que revolucionou o mundo com o sistema operacional Windows©. No entanto, a maioria dos empreendedores cria negócios em mercados já existentes, não deixando de ser bem-sucedidos por isso.

É possível ensinar empreendedorismo?

A próxima questão é se o empreendedorismo pode ser ensinado. Até alguns anos atrás, acreditava-se que o empreendedorismo era inato, que o empreendedor nascia com um diferencial e era predestinado ao sucesso nos negócios. Pessoas sem essas ca- racterísticas eram desencorajadas a empreender. Como já se viu, isto é um mito. Hoje em dia, esse discurso mudou e, cada vez mais, acredita-se que o processo empreende- dor pode ser ensinado e entendido por qualquer pessoa e que o sucesso é decorrente de uma gama de fatores internos e externos ao negócio, do perfil do empreendedor e de como ele administra as adversidades que encontra no dia-a-dia de seu empreendi- mento. Os empreendedores inatos continuam existindo, e continuam sendo referên- cias de sucesso, mas muitos outros podem ser capacitados para a criação de empresas

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duradouras. Isso não garante que apenas pelo ensino do empreendedorismo serão gerados novos mitos como Bill Gates, Sílvio Santos, Olavo Setúbal e Antônio Ermírio de Moraes. No entanto, com certeza o ensino de empreendedorismo ajudará na for- mação de melhores empresários, melhores empresas e na maior geração de riqueza ao país. Deve-se entender quais são os objetivos do ensino de empreendedorismo, pois os cursos podem diferir de universidade para universidade ou escola técnica. Qual- quer curso de empreendedorismo deveria focar: na identificação e no entendimento das habilidades do empreendedor; na identificação e análise de oportunidades; em como ocorre a inovação e o processo empreendedor; na importância do empreende- dorismo para o desenvolvimento econômico; em como preparar e utilizar um plano de negócios; em como identificar fontes e obter financiamento para o novo negócio; e em como gerenciar e fazer a empresa crescer. As habilidades requeridas de um empreendedor podem ser classificadas em três áreas: técnicas, gerenciais e características pessoais. As habilidades técnicas envolvem saber escrever, saber ouvir as pessoas e captar informações, ser um bom orador, ser or- ganizado, saber liderar e trabalhar em equipe e possuir know-how técnico na sua área de atuação. As habilidades gerenciais incluem as áreas envolvidas na criação, desenvol- vimento e gerenciamento de uma nova empresa: marketing, administração, finanças, operacional, produção, tomada de decisão, controle das ações da empresa e ser um bom negociador. Algumas características pessoais já foram abordadas anteriormente e incluem: ser disciplinado, assumir riscos, ser inovador, ser orientado a mudanças, ser persistente e ser um líder visionário. As habilidades mencionadas e os objetivos gerais já expostos formam a base para a ementa de um curso de empreendedorismo.

O processo empreendedor

A decisão de tornar-se empreendedor pode ocorrer aparentemente por acaso. Isso pode ser testado fazendo-se uma pergunta básica a qualquer empreendedor que você conhece: o que o levou a criar sua empresa? Não se surpreenda se a maioria das respostas for: não sei, foi por acaso... Na verdade, essa decisão ocorre devido a fatores externos, ambientais e sociais, a aptidões pessoais ou a um somatório de todos esses fatores, que são críticos para o surgimento e o crescimento de uma nova empresa. O processo empreendedor inicia-se quando um evento gerador desses fatores possibi- lita o início de um novo negócio. A Figura 2.2 exemplifica alguns fatores que mais infl uenciam esse processo durante cada fase da aventura empreendedora. Quando se fala em inovação, a semente do processo empreendedor, remete-se naturalmente ao termo inovação tecnológica. Nesse caso, existem algumas peculia-