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Este artigo apresenta o objetivo de caracterizar o processo de trabalho de enfermeiros e auxiliares de enfermagem, além de analisar as contradições existentes na prática de enfermagem. Baseado em estudos teóricos sobre o processo de trabalho em saúde e em enfermagem, o artigo utiliza o método qualitativo para coletar material empírico através de entrevistas semiestruturadas com enfermeiros, auxiliares de enfermagem e médicos de uma mesma equipe de trabalho em um hospital de ensino. As palavras-chave deste artigo são recursos humanos em enfermagem, qualidade da assistência de enfermagem e processo de trabalho em enfermagem.
Tipologia: Resumos
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Marina Peduzzi 1 Maria Luiza Anselmi
RES U M O : Este artigo tem os obj etivos d e caracterizar o processo de trabalho d o enferme i ro e d o auxiliar de enfermagem e de ané:ll isar contradições existentes no trabalho de enfermagem. Toma como referencial teórico os estudos do processo de trabalho em sa úde e em enfermagem e a teoria do a g i r com u n icativo. Com base no método q u a l itativo de pesq u isa , o material empírico foi coletado através de entrevista sem i-estruturada com enfermeiros, auxiliares de enfermagem e médicos de uma mesma eq u i pe de traba l h o , em um hospital de ensino. A anál ise foi rea lizada por meio da técn ica de impreg nação e da identificação de n úcleos temáticos i nterpretados com base em categorias anal íticas d o q uadro teórico. Os resu ltad os mostram contradições ta is como a cisão entre planejamento e execução do cuidado e a ausência de apropriação do saber de enfermagem por parte dos agentes q u e executam majoritariamente o cuidado. PALAVRAS-C HAV E : recursos h u manos em enfermagem , q ualidade da assistência d e enfermagem , processo de trabalho em enfermagem
ABSTRACT: This article a i m s at characterizing n u rse's and n u rsing assista nt's work process , as well as at analyzing contrad ictions present i n n u rs i n g work. Studies on the n u rsing and health work process , and the com municative action theory were used as its theoretical framework. Based on q u a l itative research methodology, the empirical material was collected by means of semi-structured interviews with n u rses, n u rsing assistants and physicians on the same work team in a school hospital. Analysis was cond ucted through the i m p regnation tech n i q u e a n d the identification of thematic un its , which were interpreted on basis o f analytical categories from the theoretical framework. Results showed contradictions such as the separation between planning and care delivery and the absence of appropriation of n u rsing knowledge by the agents who are in charge of delivering care. KEYWO RDS: n u rsing h u m a n resources, n u rsing care q ual ity, n u rsing work process
RESU M E N : Este artículo tiene los objetivos de caracterizar el proceso de trabajo dei enfermero y dei auxiliar de enferme ria y de analizar contradicciones existentes en el trabajo de enfermería. Toma como referencial teórico los estud ios dei proceso de trabajo en salud y en enfermería y la teoría dei actuar comunicativo. Con base en el método cualitativo de investigación , el material empírico se recog ió a través de entrevista semiestructurada con enfermeros, auxiliares de enfermería y méd icos de un mismo eq u i po de trabajo, en un hospital u n iversitario. EI análisis se realizó mediante la técnica de impregnación y de la identificación de núcleos temáticos i nterpretados con base a las categorías anal íticas dei cuadro teórico. Los resultados muestran contradicciones, tales como la cisión entre planeamiento y ejecución dei cu idado y la ausencia de una apropiación dei saber de enfermería, por parte d e los agentes que ejecutan mayoritariamente el cuidado. PALAB RAS C LAV E : recu rsos h u manos en enfermería , calidad de la asistencia d e enfermería, proceso de tra bajo en enfermeria
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Recebido em 1 4/0 1 / Aprovado em 26/08/
1 Professor Doutor. Departa me nto de Orientação P rofissional da Escola d e Enfermagem de São Paulo -USP. 2 Professor Associado. Departamento de Enfermagem Geral e Especi a l izad a , E E RP-USP.
Rev. B ra s. Enferm. , B ras i l i a , v. 55, n. 4, p. 392-398, j u l ./ag o. 2002
A i n st i t u c i o n a l i za ç ã o d a E n fe r m a g e m c o m o p rofi s s ã o , a p a rt i r d e m e a d o s d o s é c u l o X I X , oco rre caracteriza d a , desde o i n íci o , d entre o utros aspectos, pela d ivisão d o tra b a l h o q u e confi g u ra d i ve rsos a g entes da enfermage m. Este p rocesso vem acompanhado d e outros dois aspectos marcantes na á rea , q u a i s sej a m , a d i sciplina e a hierarq u i a. No Brasil, a divisão i nterna à enfermagem, dá origem à s várias m o d a l i d a d e s d e t ra b a l h o a u x i l i a r (técn i co de enferm a g e m , a u x i l i a r de e n fe rm a g e m , ate n d e nte d e enfermagem, outros), ficando para o enfermeiro a s atividades de ensi no, supervisão e a d m i n i stração e para o pessoal a u x i l iar, a m a i o ria das ativi d a d e s de assistê n c i a. Essa d iversidade de agentes i n sta la o corte rep resentado pela divisão entre cuidado d i reto e cu idado i n d i reto (MELO, 1 986 , S I LVA, 1 997, LI MA, 1 998). No decorrer da i n stitucionalização da enfermagem ocorre , historicamente, a conformação de u m saber técnico específico da área. A primeira forma organizada do saber na enfermagem é constitu ída pelas técn icas d e enfermagem, posteriormente pela sistematização dos princípios científicos que as fu ndamentam e m a i s recentemente pela bu sca da construção de teorias (AL M E I DA; ROCHA, 1 986). Este saber técnico g u a rd a u m a relação rec í p roca com as a ções d e enfermagem e , e m conj u nt o , n o exercício coti d i a n o d o trabalho, constitu i o c u i d a d o d e e nfermagem como objeto de trabalho. C o n h e c e r m a i s p ro f u n d a m e n t e a á re a d e enfermagem i m plica e m com p reen d e r a p rática d e seus m ú ltiplos agentes e as a rticulações exi stentes entre elas, bem como, a a rticu lação d a enfe rmagem com as demais práticas de saúde. E ntendemos q u e não há u m a relação de externalidade entre as d iversas p ráticas soci a i s , vi sto não confi g u ra re m , ca d a u m a d e l a s , t ra b a l h o s i s o l a d o s e independ entes , mas s i m p rocessos d e trabalho conexos (DON NANGELO ; PEREI RA, 1 976, M E N DES-GONÇALVES , 1 992). U m dos aspectos i m portantes para a com preensão das práticas de enfermagem é a a n á l ise de sua força de tra b a l h o. D a d o s r e c e n t e s do C o n s e l h o F e d e ra l d e Enfermagem3 apontam u m q u a d ro n o q u a l 8 1. 845 ( 1 2 , 3 % ) d o s trabalhadores de enfermagem são enfermeiros; 387. (58 , 3 % ) são a u x i l i a res d e e nfermagem e 1 1 1. 902 ( 1 6 , 8 % ) são atendentes, total izando 663.073 trabalhadores na área. Estudo desenvolvido pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 200 1 ) mostra u m quadro d i sti nto n o q u e s e d estaca a o contingente de trabalhadores de enfermagem atuando sem q u a lificação técn ica , estimado em a p roxi m a d a mente 225. 000 agentes. S e g u n d o e s s e e s t u d o , e x i s t e m 7 0. 9 3 3 ( 1 2 , 7 % ) d e enfermeiros; 7 0. 740 ( 1 2 , 6 % ) d e técnicos d e enfermagem ;
PEDUZZI , M. ; ANSELM I , M. L.
(35%) de trabalhadores com outras denominações e sem o n ível básico de profissionalização em enfermagem. Ai nda, é i m portante assinalar q u e , desde meados dos anos 80, os est u d o s s o b re fo rça de tra b a l h o e m sa ú d e , no B ras i l , mostram u ma tendência d e a u m e nto da incorporação d e auxíliares d e e nfermagem e enfermeiros e u m decrésci mo na contratação d e atend e ntes (MACHADO et aI., 1 992 ). Considera n d o o q u a d ro da força de trabalho d e enfermagem aci ma referido, desenvolveu-se u ma pesqu isa e m p í rica sobre o p rocesso de trabalho de enfermage'!l4 , destaca ndo os trabal hos do e nfermeiro e do auxi liar de enfermagem por re p resentare m , e m conj u nto, o maior conti ngente d e trabalhadores da á rea.
OBJETIVOS
Com base nos estu dos do processo de trabalho em saúde, parte-se do p ressu posto q u e os agentes constituem u m d o s e l e m e n t o s d e s s e p ro c e s s o ( M E N D E S G O N ÇA LV E S , 1 9 9 2 , 1 9 9 4 ) e , p o rta n t o , d ev e m s e r a p ree n d i d o s e com p reend i d o s n o i nterior d a s relações reciprocas entre objeto de trabalho, instrumentos e atividades, bem como no i nterior d o p rocesso d e d ivisão do trabalho. O o bj eto d e t ra b a l h o é o a s pecto específi co , recortado d a rea l i d a d e , sobre o q u a l i ncide a atividade d o trabalho, não existe e n q u a nto objeto d e i ntervenção por si só, mas é recortad o por um "olhar" que contém u m p roj eto , uma fi nalidade. Os instru mentos de trabalho tampouco são naturais, mas constru ídos h i storicam ente pelo sujeito que, assi m , estende s u a possibilidade de i ntervenção sobre o objeto. N o trabalho em enfermagem e e m saúde, encontramos tanto i n stru mentos materi a i s , q u a nto i ntelectua i s , tais como os s a b e re s t é c n i c o s , q u e i n fo r m a m e fu n d a m e n t a m imediata mente a ação realizad a. Portanto, o trabalho pode s e r caracterizado como u m processo de tra n sfo rmação q u e ocorre porque o homem tem necessidades que precisam ser satisfeitas, no presente caso e s p ecifica m e nt e n ecessi d a d e s de sa ú d e. O utra ca racterística central d o traba l ho a ser lembrada é s u a i nte n ci o n a l i d a d e , i st o é , o t ra b a l h o d e p e n d e d e u m a construção prévia , de u m projeto q u e o homem traz e m mente desde o i n ício do processo ( M E N DES-GONÇALVES , 1 992). Segundo esta concepção teórica , entende-se q u e , n o campo da enfermage m , os objetos d e trabalho são o cuidado de enfermagem e o gerenciamento do cuidado. Particularmente o cuidado de e nfermagem está sendo concebido como "um
(^3) Os d a d o s a q u i a p resentados fo ram fo rnecidos pelo Conselho F e d e r a l d e E nfermagem á Associação B rasi l e i ra d e E nfe rmage m , e m 1 9 9 9 , e u t i l izados p o r esta n o desenvo l v i m e nto d a pesq u i sa C l as s i ficação I ntern a c i o n a l d a s Práticas d e Enfermagem em s a ú d e Coletiva - C I P ES C. 4 A pesq uisa e m p í rica n a q u a l está baseada este a rtigo consiste em u m s u b-projeto d a investigação intitu lada "Aval iação do im pacto do PROFAE n a q u a l idade dos serviços d e saúde", desenvolvid a pelo M i n i stério d a Saúde, sob a coordenação das a utora s.
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d ivers i d a d e d e categ o ri a s profi s s i o n a i s , conte m pl a n d o auxi l i a res d e enferm a g e m , enfe rm e i ros e m é d i cos5 c) entrevista com mais de u m profissional de cada uma dessas c a t e g o r i a s. F o r a m s e l e c i o n a d o s t r ê s a u x i l i a re s d e enfermagem, três enferme i ras e dois médicos. Como instru mento d e col eta d e i nformações optou se pela entrevi sta semi-estru t u ra d a (TH I O L L E NT, 1 98 7 , M I NAYO, 1 992), rea l izada através d e roteiro no q u a l as questões foram agru padas em torno de três aspectos centrais para a investigação: o trabalho desenvolvido pelo entrevistado; o t r a b a l h o d e s e n v o l v i d o p e l o s o u t r o s p rofi s s i o n a i s entrevistados; a s d iferenças percebidas entre o trabalho do enfermei ro e do auxiliar de enfermagem. As entrevistas fora m g ravadas e posteriormente transcritas. Todos os entrevistados foram consu ltados acerca de sua disponibilidade e interesse em partici par da pesq uisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e EsclarecidoS. Para a n á l i se das entrevistas foi uti l i zada a técn ica de impregnação q u e consiste na leitu ra e releitu ra de cada um dos relatos até dominar o todo de um mesmo depoimento ( l e itu ra verti ca l ) e a leitu ra h o rizonta l do conj u nto d a s entrevistas para estabelecer as relações entre e l a s. A partir desse proced imento são extraídos os núcl eos temáticos ou categorias e m p í ri cas que, posteri ormente são anal isados com base nas categorias anal íticas form u l adas no q u a d ro teórico referencial ( M I NAYO , 1 992). Foram contempladas as seg u i ntes categorias de a n á l i s e : d i v i s ã o d o t ra b a l h o , c o m p l e m e n t a r i d a d e e interdependência dos trabalhos, saber técn ico , autonom ia técn ica , relações h i erárq u i cas d e s u bord i nação, i nteração ou prática com unicativa e trabalho e m e q u i p e.
Na l iteratu ra s o b re o t ra b a l h o d e enfermagem encontram-se , por u m lado, estu dos como os de Queiroz e Sal u m ( 1 996) q u e concebem u m o bjeto d e i ntervenção com u m para todos os p rofissionais d o campo da saúde co l etiva (os p e rfi s e p i d e m i o l ó g i c o s ) , d i fe re n c i a n d o os processos de trabalho q u a nto aos i n stru mentos util izados pelas diversas á reas p rofissionais. Por outro lado, existem estudos que analisam as especificidades dos elementos que compõem o p rocesso d e trabalho d e enfermage m. Nessa l i n h a , destacam-se como obj eto d e trabalho o cuidado de enfermagem (AL M E I DA; ROCHA, 1 98 6 , A G U D E L O , 1 992, ALM E I DA; ROCHA, 1 99 7 ) e o gerenci amento d o cuidado (CH IANCA; ANTU N E S , 1 999, PEDUZZI , 2000). No entanto, a d ivisão d o trabalho que deu origem a diferentes categorias profissionais na á rea de enfermagem , não permite defi n i r u m ú n ico e e q u ivalente processo de trabalho para todos os seus agentes, tendo sido assi nalado, anteriormente, o corte i nstalado entre cuidado direto e cuidado indireto. O pri meiro, a cargo majoritariamente do pessoal de
P E D UZZI , M.; ANSELM I , M. L.
e n fe r m a g e m d e n í v e l m é d i o e de n í v e l b á s i c o profissional iza nte , o segu n d o , q u e abarca atividades d e p l a nej a m e nto , o rg a n i zação, s u p e rvisão e ava l iação d o cuidado, sob a responsabilidade do enfermeiro. O s r e s u l ta d o s s ã o a p re s e n t a d o s , a s e g u i r, d i st i n g u i n d o i n i c i a l m e n t e o t ra b a l h o d o a u x i l i a r d e enfermagem e depois o trabalho d o enfermeiro , pois esta ordem de exposição permite maior clareza na anál ise das contrad i ções e t e n s õ e s i d e ntifi c a d a s e ntre a m bos os trabalhos.
O TRABALHO DO AUXI LIAR D E E N F ERMAGEM
A análise do material empírico desta pesquisa reitera o cuidado de enfermagem como objeto de intervenção central no tra b a l h o de enferm a g e m , executado sobretu do pelo auxiliar de enfermage m. Como se vê adiante , as enfermei ras participam apenas eventualmente do cuidado, pois se ocupam de um elenco m u ito d i versificado de ações centradas no planejamento da assistência e em criar condições adequadas para que esta seja executada pelos auxiliares, bem como pelo conj u nto de profi ssionais d a eq u i pe de saúde. O s d e p o i m e nt o s m ostra m uma concepção de cu idado q u e destaca a conti n u idade como característica , corrobora ndo a concepção apresentada, seg undo a q u a l o cuidado de enfermagem consiste em u m conju nto de ações de acom p a n h a m e nto cont í n u o , sej a no tra nscorre r d e d oenças ou n o s p rocessos sacio-vita is. O s relatos também expressam uma conce pção sobre esse objeto de trabalho q u e abarca a execução d e técn icas de enfermagem e a i nteração com os u s u á rios/pacientes. Esse d u plo conte ú d o d o cuidado de enfermage m , técn i co e i nterativo, merece d esta q u e , p o i s é no âm bito da i n t e r s u bj e t i v i d a d e q u e s e dá a p o s s i b i l i d a d e d e reconheci mento das necessidades d e saúde entre paciente e profissiona l , u m a vez q u e os p roblemas de saúde são a pree n d idos de forma d i sti nta por a m bos - o paciente expressa as necessidades sentidas e o agente as reconhece com base em um olhar i nstru mental izado pelo saber técn ico d e sua á rea d e atuação. A e s s ê n c i a do c u i d a d o re s i d e n a d i m e n s ã o co m u n i cativa , n o sentido d a b u sca d o entend imento e recon heci m ento m út u o d o s sujeitos envolvidos. N esse encontro i nters u bj etivo , cabe ao profission a l , no exercício d o seu tra b a l h o , a p l i ca r a técn i ca n a med i d a j u sta da especificidade d a n ecessidade d o paciente , e fazê-lo por meio d e relações d e continência , aco l h i mento e víncu l o. A s atividades realizadas pelo auxiliar de enfermagem no cuidado são: m e d i cação; p u nção venosa ; a l i mentação; controle d a ingestão h íd rica , da d i u rese e das elimi nações; arru mação dos leitos; verificação d e sinais vitais e peso ; verificação d e saturaçã o ; reposição d e materiais; banho e escavação d e d en t e s ; e n ca m i n h a m e nto p a ra exames
5 A inclusão d e médicos e ntre os sujeitos entrevistados, d eve-se a concepção teórica q u e press u põe a articu lação d a s práticas d e enfermagem ás práticas d e s a ú d e , sendo porta nto , pert i n e nte c o l e t a r o d e p o i me nto d e u m profissional externo á eq u i pe de enfermag e m cujo tra b a l h o g u a rd a u ma rel ação d e co m p l e m e ntari d a d e e interd e pe n d ê ncia com a e nfe rmagem. As entrevis\as dos médicos fo ra m a n a l isadas em conj u nto com as demais entrevistas dos e nferm e i ros e a u x i l iares de e nfe rmag e m. 6 O projeto d e pesq u isa foi s u bmetido e a p rovado pelo Com itê d e Ética e m Pesq u i sa d a Escola d e E nfermagem d a U n iversidade d e S ã o P a u l o.
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o processo de trabalho d e enfermagem...
i nternos o u exte rn os; col eta d e material p a ra exames laboratoriais; curativo; conversar com a criança e com a mãe; levar a criança à bri nquedoteca ou para o jard i m e anotação de todas as atividades executadas. A execução d esse conj u nto d e atividades reitera o d u p l o c o n te ú d o d o c u i d a d o d e e n f e r m a g e m - o s proced imentos técn i cos e a com u n i cação. N o entanto, ao ser solicitado que o auxiliar d e enfermagem defi n isse a prioridade do c u i d a d o , os três e ntrevistados refe rem a medicação, o q u e mostra a centralidade do modelo cl í n ico/ bioméd ico em detri mento do modelo de atenção integral à saúde. O material empírico tam bém permite observar que o auxiliar de enfermagem não participa do planejamento dessas a ções , s e n d o esta d i m e n s ã o do t ra b a l h o execu t a d a excl usivamente pela enfermeira , o q u e está cond izente com a Lei n° 7 .498/86 q u e reg ulamenta o Exercício Profissional de Enfermagem, no país.
O TRABALHO DO E N F E RM E I RO
No H ospital estudado todos os depoimentos são unanimes em reconhecer o gerenciamento do cuidado como o trabalho nuclear do enferme i ro. Ta mbém aparece com destaque a execução de atividades de gerência da u nidade, tais como: encaminhamento de exames i nternos ou externos, pedidos de med icação , d i etas e/ou materi a l , outras. As atividades d e gerenciamento do cuidado e de g e rência d a u n i d a d e , n o coti d i a n o d o tra b a l h o estão mescladas, e acabam por ocasionar constantes interrupções das atividades da enferm e i ra. Na esfe ra do gerenciamento do cuidado estão a evol u ção de enfermagem com exa me físico d i á rio do paciente, a p rescrição d e enfermagem e a supervisão dos auxil iares; e , n a esfe ra d a g e rência da u n idade, os enca m i n h amentos d e exames, colocar horário na medicação prescrita pelo médico , ped i r medicação à fa rmáci a , p rov i d e n c i a r a m b u l â n c i a p a ra t ra n s po rte d o paciente, contactar a n utricio n i sta , entre outras. Ta nto a s enferm e i ra s q u a nto a s a u x i l i a re s d e enfermagem referem-se às atividades de gerenciamento d o cuidado e de gerência da u n idade com o "parte bu rocrática", associando-a ao reg i stro d o tra b a l h o executado ou ao preench i m e nto d e fo rm u l á ri o s , p rotoco los e s i m i l a re s. Entende-se q u e e s s a associação expressa u m estereótipo sobre a administração e a gerência d e serviços de saúde, concebidos excl usivamente com o controle dos p rocessos de traba l h o. No e ntanto , essa associação d everá ser exami nada em profundidade visto q u e a referencia a ela não é fugaz e casual no materia l anal isado, mas reiterada em todos os depoi mentos dos agentes d a enfe rmage m. C e rta m e nt e , a t i v i d a d e s d e cu n h o b u rocrático compõem o conju nto de i ntervenções da gerência, mas esta deve ir m u ito além da bu rocracia pois tem por fi nalidade a implantação, o mon itoramento e a manutenção de condições a d e q u a d a s para q u e o m o d e l o de atenção em s a ú d e precon izado na institu ição seja viabilizado c o m eficiência e efi cá ci a , a q u i , p a rt i c u l a rm e nt e , u m d a d o m o d e l o d e assistência de enfermagem ( M I S H I MA, 1 995). Chama a atenção que o enfermeiro atri b u a ao gerenciamento u m caráter predomina ntemente bu rocrático , pois todos o s relatos mostra m o s e u trabalho de a rticu lação
das ações e dos agentes, sej a na eq u i pe de enfermagem seja na eq u i pe de saúde. Mishima ( 1 995), destaca o caráter articu lador e integ rativo da gerênci a , q u e está presente no coti d i a n o de t ra b a l h o d a s enfermeiras, sobretudo nas mediações q u e dese m p e n ha m. O enfermeiro configura-se h i storicamente como um mediador que ocupa posições intermediárias e de intermediação, no entanto os profissionais não atri buem um sentido tecnológico ao trabalho gerencial de articu lação.
C O N T RA D i Ç Õ E S E X I S T E N T E S N O TRABAL H O D E ENFERMAGE M
Como já assinalado todo o registro é concebido como "parte b u rocrática " , i n c l usive a evol u ção e prescrição de enfermagem feitas p e l a e nferm e i ra e q u e representam momentos centra i s d o planej a mento d o cuidado. Ta mbém as anotações de enfermagem , rea l izadas por toda eq u i pe de enfermagem são interpretadas como bu rocracia, ou seja, predomina a premissa q u e devem ser feitas porque permitem o controle do processo de trabalho e serão, elas própri as, objeto de controle. O b s e rva-se , p o rta n t o , que os p rofissionais d e enfermagem esta belecem u ma relação estreita entre o planej a mento da assistência e o seu reg istro e o controle dos processo de trabalho. Nesse contexto, o enfermeiro expressa um conflito entre comparti lhar o trabalho com o auxiliar de enfermagem , tanto o cuidado q u a nto o seu planejamento, ou executa r o trabalho q u e lhe é privativo , q u e é a sistematização da assistência de enfermagem - SAE (C IANC IARU LLO et a I. , 200 1 ) , de forma isolad a. O material analisado mostra q u e n ã o s e trata d e u m d i l e m a pessoa l , m a s s i m de u m a contradição presente no modelo de organização d o traba l ho de enfermagem , pois o SAE, como instru mento de trabalho, vem reprod uzindo a rígida e d i sciplinada d ivisão do traba l ho em enfermagem q u e , por sua vez, expressa a cisão entre concepção e execu ção. Resultados semelhantes foram encontrados por Rossi e Casagrande (20 0 1 ) ao real izarem uma investigação sobre a prática d o p rocesso de enfermagem. Como neste a rtigo, o referencial teórico adotado pelas referidas autoras é a teoria da ação com u n i cativa de J ü rgen Habermas. Observara m que o srg n ificado cu ltu ra l q u e os enfermei ros atribuem ao processo de enfermagem é o de uma atividade bu rocrática que, implementada dessa forma, afasta mais do que aproxima o enferm e i ro d o paciente. Tal i nterpretação deve-se à a p l i cação dos conceitos de ação instrumenta l , estratég i ca e com u n i cativa trabal hados p o r H a berm a s , seg undo os quais, as duas primeiras s ã o ações que buscam a adequação dos meios aos fi ns para garantir o sucesso na obtenção dos resu ltados, sem o questionamento ou a busca de consensos sobre os meios e os fins. A ação comu nicativa, de outra parte , diz respeito ao â m bito da com unicação q u e busca o entend i mento e o reconhecimento mútuo, ou sej a , o consenso mesmo q u e provisório. Ora , e m q u e medida está presente a busca do entendimento, no sentido de compartilhar pressupostos e afirmativas no planejamento do cuidado, seja no q u e se refere à partici pação do auxiliar de enfermage m , seja no q u e s e refere à partici pação d o paciente? S e m d ú v i d a , a i n t ro d u ç ã o d o p ro c e s s o d e
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o processo de traba lho de enfermagem...
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