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Uma investigação sobre o processo de criação no graffiti urbano em florianópolis, com o objetivo de compreender as relações interpessoais e intergrupais constituídas e constituintes desse processo, as consonâncias e dissonâncias entre os sujeitos, os jogos de poder e o lugar social que ocupam, bem como os objetivos que configuram essas relações e como eles se implicam na atividade criadora. O documento também aborda a escolha dos espaços, a emergência dos temas durante o processo criativo, as técnicas, estilos e habilidades envolvidas, e as implicações do graffiti em relação ao entorno urbano de florianópolis. Além disso, discute-se a diferença entre graffiti e pichação, as relações estéticas envolvidas na atividade criadora e a constituição dos sujeitos grafiteiros por meio dessa prática.
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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JANAINA ROCHA FURTADO
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Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Curso de Mestrado, Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Orientadora: Andréa Vieira Zanella
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Agradeço a minha mãe pelo apoio afetivo, espiritual e financeiro nestes dois anos de mestrado. Mesmo distante, sempre presente em minha vida. Deixando-me livre para criar meus caminhos e histórias, ensinou-me a escolhê-los.
Aos meus quatro irmãos, diferentes entre si e especiais na suas singularidades, pelo apoio constante. Amo-os muito pelo que são e pelo que fazem por mim todos os dias.
Às irmãs de coração, Grazi e Gi, com as quais compartilhei, entre risos, cervejas, abraços fraternais e lágrimas, grande parte dos momentos de minha vida nestes dois anos, para além das discussões tecidas acerca de nossas pesquisas, que tanto me ajudaram. Laços de alma, encontros de afetos, eternas amizades. Obrigada por tudo mesmo!!!!
Aos amigos todos, por participarem de maneiras tão diferentes dessa jornada. Especialmente a Elô, amiga e vizinha, que, cuidando de mim, ajudou-me a realizar a pesquisa e a organizar minha vida. Ao Jorginho, por fazer-me rir e valorizar a alegria nos momentos de nervosismo. A Dani que, morando comigo, muitas vezes ler meu trabalho e fez-me descansar. Ao Mauricio, pelas ajudas técnicas e apoio. A Fran, pela ajuda durante a qualificação desta pesquisa. E a tantos outros amigos: Thais Dassoler; Lílian Urnau; Andréa Titon;
À você João, pelo amor que lhe tenho e recebo, dia após dia. Por me ensinar a perguntar e a responder, a pensar e a calar, a respirar, a comer e a andar de bicicleta. Que o nosso bom encontro, do sonho à realidade, perdure muito tempo, em todas as dimensões. Com você compartilhei os inúmeros resultados deste trabalho, principalmente aqueles que ainda me fazem refletir sobre que psicóloga quero ser.
Ao Rafa, por fazer parte de minha vida há muitos anos. Pelo amor, compreensão, apoio e confiança que depositou em mim como pessoa e também como profissional. Com o qual compartilhei uma história e uma vida conjunta.
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A minha orientadora, Andréa Zanella, por ter me incentivado, desde o primeiro instante, a realizar esta pesquisa, bem como por sua competência, compreensão, disponibilidade e afeto.
Sem dúvida alguma, a todos os grafiteiros que conheci por suas participações, atenção e cuidado para comigo. Muito obrigada por me ensinarem tanto, por insistirem em movimentos de resistência e por participarem ativamente na construção de outras cidades. Que a arte pulse, vibre, escorra por seus corpos para que nos façamos todos sujeitos desejantes da vida, criatividades plenas.
À Capes, pelo fomento desta pesquisa.
Difícil agradecer a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram com esta pesquisa ou com minha vida enquanto eu realizava ambas. Gostaria de agradecer os demais professores que, de uma forma ou de outra, participaram de minha formação acadêmica. Deixo aqui também meu agradecimento à banca examinadora, especialmente, aos professores: Kátia Maheirie, Daniela Schneider e Marquito. Agradeço também a minha ex- chefe do Laboratório de Línguas, Beth.
vii
OS PROCESSOS DE CRIAÇÃO NO GRAFFITI : cidade, grupos e criatividade...........................................................................................................................
GRAFFITI : diálogos urbanos, intervenções efêmeras na cidade ......................................
ATIVIDADE CRIADORA, RELAÇÕES ESTÉTICAS E CONSTITUIÇÃO DOS SUJEITOS ..........................................................................................................................
PROCESSOS DE CRIAÇÃO: imaginação, arte e contexto.............................................
PROCESSOS GRUPAIS: as cidades, as tribos e as relações eu-outro no movimento da criação..................................................................................................................................
MÉTODO: os diversos momentos com os grafiteiros e o processo da pesquisa...............
ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES: por onde andarei?.....................................................
RESULTADOS: os processos de criação no graffiti, as relações entre os sujeitos e destes com a cidade.........................................................................................................................
1. PROCESSO CRIADOR: OS SUJEITOS GRAFITEIROS E SUAS OBRAS ..........
1.1 COMO COMEÇARAM? POR ONDE CONTINUARAM? O TORNAR-SE SUJEITO POSSÍVEL NO GRAFFITI E OS SENTIDOS DA ATIVIDADE ...........
1.2 ENTRE O GRAFFITI E A PICHAÇÃO, UM VÃO. OUTROS SENTIDOS INTERCAMBIANTES ..................................................................................................
viii
1.3 PROCESSOS DE CRIAÇÃO: a invenção da imagem a partir da realidade vivida..............................................................................................................................
1.4 LETRAS, ESTILO E TERRITÓRIOS: a invenção na escrita..........................
1.5 O ESPAÇO EM CENA: implicações no movimento de criar.............................
1.6 TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS NO GRAFFITI : algumas considerações sobre o processo de criação..........................................................................................
2. AS RELAÇÕES NA CREW E ENTRE CREWS NO PROCESSO DE CRIAÇÃO NO GRAFFITI .................................................................................................................
2.1 DO ACASO AO OCASO: o movimento de graffiti, vínculos e encontros na formação das crews ......................................................................................................
2.2 CREWS DE GRAFFITI: os processos de criação conjunta.................................
3. O GRAFFITI EM FLORIANÓPOLIS: IMPLICAÇÕES NO CONTEXTO URBANO ...........................................................................................................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS ..........................................................................
ANEXOS ........................................................................................................................... ANEXO I: Roteiro de entrevista................................................................................. ANEXO II: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido........................................
Graffiti is continually conquering space in the urban outline through different images that insert themselves into this context, modifying the relationship of the subjects with the city. In this sense, this research had as a general objective to investigate the processes of creation in graffiti. Also, there was the attempt to comprehend how these processes occur in the group of interpersonal and intergroupal in them delineated, as well as characteristics of graffiti in the city of Florianópolis. The theoretical matrix used was that of the Historic-Cultural Psychology, boarding the contradictions, the movements and real conditions, social and material that constitute this study’s object. Six interviews with graffitists from the city of Florianópolis were used, together with observations, photographed and video recorded. The procedure utilized for the interpretation of the subject’s speech was the discourse analysis, using Bakhtin’s and Vigotski’s theories. It was perceived that the graffitists created their graffiti from their experienced reality, and from the space-time conditions, implying in this process the established relationships with other graffitists and their productions, through which they distinguish their own style and try to achieve visibility and recognition. By creating graffiti, the subject recreates itself, constituting itself as a possible subject in the urban setting, and, through a different lookout on space, invents, also, another city. Investigating how graffiti inserts itself in it’s diverse territories allowed a comprehension of the relations that are established in these contexts and that institute, through creative activity, another way to inhabit them. Keywords: Graffiti; creation processes; city;
OS PROCESSOS DE CRIAÇÃO NO GRAFFITI: cidade, grupos e criatividade.
O processo de degenerescência dos espaços urbanos nas últimas décadas tem tornado a cidade tema de discussão recorrente. A degradação de sua infra-estrutura, o declínio e a fragmentação do espaço público, a negação da cidadania e do convívio comunitário, a violência, o trânsito, a poluição visual e tantos outros acontecimentos urbanos colocam as ruas da cidade quase como obstáculos de passagem no cotidiano das pessoas. Ao se pensar no processo histórico de seu desenvolvimento, das transformações no mundo do trabalho à decomposição das estruturas agrárias viabilizada pelo capitalismo industrial, e, posteriormente, no modo como os espaços urbanos foram se constituindo organizados pelo comércio, pelos almejos políticos pós-guerras e por determinadas perspectivas arquitetônicas e urbanísticas, alcançamos o movimento pelo qual as cidades, e as diversas práticas que ali se efetivam, configuraram-se sob uma lógica utilitarista e funcional que não dá conta das necessidades concretas de seus habitantes. Os projetos de modernização e higienização das cidades buscavam, pela racionalização dos espaços e dos produtos culturais, os meios para alcançar o progresso e atingir os objetivos econômicos e produtivos do sistema social vigente (Harvey, 1992). As estratégias de desenvolvimento urbano afetaram totalmente a estética da vida diária dos seres humanos e implicam ainda hoje nos modos pelos quais estes sujeitos se constituem nos espaços urbanos, estabelecendo com eles relações que são, na urgência do cotidiano, no deslocamento de um lugar ao outro, fundamentalmente, prático-utilitárias. Relações estas que não possibilitam o reconhecimento e o comprometimento coletivo, assim como não potencializam ações comunitárias e o resgate da cidade em seus aspectos históricos, espaciais e pessoais, enquanto espaço de construção e vivência humana. Segundo Peixoto (2002), interesses políticos e corporativos firmaram nos anos 80 tentativas de revitalizar as cidades brasileiras, recuperando os seus espaços de memória, a valorização de imóveis, o incentivo ao turismo cultural e a retomada da idéia de cidade como comunidade. Esta proposta de re-desenvolvimento promoveu todo um movimento de espetacularização e museificação das cidades com o aparecimento de vários centros culturais, a reconstrução de prédios e o ornamento arquitetônico das praças e lugares
grupos o que possibilita firmar uma outra ética-estética de existência, outras formas de se relacionar com a cidade, de sensibiliza-la e de sensibilizar essa produção. Neste sentido, esta pesquisa pergunta sobre os processos de criação no graffiti, pergunta esta que tem como escopo investigar os contextos nos quais se produzem, por meio do graffiti, outras condições de se viver o/no urbano, tornando-o suporte para expressão imaginária, criativa, e modificando qualitativamente a ordem simbólica que configura esse espaço. O graffiti parece apresentar-se, na atualidade, como uma forma de manifestação urbana que expressa com traços, letras e desenhos, as contradições implicadas na vivência urbana contemporânea (Orlandi, 2004). Caracteriza-se por inscrições, geralmente coletivas, de letras, desenhos e sulcos em paredes, pedras, muros, carros, vidros, papéis, etc, produzidas por grupos da comunidade ou por pessoas associadas à profissão artística, que usam sprays, tintas e pincéis, como ferramentas de expressão. Pesquisas têm investigado e problematizado questões sobre o graffiti urbano. No Banco de Teses da Capes^1 encontrou-se, aproximadamente, 24 pesquisas entre teses e dissertações de diversas áreas como Artes Plásticas, Psicologia, Literatura, Antropologia, Ciências Sociais, História, Ciências da Comunicação, que analisam as implicações do graffiti nos contextos urbanos, desvelando seu processos de intervenção e comunicação na perspectiva do criador da obras e de seus receptores. Algumas pesquisas se centraram especificamente nas relações entre texto e imagem no graffiti, outras em questões de gênero, na história do graffiti e de seus estilos, nas diferenças entre graffiti e pichação, entre outras. Embora essas pesquisas adentrem nas questões do processo de criação no graffiti, poucas se aprofundam e se focam na questão da criação no conjunto de suas relações interpessoais^2. Em periódicos nacionais, utilizando-se as palavras-chaves graffiti e pichação em consulta no Portal da Capes foi possível encontrar três artigos que tratavam do tema: questões de gênero em grafitos de banheiro (Teixeira & Otta 1998), opinião dos alunos de Direito de Recife sobre a pena de açoite para pichadores (Oliveira, 1999) e sobre violência escolar no Brasil (Sposito, 2001). Esses artigos não fazem apontamentos acerca do
(^1) Consulta realizada em 15/ 05/ 2005, utilizando-se os descritores: grafite, graffiti, pichação e arte urbana. (^2) Dentre as 24 pesquisas sobre graffiti encontradas, apenas três são da área de Psicologia e investigaram algumas questões como: sujeito e linguagem na escrita urbana a partir da perspectiva psicanalítica (Moura, 1990); relação adolescente e cidade através de processos identificatórios (Silva, 2001); e diferenças sexuais nos grafites de banheiro (Texeira; 1990).
processo de criação no graffiti urbano, embora tragam alguns elementos para discussão do assunto. Em periódicos estrangeiros^3 , também disponíveis na base de dados da Capes, encontram-se diversos artigos sobre o tema, inclusive um que analisa o processo de resistência, apropriação e institucionalização do graffiti no Brasil, no qual o autor (Schlecht, 1995) define o graffiti como uma forma de oposição às culturas dominantes que controlam o espaço público urbano, enfatizando as questões de classe e poder, e discutindo de que maneira a apropriação do graffiti por essa cultura tirou-o literalmente e simbolicamente das ruas. Traz alguns questionamentos que permitem realizar uma reflexão sobre a relação do processo de criação no graffiti com o contexto cultural no qual está inserido, a partir dos significados que nele circulam e que possibilitam uma determinada apropriação do produto dessa atividade. No que se refere às características do processo de criação, Powers (1996) afirma que as discussões da qualidade estética do graffiti como trabalho artístico são evitadas e geralmente depreciadas. Possivelmente ainda estejamos vivenciando o processo de aceitação do graffiti como uma forma de arte plástica contemporânea, cujo objetivo é mesmo transgredir e intervir no espaço como uma subcultura (Ramos, 1994). Os estilos de graffiti diferenciam-se de acordo com os grupos, territórios que ocupam, músicas que escutam (Adams & Winter, 1993): se estiverem vinculados a algum outro movimento como no caso do Hip Hop, as letras são influenciadas pelo movimento do corpo que entoam o break das músicas (Powers, 1996). Segundo Nandrea (1999), o graffiti é uma produção efêmera que reinventa cada gesto, encontrando caminhos nos quais as formas podem revelar outros significados do espaço, descobrindo, explorando e experimentando. O graffiti joga com o material as formas das letras, ângulos, curvas e cores, nos limites do espaço. Schlecht (1995) afirma que esses elementos estéticos constituem signos comunicativos, que se situam no espaço como imagens-orientadas fisicamente e simbolicamente. A investigação em Bases de Dados evidenciou que, das 24 teses e dissertações encontradas, não há muitas pesquisas na Psicologia sobre graffiti, pichação e mesmo sobre arte urbana, e nada foi encontrado a respeito dessa prática em Santa Catarina, Estado onde as cidades não se caracterizam por serem grandes metrópoles ou pólos industriais nos quais os graffitis costumam aparecer expressivamente no contorno urbano. No entanto, é
(^3) Pesquisa realizada em 17/05/2005.
diversos territórios permitirá perceber e compreender as relações que se estabelecem na/com a cidade e que instituem, por meio da atividade criadora, outros modos de habitá- la. Ademais, favorecerá reflexões sobre a importância da criatividade e das diversas relações que possam re-configurar os modos como os sujeitos se constituem nos espaços urbanos, modificando-os e ressignificando-os ao mesmo tempo. Nos muros, nas paredes que comunicam, nas imagens que colorem os espaços, de que maneira os graffitis se instauram em suas singularidades dialógicas, expressivas e inventivas?
GRAFFITI: diálogos urbanos, intervenções efêmeras na cidade.
Na verticalidade da cidade, abria-se o horizonte do possível (Funari, 1986).
O termo graffiti^4 é a forma plural de graffito, em italiano, cuja origem etimológica esclarece seu duplo sentido: escrita e gravura. Refere-se em geral às marcas ou inscrições feitas com ponta de carvão nas paredes, rochas ou outras superfícies. O costume de escrever nomes ou fazer desenhos em lugares e propriedades públicas é muito antigo e acompanha a história da humanidade. Na Arqueologia, como se pode observar nas análises de Funari (1999) sobre as inscrições pompeianas, por exemplo, utiliza-se o termo graffiti para referir-se aos riscos, desenhos e sulcos nas paredes de pedra. Estes traços antigos diferem-se profundamente dos graffitis contemporâneos que apareceram inicialmente na Europa no auge do movimento estudantil da década de 60, espalhando-se posteriormente por diversos países. A utilização de outros materiais na produção do graffiti, como sprays, pincéis, tintas e giz, configura, nas sociedades atuais, novas formatações estéticas, objetivos políticos e aspirações culturais. Com frases demarcadamente poético-ideológicas, as escritas urbanas feitas com spray nos muros das cidades européias no decorrer da década de 60 eram ousadamente contestadoras e posicionavam-se contra o sistema político vigente através de frases lúdicas, sutis e plenas de criatividade libertária. Sem predominância multicolorida e muitas vezes com letras e desenhos abstratos, em forma de palavras, frases e slogans , estas graffitis continham críticas ao contexto industrial e impessoal dos grandes centros urbanos, à falta de interesse político na resolução dos problemas sociais e as demais agruras da vida na sociedade moderna. Na década de 70, o graffiti se difunde nos Estados Unidos com um estilo de protesto diferente dos países europeus, no formato graffiti spray can art. Ao buscar dar “asas” a este estilo próprio, o graffiti americano derivado de diversas matrizes e utilizando elementos da indústria cultural foi se modificando com o passar dos anos nas paredes, muros, metrôs e carros de toda a cidade onde letras, mensagens e desenhos hipercoloridos
(^4) Embora o termo graffiti tenha sua versão portuguesa, grafite, utilizar-se-á a designação inglesa da palavra por dois motivos: diferenciar a atividade graffiti do grafite, variedade alotrópica do carbono, que compõem os lápis; preservar a forma escrita comumente utilizada pelos grafiteiros para designar a atividade que realizam.
Há também o WildStyle , conhecido como graffiti Hip Hop , sua principal característica são as letras distorcidas que quase cobrem o desenho. São graffitis de letras complicadas, entrelaçadas, em formas de seta e com estilo agressivo, cujos códigos específicos de linguagem não permitem a identificação do grupo. Já no graffiti de livre figuração vale tudo: caricaturas, personagens de história em quadrinhos, figurações realistas e também elementos abstratos. Baseia-se na utilização do traço a mão livre, de muita liberdade de exploração de temas e abusa de cores contrastantes. E há ainda grafiteiros que preferem estilizar seus graffitis com máscaras ou stencils , possibilitando maior rapidez nas assinaturas e na reprodução das imagens, assim como uma outra composição estética dos registros (www.alemdaart.hpg.ig.com.br/home.htm) 6. Veja abaixo alguns estilos de graffiti:
3D Bomb Tags
Piece WildStyle Figuração Livre
(^6) Pesquisa realizada em 22/09/2005.
Máscara Máscara
São diversos os estilos de graffiti que se desenvolvem em diferentes lugares do mundo, delimitando grupos e territórios, questionando a utilização dos espaços públicos e privados e propondo reflexões sobre as condições de vida nos centros urbanos. No Brasil, o graffiti apareceu há quase cinqüenta anos, tal como na Europa, como forma de inscrição política e crítica à repressão imposta pela ditadura. Buscava com sua estética própria, por meio de fortes representações visuais urbanas, instituir novas liberdades democráticas e opinar sobre o sistema e sobre a realidade vivida, sem utilizar os veículos comuns de informação. Constituía-se, então, como um movimento de contra-cultura, invertendo e transgredindo os espaços oficiais de exposição artística, de diálogo e discussão no interior das cidades. No entanto, se nos Estados Unidos e na Europa o termo graffiti refere-se, comumente a toda escrita urbana, aos rabiscos nos metrôs, banheiros, nomes de gangs , tags , imagens elaboradas e, em alguns casos, à arte de rua ou muralismo; no Brasil, configurou-se uma diferença entre atividades de graffiti e pichação e alguns autores apontam essa distinção (Lodi, 2003; Gitahy, 1999; Lara, 1996; Ramos, 1994). No campo das contradições e pluralidades entre escrita e desenho figurativo, o graffiti pode ser considerado tanto como uma forma de “pichação evoluída”, como uma modalidade de expressão estética anárquica, sem territórios pré-fixados e que não exclui a pichação, mas que pode se diferenciar dela como prática urbana. Segundo Lara (1996), aos poucos a pichação deixou de ser sinônimo de graffiti e passou a cunhar um estilo próprio, espalhando-se por toda a cidade de São Paulo na década de 90. Novos grupos foram surgindo, usando a pichação como uma forma de identificação e passaram a fazer questão de diferenciar suas próprias inscrições das feitas por outros grupos. Assim as letras começaram a ter desenhos próprios,