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Guias e Dicas
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O poder das ideias de carlos lacerda, Trabalhos de Economia

Livro de carlos lacerda 1965ccc

Tipologia: Trabalhos

2025

Compartilhado em 05/06/2025

usuário desconhecido
usuário desconhecido 🇧🇷

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O PODER DAS IDEIAS TERCEIRA EDIÇÃO DISTRIBUIDORA RECORD EDITÕRA CARLOS LACERDA O Poder das Idéias 3º EDIÇÃO Minha Srmpalpável Aiblicteca A DISTRIBUIDORA RECORD RIO DE JANEIRO ÍNDICE Ao Leitor 9 No 2º edição 13 Na 3% edição 15 1. Manifesto pela Reforma Democrática 17 2. A Hora da Decisão Está Perto 26 3. Depoimento Perante a Juventude 41 4. As Reformas que Urge Fazer 60 5. Trabalhador sem Tutor 65 6. Função Soclal da Livre Iniciativa 95 7. A Formação das Elites na Democracia 102 8. A Reforma Urbana 109 9, Materialismo, Economicismo. Nacionalismo 121 10. União Consciente 138 11. A Cidade Devastada e sua Reconstrução 147 12. Soluções para o Transporte 170 13. Energia: Salto sóbre o Futuro 190 14, Saber, Segurança e Saúde 203 15. Democracia sem Escolas? 219 16. O Desafio do Presente 221 17. Discurso na Abertura da Exposição Soviética 223 18. A Inquietação Política e Social na América Latina 225 19. A Aliança para 6 Progresso: Significado e Condições 248 20. O Poder das Idéias e o Futuro das Américas 252 21. Escolher os Amigos 261 22. Os Estados Unidos, a América Latina e o Mundo 269 23. A Lição da Escola de Quemói 278 24. As Quatro Mentiras sôbre Cuba 286 25. Cuba Humilhada e Exaltada 307 26 Ana Frank, Noiva da Eternidade 321 27. Os Equivocos, Mais do que os Erros 327 28. A Crise de Agôsto 329 29. O Cêrco e a Resistência 344 30. A Nota do Ministério e a Nota do Govêrno 347 31. Palavras Finais 349 Ao Leitor A Eu LIVRO É FEITO DE DISCURSOS. Na íntegra, ou excerptos. Mas, tais discursos contêm idéias e estas se traduzem em ação. Outros ficaram de fora, para nova oportunidade que che- gará ou não. Sempre o melhor discurso é o que nunca se fêz. E não vale um gesto cordial, um ato puro. Uma idéia nem sempre chega a se traduzir em sons. Nem por isto é menos atuante, por vêzes decisiva — a idéia que não tomou forma mas se configurou em atos. Ao defender, na Câmara dos Deputados, há alguns anos — tão poucos e parecem tão remotos — o meu mandato ameaça- do pela conjuração dos que há 'tanto tempo se apossaram do Brasil, publiquei depois o discurso que fiz na Comissão de Jus- tiça, num volume com o título “O Caminho da Liberdade”. Êste, agora, deveria chamar-se ''O Caminho da Esperança”. Pois a restituição da esperança ao povo é a nossa principal tarefa. Não deixar que êle desanime ou desespere. Dar-lhe bons motivos para confiar e crer. Tem êste livro como ponto de partida o Rio, convertido em Estado da Guanabara. Poder-se-ia mesmo chamá-lo “'Da Gua- nabara ao Brasil”, Mas, a seqiiência dos temas leva mais longe. A Cuba, aos Estados Unidos, ao mundo. ““Oropa, França e Bahia”... Nas palavras equi recolhidas, como nos atos que se segui- ram, encontra-se definida a nossa posição doutrinária. Na prá- tica, a nossa plataforma política — no que a expressão compor- ta de essencial e permanente. Durante algum tempo os comunistas procuraram desfigurar a nossa posição, epresentando-nos como reacionários e até “'da direita”, Outros apontaram a nossa suposta incoerência, en- quanto um observador, um pouco cínico, mas fiel à verdade, no- tava que a nossa maior fraqueza é exatamente o excesso de fi- delidade à coerência. Ou à lógica, que é o instrumento da coe- 9 daquela meritória tarefa que o socialismo do século XIX de- sempenhou, assim definida pelo eminente liberal italiano: “A pregação econômica do socialismo foi a pri- meira voz do espírito num mundo materializado”. Hoje, no Brasil, como de resto em ontras partes, até entre os que se reclamam de fidelidade ao cristianismo, há os que confundem ou induzem à confusão entre socialização e socialis- mo, como outros procuram fazer um jôgo-de-palavras com as expressões “socialismo” no sentido soviético e o socialismo re- formista, que os comunistas desprezam e destroem. Alguns têm-nos censurado o que lhes parece excessiva preo- cupação com o comunismo. Parece-lhes, talvez, que não nos de- vamos preocupar com um movimento que já tomou conta de grande parte do mundo. E há imbecis, assim como espertalhões que ainda ousam fazer crer que o problema do comunismo é âni- camente questão de mais ou menos feijão. Sociologia de bur- guês bronco ou de economista subdesenvolvido. Talvez seja me- lhor dizer-lhes o qne realmente temos em mente. O comunismo é um grave problema brasileiro exatamente porque os comunistas são, no grupo dominante no Brasil dêstes dias, a única lôrça que sabe o que quer e para onde vai; capaz de desinterêsse pes- soal, de certa honradez perante o povo, de sacrifício e devota- mento. Para usar uma palavra hoje sujeita a irrisão, e ressal- vando numerosas exceções de aventureiros e oportunistas, a única fôrça idealista nesse caravançará. Pelo menos, a única que conhece o poder das idéias, Do lado democrático é preciso haver quem sustente o esfôr- co de reorganização social, de reforma democrática do Brasil, ou melhor dito, de reitorma do Brasil para a Democracia. É preciso haver quem confie nesse poder final e superior, que é o mais diretamente vinculado à própria idéia da origem divina do Homem: a capacidade de transformar o mundo pela fôrça das idéias. Não temos essa capacidade. Ninguém, sózinho, a pode ter. Mas, temos as idéias. E confiamos no seu poder. Por isto mesmo, ineluiu-se neste livro uma fala como a que fizemos na televisão, a 24 de agôsto de 61, e que deu pretexto ao Presidente Jânio Quadros para desencadear, precipitada- mente, a renúncia que tramava contando com uma volta espeta- «ular — que não se efetuou. Encontram-se, ainda, neste livro, alguns temas que temos abordado em diferentes oportunidades, todos visando ao mes- 1 mo fim: informar « preparar o povo para o exercício da liber- dade responsável. Incluímos, também, um texto que não é de nossa autoria: a nota pela qual o Govêrno Federal pretendeu justificar uma intervenção no Estado da Guanabara, uma das obsessões mais em voga entre os ““gangsters”” qne se apossaram do Brasil desde que, a pretexto de não cortar a Constituição com a espada, começaram a picá-la com tesourinha de unhas, E ainda, a nota do Govêrno do Estado, em resposta. Algumas palavras, escritas para esta edição, encerram o li- vro. Êiste não seria possível, observo agora, mais uma vez, ao re- vê-lo no breve lazer de uma viagen, sem a dedicação de Walter Cunto, que conservou os originais, versões gravadas ou taqui- gráficas; de Luís Buarque de Holanda, que fêz a primeira se- leção; de Alfredo C. Machado e Décio de Abreu, que se dispu- scram a editá-lo. Agradeço a êsses amigos e a quantos me esti- mularam a publicá-lo, renovando aqui o constante testemunhe de apreço pelos meus colaboradores, que o são do govêrno da Guanabara como dêste próprio livro, à frente dêles — desde os tempos de “O Caminho da Liberdade” - Rafael de Almeida, Magalhães. E ofereço êste livro a Olga Werneck Lacerda, minha Mãe. o. L. A bordo do “Giulio Cesare”. 12 Na Terceira Edição S amciam, além de como- vedora, é a aceitação dêste livro pelo povo. Uma política de idéias não é mais sdmente desejável. É, também, pos- sível, E além de possível, é indispensável, Os slogans do tipo “desenvolvimentismo”, sem uma definição de pro- pósitos para objetivos nítidos, soam falso. Não é mais possível enganar a todos, algum tempo. Nem a alguns, todo o tempo... O político profissional, carreirista, aven- tureiro, que para chegar ao Poder abre as portas do país aos comunistas, com os quais reparte o govêrno imereci- damente obtido e levianamente exercido, vai ser — den. tro em breve — um fato do passado. Uma política de idéias que tenha, a seu serviço, a de- cisão e a capacidade de agir. Eis, ao que me parece, 0 encontro — afinal! — do que foram, no Brasil, a políti- ca dos homens de princípios e a dos homens de ação. Quase sempre separados, quando não inimizados, os que confiam no poder das idéias somam-se, agora, aos que acreditam no valor dos atos. Pensar e agir são complementares, Pensar bem é o princípio da ação certa. Na hora em que houvermos com- preendido isto, teremos feito a maior reforma que nos incumbe promover: a reforma do Brasil. C. L. 15 Manifesto pela Reforma Democrática |) J ÃO SE PROCURE NESTAS PALAVRAS O pro- srama completo para um govêrno. O que se encontra a seguir é um reduzido número de afirmações. Caberá demonstrá-las, explicá-las, sustentá-las, não aqui, não agora. Elas se demons- trarão, por si mesmas, melhor do que eu poderia fazê-lo. Não adianta deblaterarem ou silenciarem sôbre elas. Adotadas, re- solverão a crise que aflige o Brasil, abrindo caminho à reforma democrática. Desprezadas — e quento é fácil, com a pedante- ria em voga, ou as costumeiras alusões a fórmulas mágicas, à feitiçaria político-social com que se distraem os donos do Bra- sil — elas demonstrarão, a contrário senso, a sua valia, Numa palavra, elas se confirmarão também pela sua não-aplicação. Se não adotar, com urgência, soluções realistas, quem não vê que o Brasil caminha para uma ditadura? Não importa qual, não importa de quem. Mas, é evidente, cada die mais, nenhuma nação resiste a tantas erises sucessivas sem que, a certa altura, uma fôrça de ordem se imponha — e quem vai clamar pelo seu advento, na rua, é o próprio povo aflito. A ordem democrática, a ordem com liberdade, a disciplina consentida, o esfôrço conjunto, as soluções honradas — ou à ordem imposta, a ordem armada e mistificadora. Eis a escolha a fazer. Não nos falem de “direita” ou de “esquerda”. Os donos do Brasil são ambidestros, Não há incompatibilidade maior entre “esquerda”? e “direita”, como já foi demonstrado no mun- do em geral e, em particular, no Brasil. O submundo tosco de idéias e refinadamente intuitivo dos caudilhos não conhece direita nem esquerda, senão como rótulos. O que lhes importa é o Po- der, 0 uso pessoal dêle, para enriquecer, para afogar suas infe- rioridades no ódio, na eobiça, na deslumbrada mediocridade do espanto de se verem tão alto — sem saber como nem para que. Não se procure fugir à realidade que se aproxima, por meio de subterfúgios e desculpas tais como a maturidade do país, a estabilidade das instituições, o legalismo das Fôrças Armadas, a superação da fase dos golpes, etc. Cada vez que se falou nisto, 17 ste é um exemplo que vale como um aviso, Pois, quei- ra-se ou não, as Fôrças Armadas, que atuaram quase sempre como poder moderador, arriscam transformar-se em fontes de provocação e de opressão, se continuar o atual processo de sua decomposição. Mas, como não podia deixar de ser, reponta espontânea, insopitável, a reação contra essa tendência desagregadora e aventurista. A consciência cívica fala mais alto do que o con- vite à inconsciência e a provocação ao egoísmo e à vida fácil, pela qual se vêem os quartéis rodeados, como de uma inundação que ameaça lhes invadir os pátios limpos. Não tenho dúvidas em con- fiar, ainda, no êxito dessa reação liberal, isto é, em favor da única liberdade durável, a liberdade com responsabilidade; embora ela tarde e faça correr, com sua tardança, um imenso risco à Nação. Antes, pois, de entrar na enumeração de providências e re- formas que constituem, em linhas gerais, o processo da Refor- ma Democrática do Brasil, devo singelamente afirmar que faço êste esfôrço sem temores e sem ambições. Faço-o porque hoje, no govêrno, vejo confirmado o que denunciei quando estava na oposição. O que vi por dentro era ainda pior do que, de fora, parecia. O Brasil tornou-se propriedade de uma casta, que hoje se disfarça de socialisteira como ontem de fascista, mas na rea- lidade é uma casta de incapazes e desonestos profissionais da demagogia, a patronal e a operária, a falar de reformas que não faz porque não quer e porque, se quisesse não saberia fazer honestamente. Faço-o sem ressentimentos e sem recriminações. Dou o no- me à coisas, costumo chamar pelo nome Os principais respon- sáveis. Mas, não esqueço que existem outros, como os omissos, os que deixam correr o marfim, os que não procuram mais do que os seus interêsses imediatos, sejam êstes de ordem pecu- niária ou espiritual. Há uma espécie de competição no país: o «campeonato da Demagogia e da Corrupção. Vemos padres dema- gogos, patrões demagogos, estudantes demagogos, economistas de- magogos, generais demagogos, colunistas demagogos. Os mais mo- destos demagogos são, agora, exatamente os que tinham certo di- reito de o ser, Os políticos, os parlamentares. Há uma grande res- ponsabilidade de órgãos de informação e orientação, que infor- mam mal e orientam segundo conveniências pessosis, momentã- neas, subalternas — com as exceções do costume — e alguns dos quais se prostituem com & volubilidade de quem julga que nunca 19 terá de prestar contas a ninguém pelo uso que faz dos instrumen- tos que a Democracia deixa em suas mãos. Isto pôsto, diga-se ainda, não tenho a pretensão de con- correr com os ilustrados demagogos da sociologia que, Ultima- mente, campeiam no Brasil. Jejunos da matéria, justificam ““ideolôgicamente'” qualquer absurdo, Uma análise séria das últimas eleições, de 7 de outubro dêste ano, seria reveladora. Dispensem-me de a fazer aqui. Te- nham-na por feita. E não percam de vista o espetáculo edifi- cante dos eandidatos à presidência da República se acotovelando num concurso de pernas ideológicas, vestindo o maiô socialista para tentar ganhar a coroa de Rei da Esquerda, que o sr. Jânio Quadros arvorou a três pancadas e deixou rolar da cabeça. Vejamos, de outro lado, o povo. Na medida de suas fôrgas, desajustado pela falta de escolas, que os donos do Brasil têm o cuidado de lhe não proporcionar; pela falta de universidades autênticas, que são incipientes e quase tôdas transviadas; pela incompreensão de que a distribuição da riqueza é função da criação da riqueza, e esta depende muito mais do aumento da produção do que as leis generosas que distribuem o que não existe; exasperado pela ação exaustiva da inflação sôbre seus sentidos e sua razão; tomado de surprêsa por fenômenos como a renúncia de Jânio e o imbróglio presidencialismo - parlamenta- rismo que é um debate intramuros em Brasília, entre um Parla- mento indefeso e um Presidente indefensável; mistificado por uma propaganda que comercializou a política, ainda assim o povo se recusa à subversão a que o convidam. O povo resiste à se- dução do desespêro. E, creio, ainda não desanimou. É o que me anima, também, a propor à sua consideração estas idéias para soluções básicas, pontos de partida da Reforma Democrática do Brasil. A começar logo, sem prejuízo de qualquer medida, é urgen- te promover o Balanço Econômico nacional. Não pode o Brasil prosseguir sacando sôbre o futuro sem saber com que conta no presente, para êsse arranco. Que se sabe da riqueza e des dispo- nibilidades nacionais? Pouco mais do que nada. Dos swaps do Banco do Brasil à atividade predatória da casta dominante sô- bre a Petrobrás, tudo o que se faz no Brasil é no escuro. O co- uhecimento da realidade sôbre a qual operam os políticos e os ad- ministradores é essencial, Entretanto, as outras medidas são: 20 Funcionalismo de carreira, rigorosamente independente da po- lítica de clientela. Racionalização do serviço público. 6. Revisão da política exterior do Brasil, retomando a sua linha tradicional e ativando-a para que se torne mais efe- tiva e mais presente. Abandono urgentissimo das recentes levian- dades que fizeram do Brasil objeto de escárneo internacioral e de justa desconfiança dos seus aliados. 7. Reforma Bancária com autonomia do Baneo do Bra sil e formação do Banco Federal de Reservas, para sustentar o mercado de crédito e, caso necessário, regulá-lo. Política enêr- gica de sustentação de moeda. Rigorosa amputação de tôdas as despesas supérfluas ou adiáveis. 8. Uma alternativa a ser decidida com urgência: volta de Brasília ou concentração da administração superior em Bra- sília. O sistema híbrido é que não funciona. Depois de bem pe- sar as vantagens e desvantagens, considerando Brasília um fa- to consumado, lá permanecer ou, vendo que ela ainda vai absor- ver 0 que a Nação não pode pagar, adiar essa mudança para mais tarde — e voltar. Rigoroso eritério técnico nessa decisão. à luz da conveniência do país nos próximos anos. 9. Revisão imediata de tôdas as leis, regulamentos, cir- eulares, mandamentos, mentalidades que visam a impedir o afluxo de capital para o Brasil. Cumprimento dos compro- missos legítimos assumidos no exterior de modo a restaurar o crédito brasileiro no mundo, completamente destruído. Pelos mesmos motivos, negociações para financiamentos e entrada de capital, privado e público, no Brasil, mediante medidas simples e claras, de defesa do interêsse nacional, Sem dinheiro o país não progride. Não hã dinheiro bom, suficiente, no Brasil. Me- didas para impedir a saída de capital brasileiro para o exte- rior, pela defesa do crédito interno e pelo confisco das fortunas ilicitamente acumuladas. 10. Revisão imediata de todos os contratos de companhias concessionárias de serviços públicos, de modo a democratizar o seu capital forçando a venda de ações aos usuários, consumi- dores de seus serviços, para financiar dêsse modo a atualização e expansão de tais serviços (telefones, transportes, energia, etc.), inclusive a atualização das tarifas. 11. Normalidade na vida da Petrobrás, encerrando o capítulo ruidoso — mas não tanto quanto devia, pelos escândalos que lá são abafados - da corrupção política da emprêsa estatal de petróleo por grupos da casta de donos do Brasil. Política agres- 22 . siva de procura e exploração de petróleo pela Petrobrás, fi- xando prazos razoáveis ao fim dos quais, se não tiver êxito, a ex- ploração do petróleo será livre no Brasil. Mas o preferível, e o desejável, mesmo o econômicamente mais provável, é que a Pe- trobrás sôzinha, desde que decentemente administrada, possa resolver o problema brasileiro do petróleo. 12. Crédito à construção civil e às cooperativas, a serem fomentadas, de construção de casas populares, mediante diver- sos projetos específicos, e serem aplicados com plena liberdade, em cada região e em cada grupo social conforme as suas carac- terísticas e preferências. 13. Completa descentralização administrativa, dando tempo ao Presidente, Ministros, ete. de governarem em vez de apenas confabularem e assinarem papéis. 14. Prestígio à iniciativa privada e, ao mesmo tempo, não só por serem incompatíveis, mas por serem complementares, Planejamento nacional com prioridades bem estabelecidas para a solução dos problemas, 15. Estatuto dos Partidos Políticos, para diminuir-lhes o número e garantir, num sistema bipertidário, a livre existência de várias correntes. Reforma interna do Congresso para as- segurar melhor rendimento ao trabalho parlamentar e à ela- horação, votação e fiscalização do Orçamento. 16. Medidas gerais de moralização da vida pública e da atividade política e administrativa. Sôbre êsse quadro de providências básicas, inclui-se uma série de soluções para os problemas específicos de cada região, como o Norte, o Nordeste, de cada produto, como o café, a ma- deira, de cada setor, como a Previdência Social, o Turismo, ete. Mas o que urge é tomar as providências básicas. A principal espoliação de que está sendo vítima o povo brasileiro é aquela que lhe causam os próprios brasileiros. Fo- mos habituados a sonhar com a riqueza fácil, de um subsolo ri- co, de uma terra fértil, de um clima favorecido, até de um céu privilegiado. Dificilmente nos habituamos com a idéia de uma luta severa contra a adversidade, as deficiências do meio, a ca- rência de conhecimentos, a crise de quadros dirigentes. Crisma- mos q nosso atraso de “'subdesenvolvimento” e com isto fizemos regredir o Brasil, cuja ambição, hoje, se ouvirmos os seus atuais porta-vozes, é igualar o Congo ou assemelhar-se ao Yemen. Fala-se de reformas de base. Não se faz nenhuma. Propo- nho estas, que são realmente de base, porque são pontos de par- tida. Com elas mudam os anacronismos da estrutura sem que 23 luta que êle não soube levar por diante não começou com êle, vem de muito antes, e não acaba com êle, prossegue. Tem os seus momentos de desânimo, de maré baixa, Mas tem conquistas sérias, pontos e postos decisivos já tomados. Conta com uma opinião pública crescente, que cada dia mais se esclarece, enquanto do lado oposto, também. Conhecemos partidários dos demagogos, que se desiludem. Não conhecemos par- tidários nossos, desiludidos. Alguns ficam, quando muito, amua- dos. Mas, sabem, de coração, que não os decepeionamos. Porque nunca lhes faltamos, nem agora, com o dever da verdade. Só adula o povo quem o despreza, quem não confia na sua capacidade de se esclarecer e se informar. No fundo, não há nada mais anti-povo do que êsse ““popu- lismo”” interesseiro e embusteiro que tomou conta do Brasil, en- louqueceu políticos gaiteiros, Jliberalões que fazem cirurg'a plástica nas suas convieções, oportunistas impacientes, traidores que esperavam apenas uma oportunidade para valorizar a traição. Tudo isto compõe uma farândola. Mas, não forma um cor- po dirigente. A Democracia exige a formação de uma elite di- rigente, porque ela é ou deve ser o govêrno dos melhores, esco- lhido pela maioria. Ela exige que a maioria seja capaz de es- colher os mais capazes. Por isto é que ela é lenta para se esta- belecer e se aperfeiçoar. Mas, não cessa nunca o seu processo de melhoria. Por isto, ainda, é que ela não cabe numa ideologia, transcende os quadros, por mais amplos, de uma doutrina. É um estado de espírito que se traduz por providências e medidas, antes que por formulações abstratas. É uma doutrina, mas só se define em ação. Se chegasse a ser uma filosofia, seria inteligível apenas pela sua aplicação prática. Isto não a humi- Jha nem a destrói. Ao contrário, é o que lhe dá grandeza. Ao contrário dos totalitários, que amam as fórmulas porque se alimentam dessas drogas intoxicantes, o democrata se nutre de exemplos e de análises — e foge ao perigo das sínteses e das generalizações teóricas. Em certo sentido, o verdadeiro idealista — na Democracia — é pragmático. Não se deixa aprisionar nem pelas fórmulas nem pelas prevenções, pessoais ou doutrinárias. Mas, isto exige maturidade, fôrça de convieção, capacidade de ação. Reforma de base? Aí a têm. Fora da mistificação e da pro- vocação que visam a esconder um fato capital: a destruição do Brasil por uma casta de brasileiros que se apossou do país, e, não sabendo fazer outra coisa, prospera — em todos os sentidos — à custa do empobrecimento nacional — em todos os sentidos. 25 A Hora da Decisão Está Perto | DA QUE PAREÇA, tanto quanto agradeço participo, nesta cerimônia, do sentimento que a inspi- rou. O sério sentimento de que na hora da confusão e do perigo todos os brasileiros podem, ao menos, dizer por que se desenten- dem, quando não fôr possível entender-se como devem, pelo bem da Pátria. e Diz-me a consciência que não exerço, no govêrno do Esta- do, um mandato pela metade, ou dirigido apenas num sentido. Não há classe, não há categoria social que não tenha recebido ao menos o que humanamente lhe posso dar, o trabalho honrado, o esfôrço continuado, a perseverante confiança no valor do es- clarecimento pelo exemplo. Ainda com êsse mesmo espírito me levanto para agradecer as belas palavras, a um tempo generosas e estimulantes, do pre- sidente da Associação Comercial e do presidente da Federação das Indústrias e do Centro Industrial da Guanabara. Podia ou- ví-las, a rigor, como as tenho escutado cada dia, na bôca de qua- se todos, pobres, ricos ou remediados. Não cabe, aqui, dar balan- go do que temos feito, os que trabalhamos, no Estado, pelo povo que é o nosso patrão, é com o qual mantenho, por três anos ain- da, um contrato de trabalho. Ninguém poderá dizer que protegemos uma classe contra outra, que demos ao forte privilégio e abandono 20 fraco. Recolho, com prazer, o apêlo contido nas palavras dos vos- sos intérpretes, para admitir um entendimento objetivo com o Presidente da República. Entendo que o govêrno não se exerce com ressentimento nem com ódios sem renegar a melhor fonte da antoridade, que é a impessoalidade de suas manifestações. Entendo que um governante não ascende ao poder para tratar de casos pessoais, nem de seus amigos nem de seus inimigos, mas do interêsse coletivo, antes e acima de qualquer consideração. Por isto entendo, também, nada neste mundo deve impedir que os mais encarniçados adversários se entendam em tôrno de so- lnções objetivas para problemas concretos. Muito menos serve 26