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Ataraxia. Embora tenham surgido diversas correntes filosóficas no período helenístico, há um ponto em comum entre elas: a tese de que a.
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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Não perca as partes importantes!
O período helenístico
(^) Identificar as principais etapas de desenvolvimento da filosofia helenística. (^) Diferenciar as principais escolas do helenismo.
(^) Identificar os principais representantes de cada escola.
(^) Identificar os principais conceitos de cada filósofo estudado. (^) Compreender os avanços e os limites de cada teoria.
(^) Compreender os fatores históricos e políticos que condicionaram o desenvolvimento tardio da filosofia grega.
Seção 1 O desaparecimento da pólis e a reinvenção do homem grego
Seção 2 Os cínicos Seção 3 O ceticismo
Seção 4 O epicurismo
Seção 5 O estoicismo
Seção 6 O sentido geral do período helenístico
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Após o seu apogeu, ocorrido em Atenas com Sócrates, Platão e Aristóteles, a filosofia grega passa por transformação profunda nos séculos que se seguiram ao domínio de Alexandre sobre uma imensa parte do mundo civilizado. Vamos ver a seguir um breve panorama das principais escolas filosóficas dessa época e de seus representantes mais ilustres.
A partir do século IV a.C., a cultura clássica sofre uma considerável mudança de rumo. O contexto histórico e cultural modifica-se rapidamente, dando início a um período que durará aproximadamente mil anos. Essa nova fase da cultura ocidental é conhecida como período helenístico e se estende até o século V depois de Cristo.
Atenção! Nesse período, a filosofia sofre uma profunda reformulação: os sistemas de Platão e Aristóteles já não atendem às necessidades dos grandes intelectuais da época e é preciso buscar novas formas de pensar a realidade.
Para compreender como e por que surgem as filosofias helenísticas, é conveniente traçarmos um breve esboço do contexto histórico que levou ao seu florescimento.
Em 490 a.C., um grande número de cidades-Estado gregas se uniram na luta contra a invasão dos persas. Após a vitória dos gregos, começa uma disputa interna entre Atenas e Esparta, na busca do controle econômico e militar sobre as demais cidades- Estado. A partir do ano 431 a.C., essa disputa se transforma em uma guerra (a guerra do Peloponeso). Essa guerra abalou o sentimento de unidade dos gregos e consumiu recursos
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Os gregos formavam um povo que, acima de tudo, amava a liberdade. Vivendo em um grande império, essa liberdade deixa de ter um sentido político e passa a ter, cada vez mais, uma conotação individual. Ganha força, então, a noção de autarcia (autárkheia ).
Embora não tivesse acesso à esfera mais elevada das decisões, o cidadão grego gozava de uma liberdade política nunca antes desfrutada. Com o império, sua ação era limitada muito mais por instituições políticas concebidas de forma racional do que pelas exigências arbitrárias de algum governante inebriado pelo poder. O homem grego tornara-se cosmopolita, podendo deslocar- se, a seu bel-prazer, para qualquer parte do mundo conhecido; havia liberdade para cada um escolher sua própria religião e, até mesmo, para não seguir nenhum preceito religioso.
Contudo o homem grego não se sente livre. A prosperidade econômica permite-lhe compreender que a riqueza, por si só, não é suficiente para produzir a felicidade. O acesso a novas culturas mostra que, por mais requintadas que sejam as teorias filosóficas, elas não passam de construções humanas.
O homem sente, de uma forma cada vez mais premente, que é limitado, que sua vida é efêmera e que seu poder para alterar a ordem do mundo é insignificante. A morte precoce de Alexandre, o homem mais poderoso que já existira sobre a face da Terra, só reforçou essa percepção.
Como ser feliz? Curiosamente, a resposta dada pelos gregos a essa pergunta, em todas as épocas, sempre foi a mesma:
Embora tenham surgido diversas correntes filosóficas no período helenístico, há um ponto em comum entre elas: a tese de que a felicidade é alcançada quando conquistamos a tranqüilidade interior.
A palavra grega autárkheia é formada pelos vocábulos autos (si mesmo) e arkeo (ser suficiente). Literalmente tem o sentido de auto-suficiência.
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A felicidade não é um estado passageiro, nem é fruto das circunstâncias; ela é uma conquista.
Quando temos tudo o que queremos, quando não tememos o futuro e quando estamos satisfeitos, aí então somos felizes. E, principalmente, quando alguém descobre que a sua satisfação depende apenas de suas próprias atitudes e escolhas, a felicidade torna-se palpável.
Mas será que isso é possível?
Sim. Para aqueles que buscam a sabedoria, isso é possível.
Qual é, então, o caminho para alcançar esse pleno e permanente estado de realização?
O primeiro passo é perceber que a felicidade não depende do ter , e sim do ser.
Quanto mais bens alguém possui, mais deseja conquistar. Os grandes prazeres são efêmeros e fugazes. O desejo de posse nos torna pessoas frustradas e infelizes.
O verdadeiro caminho para alcançar uma satisfação plena e duradoura é o da construção da paz interior.
A verdadeira felicidade é a ataraxia , ou seja, a imperturbabilidade da alma.
Até aqui, todos os filósofos do helenismo concordam.
Como alcançar a ataraxia?
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ágil). Daí saiu a alcunha de kynikoi (aqueles que são como os cães) dada aos seus seguidores. É claro que também contribuiu com o surgimento desse apelido o desprezo dos seus discípulos pelos prazeres considerados tipicamente humanos por seus contemporâneos.
Atenção! Antístenes e seus seguidores não eram cínicos no sentido atual da palavra. Pelo contrário, eles faziam questão de ser o exemplo vivo das idéias que defendiam.
Entre os discípulos de Antístenes, o mais famoso foi Diógenes de Sínope, mais conhecido como Diógenes - o cínico. Por suas atitudes radicais e pitorescas, o discípulo acabou se tornando mais conhecido que o próprio mestre. Acredita-se que ele tenha escrito algumas obras, mas delas não sobraram sequer fragmentos.
Atenção! Não confunda o filósofo cínico Diógenes de Sínope com o historiador da filosofia Diógenes Laertius.
Existem várias histórias a respeito de Diógenes, o cínico. Conta-se que vivia na rua e morava em um velho barril. Entre os poucos objetos que possuía, estava um lampião que ele usava durante o dia, quando saía pelas ruas gritando no meio da multidão: “Procuro o homem!”. Segundo a interpretação mais usual dessa frase, Diógenes buscava o homem em sua essência mais pura, algo que se havia perdido com a cultura e com as convenções da vida social.
Conta-se também que, certa vez, o imperador Alexandre parou diante de Diógenes que tomava sol junto ao seu barril. Alexandre lhe perguntou o que mais desejava. A resposta foi desconcertante: “Não me tires o que não podes me dar!”, insinuando que o grande imperador estava, com sua sombra, atrapalhando o seu banho de sol.
Figura 6.2 – Diógenes de Sínope. Fonte: <www.mlahanas.de/.../ images/DiogenesJLGerome.jpg >.
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Diógenes se empenhou em demonstrar que a natureza nos coloca à disposição tudo o que realmente precisamos para vivermos felizes. Defendia a liberdade sexual e a abolição de todas as normas. Para ele, o Estado, as leis, o dinheiro, a propriedade, o casamento e tantas outras invenções antinaturais só afastam cada vez mais o ser humano da felicidade.
A proposta cínica da busca da autarcia e do autodomínio e de desprezo pela abstração teórica desvinculada da utilidade prática influenciou profundamente as novas escolas filosóficas que surgiram no período helenístico. No entanto o radicalismo em relação às convenções sociais contribuiu para o enfraquecimento da escola de Antístenes após a morte de seu fundador e de seu mais célebre discípulo.
O ceticismo é uma das doutrinas que surgem no período helenístico, voltadas para a obtenção da tranqüilidade da alma. A principal tese dos filósofos céticos é a de que, para alcançar a tranqüilidade, é preciso controlar nosso desejo de ter certezas absolutas.
Pode-se dizer que a idéia de que o ser humano não é capaz de alcançar a certeza
Absoluta jamais faz parte da própria essência da filosofia antiga. No entanto, ainda que saiba que jamais a alcançará, o filósofo é aquele que não consegue deixar de desejar e de buscar a verdade.
A busca da sabedoria (ou seja, a própria filosofia) pode ser interrompida de duas formas, quando alguém:
perde a esperança de encontrar a verdade e passa a considerar a essa busca como irracional; ou,
pensa que finalmente encontrou a verdade e que a busca já não é mais necessária.
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A escola cética foi fundada por Pirro de Élis (365 – 270 a.C.). Pirro, que segundo algumas fontes era filósofo e pintor, acompanhou Alexandre em sua campanha de conquista ao Oriente. Nessa viagem, teria entrado em contato com gimnosofistas (os sábios nus), provavelmente mestres iogues. De volta a Élis, viveu de forma simples, afastado das preocupações mundanas.
Pirro defendia três princípios fundamentais para a obtenção da tranqüilidade: a apraxia (inação), a aphasia (ausência de discurso), apathia (insensibilidade frente ao prazer e à dor). Através da aplicação desses princípios práticos, seria possível alcançar a ataraxia (imperturbabilidade) e, conseqüentemente, a eudaimonia (felicidade).
Dos cínicos, Pirro mantém a rejeição à abstração teórica desvinculada da utilidade prática. Além disso, a apathia também pode ser considerada como uma retomada do princípio de autodomínio. Mas isso não implica um abandono da vida prática ou uma ruptura com as convenções sociais, como pregavam os cínicos. Se o objetivo da filosofia deve ser sempre a busca da ataraxia, o caminho apontado pelo ceticismo é o da moderação e da manutenção do senso crítico.
Atenção! Tome cuidado para não confundir o filósofo cético Pirro de Élis com o grande general macedônio Pirro de Épiro.
Também chamada de hedonismo e de filosofia do jardim , o epicurismo é outra doutrina filosófica que surge no período helenístico, voltada para a obtenção da serenidade interior.
A principal tese dos filósofos epicuristas é a idéia de que, para alcançar a tranqüilidade, é preciso cultivar o prazer. Os princípios fundamentais do epicurismo são a amizade, a moderação, o livre arbítrio e a indiferença à morte e aos deuses.
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Epicuro , o fundador da escola que tomou o seu nome, nasceu em Samos, em 341 a.C., e morreu em Atenas, em 270 a.C., aos setenta anos de idade. Há relatos de que teria sido aluno de Pânfi lo, um filósofo ligado à Academia, e de Nausífanes, discípulo de Demócrito.
Em 306 a.C., após lecionar em Cólofon, Mitilene e Lâmpsaco, Epicuro transfere-se para Atenas, onde funda a sua escola. Embora estivesse situada no grande centro econômico e cultural do mundo da época, em que funcionavam as duas maiores escolas de filosofia (a Academia e o Liceu), a escola de Epicuro estava instalada numa propriedade afastada do centro da cidade, num local tranqüilo e acolhedor, e o distanciamento da vida urbana e a integração com a natureza favoreciam a introspecção. Por sua beleza natural, a propriedade que abrigava a escola passou a ser chamada de jardim ( képos ), e Epicuro e seus seguidores muitas vezes são referidos como os filósofos do jardim.
Epicuro escreveu diversas obras, mas a maior parte não chegou até nós. Restaram apenas algumas cartas, coleções de frases memoráveis e alguns fragmentos de seus tratados. A principal obra do epicurismo que chegou completa até os nossos dias é A Natureza das Coisas ( De Rerum Natura ), escrita por Tito Lucrécio Caro, um epicurista do século I a.C.
Para o epicurismo, a filosofia é constituída de três partes que se articulam. Em primeiro lugar, a teoria do conhecimento , que permitiria identificar nossas crenças infundadas e auxiliar a reconhecer a verdade. Em segundo lugar, a física deveria mostrar a verdadeira estrutura da realidade na qual o homem se insere. Por fim, teríamos a ética , que deveria indicar um caminho para a felicidade. A filosofia assim concebida deveria constituir-se na fundamentação racional que permitisse ao indivíduo tornar-se um artesão de sua própria vida, alguém capaz de “confeccionar” sua própria felicidade.
Figura 6.3 – Epicuro. Fonte: <www.consciencia.org/.../ pictures3/epicuro.jpg>.
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possibilitariam, segundo essa teoria, a formação de aglomerados, gerando a matéria.
Assim, o clinámen seria a fonte primordial do devir.
Embora esta teoria pareça, à primeira vista, um pouco “forçada”, Epicuro vê nela as seguintes vantagens:
respeita o critério de não-infirmação;
é uma teoria essencialmente materialista, totalmente purificada de qualquer conotação mítica ou sobrenatural;
não reduz o cosmos a um mecanicismo determinista, o que deixa espaço para o livre arbítrio e para a ética.
A ética é a parte central da filosofia epicurista. Para Epicuro, a filosofia deveria servir como via de acesso à verdadeira felicidade.
Por isso, em primeiro lugar, a filosofia deve libertar a alma humana do medo provocado por crenças infundadas. Em segundo lugar, deveria proporcionar a serenidade de espírito, construída através da autarcia. E, por fim, a filosofia deveria auxiliar o homem a alcançar uma vida agradável através de uma orientação racional, para a obtenção do prazer.
A ética epicurista é hedonista , ou seja, é baseada na idéia de que o prazer é um bem a ser buscado pela ação virtuosa. Vazquez (1984, p. 242) resume a ética epicurista assim:
Para os epicuristas, tudo o que existe, incluindo a alma, é formado de átomos materiais que possuem certo grau de liberdade, na medida que se podem desviar ligeiramente na sua queda. Não há nenhuma intervenção divina nos fenômenos físicos nem da vida do homem. Libertado assim do temor religioso, o homem pode buscar o bem neste mundo (o bem, para Epicuro, é o prazer). Mas há muitos prazeres, e nem todos são igualmente bons.
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É preciso escolher entre eles para encontrar os mais duradouros e estáveis, que não são os corporais (fugazes e imediatos), mas os espirituais; isto é, os que contribuem para a paz da alma.
A busca do prazer ( hedoné ) é um dos pontos mais fundamentais da ética epicurista. No entanto, como nos explica Pessanha (1980, p. XII), o ser humano precisa saber escolher os seus prazeres:
Enquanto ser natural, o homem - como os animais - pauta sua vida, espontaneamente, pela procura do prazer e pela fuga da dor. Mas a verdadeira sabedoria está além desse comportamento natural e espontâneo: sábio é reconhecer que há diferentes tipos de prazer, para saber selecioná-los e, dosá-los. [...] Epicuro considera que todo prazer é basicamente um prazer corpóreo. Mas o prazer que o homem deve buscar não é o da pura satisfação física imediata e mutável, o “prazer do movimento”. Para Epicuro, o prazer que deve nortear a conduta humana
Outro ponto fundamental da ética epicurista é a importância atribuída à amizade. É só a partir do convívio e da amizade que se pode alcançar a verdadeira felicidade obtida através do compartilhamento dos pequenos prazeres da alma.
Vencido o temor em relação ao sobrenatural (serenidade espiritual) e alcançada a autarcia (serenidade física), Epicuro propõe o cultivo da amizade e a busca de prazeres moderados como o ponto alto da busca da felicidade.
A filosofia de Epicuro exerceu grande influência já em sua época e até hoje pauta a reflexão ética e sobre o sentido da existência humana. O epicurismo é uma filosofia da vida e, principalmente, uma filosofia que, mais que compreendida, surgiu para ser vivenciada.
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O estoicismo surge como uma supervalorização da razão. A idéia de que nada no universo pode ser superior à razão é o núcleo do estoicismo. Todas as outras idéias que compõem a doutrina estóica são decorrências dessa tese fundamental.
A filosofia estóica constitui-se num sistema baseado em duas teses fundamentais, na verdade duas faces de uma mesma moeda:
tudo no universo é dotado de razão;
nada existe no universo que não seja matéria.
A partir dessas duas idéias fundamentais, os estóicos propõem uma metáfora aplicável a qualquer objeto da natureza: Tudo no universo se assemelha a um ser vivo, no qual existe um sopro vital (pneuma) que produz a junção e a interdependência das suas partes.
O próprio universo, como um todo, pode ser pensado como um grande organismo, dotado de uma alma racional que atua em cada uma de suas partículas. E a ssim como os seres vivos possuem um ciclo vital, tudo no universo passa por fases de geração, crescimento e corrupção.
Tudo na natureza é governado pela Razão (Lógos). Essa Razão pode ser chamada de alma do mundo ou mesmo de Deus. T udo existe e acontece segundo uma predeterminação rigorosa. Concebida desta forma, a natureza é, em si mesma, justa e divina.
Já o homem é justo apenas quando consegue estar em acordo consigo mesmo, isto é, com a sua própria natureza, que é intrinsecamente razão. Assim, de acordo com os estóicos, tudo o que extrapola o domínio puramente racional é antiético.
Aqui surge a grande diferença entre estóicos e epicuristas. Embora compartilhe vários ideais com o epicurismo, o estoicismo caracteriza-se principalmente por opor-se à busca do prazer.
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Para alcançarmos a tranqüilidade, é preciso que nos tornemos insensíveis ao prazer e à dor. Essa é a tese fundamental da ética estóica.
Na relação com o corpo, a alma humana é capaz de agir de forma intencional (atividade), mas também está submetida a interferências não-intencionais, provocadas pela percepção sensível (paixão).
Eu posso dar um soco em uma parede: afinal de contas, eu controlo os meus músculos (atividade). No entanto, após ter dado o soco, não depende de uma escolha minha sentir, ou não, a dor (paixão) provocada pelo choque da minha mão contra a parede.
Nossas ações voluntárias são atividades da alma. Os prazeres e as dores que vivenciamos são paixões. As paixões não dependem apenas da razão. Elas trazem, portanto, uma dose de irracionalidade que precisa ser evitada o máximo possível. Pessanha (1980, p. XVI) explica essa necessidade de supressão das paixões da seguinte forma:
As paixões são consideradas pelos estóicos como desobediências à razão e podem ser explicadas como resultantes de causas externas às raízes do próprio indivíduo; seriam, como já haviam mostrado os cínicos, devidas a hábitos de pensar adquiridos pela influência do meio e da educação. É necessário ao homem desfazer-se de tudo isso e seguir a natureza, ou seja, seguir a Deus e à Razão Universal, aceitando o destino e conservando a serenidade em qualquer circunstância, mesmo na dor e na adversidade.
Viver em conformidade com a razão torna o homem feliz, porque o liberta da escravidão das paixões. O sábio é aquele que não se deixa enganar pelos prazeres, nem se deixa modificar pela dor. Para o pleno exercício da racionalidade, o prazer é tão pernicioso quanto a dor. Tornar-se insensível tanto ao prazer quanto à dor é uma condição necessária à vida ética.
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Na história ocidental, o período helenístico inicia com a difusão da cultura grega nos países conquistados por Alexandre, o Grande, e termina com a queda do Império Romano.
Na filosofia, este período é marcado por uma reformulação do próprio sentido do ato de filosofar, tornando-o numa arte do viver. A ética e a política, antes indissociáveis, passam a receber tratamentos opostos: enquanto a reflexão sobre a ação humana, a liberdade e a felicidade ganha uma posição de destaque, a discussão de questões como a justiça social e legitimidade dos governos praticamente desaparece.
O indivíduo passa a ser a principal referência na problematização da realidade, e a autarcia e a ataraxia tornam-se temas fundamentais para a filosofia.
As principais escolas desse período foram a cínica, a cética, a epicurista e a estóica.
Os cínicos se destacaram por desprezar todas as convenções sociais; os céticos, por reconhecerem a impossibilidade da obtenção da episteme; os epicuristas, por valorizarem o prazer como um bem a ser buscado; e os estóicos, por pregarem a indiferença tanto ao prazer quanto à dor.
As filosofias helenísticas eram, originalmente, profundamente materialistas. Mas, após o surgimento do cristianismo, alguns filósofos tentaram conciliar a filosofia com a religião.
Na história da filosofia, o período helenístico termina em 529, com a proibição do ensino de filosofia em todo o Império Romano.
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Ao final de cada unidade, você realizará atividades de auto-avaliação. O gabarito está disponível no final do livro-didático. Mas se esforce para resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.
Ética epicurista Ética estóica
Pontos de discordância
Propostas coincidentes