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Fluídos e Passes Espíritas: Origem, Alcance e Aplicação, Notas de estudo de Fluidos

Neste documento, aprenda sobre a importância dos fluidos no contexto dos passes espíritas, incluindo a origem dos fluidos, seu alcance terapêutico e as diferentes formas de aplicação. Além disso, saiba como o centro espírita promove reuniões de assistência espiritual e o papel dos médiuns e doadores nessas atividades.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

usuário desconhecido
usuário desconhecido 🇧🇷

4.5

(402)

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O PASSE
SEU ESTUDO
Jacob Mello
Obs. Esta obra não contém os capítulos VIII e IX: As técnicas.
O Sumário se encontra no final da obra.
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O PASSE

SEU ESTUDO

Jacob Mello

Obs. Esta obra não contém os capítulos VIII e IX: As técnicas.

O Sumário se encontra no final da obra.

A SUBLIME DOAÇÃO

"E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isto te dou. Em nome de Jesus-Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda”. (Atos, 3:6)

À porta do templo, chamada Formosa, o apóstolo Pedro e o deficiente físico. Entre ambos um momento de expectativa. Da alma cansada e sofrida - que espera. Da alma plena de fé e estuante de amor - que doa. Não há indagações nem hesitações. Apenas a sublime doação. Eis aí o significado profundamente belo e sublimado do passe: a doação de alma para alma.


Nosso amigo, Jacob Luiz de Melo, apresenta, nestas páginas que se vai ler, todo o processo dessa doação (em cuja passagem acima citada alcança a culminância) que denominamos, em nosso meio espírita

- passes.

As técnicas, a cura, os fluidos, o doador, o paciente, as diversas escolas, os efeitos, tudo, enfim, que é necessário para aprimoramento desse trabalho de verdadeira caridade, em nossas Casas Espíritas.

Para tanto, Jacob Melo se empenhou em pesquisar, estudar e meditar o passe. E mais ainda: apresen- ta a sua própria vivência, numa interação entre o conhecimento e a prática, especialmente porque tem ele, desde cedo, uma constante familiaridade com o ambiente espírita.

Há muito as nossas letras se ressentiam de uma obra deste porte, que abordasse o tema em suas an- gulações e peculiaridades; que atendesse à necessidade de cunho científico e àquelas da praticidade; que avaliasse, numa análise sensata e clara o que está sendo feito nesse campo de atendimento aos que chegam às instituições em busca de alívio e consolo. Para isso faz o autor uma leitura bastante atualizada e lúcida do nosso Movimento Espírita no tocante a essa área de atividade, tirando ilações e apresentando sugestões que possibilitem uma reciclagem e mudanças para que os objetivos superiores que norteiam essa tarefa se- jam alcançados plenamente.

Vale ressaltar, de forma preponderante, que Jacob de Melo consegue transmitir tudo isto com distin- ção e arte, encontrando sempre a palavra adequada, o conceito bem colocado, a crítica sóbria e elevada que nos permitem entrever a sua própria nobreza íntima e o acendrado amor com que revestiu todo este trabalho, desde a sua ideação até o ponto final.


"O que tenho isto te dou" - diz Pedro. Jacob Luiz de Melo, guardadas as devidas proporções, também faz a sua doação.

Suely Caldas Schubert Juiz de Fora (MG), outubro de 1991

apresentar várias situações envolvendo a ação fluídico-magnética do Cristo e veremos que não era só por imposição de mãos que Ele agia. Fica, desde já, a recomendação de que façamos uma leitura daquele livro, para conhecermos mais proximamente a figura de Jesus e seus exemplos morais e práticos de como atuar nas curas.

  1. "Já faz tanto tempo que aplico assim e dá bons resultados"; de fato, nada nos impede de pro- cedermos sempre de uma única maneira em nossas atividades e, ainda assim, nos sairmos bem; contudo, is- to jamais quererá dizer devamos limitar nosso aprendizado - no que quer que seja - a apenas um método, a uma só ação, pois, nada há no mundo que seja ou deva ser tão restritamente especializado, Além do estudo e da pesquisa, nos compete, igualmente, um pouco de empenho e criatividade (no bom sentido) a fim de favorecermos nosso progresso. Afinal, o que "hoje" é considerado como resultado positivo não descarta a grande possibilidade de, em se melhorando o método ou as técnicas, obtê-lo mais excelente ainda "ama- nhã".
  2. "Como a técnica é dos Espíritos, deixo que me utilizem e não atrapalho"; com toda franqueza, os que assim agem tomam uma postura, no mínimo, ridícula. Se nós evoluímos tanto nos Planos Espiritu- ais quanto na Terra, por que não começarmos nosso aprendizado aqui, para aprimorá-lo quando lá esti- vermos? Por que não pensarmos, a despeito dos Espíritos serem os grandes detentores das técnicas, que nossos conhecimentos e estudos contribuirão eficazmente nos processos de atendimentos fluidoterápicos, pois, permitirão que o trabalho se realize de forma mais participativa? E afinal, queremos ser médiuns pas- sistas de fato ou simples marionetes nas mãos dos Espíritos? E os Espíritos Superiores, por sua vez, esta- rão solicitando nossa participação como meros brinquedos liberadores de fluidos ou como companheiros efetivos nas atividades fraternas em favor das criaturas necessitadas? Meditemos; meditemos bem, pois, as- sim como não nos cabe "atrapalhar" os trabalhos dos Espíritos amigos, compete-nos o dever de darmos e fazermos o melhor de nós mesmos, sempre!

Retomando nossa idéia inicial, quando nos propusemos escrever esta obra, com surpresa descobri- mos que a bibliografia não Espírita sobre o assunto é muitas vezes mais volumosa e variada que a nossa, o que, de certo modo, nos deixou levemente desapontados. Após "correr" as obras Espíritas sobre o passe e as "clássicas do Magnetismo" que conseguimos consultar, partimos para aquelas outras, nas quais encon- tramos: fartas pesquisas, sérios aprofundamentos, hipóteses intrigantes e instigantes, e muitas novidades. Infelizmente, porém, tudo de bom que lá se encontra quase sempre está misturado com muitas bobagens, montes de coisas sem qualquer fundamento, algumas (poucas, graças a Deus) afrontas à moral, a Medicina e aos princípios éticos do bom senso, e tantos absurdos destituídos de qualquer lógica ou respaldo.

Como resultado disso tudo, tivemos que nos "vestir" de "garimpeiros do passe" para conseguirmos extrair dali as "pérolas dos bons ensinamentos", procurando não confundi-las com as "argilas endurecidas e cristalizadas dos equívocos e despropósitos" tão virulentamente a elas agregadas.

Nessa "garimpagem", concluímos pelo que excedia em evidência: grandes descobertas, graves estu- dos, profundas pesquisas e excelentes práticas podem e devem ser encetados nesta área pelos espíritas, pois, sem dúvida alguma, somos "garimpeiros" privilegiados. Dispomos de uma "mina a céu aberto" (a Doutrina Espirita), o que nos livra de qualquer escuridão; contamos com cinco "mapas" (o Pentateuco Kardequiano) magnanimamente codificados; acompanham-nos "guias" (a Espiritualidade Superior) com profundos conhecimentos do terreno e das tarefas; dispomos de "detalhes técnicos" (as obras subsidiárias de Espíritos como André Luiz, Emmanuel e Manoel Philomeno de Miranda) de riquíssima precisão; temos à mão informações "geológicas do solo" com perfis (as obras clássicas e modernas do Magnetismo) já de- vidamente testados; não nos faltam "elementos" ("nossos" pacientes) para trabalharmos em nossa minera- ção; possuímos "ferramentas" de primeira qualidade (nossa boa vontade e a disposição de servir); e, como se não bastasse, o nosso senhor é o maior e o melhor de todos os amos (Nosso Senhor Jesus-Cristo, em nome de Deus).

Foi refletindo assim que decidimos aprofundar um pouco mais o estudo sobre o passe, mesmo por- que, aquilo que apresentamos como crítica generalizada logo no início desta "explicação", antes que em qualquer pessoa ou Instituição, ela foi aplicada sobre nós mesmos, com toda veemência e honestidade pos- sível. E por pensarmos que não seria justo fazermos todo um trabalho de pesquisa, análise e estudo, no qual encontramos verdadeiras "jóias raras", e não dividirmos as benesses daí advindas (tal como exemplifi- cou Allan Kardec quando acabou de compor aquele que seria a primeira edição de "O Livro dos Espíri-

tos"), aqui trazemos nossa modesta "garimpagem", no intuito de assim contribuirmos para um enriqueci- mento, um conhecimento e um estudo mais acurado sobre o passe, da parte de todos nós.

É preciso confessar, entretanto, que não garimpamos sozinhos; contamos com muitas ajudas, de to- dos os níveis e de todos os "planos". Todas, sem exceção, foram valiosíssimas; mesmo aquelas que, de momento, não conseguimos entender, fossem por estarem além de nossa capacidade de tirocínio ou por extrapolarem os largos limites de nossa imperfeição.

Por isso mesmo, todos os méritos deste trabalho são dos Espíritos (encarnados e desencarnados) que

  • na pessoa dos vários autores consultados, dos amigos que sempre vibraram por nós outros, dos familiares e companheiros que aturaram nossa "teimosia por escrever um livro", dos críticos que escolhemos (e aqui queremos fazer uma ressalva especial para citar a estimada confreira Sarah Jane, pois, devemos a ela uma gratidão enorme, pelo seu empenho e destemor, inteligência e seriedade, estudo e atenção, sem o que esta obra estaria incompleta e com limitações) e dos que se escolheram, dos irmãos que apreciaram os rascu- nhos e os originais, orientando-nos, todos, com suas judiciosas ponderações, daqueles que tenham tentado nos deter ou atrapalhar nossa manifesta intenção de concluir tal trabalho, e dos que nos ajudaram direta e indiretamente, de forma reconhecida ou anonimamente - só contribuíram para a ocorrência de tudo de bom que aqui se encontre.

Entretanto, queremos registrar, explicitamente, que é do autor, e só dele, de maneira indivisível e ab- soluta, todo e qualquer ônus que pese por quaisquer equívocos, indelicadezas, desvios ou colocações me- nos felizes que, porventura, sejam ou venham a ser localizadas nesta obra, pois, temos certeza plena de que se tal se der terá sido por exclusiva pequenez deste menor dos menores irmãos de Jesus, deste que se re- conhece como um dos mais modestos dos discípulos de Kardec. Jacob Luiz de Melo Natal (RN), outubro de 1991.

ora é evocado como um, ora como outro sentido. Apesar disso, na maneira como venha a se empregar o termo, passe tanto pode ser entendido como uma terapia espírita, como uma parte do magnetismo, como uma técnica de cura ou ainda como o sentido genérico da “fluidoterapia”.

Isto posto, vamos às definições, menções e equívocos que envolvem nosso assunto, advertindo ante- cipadamente que limitaremos tais abordagens pois ao longo da obra surgirão muitas outras oportunidades para novas citações, das mais variadas fontes.

1. DEFINIÇÕES E MENÇÕES ESPÍRITAS

1.1 - De Allan Kardec

“É muito comum a faculdade de curar pela influência fluídica e pode desenvolver-se por meio do e- xercício; mas, a de curar instantaneamente, pela imposição das mãos, essa é mais rara e o seu grau máximo se deve considerar excepcional”^6.

“A mediunidade curadora (...) é, por si só, toda uma ciência, porque se liga ao magnetismo, e não só abarca as doenças propriamente ditas, mas todas as variedades (...) de obsessões”^7. E ainda acrescenta: “(...) Aí nada queremos introduzir de pessoal e de hipotético, procedemos por via de experiência e de ob- servação”.

“Pela prece sincera, que é uma magnetização espiritual, provoca-se a desagregação mais rápida do fluido perispiritual”^8.

Diz ainda Kardec: “O médium curador transmite o fluido salutar dos bons Espíritos (...)”^9. Quando, estudando os possíveis problemas que poderiam surgir entre a “mediunidade curadora” e a lei, Kardec abriu indagações que, por si sós, ratificam o que dissemos acerca de ele usar os termos do magnetismo para se referir ao passe: “As pessoas não diplomadas que tratam os doentes pelo magnetismo; pela água magnetizada, que não é senão uma dissolução do fluido magnético; pela imposição das mãos, que é uma magnetização instantânea e poderosa; pela prece, que é uma magnetização mental; com o con- curso dos Espíritos, o que é ainda uma variedade de magnetização, são passíveis da lei contra o exercício ilegal da medicina?”^10.

Mesmo fazendo uso dos termos mais comuns a época, fica evidente que o passe foi considerado e estudado por Kardec com as mesmas seriedade e gravidade que se tornaram sua marca registrada na con- dução do árduo trabalho da Codificação Espírita.

Quando fazemos a ligação entre as terminologias empregadas hoje com as do “ontem recente”, pre- tendemos convir, sempre e mais uma vez, com Kardec quando, nos primórdios do Espiritismo, já nos ori- entava sobre o proveito advindo com a Doutrina Espírita, a qual nos lança, de súbito, numa ordem de coi- sas tão nova quão grande, que só pode ser obtido “Com utilidade por homens sérios, perseverantes, livres de prevenções e animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado”^11. Daí a necessidade de sermos sérios e graves ante os assuntos do Espiritismo, em especial quando tratamos de temas pontilhados de personalismos, controvérsias e pouco estudo, como é o caso do passe.

1.2 - Clássicas (Contemporâneos de Allan Kardec)

“(...) O magnetismo vem a ser a medicina dos humildes e dos crentes, (...) de quantos sabem verda- deiramente amar”^12. Léon Denis.

(^6) KARDEC, Allan. Curas, In “A Gênese”, cap.14, item 34. (^7) Da Mediunidade curadora. “Revista Espírita”, set. 1865. (^8) KARDEC, Allan. O passamento. In “O Céu e o Inferno”, 2ª Parte, cap. 1, item 15. (^9) KARDEC, Allan. Daí gratuitamente o que gratuitamente recebestes. In “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. 26, i-

tem 10. 10

11 A Lei e os médiuns. “Revista Espírita”, jul. 1867, p. 203. 12 KARDEC, Allan. Introdução. In “O Livro dos Espíritos”, item 8. DENIS, Léon. A força psíquica. Os fluidos. O magnetismo. In “No Invisível”, 2ª Parte, cap. XV, p. 182.

Angel Aguarod assim se pronunciou: “Deixemos as drogas e os tóxicos para os hipnotizadores e re- servemos para os magnetizadores a medicina do espírito, pois na alma se concentra toda a sua força e todo o seu poder”^13.

Albeít De Rochas já fazia menção ao termo “passes”, assim como à imposição de mãos”. Observe- se, por exemplo, como o erudito escritor e engenheiro português, Dr. Antonio Lobo Vilela, fala sobre ele no seu livro “O Destino Humano”: “O processo experimental de De Rochas (utilizado para indução à re- gressão de memória) consiste no emprego de passes magnéticos longitudinais, combinados, por vezes, com a imposição da mão direita sobre a cabeça do passivo ”. (Grifos originais)^14. Mas falar de De Rochas seria praticamente dispensável já que todos os estudiosos do magnetismo, sonambulismo e exteriorização da personalidade (desdobramento) não regateiam elogios e citações ao mesmo. Apesar disso, lembraría- mos que após estudar a “transplantação” das doenças - que se dava fazendo-se passar as doenças de uma pessoa para outra ou então para um animal - sugerida por um certo abade Vallemonte, no livro, “Physique Occulte”, escrito em 1693, e que ressurgiu em fins do século passado, rebatizada por “traspasses” em ple- na Paris e implantada em alguns hospitais dali, concluiu ele pela ineficácia de ambos os métodos e, então, preferiu se utilizar dos passes nas suas sessões de estudo sobre os “eflúvios” e a “exteriorização da sensibi- lidade”^15.

Para concluir este item, façamos um resumo histórico com Gabriel Delanne: “A ciência magnética compreende certo número de divisões, conforme as diferentes categorias de fenômenos.

“(...) Os anais dos povos da antiguidade formigam em narrativas circunstanciadas, que mostram o profundo conhecimento que do magnetismo tinham os antigos sacerdotes.

“Os magos da Caldéia, os brâmanes da Índia curavam pelo olhar (...). Ainda hoje, na Ásia, (...) os faquires cultivam com êxito as práticas magnéticas (...).

“Os egípcios (...) empregavam, no alívio dos sofrimentos. os passes e a aposição de mãos, como os executamos ainda em nossos dias.

“(...) Amóbio, Celso e Jâmblico ensinam em seus escritos que existia entre os egípcios, em todas as épocas, pessoas dotadas da faculdade de curar por meio da aposição das mãos e de insuflações (...)

“(...) Os romanos também tiveram templos onde se reconstituía a saúde por operações magnéticas. Conta Celso que Asclepíades de Pruse adormecia, magneticamente, as pessoas atacadas de frenesi.

“(...) Quem obteve, porém, maior fama nessa matéria, foi Simão, “o mágico”, que, soprando nos epi- lépticos, destruía o mal de que estavam atacados.

“(...) Na Gália, os druidas e as druidesas possuíam em alto grau a faculdade de curar, como o ates- tam muitos historiadores; sua medicina magnética tornou-se tão célebre que os vinham consultar de todas as partes do mundo. (...) Na Idade Média, o magnetismo foi praticado, principalmente, pelos sábios.

“(...) Avincena, doutor famoso, que viveu de 980 a 1036, escreveu que a alma age não só sobre o corpo, senão ainda sobre corpos estranhos que pode influenciar, a distância.

“Arnaud de Villeneuve foi buscar nos autores árabes o conhecimento dos efeitos magnéticos (...). “(...) Van Helmont dizia: (...) O magnetismo só tem de novo o nome (...) “(...) Em 1682, assinalaremos Greatrakes, na Inglaterra, que fez milagres, simplesmente com as mãos (...)”^16 , etc.

1.3 - Dos Espíritos

“O passe, como gênero de auxílio, invariavelmente aplicável sem qualquer contra-indicação, é sem- pre valioso no tratamento devido aos enfermos de toda classe (...)”^17. André Luiz.

(^13) MICHAELUS. In “Magnetismo Espiritual”, cap. 7, p. 56. (^14) FREIRE, Antonio J. Experiências do coronel A. Rochas D’Aiglum. In “Da Alma Humana”, cap.5, p. 104. (^15) ROCHAS, Albert de. Cura magnética das feridas e traspasse das doenças. In “Exteriorização da sensibilidade”, cap. 5,

itens 1 e 2, pp. 115 a 121. 16 IMBASSAHY, Carlos. Histórico. In “O Espiritismo perante a Ciência”, 2ª Parte, cap. 1, pp. 75 a 78.

2 - DEFINIÇÕES E MENÇÕES NÃO ESPÍRITAS

2.1 - Dos Dicionários e Enciclopédias

“PASSES. Movimentos com as mãos, feitos pelos médiuns passistas, nos indivíduos com desequilí- brios psicossomáticos ou apenas desejosos de uma ação fluídica benéfica. (...) Os passes espíritas são uma imitação dos passes hipnomagnéticos, com a única diferença de contarem com a assistência, invocada e sa- bida, dos protetores espirituais”^28.

“PASSES (Pl. de passe) S. m. pl. Ato de passar as mãos repetidamente ante os olhos de uma pessoa para magnetizá-la, ou sobre uma parte doente de uma pessoa para curá-la”. Aurélio Buarque Holanda Fer- reira^29.

“PASSE, (...) ato de passar as mãos repetidas vezes por diante dos olhos de quem se quer magneti- zar ou sobre a parte doente da pessoa que se pretende curar pela força mediúnica ”. (Grifamos) Francisco da S. Bueno^30. (Esta definição, por sinal, é a mesma encontrada no dicionário da Academia Brasileira de Letras.)

“PASSE: ato de passar as mãos repetidas vezes por diante ou por cima de pessoa que se pretende curar pela força mediúnica”^31. (Grifos nossos)

2.2 - Dos Magnetizadores Clássicos

Louis Alphonse Cahagnet, considerado por muitos como um dos precursores da Doutrina Espírita, haja vista sua notável obra, os “Arcanos”, além de inúmeras outras - 30 ao todo - sobre o magnetismo^32 , nos concede uma clara definição desta Ciência: “É uma propriedade da alma; o corpo é a máquina por in- termédio do qual ele se filtra”^33.

Deleuze faz ressaltar o ângulo mais religioso do magnetismo, quando nos assevera que “(...) Sendo a faculdade de magnetizar, ou de fazer o bem aos seus semelhantes por influência de sua vontade, a mais be- la e a mais preciosa que Deus deu ao homem, deve-se encarar o exercício do magnetismo como um ato re- ligioso, que exige o maior recolhimento e a intenção mais pura (...)”^34.

Chardel, um dos pioneiros do magnetismo, em 1818 apresentou uma curiosa obra a consideração da Academia de Berlim, na qual afirmava: “O magnetismo é uma transfusão de vida espiritualizada do orga- nismo do operador para o do paciente”^35. (Grifamos)

Outras definições e menções, de Mesmer, de Du Potet, de Lafontaine, de Puységur e de tantos ou- tros magnetizadores não menos famosos, serão vistas ao longo da obra, pelo que nos permitimos parar por aqui.

2.3 - Dos Magnetizadores Contemporâneos

“Aquele (magnetizador) que se propõe a exercer o tratamento deve ter equilíbrio, tranqüilidade espi- ritual e total consciência da importância das manipulações levadas a efeito”^36. V. L. Saiunav - A personali- dade que assina esta expressão é um russo que desenvolveu suas experiências de cura de uma forma auto- didata, mas, apesar do pouco acesso as literaturas estrangeiras, podem verificar, a posteriori , que suas conclusões são muito similares e, por vezes, melhores que as experiências do mundo ocidental. Ele, inclu-

(^28) PAULA. João Teixeira de. In “Dicionário Enciclopédico Espiritismo Metapsiquica Parapsicologia”, Ilustrado, p. 192,

Editora Bels S.A. 29

30 “Novo Dicionário da Lígua Portuguesa”. Ed. Nova Fronteira. 31 “Dicionário Escolar da Língua Portuguesa”. MEC - Fename. 32 “Enciclopédia Mirador Internacional”. vol. II. “Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa”, p. 1289. 33 WANTUIL, Zeus e THIESEN, Francisco. In “Allan Kardec”, cap. 9, pp. 92 a 100, v. 2. 34 MICHAELUS. In “Magnetismo Espiritual”, cap. 3, p. 23. 35 MICHAELUS. In “Magnetismo Espiritual”, cap. 7, p. 54. 36 MICHAELUS. In “Magnetismo Espiritual”, cap. 1, p. 10. SAIUNAV, V. L. In “O fio de Ariadne”. cap. 2, p. 71.

sive, em seu livro, nos faz registros de autores cujas obras veio a conhecer depois, e que merecem desta- quemos: “Quem duvidar, hoje, da atuação do magnetismo, deve ser chamado de ignorante e não de céti- co”. (Schoppenhauer) - “O magnetismo animal é, portanto, a mais poderosa de todas as forças físicas e químicas. (...) A cura magnética processa-se por meio de passes magnéticos, pela aposição de mãos (...)” (Du Prell)^37.

Ainda na Rússia temos um dos seus mais famosos curadores: o Coronel Krivorotov, o qual foi sub- metido a uma larga bateria de testes. Seu método de cura é o uso de passes a curta distância dos pacientes. E ele afirma crer que “A energia vem de alguma fonte externa”^38. Isso sem falar na famosa Djuna que, en- tre outros, diz ter curado com “suas mãos” o ex-homem-forte da União Soviética, Leonid Brejniev e re- solvido até casos de aids, apesar de sua reconhecida excentricidade; além de Barbara Ivanova^39 que tem curado pessoas à distância, pelos mais variados meios, e que é reconhecida como uma das maiores autori- dades soviéticas sobre reencarnação.

Para encerrar a lista, vejamos o que nos reserva o renomado e respeitado George W. Meek: “O cu- rador não cura as doenças. Agindo de modo extraordinário, ele proporciona um ambiente no qual a cura pode realizar-se”^40.

2.4 - De Outras Escolas Religiosas

De um pastor presbítero (Dudley Blades): “A cura espiritual é a cura do Espírito pelo Espírito. (...) Normalmente começo a cura repousando minhas mãos suavemente sobre a cabeça das pessoas (··.)”^41.

De um padre católico (Frei Hugolino Back): “Analisando, detidamente, os textos, dá-nos a impressão de que essas ordens proferidas por Jesus vêm acompanhadas de gestos. E gestos de movimentos rápidos e enérgicos. Seriam formas de passes?

“- Que são passes? “- São gestos rápidos e enérgicos que são feitos pela pessoa-que-cura ao lado e ao longo do corpo de pessoa-que-está-sendo-curada”^42. (Grifo original)

Uma prece católica de cura, apresentada pelo reverendo Robert DeGrandis, S. S. J.: “Jesus, quando oramos pelos outros em Teu nome, nós te pedimos que uses nossas mãos para vires até nós e tocares a- queles pelos quais oramos, como se nossas mãos fossem tuas. Deixa que Teu Espírito opere, hoje, através de nós, especialmente quando oramos pelos membros de nossa família ou de nossa comunidade. Obrigado, Jesus, pelo Teu amor curador que está fluindo neste momento através de mim”^43.

Do budismo tibetano: “Quando se compreendem os processos tântricos, torna-se claro que eles não são nenhum “passe de mágica” religioso com o qual nos iludimos, a nós e aos outros. São a manipulação destra de energias psi- cofísicas por seres que, mediante a prática do Dharma, em particular a meditação, aprimoram suas capaci- dades mentais (...)”^44.

3 - CITAÇÕES BÍBLICAS

(^37) SAIUNAV. V. L. In “O Fio de Ariadne”, pp. 50 e 51. (^38) OSTRANDER, Sheila e SCHROEDER, Lynn. In “Experiências Psíquicas AIém da Cortina de Ferro”, cap. 18, p. 242. (^39) Durante o ano de 1990 ela passou vários meses aqui no Brasil proferindo palestras, seminários e cursos e, na oportuni-

dade, publicou a versão do seu livro “O Cálice Dourado”, onde ersina suas técnicas de cura. 40

41 MEEK, George W. (Org.). In “As curas paranormais”, 1ª Parte, cap. 2, p. 19. 42 BLADES, Dudley. O que é a cura? In “A Energia Espiritual e seu Poder de Cura”, cap. 6, p. 52. 43 BACK, Hugolino e GRISA, Pedro A. As técnicas de Jesus. In “A Cura pela Imposição das Mãos”, p. 74. 44 DeGRANDIS, Robert. Os dez mandamentos da cura. In “Ministério de Cura para Leigos”, cap. 2, p. 36. CLIFFORD, Terry. A medicina tântrica. In “A Arte de Curer no Budismo Tibetano”, cap. 5, p. 97.

nicas e os métodos do magnetismo. Mas só será passista espírita quando suas técnicas forem consentâneas com a Doutrina Espírita e seu proceder moral se coadunar com os princípios desta.

No mesmo artigo^52 , Kardec nos afirma ainda que “O Magnetismo preparou o caminho do Espiritis- mo (...)”. E prossegue mais adiante: “Se tivermos que ficar fora da ciência do magnetismo, nosso quadro (espiritismo) ficará incompleto (...). A ele nos referimos, pois, senão acessoriamente, mas suficientemente para mostrar as relações intimas das duas ciências que, na verdade, não passam de uma”.

O leitor há de convir conosco que esta citação é por demais importante. Entre outras, dela podemos tirar uma conclusão óbvia: pela maneira como foi considerado o magnetismo, a Ciência Espírita não pode ficar sem o contributo daquela outra, sob o risco de termos o Espiritismo de forma incompleta. Entretanto, ressalta das palavras de Kardec que se trata de uma mesma ciência pelo fato de uma estar inserida na outra e não que sejam simetricamente iguais.

Analisemos agora os equívocos. Para ficar mais didático, tratá-los-emos em subitens, na forma de perguntas e respostas, destacando os equívocos que pretendemos demonstrar.

1. Magnetismo e Espiritismo são a mesma coisa? R - Já possuímos matéria suficiente para sustentarmos estar em equívoco aquele que afirmar sejam o magnetismo e o Espiritismo a mesma coisa, pois, da última colocação kardequiana se depreende que o primeiro, como ciência, participa da Ciência Espírita e não que esta esteja contida nos estreitos limites da- quela outra. Não são a mesma coisa, afirmamos; nem por definição, nem por meios, nem por objetivos; a- penas o magnetismo, com suas técnicas e experiências, viabilizou, no meio científico da época, o reconhe- cimento da existência de outras forças, energias, fluidos, que desaguaram, via sonambulismo, nas provas da existência do Espírito.

Mas, para que não haja dúvidas, eis a primeira definição de Allan Kardec sobre o Espiritismo: A doutrina espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou se- res do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas , ou, se quiserem, os espiritistas ”^53 (grifos originais). Vemos que dessa definição não há como igualar tal Ciência - que é também Filosofia e Religião - ao magnetismo, cujos seguidores são chamados de magnetizadores^54.

Há, entretanto, estreitas ligações entre as duas ciências. E quem faz uma notável ligação entre o Es- piritismo e o Magnetismo é o Espírito E. Quinemant que, quando encarnado, segundo suas próprias pala- vras, ocupou-se com a prática do magnetismo material. Assim se expressa ele: “O Espiritismo não é, pois, senão o magnetismo espiritual, e o magnetismo não é outra coisa senão o Espiritismo humano. (...) O magnetismo é, pois, um grau inferior do Espiritismo (...)”^55.

2. E em relação ao passe propriamente dito, seriam ele e o magnetismo a mesma coisa? R - A resposta continua negativa, pois, se para o magnetismo o passe é uma técnica de movimenta- ção de mãos, para o passe (espírita) o magnetismo é uma fonte de técnicas de transferências fluídicas. A- tentemos, todavia, para o que nos diz Allan Kardec: “O conhecimento dos processos magnéticos é útil em casos complicados, mas não indispensável”^56 ; isto nos sinaliza, inclusive, que nem sempre o passe se recor- re do magnetismo como técnica.

Em síntese, todo passista (espírita) é, no fundo, um magnetizador mas nem todo magnetizador é um passista (espírita).

3. E a magnetização e o hipnotismo são iguais, são uma mesma ciência? R - Trata-se de outro equívoco pensar-se assim. Embora não estejamos estudando o hipnotismo, é da própria história dessa ciência que ela surgiu em decorrência das práticas magnéticas, como uma experi- mentação, poderíamos dizer, especializada, de partes daquela. O hipnotismo, usando uma linguagem bem

(^52) Magnetismo e Espiritismo. “Revista Espírita”, mar. 1858, p. 94, nota de rodapé nr. (1). (^53) KARDEC, Allan. Introdução. In “O Livro dos Espíritos”, item 1. (^54) Recomendamos sejam relidos os pontos principais do Espiritismo na Introdução de “O Livro dos Espíritos”, todos regis-

trados no seu item 6, onde se patenteiam as diferenças entre as duas ciências. 55

56 O Magnetismo e o Espiritismo comparados. “Revista Espírita”, jun. 1867, médium Sr. Desliens, pp. 190 a 192. Da Mediunidade curadora “Revista Espírita”. set. 1865. p. 254.

coloquial, é “filho” direto do magnetismo como o é o “sonambulismo provocado” “O próprio Braíd (cha- mado o pai do hipnotismo) reconheceu em sua Neurhypnologie que os procedimentos hipnóticos não de- terminavam absolutamente todos os fenômenos produzidos pelos magnetizadores”^57 , evidenciando, assim, o caráter de menor eficiência destes, em termos gerais, que daquele outro. Por ser derivação, confundi-los é o mesmo que se cambiar a obra pelo obreiro, o efeito pela causa.

4. Já que o magnetismo é usado no passe, isso implicará que devamos usar também o hipnotismo nos nossos passes?

R - De forma alguma. O Espírito Emmanuel, introduzindo André Luiz no livro “Mecanismos da Me- diunidade”, enfatiza que mesmo tendo aquele estudado o hipnotismo “Para fazer mais amplamente com- preendidos os múltiplos fenômenos da conjugação de ondas mentais, além de com isso demonstrar que a força magnética é simples agente, sem ser a causa das ocorrências medianímicas, nascidas, invariavelmen- te, de espírito para Espírito”, não recomenda. “De modo algum, a prática do hipnotismo em nossos tem- plos Espíritas”^58.

Completemos nossa resposta com Michaelus: “Deixemos as drogas e os tóxicos para os hipnotizado- res e reservemos para os magnetizadores a medicina do Espírito, pois na alma se concentra toda a sua for- ça e todo o seu poder”^59.

5. Mas, algumas pessoas advogam que durante ou após o passe, certos pacientes se sentem “dife- rentes”, como no hipnotismo.

R - Sem entrar nos aspectos espiríticos da questão, vejamos o que nos diz o renomado Dr. Jorge Andréa: “Não pretendemos negar que a hipnose determina, realmente, inibição de centros nervosos, zonas e mesmo regiões” mas, esclarece ele, “isso é uma conseqüência natural do desenvolvimento de mecanismo hipnótico”^60. Não é correto, portanto, que apressadamente se infira dos fatos do hipnotismo, sua equiva- lência, por suas reações (diversas, por sinal), com os passes. Mero desconhecimento de causa que não jus- tifica o equívoco. Hermínio Correia de Miranda, quando liga o magnetismo ao hipnotismo, nos esclarece com sua síntese peculiar: “Magnetismo, a nosso ver, é a técnica do desdobramento provocado por meio de passes e/ou toques, enquanto a hipnose ficaria adstrita aos métodos de sugestão (...)”^61.

6. É o passe uma invenção do Espiritismo? R - Garantimos que, em princípio, o Espiritismo nunca “inventou” nada nem tampouco “criou” coi- sas usualmente a ele atribuídas. Pelas definições e menções apresentadas neste capitulo, fica evidente que o passe, suas técnicas e seu conhecimento remontam à mais longínqua antiguidade. A Doutrina Espírita ape- nas estudou o magnetismo e suas aplicações, estuda e continuará estudando suas causas e efeitos, tendo chegado a grandes conclusões, notadamente no que diz respeito ao seu uso para o bem dos Espíritos, tanto encarnados quanto desencarnados, dando-lhes emprego sério e útil, e incentivando sua prática dentro dos princípios cristãos e nos limites da pureza doutrinaria espírita, lembrando aos seus praticantes, como o fez o Cristo: “(...) De graça recebestes, de graça dai”^62. 7. É o passe magia? Por quê? R - Não. Porque o passe não se utiliza de fetichismos, não é dogmático, não compactua com Espíri- tos inferiores para obtenção de favores, quer materiais, quer espirituais, nem se compromete com ritualis- mos. Não incita adoração a santos ou mitos nem requer pagamentos ou oferendas. Se nos permitimos uma definição própria, o passe é um dos veículos de que se utilizam os Bons Espíritos para atender aos necessi- tados, de acordo com a vontade de Deus, e não para atender aos homens, segundo nossos, quase sempre pueris caprichos e mesquinhas imposições.

(^57) JAGOT, Paul-Clement. Atualmente. In “Iniciação a Arte de Curar pelo Magnetismo Humano”, cap. 5, item 7, p. 53. (^58) XAVIER, Francisco Cândido, VIEIRA. Waldo. Mediunidade. In “Mecanismos da Mediunidade”, pp. 15 e 16. (^59) MICHAELUS. In “Magnetismo Espiritual”, cap. 7, p. 56. (^60) 58. ANDRÉA, Jorge. Fenômenos parapsicológicos. In “Nos Alicerces do Inconsciente”. cap. 4. item 2 - Hipnose, p. 116. (^61) MIRANDA. Hermínio C. In “A Memória e o Tempo”. cap. 4, p. 78, v. 1. (^62) Mateus, X, v. 8.

R - Em termos espíritas, passes tanto pode ser entendido como o conjunto de recursos de transferên- cias fluídicas levadas a efeito com fins fluidoterápicos, como uma das maneiras pela qual se faz tais transfe- rências. No primeiro caso, a imposição de mãos seria um dos recursos; no segundo, uma das maneiras.

Assim sendo, de forma literal, passe e imposição de mãos não são a mesma coisa; em termos de uso, contudo, tem-se a imposição de mãos como uma técnica de passe^66. Tanto que é comum se falar de um querendo-se dar a entender o outro.

De outra forma, observemos a ponderação de nossa contemporânea Dalva Silva Souza, em excelente artigo publicado em “Reformador”: “A palavra (passe) é um deverbal de passar, verbo que, sem dúvida, transmite a idéia de MOVIMENTO”^67. Por outro lado, “imposição de mãos” já deixa bem induzido que se trata de atitude estática, sem movimento, posto que, derivado do verbo impor, imposição, nesse sentido, quer dizer: ato de fixar, estabelecer.


Outras dúvidas e equívocos, por certo, existirão. Mas, se não temos a pretensão de esgotar o assun- to, nos resta a certeza de que ao longo desta obra, muitas questões serão resolvidas e vários problemas ga- nharão solução. Por outro lado, se novas dúvidas surgirem, como resultado da reflexão, do estudo, da aná- lise e do raciocínio, é sinal de que teremos alcançado um bom “primeiro porto”, do qual, após o reabaste- cimento em novas pesquisas, partiremos buscando, juntos, novos e promissores horizontes tudo em nome do Evangelho.

(^66) Teceremos considerações no capítulo VI adiante. (^67) SOUZA, Dalva Silva de. Considerações em torno do passe. In “Reformador”, jan, 1986, p. 16.

CAPÍTULO II - OS OBJETIVOS DO PASSE

“E insistentemente lhe suplica: Minha filhinha está à morte; vem, impõe as mãos sobre ela, para que seja salva, e viverá. Jesus foi com e- le”^68.

Mesmo sendo o passe uma das circunstâncias mediúnicas mais comuns nas Instituições Espíritas, precisamos reconhecer, tanto pelo estudo quanto pela vivência, quais seus verdadeiros objetivos para, a pretexto de desconhecimento de causa, não virmos amanhã a desvirtuar-lhe os fins utilizando-nos de meios antidoutrinários ou então, ainda que através dos meios mais corretos, desvalorizemos os fins , por imperti- nentes. Afinal, se fazer é uma obrigação, saber fazer é um dever; e fazê-lo correto, no tempo, momento e lugar certo, é buscar a perfeição. Não sendo outro o motivo de nosso estágio aqui na Terra senão o de buscarmos, pelos meios ao nosso alcance, o final feliz, que é a perfeição, reconhecemo-nos numa posição que, pelo nível, ainda nos solicitará muito esforço, trabalho, vidas, renúncias, estudos e sacrifícios, até a- tingirmos o grande desiderato.

Sendo o magnetismo um dos “meios” que utilizaremos seguidamente, tomá-lo-emos tendo em vista a manutenção do estudo do passe dentro dos limites atinentes às causas e aos efeitos fluídicos de cura e de alívio orgânico e psíquico, além de auxiliar nos tratamentos espirituais e desobsessivos. Evitaremos o apro- fundamento que nos levaria ao estudo da exteriorização da sensibilidade e da motricidade^69 , bem como aos efeitos hipnóticos , aos métodos de regressão de memória^70 e às características atinentes ao sonambu- lismo. Afinal, o que vamos estudar mesmo é o passe e não necessariamente o magnetismo , apesar de com isso não querermos dizer que desprezaremos suas bases e técnicas, experiências e conclusões; muito pelo contrário, não só as utilizaremos como servirão de fundamental importância na sedimentação do entendi- mento, na efetivação de sua prática e para a explanação lógica de vários pontos comuns.

Comecemos, então, buscando a lucidez e a objetividade do Espírito André Luiz^71 , o qual nos faz me- ditar com grande proveito: “O passe não é unicamente transfusão de energias anímicas^72. É o equilibrante ideal da mente, apoio eficaz de todos os tratamentos (...). Se usamos o antibiótico por substância destinada a frustrar o desenvolvimento de microorganismos no campo físico, por que não adotar o passe por agente capaz de impedir as alucinações depressivas, no campo da alma? (...) Se atendemos à assepsia, no que se refere ao corpo, por que descurar dessa mesma assepsia no que tange ao espírito?”.

Aí encontramos André Luiz estendendo definições, com isso favorecendo-nos uma abertura para nosso estudo: o passe “é o equilibrante ideal da mente”, funcionando como coadjuvante em todos os tra- tamentos, não só físicos, mas igualmente da alma. Por isso mesmo, os objetivos do passe ficam bem cate- gorizados como elementos a serem alcançados em dois campos: materiais e espirituais, a se refletirem no paciente^73 , no passista e na Casa Espírita.

Corroborando com isso, encontramos Martins Peralva quando, estudando a mediunidade neste cam- po especifico, nos lembra: “O socorro, através de passes, aos que sofrem do corpo e da alma, é instituição de alcance fraternal que remonta aos mais recuados tempos”^74.

Tendo este raciocínio como ponto de partida, componhamos uma análise um tanto quanto didática, distinguindo os objetivos do passe em três grupos:

1 - Em relação ao paciente; 2 - Em relação ao médium; e

(^68) Marcos, V, vv. 23 e 24. (^69) Assuntos bem estudados por Albert De Rochas em seus livros (clássicos) “Extériorisation de la Sensibilité” e

“L’Extériorisation de la Motricité”. Apenas o primeiro tem versão brasileira. 70 Assunto igualmente estudado por De Rochas (“Les Viés Successives”, também não versionado). (^71) XAVIER. Francisco Cândido, VIEIRA, Waldo. O passe. In “Opinião espírita”, cap. 55, pp. 180 e 181. (^72) Compare-se com nosso comentário acerca do equivoco existente entre animismo e mediunismo no passe, destacado no i-

tem 4 das “Definições equivocadas”, questão 8, do capítulo anterior. 73

74 Convencionamos chamar de “paciente” a pessoa ou o Espírito que se submete(rá) ao tratamento fluídico. PERALVA, Martins. Passes. In “Estudando a Mediunidade”, cap. 26, p. 142.

2. EM RELAÇÃO AO MÉDIUM

Numa importante mensagem do Abade Príncipe de Hohenlohe (Espírito), intitulada “Conselhos So- bre a Mediunidade Curadora”, encontramos farto material para a definição dos objetivos ora epigrafados: “Em geral os que buscam a faculdade curadora têm como único desejo o restabelecimento da saúde mate- rial , de obter a sua liberdade de ação de tal órgão, impedido nas suas funções por uma causa material qualquer. Mas, sabei-o bem, é o menor dos serviços que esta faculdade está chamada a prestar, e só a co- nheceis em suas primícias e de maneira inteiramente rudimentar, se lhe conferis este único papel (...) Não: a faculdade curadora tem missão mais nobre e mais extensa! (...) Se pode dar aos corpos o vigor da saúde, também deve dar as almas toda a pureza de que são susceptíveis, e é somente neste caso que poderá ser chamada curativa , no sentido absoluto da palavra.

“(...) O aparente efeito material, o sofrimento, tem quase constantemente uma causa mórbida imate- rial, residindo no estado moral do Espírito. Se, pois, o médium curador se ataca ao corpo, só se ataca ao efeito, e a causa primeira do mal continuando, o efeito pode reproduzir-se, quer sob a forma primordial, quer sob qualquer outra aparência.

“(...) É necessário que o remédio espiritual ataque o mal em sua base, como o fluido material o des- trói em seus efeitos; numa palavra, é preciso tratar, ao mesmo tempo, o corpo e a alma”^79. (Grifos origi- nais.)

Mediante tal ponderação que mais nos parece um verdadeiro corolário, percebemos que os objetivos do passe em relação ao médium têm estreita afinidade com os definidos aos pacientes. Porém, podemos (e devemos) entender o serviço do passe como uma tarefa muito mais ampla que a limitada a uma simples cu- ra material. Se os pacientes, inadvertidamente, buscam tão-só as curas de suas mazelas orgânicas ou a so- lução de seus mal-estares, compreendamos e auxilie-mo-los. Afinal, muitos deles, e por que não dizer a maioria, quase sempre chegam ao tratamento fluidoterápico buscando “essas coisas” já em última instân- cia, visto que, alegam, “fulano foi quem me recomendou” (e dizem isso fazendo feições de desdém). Entre- tanto nós, os médiuns Espíritas, jamais deveremos entender nossa ação como sendo uma mera aventura no campo da matéria e dos fluidos, buscando soluções fantásticas e miraculosas pois, parafraseando Allan Kardec, é preciso aplicar e usar o passe como quem lida com uma “coisa santa”, tratando-o e recebendo-o de “maneira religiosa, sagrada”, a fim de seus reais objetivos, de cura material e, sobretudo, psico- espiritual, serem atingidos em sua plenitude, holisticamente.

Por outro lado, aqueles que não têm a visão Espírita e restringem os objetivos dos passes as curas materiais podem, ainda assim, favorecerem um caminho válido para comprovações presentes e futuras de seus benefícios, notadamente quando homens ditos de ciência se pronunciam a respeito pois, a partir do conhecimento e da verificação dos alcances das terapias chamadas “alternativas”, inevitavelmente um dia se chegará à conclusão da origem e da profundidade de muitas delas, resultando, por extensão, num enten- dimento e numa aceitação mais universal do passe espírita.

Para reforço, num documentário sobre os curadores gregorianos, uma médica de Moscou, Galina Shatalova, que pratica a imposição das mãos em muitos de seus pacientes, disse que “suas tentativas de transferir “energia biológica” freqüentemente pareciam ajudar mais o paciente que o tratamento ortodoxo envolvendo medicina e drogas”. E completou: “A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem-se empe- nhado num objetivo ambicioso - universalizar o tratamento de saúde até perto do final do século. Para a- tingir esse objetivo, a OMS tinha decidido utilizar os serviços de curadores não ortodoxos”. Então, “Half- dren Mahler (1977), como diretor geral da OMS, declarou que “o treinamento de auxiliares de saúde, par- teiras tradicionais e curadores pode parecer desagradável a alguns fazedores de política, mas se a solução é correta no sentido de ajudar pessoas, nós deveríamos ter a coragem de insistir que esta e a melhor políti- ca”^80.

É deveras alvissareira essa abertura pois, mesmo pelo caminho estreito da matéria, com certeza apor- taremos nas potencialidades do Espírito e, na conjugação das forças magnéticas orgânicas com as espiritu-

(^79) KARDEC. Allan. In “Revista Espírita”, out. 1867, I Parte. (^80) KRIPPNER. Stanley. In “Possibilidades Humanas”, cap. 9, p. 239.

ais, o homem sairá do círculo estreito em que se encontra e o objetivo do tratamento fluídico (em nosso caso particular, do passe) alcançará uma dimensão mais consentânea consigo mesmo.

Continuando, lembramos Kardec quando nos informa que “A faculdade de curar pela imposição das mãos deriva evidentemente de uma força excepcional de expansão, mas diversas causas concorrem para aumentá-la entre as quais são de colocar-se, na primeira linha: a pureza dos sentimentos, o desinteresse, a benevolência, o desejo ardente de proporcionar alívio, a prece fervorosa e a confiança em Deus; numa pa- lavra: todas as qualidades morais”^81. Ou seja: além de proporcionar a cura ou a melhora do paciente, deve o médium se esforçar por melhorar-se moralmente, no fito de cumprir sua tarefa dignamente e de melhor favorecer aos objetivos do passe.

Como médiuns, devemos ser conscientes de que temos no passe uma oportunidade sagrada de prati- car a caridade sem mesclas, desde que imbuídos do verdadeiro Espírito cristão, sem falar na bênção de po- dermos estar em companhia de bons Espíritos que, com carinho, diligência, amor, compreensão e humilda- de se utilizam de nossas ainda limitadas potencialidades energéticas em benefício do próximo e de nós mesmos. Ademais, não olvidemos que somos, em maioria, iniciantes na jornada da evolução, pelo que vale a advertência de Emmanuel nos recordando que “Seria audácia por parte dos discípulos novos a expectati- va de resultados tão sublimes quanto os obtidos por Jesus junto aos paralíticos, perturbados e agonizantes. O Mestre sabe, enquanto nós outros estamos aprendendo a conhecer. É necessário, contudo, não despre- zar-lhe a lição, continuando, por nossa vez, a obra de amor, através das mãos fraternas”^82.

Pelo fato de ser simples, não se deve doar o passe a esmo, nem, tampouco, a fim de “dar aparências graves” aos mesmos, alimentar idéias errôneas que induzam ao misticismo ou que venham a criar mistérios a seu respeito. Por isso mesmo nos convida André Luiz: “Espíritas e médiuns Espíritas, cultivemos o pas- se, no veículo da oração, com o respeito que se deve a um dos mais legítimos complementos da terapêuti- ca usual”^83 , induzindo-nos, assim, a responsabilidade que devemos ter como médiuns passistas Espíritas.

3. EM RELAÇÃO À CASA ESPÍRITA

O “Movimento Espírita” brasileiro é, seguramente, o mais bem estruturado e o mais atuante de todos os movimentos espíritas graças, não obstante parcas e isoladas opiniões em contrário, ao trabalho da Fede- ração Espírita Brasileira (FEB) e, em especial, do Conselho Federativo Nacional (CFN), órgão que con- grega todas as unidades federativas espíritas do país além daquela. E dessas duas células têm surgido os mais elaborados e profícuos trabalhos de orientação em todos os campos onde atuam ou podem atuar as Instituições Espíritas, de uma forma permanente e atualizada, sem, todavia, jamais descurar dos princípios básicos da Doutrina Espírita nem de sua pureza doutrinária.

Permita-nos o leitor fazer um breve parêntese: infelizmente existem Espíritas que se rotulam de “mo- dernos” e, da mesma maneira como encontraram este adjetivo para eles próprios, buscaram os de “conser- vadores e retrógrados” como sinônimos para aqueles que cuidam da doutrina com zelo e pureza doutriná- ria. Pelo fato de Kardec ter vivido no século passado, esses “modernos” chamam seu Pentateuco de “clás- sico”, ensejando se tratar de “artigo de prateleira de museu”. Embora tenhamos aprendido a respeitar as opiniões alheias, não podemos concordar nem aceitá-las todas. E essa é uma das que discordamos; enten- demos como pureza doutrinária a fidelidade que devemos ter ao Pentateuco Kardequiano e o respeito a sua linha isenta de rituais, cismas e dogmas, buscando a atualidade das coisas mas não nos entusiasmando excessivamente pelas levas sucessivas de modismos que de tempos a tempos assola nosso meio, quase sempre destituídas de qualquer fundamentação lógica ou doutrinária. Afinal, atualizar-se não quer dizer desprezar ou menosprezar as bases; ao contrário, significa justapor-lhe, à essência, os avanços comprova- damente coerentes e cabíveis. Nisso tudo estamos integralmente com Ary Lex, quando diz: “No movimen- to Espírita costuma haver uma certa condescendência para com as pequenas deturpações, condescendência essa rotulada como tolerância cristã. Estão errados. Tolerância deve haver para as falhas das pessoas, que devem ser esclarecidas e apoiadas, ajudando-as a saírem do ciclo erro-sofrimento. Tolerância com as pes- soas, sim, mas conivência com as deturpações, jamais”. E conclui acertadamente mais adiante: “É urgente

(^81) KARDEC, Allan. Médiuns curadores. In “Obras Póstumas”, 1ª Parte, cap. 6, item 52. (^82) XAVIER, Francisco Cândido. Passes. In “Caminho, Verdade e Vida”, cap. 153, p. 322. (^83) XAVIER, Francisco Cândido, VIEIRA, Waldo. O passe. In “Opinião Espírita”, cap. 55, p. 131.