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Relação entre Percepção, Subjetivação e Criatividade: Ampliação e Processos Criativos., Notas de estudo de Design

Este documento discute uma pesquisa que investiga as relações entre a dimensão da experiência sensível, a subjetivação e os processos criativos. A pesquisa explora a instrumentalização dos processos de subjetivação em serviço de processos criativos, retomando a premissa fenomenológica das pesquisas psicodélicas. Além disso, discute a utilização de técnicas menos controversas para a ampliação e modificação dos sentidos, como exercícios corporais, relaxamento e privação sensorial. A pesquisa busca contribuir para um debate atual no campo do design sobre métodos projetuais objetivos e subjetivos.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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GloboTV 🇧🇷

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Departamento de Artes & Design
O PAPEL DA EXPERIÊNCIA SENSÍVEL E DOS PROCESSOS DE
SUBJETIVAÇÃO NOS PROCESSOS CRIATIVOS
Orientando: Alexandre Constantino
Orientadora: Denise Portinari
Introdução
Esta pesquisa nasceu de uma indagação sobre as relações passíveis de serem estabelecidas entre a
dimensão da experiência sensível (a percepção) os processos de subjetivação e os processos criativos.
A instrumentalização das vivências criativas nos processos de subjetivação não constitui, em si,
novidade: essa é a base sobre a qual repousam os métodos empregados nas diferentes formas de
arte-terapia no universo da saúde mental, cujo maior expoente, no Brasil, é a obra da Dra. Nise da
Silveira. No caso do presente projeto, no entanto, trata-se de uma inversão desse caminho, que pode
ser formulada na seguinte pergunta: em que medida os processos de subjetivação estão sempre
implicados nos processos criativos, e podem ser instrumentalizados a serviço destes?
Adicionamos a esta questão mais um ingrediente: a exploração dos sentidos. Aqui, retomamos a
premissa fenomenológica das pesquisas psicodélicas das décadas de 50 e 60: a função da consciência
é a de constituir um “filtro” para os estímulos do ambiente. Os estados alterados de consciência
propiciam uma abertura ou diluição desse filtro, proporcionando ao sujeito a experiência de uma
ampliação das suas possibilidades sensoriais e perceptivas, o que por sua vez produz uma
transformação da própria consciência, no sentido de um processo de subjetivação (ou melhor, de
“de-subjetivação”) que abriria, para o sujeito, novas perspectivas de percepção e de conhecimento de
si mesmo e do mundo.
As experiências psicodélicas não vingaram, sobretudo em função dos problemas insuperáveis
(econômicos, morais, políticos) envolvidos na utilização de substâncias alucinógenas para a obtenção
do efeito de alteração da consciência. Além disso, apostavam as suas fichas na alteração dos sentidos
como meio para a abertura das “portas da percepção” (STEVENS, 1987; HUXLEY, 1954). Mas a sua
premissa fundamental “bergsoniana” permanece interessante para a investigação das relações entre a
percepção, às práticas da subjetivação e os processos criativos. Ainda é legítimo indagar em que
medida a alteração ou a ampliação da experiência sensível, ao nível da percepção, pode produzir
efeitos que repercutem, ao mesmo tempo, sobre a “constituição de si”, sobre a experiência perceptiva
e sobre as possibilidades criativas dos sujeitos. A utilização de técnicas menos controversas para a
ampliação e modificação dos sentidos, tais como os exercícios corporais empregados na formação de
atores (GROTOWSKI, 1958), técnicas de relaxamento e de modificação do ritmo respiratório, ou
ainda algumas técnicas de privação e transferência de função sensorial (por exemplo, impedir a visão
e estimular o reconhecimento de objetos pelo olfato ou pelo tato) pode viabilizar uma retomada
desse tipo de investigação.
Esta pesquisa buscou trazer uma contribuição para um debate atual no campo do Design, em torno da
divisão instalada nesse campo entre métodos projetuais ditos “objetivos” e “subjetivos”, onde os
primeiros têm sido mais explorados pela pesquisa científica do que os segundos, considerados via de
regra como “intuitivos” e não sujeitos ao aprendizado ou à transmissão, assunto explorado
parcialmente em pesquisa preliminar que resultou na produção de um artigo (PORTINARI, D. &
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O PAPEL DA EXPERIÊNCIA SENSÍVEL E DOS PROCESSOS DE

SUBJETIVAÇÃO NOS PROCESSOS CRIATIVOS

Orientando: Alexandre Constantino Orientadora: Denise Portinari

Introdução Esta pesquisa nasceu de uma indagação sobre as relações passíveis de serem estabelecidas entre a dimensão da experiência sensível (a percepção) os processos de subjetivação e os processos criativos. A instrumentalização das vivências criativas nos processos de subjetivação não constitui, em si, novidade: essa é a base sobre a qual repousam os métodos empregados nas diferentes formas de arte-terapia no universo da saúde mental, cujo maior expoente, no Brasil, é a obra da Dra. Nise da Silveira. No caso do presente projeto, no entanto, trata-se de uma inversão desse caminho, que pode ser formulada na seguinte pergunta: em que medida os processos de subjetivação estão sempre implicados nos processos criativos, e podem ser instrumentalizados a serviço destes?

Adicionamos a esta questão mais um ingrediente: a exploração dos sentidos. Aqui, retomamos a premissa fenomenológica das pesquisas psicodélicas das décadas de 50 e 60: a função da consciência é a de constituir um “filtro” para os estímulos do ambiente. Os estados alterados de consciência propiciam uma abertura ou diluição desse filtro, proporcionando ao sujeito a experiência de uma ampliação das suas possibilidades sensoriais e perceptivas, o que por sua vez produz uma transformação da própria consciência, no sentido de um processo de subjetivação (ou melhor, de “de-subjetivação”) que abriria, para o sujeito, novas perspectivas de percepção e de conhecimento de si mesmo e do mundo.

As experiências psicodélicas não vingaram, sobretudo em função dos problemas insuperáveis (econômicos, morais, políticos) envolvidos na utilização de substâncias alucinógenas para a obtenção do efeito de alteração da consciência. Além disso, apostavam as suas fichas na alteração dos sentidos como meio para a abertura das “portas da percepção” (STEVENS, 1987; HUXLEY, 1954). Mas a sua premissa fundamental “bergsoniana” permanece interessante para a investigação das relações entre a percepção, às práticas da subjetivação e os processos criativos. Ainda é legítimo indagar em que medida a alteração ou a ampliação da experiência sensível, ao nível da percepção, pode produzir efeitos que repercutem, ao mesmo tempo, sobre a “constituição de si”, sobre a experiência perceptiva e sobre as possibilidades criativas dos sujeitos. A utilização de técnicas menos controversas para a ampliação e modificação dos sentidos, tais como os exercícios corporais empregados na formação de atores (GROTOWSKI, 1958 ), técnicas de relaxamento e de modificação do ritmo respiratório, ou ainda algumas técnicas de privação e transferência de função sensorial (por exemplo, impedir a visão e estimular o reconhecimento de objetos pelo olfato ou pelo tato) – pode viabilizar uma retomada desse tipo de investigação.

Esta pesquisa buscou trazer uma contribuição para um debate atual no campo do Design, em torno da divisão instalada nesse campo entre métodos projetuais ditos “objetivos” e “subjetivos”, onde os primeiros têm sido mais explorados pela pesquisa científica do que os segundos, considerados via de regra como “intuitivos” e não sujeitos ao aprendizado ou à transmissão, assunto já explorado parcialmente em pesquisa preliminar que resultou na produção de um artigo (PORTINARI, D. &

BARROS,B. 2011)

Na prática, a pesquisou vem se desenvolvendo há algum tempo e já efetuou um levantamento de técnicas corporais de alteração da percepção (do corpo, do tempo-espaço e do ambiente); já desenvolveu uma prática (denominada “ateliê dos sentidos” composta de uma variedade de exercícios derivados dessas técnicas; já experimentou essa prática com diferentes grupos de sujeitos (trabalhadores da Rocinha e calouros de Design da PUC-Rio); já analisou alguns resultados desses experimentos, que foram gravados em vídeo e também geraram depoimentos redigidos pelos participantes. Em paralelo a essas ações, o bolsista participou regularmente de um grupo de estudos sobre corpo e subjetividade, voltado atualmente para a leitura e discussão da parte mais tardia da obra de Foucault, voltada para as práticas de subjetivação e as estéticas da existência, Ao longo desse percurso, novas possibilidades surgiram e serão exploradas em um desdobramento da pesquisa que está atualmente em andamento. Esses novos desenvolvimento nos levaram a investigar a prática contemporânea da "performance", na qual os sujeitos podem trabalhar questões artísticas, pessoais e políticas. Esta investigação, por sua vez, nos permitirá trabalhar com a ideia de “ projetos performáticos” , e a exploração do seu potencial na formação do designer.

É importante ressaltar que este desenvolvimento já resultou em uma experimentação que vem servindo de base para a exploração destes novos rumos. A partir da leitura do livro “A Hermenêutica do Sujeito” de Foucault (FOUCAULT, 2010) feita com o grupo Barthes o aluno desenvolveu/criou a performance “Trilogia do Sujeito” na qual vem trabalhando/pesquisando desde Agosto de 2012. Esta vem sendo trabalhada em nova versão que contará com elementos desenvolvidos por alunos do NEXT - Núcleo de Experimentação Tridimensional Puc Rio, que vem desenvolvendo projetos de elementos cénicos incluídos na performance.

Objetivos A pesquisa visava desenvolver diferentes meios (técnicas, práticas) de propiciar aos sujeitos uma experiência de ampliação/transformação da percepção articulada a processos criativos. Tratava-se de prolongar, na prática, a discussão teórica sobre as relações passíveis de serem estabelecidas entre processos de subjetivação, processos criativos e a ampliação da percepção. Em sua etapa atual, a pesquisa visa incluir a exploração de possibilidades derivadas da prática artística da “performance” nessa investigação.

Metodologia A metodologia utilizada na pesquisa consistiu nas seguintes atividades paralelas:

A) Levantar, inventariar e discutir referências teóricas e relatos de investigações de experiências de alteração e transformação da dimensão sensorial voltada para a indução de processos de subjetivação e/ou de incremento do processo criativo. O corpus da pesquisa consistiu inicialmente, em referencias e relatos sobre as pesquisas psicodélicas conduzidas nas décadas de 50 e 60, nos Estados Unidos, as pesquisas corporais empreendidas por Angel Vianna na década de 70 e as experiências conduzidas pela Dra. Nise da Silveira no Hospital Psiquiátrico Pedro II, no Brasil, bem como a literatura referente aos métodos de processos criativos no campo do Design.

B) Desenvolver, sistematizar e aplicar um conjunto de exercícios que já vinham sendo utilizados pelo aluno em uma prática intitulada “Ateliê Vivência dos Sentidos”. Em um primeiro momento, o aluno

Referências

1 - FOULCAULT, M. A Hermenêutica do Sujeito. São Paulo: Editora: Martins Fontes, 2010.2. 2 - GROTOWSKI, J. Para um Teatro Pobre. Local: Editora: Dulcina, 2007.

3 - HUXLEY, A. As Portas da Percepção e o Céu e Inferno. Editora: Globo, 1954.

4 - PORTINARI, D. & BARROS, B. O kan e a espada: por uma retomada da noção de intuição na metodologia projetual. Em COELHO, L.A. (org.) Design Método. Rio de Janeiro: Novas Ideias,

5 - STEVENS, J. Storming Heaven: LSD and the American Dream. New York: Grove Press,

6 - VAZ, T. Solar da Fossa – Um território de liberdade, ideias e ousadias.