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Este documento aborda a desvalorização de negros na sociedade brasileira, enfatizando o conceito de racismo estrutural. O texto discute a história da discriminação racial, a inferiorização da voz negra e a perpetuação de estereótipos negativos. Além disso, o documento analisa o impacto da desvalorização de negros em diferentes áreas da vida, como educação e segurança pública.
Tipologia: Notas de aula
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O Ódio Que Você Semeia: reflexos do racismo estrutural na inferiorização da voz negra. RESUMO: O presente estudo versará sobre os conceitos de racismo, racismo estrutural, além de fazer um paralelo com o livro O Ódio que Você Semeia, de Angie Thomas, o qual traz temas muito presentes atualmente, como a inferiorização da voz negra, onde centenas de pessoas vão as ruas protestar pela morte de um jovem negro e tal ato não repercute em nada no processo legal. Busca-se com o artigo instigar os leitores a tais problemáticas, e tentar demonstrar a partir do livro abordado como a desvalorização dos negros é tão forte e presente na sociedade atual, por motivos antigos e desumanos. Palavras-chave: Racismo. Desvalorização dos negros. Racismo estrutural. RESUMÉN: Ese estudio abordará conceptos de racismo, racismo estructural, además de hacer un paralelo con el libro El Odio que Usted Semeya, de Angie Thomas, el cual trae temas muy manifiestas actualmente, como la inferiorización de la voz negra, donde muchas personas van a las calles a protestar por la muerte de un joven negro y eso no repercute en el proceso legal. Se busca con el artículo instigar a los lectores a tales problemáticas intentando demonstrar a partir del libro abordado como la desvalorización de los negros es fuerte y presente en la sociedad actual, por motivos antiguos e inhumanos. Palabras clave: Racismo. Desvalorización de los negros. Racismo estructural. 1 INTRODUÇÃO A biologia do século XIX tinha como explicação fundamental para diferenciar os povos o estudo da raça humana. Tal conceito, e estudo, foi amplamente difundido até o século XXI, quando a ciência passou a pesquisar e aprofundar teses a respeito do Ácido Desoxirribonucleico (DNA). O que se encontra atualmente é uma construção social baseada na separação dos povos por raças, levando em consideração a cor da pele, aspecto do cabelo, formato do nariz e boca, entre outros. A raça, portanto, deixou de ser ponto biológico, devido inúmeras teorias que comprovam a impossibilidade de racializar os povos, e passou a ser social.
Com isso, surge, então, o racismo, o qual se caracteriza como sendo uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento, e que se manifesta por meio de práticas conscientes ou inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios, a depender do grupo racial ao qual pertençam (DE ALMEIDA, 2018). O racismo está diretamente ligado ao povo negro, o que acarreta a discriminação e preconceito, fazendo com que pessoas “de cor” tenham desvantagens políticas, econômicas e sociais, devido, apenas, a cor de sua pele. Para entender como funciona o racismo no mundo é preciso falar do Racismo Estrutural, o qual “normaliza” os episódios (inúmeros) de racismo presentes nas relações sociais, políticas, jurídicas e econômicas, fazendo com que a responsabilização individual e institucional por atos racistas não extirpe a reprodução da desigualdade racial (BATISTA, 2018). Observa-se, no contexto do livro “O ódio que você semeia”, a desvalorização da voz negra, de modo que manifestações e testemunhos de pessoas negras não são reconhecidos. Isso ocorre em consequência do racismo estrutural presente na sociedade, onde os negros têm sua cultura, voz, crenças, apagadas. A discriminação racial, primordialmente sofrida pelos povos “de cor”, vem em razão da escravização dos mesmos. O processo de escravização fazia com que o continente Africano fosse visto como uma verdadeira “pangeia”, apagando suas diversidades e a individualização dos seus povos. Dessa forma, todas as pessoas de pele escura eram automaticamente chamadas de negras, como forma de classificação racial, levando-se em conta apenas o fenótipo de tom de pele. Com isso, os povos zulus, bantos, berberes, como exemplo, tinham sua história e cultura apagadas após serem jogados nos navios negreiros. Chegavam, então, aos portos marítimos como coisas, meros objetos: sem nomes, crenças, memórias, vontades e vozes. É necessário, portanto, entender essa estruturação do racismo, perceber como os povos eram vistos e tratados para poder visualizar os impactos sociais permanentes até os dias atuais. O artigo em questão busca discorrer, tendo como base e exemplo o livro da autora Angie Thomas, O Ódio que Você Semeia, como a voz negra é minimizada, inferiorizada, em razão de uma estrutura racista desumana presente na sociedade. Tal discussão é importante, para além do que já fora narrado, em razão das consequências oriundas de tal silenciamento e ou até mesmo cerceamento das discussões propostas pela população negra. Ouvir e fazer-se ouvido é essencial para a concreção de uma sociedade democrática, tendo em vista que, a partir da percepção das necessidades dos grupos sociais ser possível melhor atendê-los.
contraponto à suposta degradação da miscigenação racial, sendo esta a causadora das anormalidades, degenerações, enfermidades e criminalidade.” (CASTELO BRANCO, 2018). Isto é, nesse sentido, quanto mais ao topo da estrutura social, mais puro, mais normal e mais aceito o indivíduo seria, bem como seus ideais e discursos. O racismo traz consigo inúmeras consequências maléficas à população, principalmente àqueles que por ele são rebaixados. A classificação e qualificação dos sujeitos em raças serviu como meio de fragmentação e exclusão, diante disso, a criminóloga Thayara Castelo Branco considera que a função primária do racismo é “fragmentar, fazer cesuras no interior desse contínuo biológico.” (CASTELO BRANCO, 2018). A partir disso, o racismo estruturou as relações sociais, hierarquizou as relações de poder e, conforme aludido, aos negros restou ocupar a parte inferior da pirâmide social, a base, à luz disso compreende-se a sociedade como sendo estruturalmente racista. (CASTELO BRANCO, 2018). Baseando-se em DE ALMEIDA, o racismo pode apresentar-se sob três concepções distintas, a individualista, que o compreende enquanto discriminação sistemática; a institucional, na qual são dados privilégios e desvantagens a determinados grupos em razão de sua raça e, por fim, a estrutural, em cuja as relações se constituem num padrão de normalidade, isto é, o racismo como um padrão norteador das relações interpessoais. (DE ALMEIDA, 2018). Nas palavras de DE ALMEIDA, “o racismo é uma forma de racionalidade, é uma forma de normalização, de compreensão das relações”, constituindo para além das ações conscientes, as inconscientes. Logo, ele é estrutural e estruturante, a saber, naturaliza a violência contra o negro, de modo que a agressão a esse não causa espanto, por exemplo, sendo então encarado conforme um padrão racional de normalidade (DE ALMEIDA, 2016). No mais, este considera a sociedade estruturalmente racista devido à possibilidade de encontrar negros em condições subalternas em basicamente todos os espaços aos quais pertençam, seja por violência estrutural, em razão da ausência de direitos, seja por violência cultural na qual infere-se uma hipotética incapacidade ou incivilidade, seja por força institucional, a partir do controle policial. Assim sendo, mudam-se os elementos de inferioriazação dos negros, mas não os extinguem, desse modo, perpetua-se o racismo. Todavia, há quem acredite que o racismo não mais existe na sociedade brasileira, dito isso, busca-se a todo custo deslegitimar o discurso do negro classificando-o como mera vitimização. A narrativa da existência de uma democracia racial é amplamente difundida e, a propósito, utilizada como fundamento para inferir que políticas públicas criadas com o viés de combater o racismo seriam desnecessárias, haja vista acreditar-se que todas as
pessoas, iguais perante a lei, possuem, outrossim, as mesmas oportunidades, por isso devem ser tratadas igualmente. Contudo, dados do IBGE expressam que o Brasil está longe de viver uma democracia racial, sendo possível falar nas cores da desigualdade. Índices salariais, prisionais, indicadores socioeconômicos, bem como os índices de violência e mapas da desigualdade no país, exempli gratia, demonstram qual a espécie de tratamento recebido por àquele com base em sua raça, em sua cor. No que diz respeito à violência, o Atlas da Violência 2018, organizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), demonstra que as taxas de homicídios entre negros cresceu 23,1% de 2006 a 2016, em contrapartida, diminuiu cerca de 6,8% entre os não negros, o que criou uma ideia de que há no Brasil dois países, um para negros e outro para não negros. Importante ressaltar que, apesar da desmitificação do conceito de racismo, com base na diferenciação dos povos por raça, o movimento negro utiliza o termo para tornar crime todo e qualquer discurso que tem como base paradigmas racistas, o qual discrimina e marginaliza pessoas apenas por questões de cor da pele. O racismo, então, passou a ser um termo para enquadrar certas condutas contra pessoas de pele escura, mesmo que a ideia de raça não exista. Percebe-se, à vista disso, que o racismo estrutural torna qualquer manifestação negra desacreditada, minimizada, de modo que, quando pessoas negras se posicionam contra atos de racismo, tal atitude é vista como vitimizadora, vazia de justificativa. Sendo assim, a voz negra, a cultura, as crenças são enfraquecidas, dando continuidade ao ciclo racista, advindo do racismo estrutural, existente na sociedade. 3 ANÁLISE DO TEMA NO PONTO DE VISTA DO LIVRO “O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA” O livro de Angie Thomas traz uma reflexão acerca da inferiorização da vida negra, destacando episódios em que pessoas negras são subjugadas, tendo como base para tal tratamento o racismo estrutural. A história se desenvolve a partir da história de Starr, uma jovem negra que foi testemunha do assassinato de seu amigo Khalil, também negro, por um policial, um policial branco, nos Estados Unidos da América, situação que lhe conduz a um conflito interno no que diz respeito a representar seu amigo no tribunal e lutar para que o policial que o matou
Devido a isso, o policial responsável pela morte de Khalil, antes mesmo de ser julgado, já é considerado inocente. Somente viu uma possível ameaça e agiu, legítima defesa. Contudo, ao conversar com seu tio Carlos, Starr questiona-o sobre sua conduta caso ele fosse o policial da situação, o tio dela certamente o mataria também. Nesse sentido, observa-se que tal comportamento em relação aos negros está tão enraizado que até mesmo um negro tem atitudes racistas e de forma natural pré-julga seu semelhante. Segundo Edith Piza: “[...] o lugar do negro é o lugar de seu grupo como um todo e do branco é o de sua individualidade. Um negro representa todos os negros. Um branco é uma unidade representativa apenas de si mesmo” (PIZA, 2002 apud FERNANDES; SOUZA, 2016). Sendo assim, no momento em que um negro, embora agindo em nome da sua liberdade e individualidade, se comporta de determinada forma, é visto como grupo, seja seu comportamento considerado bom ou ruim. Enquanto que o indivíduo não negro é observado sob o aspecto da sua singularidade. A história de Angie Thomas demonstra o ciclo vivido pelos povos negros, o qual “o ódio que você semeia nas pequenas crianças ferra com todo mundo”. Dessa forma, segundo Marilene Paré “a criança branca desenvolve sentimento de autoestima e autoconfiança, enquanto na criança negra emerge sentimento de baixa autoestima e vergonha de ser negro” (PARÉ, 2000). É uma violência estrutural que desencadeia diversos problemas sociais e psicológicos, de modo que, enquanto alguns brancos lutam por direitos iguais, negros lutam para serem vistos como pessoas dignas de direitos. 4 CONCLUSÃO Frente à perpetuação da racionalidade racial na condução das interações interpessoais, fator contributivo para a manutenção das desigualdades econômicas, políticas e sociais, acentuando a invisibilidade dada à população negra por meio da desconsideração de sua identidade, de suas crenças e até mesmo de sua voz, compreende-se mister a discussão aqui realizada. Em “O Ódio que Você Semeia” a inferiorização do negro como sujeito de direitos é percebida a partir da desvalorização atribuída à morte de Khalil, buscando-se a todo custo procurar justificativas legitimantes à atitude do policial sem se importar com a vida ceifada daquele indivíduo.
O ódio que é semeado, floresce e expande-se na sociedade, portanto, forma-se um círculo vicioso o qual é praticamente impossível encerrar, exceto que alguém dê o primeiro passo, o exemplo que falta para acabar com o ódio. No livro, Starr quebra este ciclo. Starr não conseguiu fazer com que o policial que matou Khalil fosse condenado, mas conseguiu emancipar-se das amarras impostas pela sociedade, alcançou sua alforria para lutar por seus direitos e o direito dos seus, além de encerrar o ódio que fora semeado em seu irmão, que numa situação delicada quis encerrar as discussões entre seu pai e Big (inimigo dele) utilizando uma arma, mas ela o impediu. Considerando todo o exposto, vê-se o quanto as sociedades precisam se desenvolver para extinguir esse ódio estrutural. É necessário publicizar com mais importância a situação dos negros, a fim de que sejam reconhecidas as desvantagens que lhe são conferidas através dessa estrutura excludente, demonstrando que, embora os sujeitos sejam iguais perante a lei, no Brasil, por exemplo, as desigualdades sociais persistem, de tal modo que as instituições, governamentais ou não, devem intervir mudando os pontos de partida oferecidos a esses por meio das políticas públicas para que assim negros e não negros tenham acesso às mesmas oportunidades e, outrossim, tenham suas vozes ouvidas.
PENA, Sérgio D. J.; BIRCHAL, TELMA S. A inexistência biológica versus a existência social de raças humanas: pode a ciência instruir o etos social? REVISTA USP. n.68, p. 10- 21, São Paulo: dezembro/fevereiro, 2005 - 2006. PIRES, Artur. A construção social da “raça” negra. Disponível em: http://revistaberro.com/especiais/a-construcao-social-da-raca-negra/. Acesso em: 09/03/2019. PIZA, Edith. Porta de vidro: entrada da branquitude. In: CARONE, Iray e BENTO, Maria Aparecida Silva (orgs.). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petró- polis: Vozes, 2002. ZANUR, George de Cerqueira Leite. Raça: biologia e construção social. Brasília: 2005. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/estudos-e-notas- tecnicas/publicacoes-da-consultoria-legislativa/areas-da-conle/tema11/2005_10517.pdf>. Acesso em: 08/03/2019.