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Análise do Romantismo em 'Amor de Perdição' e 'Coração, Cabeça e Estômago', Exercícios de Literatura

Uma análise comparativa das obras 'amor de perdição' e 'coração, cabeça e estômago' de camilo castelo branco, onde se destaca a forma como o autor caracteriza o romantismo em ambas as obras. 'coração, cabeça e estômago' apresenta uma crítica ao romantismo, enquanto 'amor de perdição' é uma obra romântica ultra. O texto propõe evidenciar as visões da convenção romântica deixadas explícitas pelo autor, embora as obras tenham teor romântico e antirromântico respectivamente.

O que você vai aprender

  • Como Camilo Castelo Branco caracteriza o romantismo em 'Amor de Perdição'?
  • Como o autor critica o romantismo em 'Coração, Cabeça e Estômago'?
  • Quais são as diferenças entre a representação do romantismo em 'Amor de Perdição' e 'Coração, Cabeça e Estômago'?

Tipologia: Exercícios

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Tiago22
Tiago22 🇧🇷

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O (não)romantismo de Camilo Castelo Branco nas obras “Amor de Perdição” e
“Coração, Cabeça e Estômago”
Autores
Daniele Barlati Arantes
Josiane Maria de Souza
1. Introdução
As posturas românticas de duas obras de Camilo Castelo Branco: "Amor de Perdição" e "Coração,
Cabeça e Estômago" são muito contraditórias entre si, e ao mesmo tempo concordam em alguns trechos
das obras.
"Coração, Cabeça e Estômago" apresenta um anti-romantismo evidente e desconstrói as convenções
românticas tanto no enredo da obra, quanto nos comentários a respeito da literatura romântica, que estão
presentes em alguns dos trechos da narrativa.
Por sua vez, "Amor de Perdição" é uma obra ultra-romântica, contendo todas as características do
romantismo, embora também apresente alguns trechos em que o narrador evidencia a inverdade da
idealização romântica e a invenção do "amor" pelo romantismo.
2. Objetivos
Por meio de uma comparação entre ambas as obras de Camilo Castelo Branco, propõe-se destacar a forma
como o romantismo é caracterizado em ambas as obras e pretende-se evidenciar a visão da convenção
romântica que o autor deixa explícita em ambas as obras, embora "Amor de Perdição" seja de teor
romântico e "Coração, Cabeça e Estômago" se apresente como uma paródia ou uma sátira ao
romantismo.
3. Desenvolvimento
O levantamento de alguns trechos das obras acima citadas é feito com o critério único de expor as
concepções de romantismo lançadas por Camilo Castelo Branco em ambas as obras.
O romantismo, que é tido como a expressão sincera dos sentimentos, sem mascaramento ou dissimulação,
também pode ser visto como uma convenção criada pela literatura romântica, uma inverdade que tomou
ares de verdade e se incutiu na mentalidade dos leitores.
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O (não)romantismo de Camilo Castelo Branco nas obras “Amor de Perdição” e

“Coração, Cabeça e Estômago”

Autores

Daniele Barlati Arantes Josiane Maria de Souza

1. Introdução

As posturas românticas de duas obras de Camilo Castelo Branco: " Amor de Perdição" e "Coração, Cabeça e Estômago " são muito contraditórias entre si, e ao mesmo tempo concordam em alguns trechos das obras.

"Coração, Cabeça e Estômago" apresenta um anti-romantismo evidente e desconstrói as convenções românticas tanto no enredo da obra, quanto nos comentários a respeito da literatura romântica, que estão presentes em alguns dos trechos da narrativa.

Por sua vez, "Amor de Perdição" é uma obra ultra-romântica, contendo todas as características do romantismo, embora também apresente alguns trechos em que o narrador evidencia a inverdade da idealização romântica e a invenção do "amor" pelo romantismo.

2. Objetivos

Por meio de uma comparação entre ambas as obras de Camilo Castelo Branco, propõe-se destacar a forma como o romantismo é caracterizado em ambas as obras e pretende-se evidenciar a visão da convenção romântica que o autor deixa explícita em ambas as obras, embora "Amor de Perdição" seja de teor romântico e "Coração, Cabeça e Estômago" se apresente como uma paródia ou uma sátira ao romantismo.

3. Desenvolvimento

O levantamento de alguns trechos das obras acima citadas é feito com o critério único de expor as concepções de romantismo lançadas por Camilo Castelo Branco em ambas as obras.

O romantismo, que é tido como a expressão sincera dos sentimentos, sem mascaramento ou dissimulação, também pode ser visto como uma convenção criada pela literatura romântica, uma inverdade que tomou ares de verdade e se incutiu na mentalidade dos leitores.

4. Resultados

A obra "Coração, Cabeça e Estômago" apresenta uma crítica, ou uma paródia do romantismo e das diversas características do mesmo. Trata-se de três volumes escritos ou três capítulos, o primeiro com o título Coração, o segundo, Cabeça e o terceiro, Estômago. Estes dizem respeito a três fases da vida do personagem Silvestre da Silva, que de 1844 à 1854 se dedicou aos seus amores e às "coisas do coração", às quais ele depois diz ser "tolice brava"; de 1855 à 1860 ele então se dedicou ao "intelecto"; já de 1860 à 1861 afirma ter se rendido aos apelos do estômago até morrer e afirmar em um soneto antes de sua morte:

"E por muito comer eu desço à cova!"

A idealização do amor como sendo eterno e único, característica própria do romantismo, é totalmente contrariada nessa obra, pois Silvestre da Silva tem sete amores já no início de suas aventuras amorosas. Também as mulheres a quem Silvestre ama não são como as mulheres idealizadas no romantismo.

Silvestre não tinha as características do homem romântico, mas trata logo de forjá-las:

Como quer, porém, que a testa fosse menos acampada que o preciso para significar ‘desordem e gênio’, comecei a barbear a testa, fazendo recuar o domínio do cabelo, a pouco e pouco, até que me criei uma fronte dilatada, e umas bossas frontais, como a natureza as não dera a Shakespeare nem a Goethe.

Por ter uma aparência sadia, Silvestre então resolve dissimular olheiras com um líquido roxo indicado por um amigo médico. Ele se vê satisfeito com o resultado da transformação de sua aparência:

Fiz, pois, de mim uma cara entre o sentimental de Antony e o trágico de Fausto.

Silvestre age, portanto, como se o romantismo, o sentimentalismo e até mesmo o sofrimento pudessem ser construídos, e lança aí a idéia de que muitos sentimentos são "inventados" à sombra do romantismo.

Após ter muitas decepções amorosas com suas sete primeiras paixões, Silvestre encontra Paula, uma dama muito parecida com as donzelas dos romances, e crendo ele "precisar de um amor", trata logo de "se apaixonar" pela moça.

Silvestre é o narrador da história, e, e embora não seja um bom escritor, se considera ser dos melhores, o que fica claro em várias passagens da obra:

(...) vi encostado à parede fronteira de sua casa um vulto rebuçado, rebuçado amargo ao meu suspeitoso coração! (comprazo-me de ter feito destes dois rebuçados uma elegância de estilo, que é muinha, e, se alguma idêntica aparecer, sem a minha rubrica, será tida como furto, e os falsificadores serão perseguidos

Se alguma vez o romancista nos dá, no primeiro capítulo, uma menina bem fornida de carnes e rosada e espanejada como as belas dos campos, é contar que, no terceiro capítulo, ali a temos prostrada numa otomana, com olheiras a revelar o cavado do rosto, com a cintura a desarticular-se dos seus engonços, com as mãos translúcidas de magreza, os braços em osso nu e os olhos apagados nas órbitas, orvalhadas de lágrimas

Nesse trecho de " Coração, Cabeça e Estômago ", Silvestre, desgostoso de toda a influência que a literatura romântica tem na vida das jovens relata a freqüência com que os romancistas apresentam mulheres à se definhar por amor nos seus romances.

No romance "Amor de Perdição" , também do autor Camilo Castelo Branco, Tereza, a heroína romântica da obra, apresenta exatamente essas características da mulher romântica, pois no fim do romance, após muito sofrer por amor, Teresa adoece e sua aparência é descrita dessa forma:

(...) Distintamente Simão viu um rosto e uns braços suspensos das reixas de ferro; mas não era Teresa aquele rosto; seria antes um cadáver que subiu da claustra ao mirante, com os ossos da cara inçados ainda das herpes da sepultura.

Teresa está tão debilitada, que o herói romântico Simão, nem reconhece sua amada, que, no início do romance - assim como o personagem Silvestre de "Coração, Cabeça e Estômago" afirma como peculiaridade dos romances - o romancista a descrevia como saudável, corada, cheia de forças, "mulher varonil", com "força de caráter".

Contudo, ao decorrer da narrativa, Tereza definha, deixando de comer logo que ingressa, contra a vontade, em um convento, para ser apartada por seu pai de seu grande amor, Simão. A moça perde suas forças até morrer.

Silvestre da Silva, personagem de "Coração, Cabeça e Estômago" , acusa o romance de, através da idealização de uma "mulher romântica" influenciar no comportamento das jovens leitoras:

Foi o romance que degenerou as raças, porque lá de França todas as heroínas, em 8. º e a 200 réis ao franco, vêm definhadas, tísicas, em jejum natural, tresnoitadas, levadas da breca. Nunca se dá que os romancistas, nos digam o que elas comem, quantas horas dormem, quantos cozimentos de quássia tomam para dessaburrar o estômago, qual gênero de alimento preferem, que doutrinas de higiene adoptaram, quantos amantes afagam para cicatrizarem os golpes da perfídia com o pêlo do mesmo cão. (...)

(...) Estas mulheres desassisadas, que se imolam aos caprichos duma literatura, por não terem coisa séria em que empreguem a imensa energia do seu espírito, quando tornam a si, e se correm da sua inépcia, tarde

vem o arrependimento, que, nos melhores anos, deram cabo das melhores forças.

Portanto Silvestre afirma que o romantismo criou toda uma convenção que atingiu o imaginário das pessoas e reflete nas suas atitudes, o romance então não seria a expressão sincera dos sentimentos, mas a expressão exacerbada de sentimentos inventados, construídos pela literatura romântica.

Também na obra "Amor de Perdição" Camilo Castelo Branco discorre sobre a inverdade das convenções românticas:

A verdade é algumas vezes o escolho de um romance.

Na vida real, recebemo-la como ela sai dos encontrados casos, ou da lógica implacável das coisas; mas, na novela, custa-nos a sofrer que o autor, se inventa, não invente melhor; e, se copia, não minta por amor da arte.

Um romance que estriba na verdade o seu merecimento é frio, é imertinente, é uma coisa que não sacode os nervos, nem tira a gente, sequer uma temporada(...)

(...)A verdade! Se ela é feia, para que oferecê-la em painéis ao público?

Nesse romance de caráter ultra romântico, em que os heróis e heroínas morrem por amor, o autor se permite exprimir a irrealidade do romantismo e suas inverdades.

Por sua vez, em "Coração, Cabeça e Estômago ", Silvestre expõe as circunstâncias em que o romance ou o "amor" foi inventado, devido a uma necessidade de desembrutecimento dos costumes gregos e romanos:

O amor inventou-o depois o estragamento dos bons costumes gregos e romanos, como coisa necessária e acirrante ao paladares botos dos filhos viciosos das cidades.

Até mesmo no romance " Amor de Perdição " a temática romântica é "criticada" ou satirizada em um trecho deveras engraçado em que, o irmão de Simão, Manuel Botelho, tem um caso com uma mulher casada com um médico. O narrador, no meio da sua narrativa dos acontecimentos prevê uma reação "romântica" das "leitoras sensíveis", mas logo depois desconstrói o romantismo que geraria tal reação:

Poucas horas depois, a esposa do médico...

_ Que tinha morrido de paixão e vergonha talvez! – exclama uma leitora sensível.

5. Considerações Finais

Em ambas as obras o autor expressa a inverdade do romantismo enquanto o afirma como uma convenção literária, utilizando-se da voz dos narradores das obras para tecer comentários à cerca da convenção romântica.

Comparando a forma como o romantismo é visto em ambas as obras pode-se concluir que Camilo Castelo Branco ao mesmo tempo que se utiliza de uma escrita romântica em uma obra ultra-romântica como "Amor de Perdição", também satiriza o romantismo nas suas mais evidentes origens e particularidades, tecendo comentários irônicos a cerca do romantismo em meio às suas narrativas.

Referências Bibliográficas

CASTELO BRANCO, C. Amor de Perdição. São Paulo: Martin Claret, 2001.

CASTELO BRANCO, Camilo. Coração, Cabeça e Estômago. Lisboa, Parceria António Maria Pereira, 1907, 3a. ed