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Análise de Vidas Frustradas: 'Clay' de Joyce e 'Life of Ma Parker' de Mansfield, Slides de Música

Neste artigo, analisamos os contos 'clay' de james joyce e 'life of ma parker' de katherine mansfield, explicando as razões e técnicas usadas pelos autores para expressar vidas sem sentido e frustradas, ou seja, expressar o mundo de vivos-mortos nos quais suas personagens estão inseridas. Os autores, que compartilharam uma vida pessoal comum de ter deixado suas cidades natalinas para encontrarem seus destinos em lugares distantes, apresentam obras intimamente ligadas às suas respectivas terras natalas. Através das narrativas, podemos perceber a descrição das cidades e histórias pessoais de joyce e mansfield, que revelam traços da vida social, artística, religiosa e política de irlanda e nova zelândia. As históricas de mansfield se baseiam na própria experiência de vida da autora e abordam a insignificância do cotidiano da vida sem envolver temas mais grandiosos ou socialmente representativos.

Tipologia: Slides

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Luiz_Felipe 🇧🇷

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Revista
ISSN 2179-5037
Revista UNIABEU Belford Roxo V.4 Número 7 Mar. – Ago. 2011
O mundo dos mortos em vida nos contos “Clay” de James
Joyce e “Life of Ma Parker” de Katherine Mansfield
Patrícia Maria dos Santos Santana
Pg – UNIGRANRIO *
RESUMO: O objetivo do presente artigo é analisar os dois contos “Clay” e “Life of Ma
Parker” escritos respectivamente por James Joyce e Katherine Mansfield, explicando
as razões e as técnicas usadas pelos autores mencionados na intenção de expressar
vidas frustradas e sem sentido, ou seja, expressar o mundo de vivos-mortos nos quais
seus personagens estão inseridos.
Palavras-chaves: Joyce, Mansfield, vivos-mortos, frustração, Epifania.
The world of the dead in “Clay” by James Joyce and “Life of Ma
Parker” by Katherine Mansfield
Abstract: The aim of this paper is to analyze the two short stories “Clay” and “Life of
Ma Parker” written by James Joyce and Katherine Mansfield respectively, explaining
the reasons and techniques used by the mentioned authors to express frustrated
meaningless lives without any kind of sense, that is, to express the living-dead world in
which their characters are inserted.
Key words: Joyce, Mansfield, living-dead people, frustration, Epiphany.
Quem nunca quis morrer
Não sabe o que é viver
Mário Quintana
James Joyce e Katherine Mansfield apresentam algo em comum em
suas vidas pessoais: ambos os autores deixaram as suas cidades natais para
encontrarem seus destinos em algum lugar distante. Joyce deixou Dublin
quando ainda era muito jovem. De qualquer forma, o seu amor pela Irlanda
nunca o permitiu escrever qualquer palavra que fosse sobre nenhum outro
lugar no mundo: cada trabalho de Joyce está declaradamente relacionado ao
seu próprio país. “Clay” (Barro) é um conto do livro Dubliners que é, como o
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Revista ISSN 2179-

O mundo dos mortos em vida nos contos “Clay” de James

Joyce e “Life of Ma Parker” de Katherine Mansfield

**Patrícia Maria dos Santos Santana Pg – UNIGRANRIO ***

RESUMO: O objetivo do presente artigo é analisar os dois contos “Clay” e “Life of Ma Parker” escritos respectivamente por James Joyce e Katherine Mansfield, explicando as razões e as técnicas usadas pelos autores mencionados na intenção de expressar vidas frustradas e sem sentido, ou seja, expressar o mundo de vivos-mortos nos quais seus personagens estão inseridos.

Palavras-chaves: Joyce, Mansfield, vivos-mortos, frustração, Epifania.

The world of the dead in “Clay” by James Joyce and “Life of Ma

Parker” by Katherine Mansfield

Abstract: The aim of this paper is to analyze the two short stories “Clay” and “Life of Ma Parker” written by James Joyce and Katherine Mansfield respectively, explaining the reasons and techniques used by the mentioned authors to express frustrated meaningless lives without any kind of sense, that is, to express the living-dead world in which their characters are inserted.

Key words : Joyce, Mansfield, living-dead people, frustration, Epiphany.

Quem nunca quis morrer Não sabe o que é viver Mário Quintana

James Joyce e Katherine Mansfield apresentam algo em comum em suas vidas pessoais: ambos os autores deixaram as suas cidades natais para encontrarem seus destinos em algum lugar distante. Joyce deixou Dublin quando ainda era muito jovem. De qualquer forma, o seu amor pela Irlanda nunca o permitiu escrever qualquer palavra que fosse sobre nenhum outro lugar no mundo: cada trabalho de Joyce está declaradamente relacionado ao seu próprio país. “Clay” (Barro) é um conto do livro Dubliners que é, como o

próprio título sugere, um livro sobre Dublin e sua gente, revelando traços da vida social, artística, religiosa e política da Irlanda. Mansfield


  • Graduada em Letras (Português/Inglês) pela UFRJ, pós-graduada em Docência do Ensino Superior e em Língua Inglesa pela UCAM e mestranda do Programa de Letras e Ciências Humanas da UNIGRANRIO. também mostrou um sentimento deveras nostálgico em relação a sua cidade natal e desejou muitíssimo escrever sobre a mesma, como certa vez confessou: “I want to write recollections of my own country. Yes, I want to write about my own country till I exhaust my store ¹”(GORDON, 1954, p. 11). Através das narrativas de Katherine Mansfield, o leitor percebe a descrição que a autora faz de Nova Zelândia, sua cidade natal, seus lugares e histórias, como Joyce faz para descrever a Irlanda do autor. As histórias de Mansfield se baseiam na própria experiência de vida da autora: são casos com toques puramente pessoais. Há algo incrivelmente existencial nessas histórias que muito se relacionam com a insignificância do cotidiano da vida e nunca envolvem temas mais grandiosos ou socialmente representativos. Seus relatos se referem a sua Nova Zelândia, mas não da forma política pela qual Joyce escreve sobre a Irlanda. Nova Zelândia surge como uma estranha fonte de inspiração para a autora, como assim descreve J. Middleton Murry:

She had suffered in New Zealand, unconsciously and silently as a little child, consciounsly and resentfully as an adolescent girl. For many years her resentment against New Zealand became as it were the symbol of her resentment against life itself ². (MURRY, 1959, p.81)

Mais à frente Murry conclui dizendo: “If ever there were a writer whose life and work were one and inseparable, it was she³” (p. 91). Acredita-se que a Nova Zelândia é a responsável, a grande culpada pela forma na qual escreve seus contos e pela maneira que Mansfield posiciona seus personagens perante a vida. “Life of Ma Parker” (A vida de mãe Parker) é um conto do livro The Garden Party , o mais expressivo livro da carreira de Mansfield.

Maria e Ma Parker são as duas protagonistas de cada uma das histórias tratadas aqui. Ambas são mulheres maduras e que pertencem à

A protagonista de “Clay” é descrita por James Joyce através de uma idéia paradoxal entre o feio e o belo. O feio compõe o exterior da personagem apresentada por Joyce como um ser que muito se assemelha a uma bruxa com seu “very long nose and very long chin” (nariz muito longo e queixo muito comprido). Em contrapartida, Maria é bela por dentro. Uma “peace-maker” (pacificadora) em sua capacidade de transformar as situações buscando a paz entre as pessoas que a cercam. E Maria também é capaz de ver o lado bom de todo ser humano e de toda situação existente: “She used to have such a bad opinion of Protestants but now she thought they were very nice people, a little quiet and serious, but still very nice people to live with 6 ” (JOYCE, 1975, p.72). Alguns estudiosos sobre o trabalho de James Joyce costumam relatar a criação proposital do autor e comparar a personagem Maria à própria Virgem Maria, primeiramente pela coincidência do nome e, mais adiante, por sua compaixão, pela falta de orgulho, pelo coração puro, por interceder quando necessário se faz. Visto de outro prisma, Maria é, de fato, uma pessoa ingênua e alienada por não ter plena consciência política da vida que leva. Esse tipo de alienação é criado por Joyce de forma intencional, fazendo com que o leitor entenda que Maria também representa Dublin em sua própria condição como colônia. Se até hoje muitos ânimos irlandeses se alteram quando se fala da relação entre Irlanda e Inglaterra, imagine, pois, o ânimo de um intelectual como James Joyce ao pensar sua terra querida nos idos de 1914, ano da primeira publicação de Dubliners.

A personagem de Katherine Mansfield, Ma Parker, muito se assemelha à Maria de James Joyce. Ma Parker é uma mulher forte que sofreu ao longo de sua vida sem sentido. De acordo com Gordon, Ma Parker é “a woman on her own in an unfriendly world 7 ” (1954, p. 14). Ela é, como Maria, uma mulher de boa índole, porém apresenta um nível de conscientização sobre sua vida bem melhor que o nível que Maria apresenta. Ma Parker percebe os pesares de sua vida e tenta arrumar um lugar para chorar. Ao procurar esse momento de fuga para chorar, que é o primeiro momento que chora perante todas as dificuldades que atravessa, Ma Parker enxerga que chorar se faz necessário nesse mundo. Ao chorar, ela deixa tudo para trás, inclusive a sua fortaleza. É nesse momento que a personagem percebe que ela precisa

permitir uma oscilação entre seus sentimentos, ou seja, combinar a sua fortaleza com seu momento de fraqueza humana, para não explodir por dentro. E a morte do neto de Ma Parker é o ponto no qual culmina toda a dor de sua existência. Este é o climax de suas emoções. Através da morte do menino, Ma Parker entende que a vida significa “frustração” e entende também que a existência não é fácil para uma mulher que não pode esperar nada de bom da vida em si, principalmente quando a única possibilidade de felicidade (no caso, o netinho) lhe é arrancada pela própria vida. Ao tornar-se avó, Ma Parker supõe estar próximo o fim de sua existência e que não há nada mais para se esperar do ato de viver.

Enquanto nas linhas do conto de Mansfield, Ma Parker se torna uma mulher questionadora e desesperada ao se deparar com as frustrações que a vida tinha reservado para ela, a personagem Maria de Joyce mostra-se, ao contrário, mais alienada e desavisada que nunca. Maria canta: “I dreamt that I dwelt in marble halls/ With vassals and serfs at my side (...) 8 ” (JOYCE, 1975, p.75) e a canção mostra uma triste ironia porque a vida que a personagem leva é completamente diferente do que é dito na música. A canção é uma espécie de fuga da realidade e o ato de cantar para Maria é a única forma de ser ou ter tudo o que ela sonha. De qualquer maneira, seus sonhos nunca se realizarão. A pobre Maria é bastante ingênua para perceber o paradoxo criado por ela mesma, o paradoxo criado com a canção. E Joe é o único que percebe a ironia triste das palavras de Maria na mencionada música.

O uso da linguagem lírica de Katherine Mansfield em seus contos faz com que o leitor acredite estar muito mais diante de uma poeta do que de uma escritora de contos. Por esta razão alguns críticos, como Gordon e Berkman, acreditam que a sua linguagem deva ser bem mais considerada uma combinação poética que uma narrativa em si. As descrições de Mansfield se relacionam com os sentidos. Ela é uma escritora realista, porém intimamente ligada ao Impressionismo. Katherine Mansfield é direta e seu jeito de escrever não é ingênuo, vago ou nebuloso. O que quer que ela escreva, ela sabe muito bem o efeito que ela deseja transmitir ao leitor. Por outro lado, James Joyce não denota uma visão direta ou, digamos, completa dos fatos. Embora realista,

vida fosse tão insignificante que ela não merecesse chorar e que se ela assim o fizesse, deveria ser em um lugar longe dos olhos do mundo. Vale a pena mencionar que no momento que procura um lugar para chorar, começa a chover e Ma Parker precisa retornar para casa. Como uma espécie de conspiração da natureza contra ela, nada no mundo ajuda essa mulher de sorte difícil. Para Ma Parker parece que a única coisa que ela deve realmente esperar do mundo é a morte. Ela já se posiciona como uma morta-viva em sua existência, com seus sonhos todos mortos e sem nenhuma esperança dentro dela. Além do mais, a morte pode ser observada como algo constante na vida dela: o marido, os filhos, o neto. Ironicamente, as pessoas mortas estão tão vivas em sua memória que parece que os mortos estão mais vivos que a própria Ma Parker, uma vez que a história de vida da protagonista está baseada na dor que sente em vida pelas pessoas que ela perdeu. Tomando por base a experiência de vida de Ma Parker, Mansfield mostra aos leitores toda a frustração de seu conto: a morte é o que se deve esperar da vida, especialmente em se tratando de uma vida triste e sem esperanças. Esse ponto de vista pessimista em relação ao mundo pode ser explicado de acordo com a própria declaração de Mansfield: “I adore life, but my experience of the world is that it’s pretty terrible 10 ” (BERKMAN, 1951, p.196). Sylvia Berkman escreveu em seus ensaios críticos sobre Katherine Mansfield que o dualismo “Vida versus Morte” nunca foi resolvido com harmonia ao longo de seus livros e que o conto “Life of Ma Parker” é um excelente exemplo disso, mostrando que a vida não é como queremos que seja - a vida é uma triste surpresa.

As técnicas de Joyce para alcançar a frustração precisam de duas importantes características de sua escrita: a parálise e a epifania. A parálise ocorre na incapacidade de agir. Na verdade, ela representa os próprios momentos de frustração. Na maioria dos casos, a parálise de Joyce estará relacionada à cidade de Dublin, aos seus problemas e às pessoas do local. Joyce acreditava que Dublin era centro de parálise política desde que a Irlanda havia se tornado colônia. Dessa forma, ele também achava que os dublinenses não tinham futuro e a situação era irremediável. De acordo com Hodgart (1978, p. 46), “Paralysis does affect most of the characters: they are unable to move out of their social milieu or to take any decisive action to

improve their lot” 11. Em “Clay”, a parálise e a frustração estão presentes no momento que a protagonista perde o bolo de ameixa que comprara e escolhera com tanto carinho; frustração e parálise também se fazem presentes no fato dos irmãos Alphy e Joe não estarem se falando, apesar do amor que sentem um pelo outro – inclusive o filho de Joe chama-se Alphy como homenagem ao irmão querido. Existe também um grande paradoxo nesse momento porque apesar de Maria ser considerada uma mulher pacificadora, ela nada pode fazer para que os irmãos façam as pazes; Maria torna-se impotente para promover a paz entre aqueles que ela realmente ama.

Devido aos momentos de parálise, o momento de epifania acontece. O momento de epifania é aquele momento de revelação de algo em sua essência. A epifania pode estar relacionada a algo alegre ou a algo triste e pode acontecer com o personagem principal, com o leitor do texto ou com qualquer outro personagem da história. Em “Clay”, Joe é quem apresenta o momento de epifania, uma epifania deveras triste. A própria Maria não sente a epifania apesar de seu status de personagem principal, uma vez que a sua alienação não permite qualquer forma de conscientização. Joe alcança a epifania quando ele ouve Maria cantando uma canção que representa o oposto de tudo que Maria vive: uma canção sobre amor, riqueza, poder e felicidade. Pode ser que no exato momento que Joe começa a entender a vida sem sentido de Maria, ele também comece a entender o vazio da própria vida que ele leva. A epifania sentida por Joe relaciona-se também ao uso de símbolos. No momento que Maria participa dos jogos de Hallow Eve e escolhe o barro (clay em inglês e daí o título do conto), Joe tem outro momento de epifania. O barro significa a morte e Joe entende, com isso, que Maria está perto da morte real, embora ela já seja uma morta em vida.

Tendo claro em mente que pessoas oriundas de classes mais baixas em qualquer parte do mundo apresentam vidas difícies e que vivemos em um mundo sexista onde as mulheres tentam ocupar melhores lugares na escala social com bastante dificuldade, fica fácil entender as vidas sem sentido das protagonistas analisadas nos dois contos. No próprio Brasil, por exemplo, existem milhares de pessoas mortas em vida que geralmente trabalham muito

(^6) Ela costumava ter uma má opinião sobre os Protestantes, mas agora ela achava que eles eram pessoas agradáveis, um pouco quietas e sérias, mas ainda pessoas muito agradáveis para o convívio. (^7) Uma mulher sozinha em um mundo hostil.

(^8) Eu sonhei que morava em palácios de mármore/ com vassalos e servos ao meu lado.

(^9) A senhorita Mansfield pode ter estado em contato com Dubliners após a sua publicação tardia

em 1914, embora ela não tenha registrado por escrito nenhuma referência ao livro. (^10) Eu adoro a vida, mas a minha experiência do mundo é que é terrível demais.

(^11) A Parálise afeta a maioria dos personagens: eles são incapazes de sair do seu meio social ou tomar qualquer ação decisiva para melhorar as suas vidas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERKMAN, Sylvia. Katherine Mansfield, a Critical Study. London: Oxford University Press, 1951.

GORDON, Ian. Katherine Mansfield. New York: Green& Co., 1954.

HODGART, Matthew. James Joyce : a student’s guide. London: Routledge & Kejan Parel, 1978.

JOYCE, James. Dubliners. Britain: Penguin Books, 1975.

MANSFIELD, Katherine. The Garden Party and other stories. New York: Alfred Kroff, 1953.

MURRY, John Middleton. Katherine Mansfield and other literary studies. Great Britain: R&R Clark Ltd., 1959.