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Ao longo dos tempos, a civilização e a cultura definiram hábitos e práticas corporais, ditando formas de ser e proceder, forjando um projeto de corpo. A ...
Tipologia: Notas de estudo
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São João del-Rei 2011
O MOVIMENTO CORPORAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Em busca da compreensão do cotidiano da sala de aula
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação: Processos Socioeducativos e Práticas Escolares da Universidade Federal de São João del-Rei, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, sob a orientação da Profª. Dra. Lucia Helena Pena Pereira.
São João del-Rei 2011
Eu sou na tempestade o antro escuro Onde termina o céu, aí começo sou ninguém... uma gota de chuva Um átomo do universo.
"Tão pequeno que quase não pode ser visto! Mas, por sorte, quase não existir é ter o dom da singularidade !"
Lançarott
Aos meus queridos pais Nelito e Vanda com amor e gratidão.
À professora Lucia Helena, mais que uma orientadora, uma amiga, que estará para sempre presente em meu coração.
E a todos aqueles que me ajudaram a transformar sonhos em realidade.
Apesar de a criança ser parte integrante da dinâmica social, a noção de infância, como conceito delimitante de uma determinada fase da vida humana, nem sempre fez parte do cotidiano. O conceito de infância foi sendo, paulatinamente, (re)construído, acompanhando as mudanças na organização da vida social, e influindo no debate sobre as formas de se educar a criança. Nota-se que, no decorrer da História, o atendimento à infância se estruturou sob diferentes perspectivas, que determinaram os caminhos do surgimento e consolidação das instituições de educação da criança no Brasil e no mundo. A inserção da Educação Infantil como primeira etapa da educação básica, observada na década de 1990, representou um grande avanço, mas trouxe como exigência a construção de uma proposta pedagógica pautada no desenvolvimento da criança, considerando suas múltiplas potencialidades. Esta pesquisa discute o movimento corporal na prática pedagógica da Educação Infantil como uma manifestação da corporeidade. O objetivo deste trabalho foi compreender como este movimento se apresenta no cotidiano da pré-escola, ou seja, de que modo o corpo é compreendido nos currículos escolares, sobretudo, na interação cotidiana entre os sujeitos envolvidos na prática pedagógica e na relação com a construção e apropriação dos saberes na cultura escolar. A proposta deste trabalho caracteriza-se como um Estudo de Caso do cotidiano da escola, tendo como ferramentas metodológicas as sessões de observação e a entrevista. A análise dos dados aponta para o fato de que a Educação Infantil ainda não conseguiu se constituir como espaço privilegiado para o desenvolvimento integral da criança. Percebeu-se, ainda, que a ligação entre a Educação Infantil e os demais níveis de ensino ainda não foi devidamente estabelecida. A falta de uma identidade faz com que o modelo da escola tradicional ainda seja a referência para a educação da criança. Nesse sentido, observou- se que o movimento corporal é desvalorizado na prática pedagógica, na qual se fazem presentes posturas de rigidez e imobilidade. Concluiu-se que condicionantes de natureza material e técnica limitam a ação docente, de certa forma, impedindo que os docentes considerem a formação da criança de uma maneira mais ampla, e que pensar o lugar do corpo na educação da infância requer uma atenção especial à formação de educadores.
Palavras-chave: Corporeidade; Educação Infantil; Movimento Corporal; Prática Pedagógica.
Although the child integrates the social dynamics, the notion about childhood as an outlining concept for a certain stage of human life has not been part of our daily life. This concept has been gradually (re) constructed, following the changes in the organization of social life, and influencing the discussions on child‟s education. Historically, it is noticed that the services for childhood were structured under different perspectives and they have determined the ways of coming and consolidation of institutions for child‟s education in Brazil and worldwide. The inclusion of this kind of education such as the first stage of basic education, observed in the 1990s, represented a great advance, but it requires the construction of pedagogical conceptions according to the development of childhood, considering its multiples potentialities. This research discusses the human body movements in relation to the pedagogical practice on early child‟s education as a manifestation of the embodiment. The objective of this study was to understand how these movements are presented in the daily pre-school routine and how the human body is considered in the school curricula, especially among the individuals involved in the pedagogical practice, in the construction and appropriation of the knowledge in the school culture. The purpose of this study is characterized as a case study about the daily routine school and the methodological tools are observation sessions and interviews. The data analysis shows that the child‟s education has not been yet constituted as a privileged place for the child integral development. It was observed that the relation between child‟s education and other levels of education has not been established. This lack of identity turns the traditional school model as the reference for the child‟s education. In this sense, we noticed that the human body movements are undervalued in the pedagogical practice showing stiffness and immobility. We concluded that the main conditioners from material and technical nature have limited the teachers‟ practices, interfering in their views about the child's formation in a wide way, despite the meaning of the human body in the child‟s education which requires special attention to teachers‟ training.
Keywords: Embodiment; Child‟s Education; Human Body Movement; Pedagogical Practice.
Agradecimentos ........................................................................................................... VI Resumo ........................................................................................................................ VII Abstract ......................................................................................................................... VIII Lista de siglas e abreviaturas ........................................................................................ IX Sumário ......................................................................................................................... X
Introdução ..................................................................................................................... 11
Capítulo 1 - A corporeidade como fenômeno da existência humana ........................... 17
1.1. A construção de sentidos para o corpo ................................................................... 19 1.2. Corpo e Corporeidade: uma releitura do humano; um resgate da complexidade... 25 1.3. Corporeidade e Educação: interfaces que se cruzam na experiência do corpo ..... 29
Capítulo 2 - Educação Infantil: contextos, dilemas e perspectivas ................................. 36
2.1. O caminhar das instituições de educação infantil: contextos de surgimento e de consolidação ........................................................................................................... 38 2.2. Educação Infantil: “ainda” uma questão para o debate ........................................... 58 2.3. Educação Infantil: caminhos possíveis ................................................................... 78
Capítulo 3 - Os percursos da pesquisa: procedimentos metodológicos ......................... 86
Capítulo 4 - O corpo e o movimento no cotidiano da Educação Infantil ......................... 94
4.1. Concepções de corpo e de movimento e sua relação com a prática pedagógica ... 95 4.2. O espaço físico e o movimento corporal na pré-escola .......................................... 116
Considerações Finais ..................................................................................................... 127
Referências ..................................................................................................................... 121 Apêndices........................................................................................................................ 139
entendendo que o ser se constitui pela inter-relação que se estabelece entre as suas variadas instâncias. É nessa segunda perspectiva que se inserem os estudos sobre a corporeidade, e é sob esta que este trabalho se situa. O conceito de corporeidade surge como uma tentativa de resgatar a dimensão do sensível e trazer um novo olhar sobre os sujeitos e o mundo. Um olhar que incorpore a criatividade, a sensibilidade, a ludicidade, a arte, a técnica, a política, e tudo aquilo mais que constitui a teia complexa que forma o ser humano. Busca enxergar o ser humano para além de uma perspectiva reducionista, superando as polarizações semânticas corpo versus espírito, razão versus emoção, cognição versus motricidade, concebendo a existência humana em sua totalidade e complexidade. Ao longo dos últimos cinco anos, tenho me dedicado ao estudo das questões que envolvem o corpo na prática pedagógica. Meu interesse pela temática surgiu ainda durante minha graduação em Educação Física, onde comecei a entender que o corpo não se constitui apenas por seus feixes de músculos, tendões e ossos, mas que sua compreensão extrapola a esfera da materialidade atingindo a dimensão da cultura. Foi na busca por compreender a expressão do corpo na dinâmica mais ampla da vida social que, no ano de 2006, ingressei no Núcleo de Estudos “Corpo, Cultura, Expressão e Linguagens” – NECCEL/UFSJ, grupo de pesquisa coordenado pela professora Lucia Helena Pena Pereira, que futuramente viria a ser minha orientadora. No NECCEL, tive a oportunidade de aprofundar os estudos sobre a temática do corpo. O convívio com outros pesquisadores que já trabalhavam com o tema foi bastante significativo para meu crescimento acadêmico. Paulatinamente, eu ia ingressando, de forma mais profunda, nos estudos sobre o corpo. Ainda no ano de 2006, sob orientação da professora Lucia Helena Pena Pereira, iniciei um trabalho de pesquisa intitulado “Os cursos de Educação Física e de Pedagogia e o processo de formação integral do individuo: desafios e possibilidades”. Neste trabalho, procuramos compreender como os alunos destes cursos viam a questão do corpo (e da corporeidade) na prática pedagógica, e como tais questões apareciam nos cursos de formação. Os resultados obtidos nos conduziram a uma nova investigação. Assim, no ano de 2007, iniciamos uma nova etapa de pesquisas no NECCEL com a pesquisa intitulada “Aprendizagem e movimento nas séries iniciais do ensino fundamental: a corporeidade no desenvolvimento da criança”. Neste estudo, buscamos entender como o corpo e o movimento se apresentam no fazer pedagógico dos professores das séries iniciais do
Ensino Fundamental. Tal projeto de pesquisa nos aproximou do campo dos estudos sobre a infância. Tivemos a oportunidade de aprofundar o debate sobre a importância do movimento para o desenvolvimento da criança e sobre a corporeidade na formação e na atuação do professor. A trajetória de pesquisa nos aproximava cada vez mais da criança. Dessa forma, a escolha do foco da investigação para o mestrado veio como uma consequência do trabalho desenvolvido até aquele momento. Tendo em vista que as pesquisas anteriores apontavam para dificuldade do professor em considerar o movimento como fator de desenvolvimento humano, bem como em considerar a potencialidade da corporeidade para a prática pedagógica, começamos a refletir sobre como tais questões se faziam presentes no cotidiano da Educação Infantil. Tínhamos como hipótese que, grande parte da dificuldade apresentada pelos professores estava relacionada a dois fatores: primeiramente, à formação docente, que poderia não oferecer oportunidades para que os professores vivenciassem experiências corporais ao longo de seu curso de licenciatura; bem como ao próprio currículo da escola, pautado no desenvolvimento da intelectualidade, que deixava pouca oportunidade para o desenvolvimento do trabalho corporal na sala de aula. A busca por caminhos de superação da dicotomia que predomina na escola nos motivou a conhecer melhor outros contextos escolares. Assim, este projeto de pesquisa teve como alvo a prática pedagógica na Educação Infantil. A educação da criança no decorrer histórico esteve sob a influência de diferentes perspectivas, sendo que nem sempre esta esteve sob a tutela do campo educacional. Ao longo dos anos, foi bastante significativa a influência do discurso médico e das correntes psicológicas na forma como os sistemas de atendimento à infância se organizaram. Tendo como referência tais perspectivas, a Educação Infantil pautou-se em uma visão assistencialista, filantrópica e higienista sobre a infância e sua educação. A tradição que vinculou as instituições de Educação Infantil à função de cuidado e guarda aproximou durante décadas tais instituições do campo da assistência social (KUHLMANN JR, 2001; CERISARA, 1999; CHAMBOREDON e PREVOT, 1986). A vinculação das instituições de Educação Infantil ao campo educacional é algo recente, e trouxe inúmeros desafios para a área, cabendo destacar entre eles os que se referem à profissionalização docente e à formação de professores, ao aumento da oferta de vagas e universalização do atendimento à infância, ao financiamento público, à definição de uma proposta pedagógica, bem como à definição de seu papel (cuidar,
processo educacional e possibilitem uma educação compreendida como um processo de formação que valorize as várias dimensões da existência humana. Pensar em uma escola voltada à pluralidade das potencialidades humanas implica em nos vermos como seres corporais e viver a corporeidade de nós mesmos em toda a sua plenitude. E isso implica considerarmos o movimento corporal como forma de expressão, como linguagem repleta de valores e significados. No centro das práticas escolares devem se encontrar os seres humanos com seus medos, desejos, ambições, frustrações, com toda a sua pluralidade. Este trabalho teve como objetivo principal compreender a forma como o corpo e o movimento se apresentam no contexto das práticas pedagógicas da Educação Infantil. Visamos, ainda, de maneira mais específica, traçar uma reflexão ampla sobre a Educação Infantil e seu contexto de efetivação como instância educativa, buscando entender como vem acontecendo este movimento de construção de uma identidade para o campo. Buscamos, também, conhecer quais as concepções de corpo que estão presentes no ideário dos profissionais que atuam na Educação Infantil, bem como compreender qual o espaço dado à expressão do corpo no cotidiano da Educação Infantil. No capítulo um – “A corporeidade como fenômeno da existência humana”, procuramos compreender melhor o conceito de corporeidade e suas implicações na prática pedagógica. Inicialmente, tratamos de evidenciar o corpo como uma realidade sócio-histórica e cultural, em constante processo de ressignificação, e de como a compreensão sobre o corpo estabelece uma íntima relação com a organização da vida social. Num segundo momento, aprofundamos o debate sobre a corporeidade, apresentando o conceito de corpo fundado na existência. A discussão deixa explícito que o corpóreo é condição para a existência humana. Dessa forma, afirmamos que mais do que ter um corpo, o ser humano é um corpo. Corpo este que se mistura aos demais corpos e ao mundo que o circunda. O primeiro capítulo é finalizado com uma reflexão sobre as implicações que uma nova concepção de corpo e de movimento pode trazer para a prática pedagógica. O capítulo dois, intitulado “Educação Infantil: contextos, dilemas e perspectivas”, traz uma ampla discussão sobre a consolidação da Educação Infantil, e sobre o intenso movimento em prol da sua inserção no campo educativo, tendo em vista que, ao longo dos tempos, esta esteve ligada a diversos campos (psicologia, eugenia, assistência social). Buscamos compreender este complexo processo de construção de uma identidade para a Educação Infantil, que, ao mesmo tempo que se situa no Sistema
Educacional, e por isso está vinculada aos demais níveis de ensino, convive com contextos e dilemas que lhe são bastante particulares. Primeiramente, abordamos o contexto histórico de consolidação das instituições de Educação Infantil, tentando demonstrar um pouco da pluralidade de iniciativas com as quais conviveu a Educação Infantil, até ser reconhecida como fazendo parte da esfera educacional. Na sequência, traçamos uma discussão sobre os dilemas enfrentados pela Educação Infantil após sua inclusão no Sistema Educacional, buscando deixar claro que a luta em prol da criança e de seu direito a ter uma educação de qualidade ainda prossegue. Para finalizar o capítulo, trazemos uma discussão sobre o espaço do movimento na prática pedagógica, considerando a questão do movimento corporal como importante contribuição na consolidação de uma pedagogia da Educação Infantil. O capítulo três trata dos rumos da pesquisa. Neste capítulo, descrevemos os procedimentos de pesquisa adotados, bem como fazemos uma discussão sucinta sobre a importância de cada um dos instrumentos utilizados em nossa investigação. No quarto capítulo, procedemos à análise dos dados. Nossa análise foi dividida em dois eixos que devem ser entendidos de maneira complementar. No primeiro destes eixos, abordamos as concepções de corpo e de movimento presentes no ideário pedagógico dos professores e sua relação com a efetivação da prática cotidiana. No segundo eixo, visamos compreender qual a relação que se estabelece entre a manifestação corporal, nas suas mais variadas formas, e a organização do espaço da sala de aula. O trabalho é complementado com nossas considerações finais. Ao longo destes mais de dois anos de trabalho, a jornada mostrou-se dura, cheia de desafios inesperados, que exigiram uma reordenação constante dos rumos do trabalho. Com o passar do tempo pude perceber que estava em um ambiente rico em experiências educativas, repleto de questões que se entrelaçavam e ajudavam a configurar a escola. Por muitas vezes, me senti perdido. Outras, me senti confuso. No fim, percebi que estava completamente envolvido pela Educação Infantil, por seus sujeitos e práticas. A experiência que eu vivi durante essa pesquisa é impossível de ser retratada neste trabalho. Temo que o recorte desta investigação deixe escapar a riqueza dos dados, como a água que escapa pelos dedos. Desculpo-me, desde já, pela limitação do trabalho. Mas, de toda forma, aqui está o resultado de um longo esforço de compreensão do cotidiano da sala de aula da Educação Infantil. Espero que este possa contribuir para a melhoria de nossa pré-escola. Desejo a todos uma boa leitura.
reduziu o mundo à uma consciência que se apossa dele. Por outro lado, o empirismo reduz o mundo ao observável, a dimensão de res extensa. Essas concepções têm como consequência imediata a fragmentação do ser humano em várias partes, e a superposição da experiência cognitiva sobre a experiência sensível. Herdeiro da tradição fenomenológica, Merleau-Ponty busca, ao longo de seu trabalho, contrapor-se à tradição dualista que acompanha o pensamento ocidental. Ao encarnar a consciência no corpo, ele busca superar tanto a concepção do corpo-objeto da ciência positivista quanto o idealismo que contrapunha o corpo à alma. O corpo, nessa perspectiva, apresenta-se como campo criador de significados, pois a percepção não é mera representação mentalista, mas sim, um acontecimento da motricidade. Através da atividade corporal é possível atribuir sentidos à experiência vivida. O corpo é entendido nesse contexto como forma de ser e habitar o mundo, como diálogo / dialogicidade de um sujeito com um mundo que o suscita. A experiência da unidade nos leva a pensar o homem como totalidade, não havendo distinção entre corpo e espírito, cognição e motricidade. Pensamentos, sentimentos e ações não existem de forma dissociada, mas antes se constituem a partir de uma relação dialética entre si e o mundo. É o homem como um todo que se move em direção ao mundo e com ele estabelece processos comunicativos. Mundo este que não se constitui apenas numa realidade física, mas é também um mundo cultural, social e histórico. Anterior a qualquer elaboração mental sobre o mundo, existe um sujeito que o experiencia intencionalmente. Deste modo, o fundante de nossa experiência no mundo é a existência, que se modula em pensamento, em linguagem e em outras modalidades expressivas, revelando aquilo que é vivido pelo corpo em significações existenciais, pelo modo como nele se instala. Considerar a corporeidade na prática pedagógica significa contribuir com uma educação compreendida como um processo de formação integral do ser humano, ultrapassando os limites de uma educação que valoriza apenas o domínio de conteúdos, mas antes, é capaz de propiciar o desenvolvimento pleno do sujeito, em seus domínios afetivos, cognitivos e psicomotores. Ao iniciar este capítulo, procuramos evidenciar o corpo como uma realidade sócio- histórica e cultural, mostrando como as mudanças vividas por cada sociedade estabelecem um processo de ressignificação do corpo. Num segundo momento, buscamos apresentar o conceito de corpo fundado na existência, argumentando que o
corpóreo representa mais que a simples materialidade, pois o corpo é condição da existência humana e, dessa forma, vincula-se ao mundo da vida. Para finalizar, traçamos uma reflexão sobre as implicações que uma nova concepção de corpo pode trazer para as práticas educacionais.
1.1. A construção de sentidos para o corpo
A busca constante da compreensão de sua própria existência proporcionou à humanidade construir diferentes concepções sobre o corpo. Ao longo dos tempos, a civilização e a cultura definiram hábitos e práticas corporais, ditando formas de ser e proceder, forjando um projeto de corpo. A história do corpo na sociedade ocidental é marcada por um longo decurso de tensões e inconstâncias, o que resultou na marginalização desse corpo. Ao longo dos tempos, a sociedade sofre inúmeras mudanças na maneira de se organizar e de entender o mundo, mas não é capaz de superar a dicotomia do ser, fragmentado em várias instâncias (SANTIN, 2003; ALVES, 2004; PEREIRA e SILVA, 2008). Sendo um produto histórico e cultural, o corpo não poderia estar fora do processo de socialização e deixar de sofrer as interferências da visão de cada cultura, de cada sociedade. Como afirma Sant‟Anna (1995), o corpo expressa o que há nele e, ao mesmo tempo, o que fora dele se manifesta:
(...) lugar da biologia, das expressões psicológicas, dos receios e fantasmas culturais, o corpo é uma palavra polissêmica, uma realidade multifacetada, e sobretudo, um objeto histórico. Cada sociedade tem o seu corpo, assim como ela tem sua língua. E do mesmo modo que a língua, o corpo está submetido à gestão social tanto quanto ele a constitui e a ultrapassa (p. 12).
Soares (2002, p. 109) reafirma tal visão de corpo quando enfatiza que ele faz revelações sobre a história da sociedade a que pertence através de gestos aprendidos e internalizados, submetido a costumes e regras que cada ordem social engendra, transformado em “arquivo vivo”, “texto lido”, cuja “materialidade concentra e expõe códigos, práticas, instrumentos, repressões e liberdades”. Foucault (1986, p. 80) faz uma