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O Método Socrático, Notas de aula de Marketing

Segundo o especialista Rudi Ballreich, o método socrático é uma poderosa ferramenta para nos ajudar a desenvolver esta competência de resolução de conflitos ao ...

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Roberto_880
Roberto_880 🇧🇷

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O Método Socrático
Filosofia RAD1607 – 2015 – Prof. Calia
1. O que é o Método Socrático e como é utilizado nas organizações
Nas primeiras semanas do teu primeiro estágio e nos primeiros dias do teu primeiro
emprego, é bem provável que você presencie uma das facetas nada agradável da vida
profissional nas organizações: conflitos.
Existem conflitos entre empresas e sindicatos, entre empresas e governos, entre
empresas e ONGs e entre diferentes empresas entre si. Além destes conflitos externos,
também são abundantes os conflitos entre diferentes subsidiárias da mesma empresa
(com exceção das subsidiárias do Brasil e Argentina que quase nunca discordam...),
entre diferentes divisões e unidades de negócio, entre diferentes departamentos, além
dos “clássicos” conflitos entre marketing e produção, vendas e marketing, produção e
finanças, gestão de pessoas e produção, entre outros. Infelizmente os conflitos não se
resumem aos conflitos externos e aos conflitos entre grupos: não é raro que ocorram
conflitos entre diferentes profissionais dentro da organização (e entre os estagiários e
funcionários também...), como, por exemplo, conflitos entre chefe e subordinado e
conflitos entre colegas com o mesmo nível hierárquico.
A boa notícia, um tanto óbvia, é que se você for reconhecido como um profissional
muito capaz de resolver conflitos, provavelmente você te um diferencial bastante
valorizados pelas empresas.
Segundo o especialista Rudi Ballreich, o método socrático é uma poderosa ferramenta
para nos ajudar a desenvolver esta competência de resolução de conflitos ao nos auxiliar
a discernir em que medida os conflitos são realmente necessários ou se são meros
subprodutos de pensamentos e modelos mentais capengas, caricaturados por percepções
não representativas, opiniões enviesadas e raciocínios corroídos por pressupostos
desconectados dos fatos.
Uma vez que o ambiente organizacional é salubrizado pelas competências de resolução
de conflitos, o mesmo método socrático também nos abre espaço para desenvolvermos
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O Método Socrático

Filosofia RAD1607 – 2015 – Prof. Calia

1. O que é o Método Socrático e como é utilizado nas organizações

Nas primeiras semanas do teu primeiro estágio e nos primeiros dias do teu primeiro

emprego, é bem provável que você presencie uma das facetas nada agradável da vida

profissional nas organizações: conflitos.

Existem conflitos entre empresas e sindicatos, entre empresas e governos, entre

empresas e ONGs e entre diferentes empresas entre si. Além destes conflitos externos,

também são abundantes os conflitos entre diferentes subsidiárias da mesma empresa

(com exceção das subsidiárias do Brasil e Argentina que quase nunca discordam...),

entre diferentes divisões e unidades de negócio, entre diferentes departamentos, além

dos “clássicos” conflitos entre marketing e produção, vendas e marketing, produção e

finanças, gestão de pessoas e produção, entre outros. Infelizmente os conflitos não se

resumem aos conflitos externos e aos conflitos entre grupos: não é raro que ocorram

conflitos entre diferentes profissionais dentro da organização (e entre os estagiários e

funcionários também...), como, por exemplo, conflitos entre chefe e subordinado e

conflitos entre colegas com o mesmo nível hierárquico.

A boa notícia, um tanto óbvia, é que se você for reconhecido como um profissional

muito capaz de resolver conflitos, provavelmente você terá um diferencial bastante

valorizados pelas empresas.

Segundo o especialista Rudi Ballreich, o método socrático é uma poderosa ferramenta

para nos ajudar a desenvolver esta competência de resolução de conflitos ao nos auxiliar

a discernir em que medida os conflitos são realmente necessários ou se são meros

subprodutos de pensamentos e modelos mentais capengas, caricaturados por percepções

não representativas, opiniões enviesadas e raciocínios corroídos por pressupostos

desconectados dos fatos.

Uma vez que o ambiente organizacional é salubrizado pelas competências de resolução

de conflitos, o mesmo método socrático também nos abre espaço para desenvolvermos

uma outra competência: a competência de conduzir diálogos para ajudarmos a empresa

a construir modelos de negócio mais lógicos, mais coerentes com a realidade do

mercado e mais alinhados com os valores dos acionistas, executivos e grupos de

interesse (stakeholders) que querem determinar e influenciar os rumos da empresa.

Rudi Ballreich é um consultor de empresas na Europa como Siemens, Bosch, Porsche e

Daimler. Ele é especializado em gestão de processos de mudança, mediação de conflitos

e diálogo nas organizações. Em seu artigo “Pioneers of Dialogue” (“Pioneiros do

Diálogo”), ele descreve as contribuições de pensadores como Sócrates, Martin Buber e

David Bohm e como estas contribuições favorecem o trabalho na gestão das

organizações contemporâneas.

A seguir trechos do artigo de Rudi Ballreich sobre as contribuições de Sócrates

(tradução adaptada de Rogério Calia):

Sócrates viveu em Atenas num tempo em que a democracia estava se desenvolvendo e os cidadãos estavam ansiosos para aprender a falar em público a fim de poderem influenciar melhor a administração da cidade. Sócrates estava convencido de que a responsabilidade pela comunidade deveria ser assumida apenas pelas pessoas que conseguissem pensar de modo robusto e independente e cujos pensamentos e ações fossem originados de uma consciência avançada. Ele também não se intimidava de engajar vários tipos de profissionais nas suas discussões: políticos, generais, sacerdotes, poetas e comerciantes estimados. Nestas discussões, Sócrates checava se o conhecimento deles era fingimento ou se era realmente deles próprios. Durante os debates, com frequência ficava evidente que o seu parceiro de discussão não compreendia suas próprias afirmações. O general, por exemplo, não conseguia explicar o que é a coragem e o sacerdote não conseguia explicar o que é a fé. Sócrates fazia perguntas e questionava os conhecimentos aceitos. A sua principal pergunta era: “O que é...?” Por exemplo, “O que é coragem?”. Os seus parceiros nas discussões inicialmente respondiam esta pergunta a partir de um nível básico com exemplos de coragem que

E Sócrates estava ciente do quinto nível, o qual estava presente nele: a luz da consciência e da deliberação com a qual ele iluminava os processos do entendimento e da ignorância por meio do diálogo. Sócrates queria ensinar os atenienses a subir por todos os cinco passos de modo que eles fossem capazes de “fazer bem” em todas as situações, por meio da deliberação e por meio da própria compreensão. O diálogo é a arena de aprendizagem na qual os parceiros de conversa podem chacoalhar uns ao outros para subirem a níveis mais elevados do despertar da luz da consciência e deliberação. Rudi Ballreich conclui a sua análise sobre Sócrates, indicando de que modo o método socrático pode ajudar na administração de organizações: A prática de questionar para gerar consciência, como Sócrates a iniciou, pode proporcionar estímulo valioso no trabalho em disputas e conflitos. Isso porque, afinal, a mediação consiste de “examinar” pontos de vista, opiniões e convicções e “acordar” a pessoa para se livrar de crenças, pensamentos, sentimentos e vontades fixas.

Quanto mais conseguimos despertar a “luz da consciência e deliberação”, tanto melhor as partes envolvidas na disputa serão capazes de encontrar uma solução compartilhada.

2. Diálogos Socráticos sobre a Coragem (“Laques” de Platão)

Obviamente, foi Sócrates quem desenvolveu o método socrático, no entanto, a tradição

filosófica relata que Sócrates não deixou livros nem artigos escritos por ele mesmo.

Quem assumiu a tarefa de registrar os diálogos de Sócrates foram os seus alunos,

sobretudo o seu aluno Platão.

A seguir, leremos trechos de um dos Diálogos Socráticos escrito por Platão, o Diálogo

intitulado “Laques” (o nome de um general grego), para ilustrarmos duas das cinco

competências de raciocínio crítico esquematizadas por Rudi Ballreich em sua análise

sobre o método socrático: a competência de identificar percepções não representativas e

a competência de identificar opiniões não coerentes com os fatos relevantes.

No diálogo socrático “Laques” de Platão, dois cidadãos que foram filhos de famosos

estadistas atenienses estavam em grande dúvida sobre o melhor modo para educar os

seus filhos na profissão de guerreiros. Para definir o melhor modelo de educação, eles

procuraram o aconselhamento de dois generais, sendo que um destes, Laques, insistiu

para que também pedissem ajuda a Sócrates para descobrirem o melhor meio para

educar os futuros guerreiros.

Sócrates considera que o propósito da formação profissional de um guerreiro seja a

formação da virtude da coragem. Na concepção da Grécia Clássica, virtude é a

excelência (em grego, virtude ou excelência é denominada aretê). Por isso, uma vez que

se compreenda no que consiste a virtude da coragem, seria mais fácil, por decorrência,

identificar como educar os jovens nesta importante dimensão da excelência profissional

dos guerreiros.

A seguir, trechos do diálogo socrático “Laques” de Platão (tradução de Rogério Calia a

partir das versões em inglês, alemão e espanhol, as quais são traduções do texto original

em grego):

SÓCRATES: E agora, Laques, você poderia tentar me dizer novamente, qual é essa qualidade comum que é chamada de coragem e que inclui todos os vários usos deste termo quando utilizado tanto para o prazer como para a dor e em todos os demais casos que eu citei agora? LAQUES: Eu diria que a coragem é um tipo de persistência mental, é isso que eu diria para expressar a natureza universal presente em todos estes casos. SÓCRATES: Mas isso é o que temos que fazer para responder à pergunta. No entanto, eu não posso dizer que todo o tipo de persistência possa ser considerado coragem em minha opinião. Ouça o meu motivo: tenho certeza, Laques, que você consideraria a coragem como uma qualidade muito nobre. LAQUES: A mais nobre, certamente. SÓCRATES: E você diria que uma persistência sábia também é boa e nobre? LAQUES: Muito nobre. SÓCRATES: E o que você diria de uma persistência tola? Não teria que ser considerada, por outro lado, como ruim e prejudicial? LAQUES: Verdade. SÓCRATES: E existe alguma coisa nobre que seja ruim e prejudicial? LAQUES: Eu não diria isto, Sócrates. SÓCRATES: Então você não admitiria que um tipo de persistência não nobre seja considerada coragem, já que a coragem é nobre? LAQUES: Você está certo. SÓCRATES: Porque, de acordo com você, apenas a persistência sabia é coragem. LAQUES: Verdade. SÓCRATES: Novamente, pense no caso de alguém que é persistente na guerra e está disposto a lutar e sabiamente calcula e sabe que outros virão para ajuda-lo e que haverá homens em menor quantidade e de pior qualidade contra ele do que os homens que lutarão com ele e imagina que ele também conta com vantagens de posição, você diria que quem é mais corajoso: o homem que tem persistência com toda esta

sabedoria e preparação ou algum homem do exército oponente e nas circunstâncias opostas que mesmo assim tem persistência e se mantém em seu posto? LAQUES: Eu diria que este último é mais corajoso, Sócrates. SÓCRATES: Mas, certamente, esta é uma persistência tola em comparação com a outra? LAQUES: Isso é verdade.

Estes trechos ilustram bem os dois primeiros níveis do método socrático segundo o

esquema de Rudi Ballreich.

Na primeira tentativa de definir o que é a competência da coragem, o general Laques se

limita a percepções não representativas: segundo ele, a percepção de um guerreiro que

se mantém em seu posto de batalha sem fugir. Para demonstrar que este exemplo

específico não é representativo, Sócrates simplesmente retrata um exemplo contrário: o

caso dos espartanos que não permaneceram em seus postos, chegaram a fugir e depois

retornaram em venceram a batalha em movimento e não parados em seus postos.

Na segunda tentativa, Laques busca expressar uma opinião sobre a natureza da coragem

que abarque vários diferentes exemplos e situações: guerra, mar, pobreza, doença e luta

contra os desejos. Para ele, em todos estes contextos, a coragem é a persistência mental.

No entanto, Sócrates demonstra que a persistência mental pode ocorrer em situações

bem pouco inteligentes, o que seria incongruente com o conceito de excelência,

competência e virtude em geral, assim como com a competência e virtude específica

representada pela coragem.

REFERÊNCIA

Ballreich, R. (2006): Pioneers of Dialogue. http://trigon.at/en/mediathek/downloads/07_konfliktmanagement/Pioneers_of_dialogue.pdf