





Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
A abordagem somática, uma aproximação holística para o estudo do corpo humano, que redefine a compreensão da postura e do funcionamento muscular. O método das cadeias musculares e articulares é apresentado como uma abordagem consistente com esta aproximação, oferecendo novas perspectivas sobre o corpo humano e sua interconexão psicomotora. Os métodos feldenkrais, alexander, consciência cinética e eutonia são citados como exemplos de abordagens somáticas. O texto enfatiza a importância de uma visão de unidade do ser humano e oferece um maior conhecimento corporal ao aluno/paciente.
Tipologia: Notas de estudo
1 / 9
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
Adriane Vieira* Resumo / Abstract A abordagem somática, difundida por pesquisadores americanos, tem-se dedicado à investigação de propostas corporais que divergem das práticas tradicionais, redimensionando a compreensão de corpo nas áreas de Educação Física e Fisioterapia. O método de Cadeias Musculares e Articulares, condizente com tal abordagem, propõe novas leituras do corpo humano, visualizando-o na sua complexidade. Nesse método, considera-se que os problemas posturais não são decorrentes de uma ação inadequada de músculos isolados, mas de um conjunto de fatores que se relacionam à totalidade psicomotora e à vivência do indivíduo no decorrer dos anos. Valoriza-se a visão de unidade do ser humano e proporciona-se um maior conhecimento corporal ao aluno/paciente, permitindo- lhe cuidar de si mesmo. Trata-se, sobretudo, de uma proposta preventiva que objetiva o bem-estar do indivíduo através de uma visão holística. The somatic approach taken by american researchers deals with corporal proposals that are different from traditional practices. The understanding of the body differs from those in Physiotherapy and Physical Education. The method of Muscular and /\rticulate Chainsm accord with the somatic approach considers the complexity of the body. In this method, one considers that postural problems are not due to an inadequate action of isolated muscles. Postural problems are considered as the result of a set of factors which relate to the psychomotor situation of a person as a whole and the person history. A human being is taken as a unity and a better knowledge of the body is offered to the pupil/patient so that he/she can take care of him/herself. It is a preventive approach that aims the well-being of the individual though a holistic approach. INTRODUÇÃO A cada década surgem novas propostas para se trabalhar o corpo humano, dentre elas algumas valorizam uma visão holística do ser humano. Interessados em melhor conhecer e fundamentar as prerrogativas daquelas que procuram realizar uma abordagem mais globalizada do ser humano, pesquisadores americanos vêm estudando, através da abor- dagem somática, diferentes métodos, dentre eles Feldenkrais (Feldenkrais, 1977), Técnica de Alexander (Conable & Conable, 1992), Consciência Cinética (Saltonstall, 1988) e Eutonia (Brieghel & Müller, 1987). Apesar de cada um desses métodos apresentar peculiari- dades e propostas próprias, possuem uma mes- ma concepção a respeito do ser humano, a de uma unidade complexa e perceptiva. O método de Cadeias Musculares e Ar- ticulares de Godelieve Denys-Struyf propõe
uma atuação terapêutica que tem por objetivo devolver o bem-estar perdido ou permitir aos interessados um maior conhecimento sobre si mesmo. Para isso, visualizou diversos aspec- tos do ser humano com intuito de, ao relacioná- los, ter uma compreensão mais ampla do mes- mo. O objetivo deste ensaio é divulgar algu- mas das idéias defendidas por Denys-Strayf e relacioná-las à abordagem somática. a abordagem somática, que segue dois cami- nhos: um de cunho filosófico e outro direcio- nado à fundamentação de práticas corporais dentro de uma temática holística. Hanna (1986a, 1988) foi o autor que mais se desta- cou na definição e denominação da mesma; outros autores importantes são Johnson (1992), Gomez (1988b), Kleinman (1990) e Juhan (1987). O método de Cadeias Musculares e Articulares de Godelieve Denys- Struyf propõe uma atuação terapêutica que tem por objetivo devolver o bem-estar perdido ou permitir aos interessados um maior conhecimento sobre si mesmo. A ABORDAGEM SOMÁTICA Encontram-se vigentes, na atualidade, dois modelos de saúde: o biomédico e o holístico (Ramos,1994). O modelo biomédico predomina em todas as áreas da saúde desde o fim do século XIX, tendo como ênfase a pes- quisa experimental, a nosografia e a determi- nação dos padrões fisiológicos de saúde (me- didas de pressão arterial, temperatura e outros). Busca-se uma etiologia específica para cada doença, bem como o uso de laboratórios e tecnologias avançadas, o que vêm permitindo um avanço constante na descoberta de trata- mentos e na identificação de novas patologias (Ramos, 1994). Mas, como salienta Gusdorf (1978), com o surgimento de áreas especia- lizadas houve a fragmentação do ser humano em sistemas relacionados, porém relativamente independentes, fato esse que distanciou os pro- fissionais do território unificado da saúde hu- mana. Na segunda metade do século XX, sur- ge o modelo holístico, que procura abordar o ser humano como um todo, pois considera os sistemas interdependentes. Esse modelo está vinculado a paradigmas pós-positivistas e os métodos de pesquisa utilizados são normal- mente qualitativos, onde os resultados não são generalizados, mas concebidos e estudados em profundidade. Segundo Pietroni (1988), a pa- lavra holismo foi usada primeiramente no li- vro de Smuts Holism and Evolution em 1928, para descrever as filosofias que levam em con- sideração os sistemas como um todo e não so- mente as suas partes. Smuts sugeriu que é im- portante estudar a maneira como as partes es- tão relacionadas, da mesma forma que é fun- damental estudá-las separadamente. Nos Estados Unidos, na década de 70, pesquisadores envolvidos com questões cor- porais se vincularam ao modelo holístico e desenvolveram o que hoje é conhecido como Hanna (1988) privilegia a perspectiva da primeira pessoa, pela qual a ênfase é dada às percepções internas do indivíduo, ou seja, ao corpo vivo, ao corpo abordado de dentro para fora, favorecendo a tomada de consciên- cia do indivíduo. Na abordagem tradicional, valoriza-se a perspectiva da terceira pessoa, de fora para dentro, predominando as percep- ções do terapeuta. Johnson (1992) considera que isso se deve ao avanço da Medicina e das áreas de especialização, na qual a responsabi- lidade e o saber sobre nossa saúde e bem-estar foram entregues ao profissional da saúde; desconsiderando-se, assim, as percepções do indivíduo. Ele também considera necessário que essa visão mude, de maneira que o "paci- ente" tenha voz ativa em relação ao seu corpo, e que no processo terapêutico ambos assumam ter conhecimento sobre o que está sendo ava- liado. Como destaca Kleinman (1990), a somática valoriza nossa fonte essencial de co- nhecimento: nós mesmos. No livro Viver Holístico, Pietroni (1988) ressalta que medidas preventivas são mais efi- cazes e menos perigosas que as terapias "cu- rativas" e "recuperadoras". Gomez (1988b) enfatiza que a prática somática permite, atra- vés das vivências corporais, o despertar das sensações internas e da consciência cines- tésica, e, por conseguinte, o controle e a ativa- ção dos mecanismos de auto-regulação corpo- ral que evitam o surgimento de patologias. Quando o corpo é considerado um ob- jeto separado do sujeito, tal qual ocorre no paradigma cartesiano, não é válido acessar a subjetividade do outro; mas, na abordagem somática, que se vincula a paradigmas pós- positivistas e métodos qualitativos, a subjeti- vidade passa ao status de fonte de dados. Em relação ao corpo, é abordado como um media- dor, pois, como afirma Luijpen (1973), não temos um corpo, e sim somos um corpo^1 ; as- sim, não se separa objeto e sujeito, mudando- se a maneira de compreender essa unidade.
Na abordagem tradicional, valori- za-se a perspectiva da terceira pessoa, de fora para den- tro, predominando as percepções do terapeuta. percorrer vários segmentos através dos encai- xes articulares que determinam sua interde- pendência. O método Mezierista, desenvolvido por Mézières na década de 60, salientou a idéia de solidariedade muscular através da noção de que um segmento em sofrimento é tão-somente a expressão particular de um conjunto de ano- malias, sendo que a causa deve ser tratada em níveis freqüentemente muito distantes do pro- blema que preocupa o paciente. Segundo Denys-Struyf (1995b), Mézières considerava que a causa primária das deformidades eram as lordoses, e estruturou seu trabalho com base na tensão existente nos músculos posteriores responsáveis pela manutenção da postura es- tática^6 — os quais chamou de cadeia muscu- lar posterior — juntamente com os músculos rotadores internos da coxo-femural e o mús- culo diafragma^7. Para tratar essas alterações, fazia-se necessário alongar a cadeia posterior inteira, não adiantando alongar apenas um dos músculos desse conjunto, pois, se assim se fi- zesse, haveria compensações e, com isso, não se atingiria a principal causa do problema. Denys-Struyf (1991,1995a), concordan- te com os pressupostos dos métodos citados acima, desenvolveu seu próprio método, po- rém, diferentemente dos seus precursores, sua proposta foi de desenvolver uma abordagem mais individualizada da mecânica humana. Ademais, interessou-se em relacionar os cons- tituintes psicológicos, a estrutura corporal do indivíduo e suas influências no processo terapêutico. Pelo estudo minucioso das formas do corpo humano, chegou à teoria de que ha- viam cinco biotipologias de base que deveri- am ser consideradas na avaliação e na conduta terapêutica. Dez unidades de complexo muscular foram por ela conceitualizadas — cinco de cada lado do corpo, indo da cabeça às mãos e aos pés, conhecidas por Cadeias Musculares, ou Cadeias de Tensão Mio- fasciaP. Essas cadeias foram definidas como um conjunto de músculos solidários entre si pelo fato de encontrarem-se interligados por aponeuroses e serem recrutados, em seqüên- cia, pelo reflexo miotático. Elas determinam, assim, a interdependência de todas as partes do corpo. São designadas de acordo com seu posicionamento no corpo: ântero-mediana (AM), póstero-mediana (PM), póstero-anteri- or-ântero-posterior (PAAP), ântero-lateral (AL) e póstero-lateral (PL) [Figura ]]. Denys-Struyf (1991, 1995a) dividiu as cinco cadeias musculares em dois grupos, de acordo com a ação predominante dos múscu- los que as compõem; também relacionou a gestualidade e a postura corporal com as ca- racterísticas psíquicas de seus pacientes, pois observou que a dominância de uma determi- nada cadeia muscular correspondia, normal- mente, a uma atitude psíquica^9 específica. Em resumo, pode-se dizer que:
Figurai. Desenho esquemático dos músculos que compõem as cinco cadeias musculares (Denys-Struyf, 1995a).
Figura 2. Representação gráfica da tensão predominante nas cadeia muscular PM, PAAP e AM em relação ao fio de prumo ( Denys-Struyf, 1995a). Figura 3. Representação gráfica da tensão predominante nas cadeias musculares PL e AL (Denys- Struyf, 1995a).
O Método de Cadeias Musculares e Articulares opta por não fragmentá- lo na abordagem terapêutica; além disso, valoriza a participação do sujeito no processo terapêutico com o intuito de torná-lo consciente do trabalho realizado e possibi/ita-lhe uma aprendizagem e o conseqüente domí- nio do eu corporal. autônomo e capaz de prevenir problemas pos- teriores. O indivíduo deve ter consciência da sua gestualidade e utilizá-la adequadamente, caso contrário, poderá criar alterações na sua estrutura corporal e expandi-las por todo o corpo através das interligações do tecido con- juntivo, causando problemas ou patologias que influenciarão a sua unidade. No Método de Cadeias Musculares e Articulares, há uma proposta de análise da biotipologia que auxilia o terapeuta a compre- ender a estrutura psicocorporal do indivíduo. Na abordagem somática, a ênfase é dada ao discurso e ação na primeira pessoa do singu- lar. Esses dois aspectos enriquecem o proces- so terapêutico e, por isso, devem ser utiliza- dos; o primeiro, porque traz mais subsídios ao terapeuta para compreender o sujeito; o se- gundo, porque solicita uma participação ativa desse no tratamento. Hanna (1988) enfatiza que qualquer abordagem terapêutica que não inclua a visão somática (primeira pessoa) e a visão fisioló- gica (terceira pessoa) é enganosa. O indiví- duo pode tornar-se vítima de forças físicas e orgânicas, mas é também capaz de reagir e mudar a si mesmo. Assim, deve-se escutar o sujeito para perceber suas necessidades e ter conhecimento técnico para responder a tal de- manda. "O ponto de vista somático complementa e completa a visão científica do ser humano, tornando possível uma ciência autêntica que reconhece a totalidade humana: tanto o lado do eu consciente e do eu responsável, como o externamente observável lado 'corporal' ". (Hanna, 1988, p21) Denys-Struyf (1995a) participa da visão de Hanna ao defender a idéia de que "o corpo é uma linguagem " e que o importante é estar em condições de ver, ouvir, compreender e responder às mensagens gestuais e posturais do indivíduo, pois essas são "palavras" que, se ouvidas e compreendidas, contribuem para aliviar o desconforto humano, podendo con- duzir à reconstrução da unidade psicocorporal harmoniosa do indivíduo. Para tanto, defende um estudo minucioso da estrutura corporal do indivíduo e a participação do mesmo no pro- cesso terapêutico: "Além de uma abordagem mais individualiza- da, o método G.D.S. propõe a cada um, sobretudo, a possibilidade de CUIDAR DE SI MESMO". (Denys- Struyf, 1995a, p. 15) No momento, é difícil afirmar se o mé- todo de Cadeias Musculares e Articulares, as- sim como seus percursores, tal qual são de- fendidos na atualidade, sejam vigentes por muito tempo, pois a tendência é haver uma evolução contínua de conhecimentos que po- dem ampliar ou refutar tais pressupostos. Po- rém, é inegável sua contribuição para constru- ção de uma visão mais unificada do ser huma- no, tendência essa que é cada vez mais corren- te nas diferentes teorias que intentam conhe- cer o humano, ainda tão complexo, para nós, na sua constituição. Expandem-se, assim, a várias áreas re- lacionadas ao movimento — em especial à Fisioterapia e à Educação Física — as possi- bilidades de conceber e elaborar práticas cor- porais, na qual a individualidade e subjetivi- dade do aluno/paciente são respeitadas, viabilizando por isso uma abordagem mais unificada e participativa do ser humano. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERTHERAT, T. O Corpo Tem Suas Razões: Antiginástica e Consciência de Si. 10.ed. São Paulo: Martins Fontes,
DE NEGRI, L. Self-Perception and the Learning of Movement Skill in Dance and in Synchronized Swimming: The Effects of a Somatic Approach. Dissertação de doutorado, The Ohio State University, 1995. DENYS-STRUYF, G. Les Chaine Musculaires et Articulaires (4. ed.) ICTGDS, 1991. __. Cadeias Musculares e Articulares: O Método G.D.S. São Paulo: Summus, 1995a. __. Le Manuel du Méz.ièriste. Paris: Frison-Roche, 1995b. GOMEZ, N. Movement, Body and Awareness: Exploring Somatic Processes. Montreal: Université de Montreal, GUSDORF, G. A Agonia da Nossa Civilização. São Paulo: Con- vívio, 1978. HANNA, T. What is Somatics? Somatics: Magazine-Journal of the Bodily Arts and Sciences, v.5, n.4, p.4-8, 1986a. __. Somatics: Reawakening the Mind's Control of Movement, Flexibility, and Health. Massachusetts: Addison-Wesley, JOHNSON, D. Body. North Atlantic Books, 1983-92. JUHAN, D. Job's Body: A Hardbook for Bodywork. Station Hill, 1987.