










Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
Este documento discute o importante papel da educação infantil na ampliação da capacidade de comunicação de crianças de cinco anos, com ênfase na importância da linguagem oral e da leitura. O autor apresenta a literatura de cordel como uma ferramenta eficaz para o desenvolvimento da oralidade e do vocabulário infantil, baseado em observações de crianças em uma escola particular. O texto também discute a importância da sensibilização da sociedade para a educação de qualidade para crianças desde o nascimento.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de estudo
Compartilhado em 07/11/2022
4.6
(84)74 documentos
1 / 18
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
Prof.ª Dr.ª IRENE DA SILVA COELHO^3
RESUMO O presente artigo analisa uma situação de letramento via gênero do Cordel na educação infantil. Trata-se de uma pesquisa que observa quais contribuições esse gênero pode propiciar ao educando em relação à ampliação de sua capacidade intelectual e o desenvolvimento da linguagem.
Palavras-Chave: Gênero, Cordel, Letramento, Linguagem, Educação Infantil.
LITERACY BY GENRE CORDEL AT EDUCATION CHILDREN FOR CHILD OF FIVE YEARS OLD
ABSTRACT This article analyzes a situation of literacy via Cordel genre in early childhood education. This is a survey which notes that this genre can provide contributions to the student in relation to the expansion of his intellectual ability and language development. Keywords: Gender, Cordel, Literacy, Language, Early Childhood Education.
INTRODUÇÃO Um dos muitos objetivos da Educação Infantil é a ampliação da capacidade de linguagem da criança - de comunicação e de seu vocabulário. A linguagem oral tem um papel importante para o desenvolvimento do letramento das crianças de 05 anos de idade, já que a criança encontra-se em uma fase de ampliação de seu vocabulário e todas as situações que envolvem a oralidade e a leitura (eventos de letramento) contribuem para que isso ocorra, desde que o professor promova situações como as citadas. A implementação de um evento de letramento depende de um professor que saiba identificar os interesses das crianças e as motive, desenvolvendo estratégias de aprendizagem e adquirindo saberes de valor nesse percurso. O Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil deixa claro que um dos objetivos a serem alcançados com as crianças de 4 a 6 anos de idade é ampliar as possibilidades de comunicação e expressão, além de oportunizar o contato com gêneros orais. Este trabalho oferecerá à criança a possibilidade de contar suas
(^1) Graduanda do curso de Pedagogia da Unisanta. (^2) Graduanda do curso de Pedagogia da Unisanta. (^3) Professora Orientadora do curso de Pedagogia da Unisanta.
vivências, ouvir as de outras pessoas, elaborar e responder perguntas. Como é de conhecimento de todos, as parlendas, os versos trava-línguas, as cantigas de roda e os jogos são amplamente aplicados na educação infantil tendo o lúdico como a principal base para a efetivação desses processos educativos e tendo o professor como mediador na maioria dessas atividades. Dentro desse contexto, aventa-se a possibilidade de que, por meio da intermediação do professor, do lúdico e da leitura de cordéis, seja possível levar o aluno a acompanhar, cantar e tomar contato com essas histórias populares, enriquecendo seu conhecimento sobre acontecimentos históricos e culturais do povo brasileiro e que também ampliem seu vocabulário. Segundo Magda Soares (2009), a leitura frequente de histórias para crianças é indispensável na educação infantil, pois é uma atividade que enriquece o vocabulário da criança e proporciona o desenvolvimento de habilidades de compreensão de textos escritos, de inferência, de avaliação e de estabelecimento de relações entre fatos. Os educandos devem ser expostos a diversos gêneros de textos na educação infantil. (SOARES, 2009). Ou seja, a literatura de cordel é mais uma opção no leque do ensino infantil e sobre o qual não existem muitos estudos a respeito. As discussões relacionadas à aplicação da Literatura de Cordel nos processos educacionais ampliaram-se de maneira considerável no ensino fundamental. Nos dias atuais, uma ampla literatura proveniente da Pedagogia e da Linguística tem voltado seu olhar para as contribuições desse tipo de literatura para a construção da aprendizagem por parte do discente. É nesse sentido que é válido afirmar que a Literatura de Cordel propicia a eclosão de novas tendências pedagógicas para o ensino, o que, por conseguinte, leva para o cenário pedagógico novos horizontes para a construção social do conhecimento. Assim, justifica-se a importância desta pesquisa e de seu ponto de partida - realizada através de leitura de artigos, textos e livros que discorrem sobre eventos de letramento, educação infantil, psicologia infantil e literatura de cordel. Esta pesquisa também tem um objetivo prático, pois vai a campo, a fim de observar como se dá a recepção pela criança do cordel – crianças de 3 salas de aula de uma escola particular, no bairro da Ponta da Praia, na cidade de Santos. Por meio dessa observação, pretende-se identificar quais são os efeitos desse evento na sala de aula. A situação envolve a leitura feita pelas professoras de
Semionovitch Vigotsky e Henry Wallon. Porém, vamos nos ater aos conceitos de Piaget sobre o tema. O autor afirma que o desenvolvimento cognitivo se dá por estágios durante períodos da infância em que há mudanças significativas na criança. Piaget constatou esse processo através da observação direta, sistemática e cuidadosa de crianças, inclusive de seus três filhos. Piaget esquematizou o desenvolvimento intelectual nos seguintes estágios:
A LINGUAGEM ORAL E A CRIANÇA DE 05 ANOS A linguagem oral é fator importante para que possamos nos comunicar e socializar é também produtora de conhecimento, e está presente em quase todos os momentos de nossa vida. Não é de hoje que a oralidade tem importância no mundo. Na Grécia antiga, principalmente em Atenas, a liberdade era um fator primordial, mas também ser racional, falar bem, argumentar - cultivava-se a ideia de um homem ideal, o orador. Dentro da educação ateniense, o conhecimento do belo, da verdade e do bem eram de extrema importância. O humanismo ateniense dividia a educação em três
categorias: a escola primária, a educação artística e o ensino superior. Mas era no ensino superior que se estudava a retórica que nada mais era que a arte do bem falar, que se dividia em três operações: procurar o que vai se falar ou escrever; ordenar as ideias encontradas; utilizar termos apropriados para expor as ideias. Nos dias atuais, muitos estudiosos, políticos, líderes, utilizam ou utilizaram a comunicação oral para atingir seu público, para chegar ao seu objetivo. Para desenvolver com sucesso a oralidade, é necessário que essa habilidade seja desenvolvida desde a educação infantil. A aprendizagem da linguagem oral e escrita é um dos eixos básicos na educação infantil devido sua importância para a formação social, interação e desenvolvimento do pensamento.
A educação infantil, ao promover experiências significativas de aprendizagem da língua, por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita, se constitui em um dos espaços de ampliação das capacidades de comunicação e expressão e de acesso ao mundo letrado pelas crianças. Essa ampliação está relacionada ao desenvolvimento gradativo das capacidades associadas às quatro competências linguísticas básicas: falar, escutar, ler e escrever. (RCNEI – VOLUME 1, 1998, p.117). Em grande parte das escolas de educação infantil, as atividades voltadas à linguagem oral, quase sempre ficam restritas à roda de conversa: sentar as crianças ao redor do professor e este lê uma história que pode ou não ser comentada pelas crianças - geralmente, as crianças respondem em conjunto apenas um questionamento sobre a leitura. É preciso que os pequenos sejam estimulados, pois quando há uma participação ativa nas atividades, há um melhor desenvolvimento da linguagem.
Quanto mais as crianças puderem falar em situações diferentes, como contar o que lhes aconteceu em casa, contar histórias, dar um recado, explicar um jogo ou pedir uma informação, mais poderão desenvolver suas capacidades comunicativas de maneira significativa. (RCNEI – VOLUME 1, 1998, p. 121). A linguagem oral abre caminhos para que as crianças consigam se expressar demonstrar suas intenções, comunicar ideias. A oralidade e a escrita se completam, uma não existe sem a outra, para tanto, o Referencial Curricular Nacional Para Educação Infantil (1998) afirma que, para as crianças de 04 a 06 anos, os conteúdos as serem apresentados são divididos em três blocos: falar e escutar, práticas de leitura e práticas de escrita.
comunicação, porém quando acontecem atividades comuns, como pequenas discussões. No terceiro estágio, já há troca de informações, discussões, discordância, pontos de vista, justificativas e também concordância. “À medida que a criança aprende novas palavras e novas formas de reuni-las, modifica-se a natureza de seu pensamento; à medida que obtém novos conceitos, altera-se a estrutura de sua linguagem”. (BARROS apud LOURENÇO FILHO, 1950, p.114).
LETRAMENTO O termo letramento no Brasil, em Portugal e na França surgiu nos anos de
Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais concepções psicológicas, lingüísticas e psicolingüísticas de leitura e escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita – a alfabetização – e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita – o letramento. (SOARES, 2004, p.14) A alfabetização e letramento são indissociáveis, mas são de naturezas diferentes, têm formas, processos e aprendizagens diferenciados. Mas ainda assim, mesmo com a literatura sobre alfabetização e letramento bastante avançados e designando qual é a função de um e de outro.
Dentro desse contexto é necessário falarmos, também, de eventos de letramento , que são situações de práticas situadas em participam pessoas com diferentes saberes: a leitura de uma história - o professor, que é o intermediário, faz perguntas durante todo o contar da história para que os alunos consigam se situar, interpretar com o objetivo de construir um sentido. Para sintetizar sua ideia de alfabetização e letramento, Magda Soares (2004) definiu quatro propostas: reconhecer a especificidade da alfabetização como processo de apropriação e aquisição da escrita; a importância que a alfabetização se desenvolva no processo de letramento; reconhecimento da alfabetização e letramento em diferentes dimensões; rever a formação profissional dos professores, dado o fracasso escolar na aprendizagem da língua escrita nas escolas nacionais.
MIKHAIL BAKHTIN E OS GÊNEROS Mikhail Mikhailovich Bakhtin foi um pensador / pesquisador, nascido na Rússia em 1895 na província de Orel e faleceu em Moscou no ano de 1975. Bakhtin pertenceu a uma nobre família russa em decadência que primava à educação da família, devido a isso ele e seu irmão foram apresentados e inseridos na cultura europeia para que tivessem uma educação de qualidade. Chegando a universidade, Bakhtin matriculou-se no curso de estudos clássicos da faculdade Filológico – Histórica. Foi neste momento que até então o estudante, passou-se a interessar-se pelos estudos da literatura e da linguagem através dos círculos intelectuais que ele participara, pois foi determinante para o desenvolvimento a respeito das teorias que no futuro ele haveria de estudar e defender. As teorias e conceitos estudados pelo russo foram: Dialogismo; Gêneros discursivos; Vozes do discurso; Cronotopo; Exotopia; e também Realismo grotesco e carnavalização. Já sabemos que Bakhtin foi um importante filósofo e estudioso da literatura e da linguagem, foi também responsável por aplicar pela primeira vez a palavra gênero num sentido mais abrangente, por isso Bakhtin e os gêneros discursivos são a nossa base para entendermos um pouco mais sobre esse estudo. Para Bakhtin, textos escritos ou orais produzidos por nós, apresentam uma série de características estáveis, tenhamos consciência delas ou não e podem ser
Para desenvolver o gênero do cordel com as crianças de 05 anos, iniciaremos pelo gênero primário (oral), pois ainda não são alfabetizadas, porém apresentando a literatura de cordel e fazendo leitura dos livros que desrespeitem ao assunto, automaticamente as crianças terão contato com o gênero secundário (escrito), pois a literatura de cordel é um gênero literário e relata a realidade cultural do povo do nordeste do Brasil. O fato é que nós educadores devemos utilizar o gênero através de uma visão ampla, digamos assim, com uma visão bakhtiniana, pois com essa amplitude ajudaremos a enriquecer a capacidade dos alunos em relação à produção de textos orais e escritos e ainda a melhora na recepção, na leitura, na compreensão e interpretação dos textos.
O CORDEL A literatura de cordel já existia desde o Renascimento, quando se popularizou a impressão de relatos orais. Chegou a Portugal e a Espanha por volta do século XVI. Na península Ibérica, tinham o nome de, pliegos sueltos, folhas soltas ou volantes. Foram os portugueses que trouxeram os cordéis para o Brasil já no período da colonização, ainda como poesia oral, mas foi somente no século XIX que os folhetos passaram a ser impressos aqui no país. Os cordéis se fixaram mais fortemente no Nordeste do Brasil, principalmente no estado da Bahia, depois se espalhou pelo restante dos estados nordestinos e do Norte também. Os folhetos de cordéis são narrações de histórias populares do cotidiano. Nesses folhetos narram-se histórias de amor, aventuras, folclores entre muitas outras que se pode imaginar, esse gênero está enraizado na cultura folclórica e literária do país. Os textos de cordel são versados, tem musicalidade e também tem como estrofe básica as sextilhas, que são estrofes de seis versos, com o segundo, o quarto e o sexto versos rimados. Muito utilizadas em duelos e em grandes histórias. Há uma característica muito marcante nos cordéis que são as xilogravuras, são desenhos fortes, rústicos, feitos em uma matriz de madeira que depois são passados para o papel, são gravuras que representam a história e tornam os versos muito mais atraentes para as crianças.
Muitos escritores ficaram famosos com seu trabalho de cordelistas, alguns dos mais conhecidos são: Leandro Gomes de Barros, Patativa do Assaré, Arievaldo Viana, entre muitos outros. Todos são nascidos no nordeste brasileiro.
A Literatura de cordel é a poesia popular, herdeira do romanceiro tradicional, e, em linhas gerais, da literatura oral (em especial dos contos populares, com predominância dos contos de encantamento ou maravilhosos). É a literatura que reaproveita temas da tradição oral, com raízes no trovadorismo medieval lusitano, continuadora das canções de gesta, mas também espelho social de seu tempo. (FARIAS, 2010, p.3) A literatura de cordel pode contribuir para uma educação voltada para a realidade na medida em que apresenta a criança uma visão do mundo, que pode se assemelhar ou não a sua, e também estimular o desenvolvimento cognitivo, para o desenvolvimento da oralidade nas crianças pequenas.
A ampliação de sua capacidade de comunicação oral ocorre gradativamente, por meio de um processo de idas e vindas que envolvem tanto a participação das crianças nas conversas cotidianas, em situações de escuta e canto de músicas, em brincadeiras etc., como a participação em situações mais formais de uso da linguagem, como aquelas que envolvem a leitura de textos diversos. (RCNEI – VOLUME 1, 1998, p. 127).
METODOLOGIA A pesquisa foi desenvolvida em uma escola particular de Santos, no bairro da Ponta da Praia cujo nome não será citado, conforme termo de consentimento livre assinado pelos participantes. Essa escola faz parte de uma rede ampla de ensino distribuída por todo o país e que atende desde a educação infantil até a universidade. A escola é frequentada por alunos de famílias de classe média alta e alguns poucos têm bolsas de estudos. O sistema de ensino é apostilado e apresenta orientações e atividades para que os professores as utilizem com seus alunos. Na educação infantil, respeita-se o ritmo de cada aluno. A abordagem de ensino é mista e apresenta características tanto da vertente sociointeracionista como tradicional. A criança dessa faixa etária é exposta a parlendas, músicas e poesias, mas sempre é valorizada a bagagem que esses alunos trazem. A oralidade também é um quesito presente na proposta pedagógica do colégio, a abordagem enfatiza a reflexão sobre a linguagem.
Propusemos que as professoras lessem um conto infantil em cordel durante um evento de letramento em que a atividade de leitura seria o ponto de partida e a oralidade o ponto de chegada e que pudéssemos observar essa atividade. Os livros propostos foram: A peleja de chapeuzinho vermelho com o Lobo mau em alusão ao conto infantil Chapeuzinho Vermelho e também o Coelho e o Jabuti, uma adaptação em cordel do conto A Lebre e a Tartaruga - todos de autoria de Arievaldo Viana, da editora Globo. Durante a atividade, ficamos na sala acompanhando e registrando o processo. Descrevemos a seguir os procedimentos e encaminhamentos feitos pelas professoras das três salas. Sala 1 A professora chamou seus alunos e avisou que era o dia de ler para eles, logo eles se excitaram e já foram se organizando e colocando almofadas ao seu redor. A professora sentou num canto da sala, os discentes sentaram junto às almofadas e a docente reapresentou esse gênero para seus alunos, pois ela já tinha lido cordel para eles. Ela explicou que era um livro diferente e o que significava o cordel. Após esse momento iniciou a leitura de forma bastante lúdica. Sala 2 A docente juntou seus alunos e explicou que hoje era o dia da “roda da leitura”. Ela pediu ajuda para as crianças ajudá-la a arrumar a sala para que ocorresse o evento. As crianças já ficaram empolgadas assim que a professora citou o nome do livro e explicou que se tratava de um cordel. Elas nunca haviam tido contato com esse gênero. Logo a professora iniciou a leitura, bastante expressiva, respeitando as rimas. Isso tornou a leitura bastante empolgante. Sala 3 A professora organizou toda a sala para ocorrer a leitura do livro e anunciou que iria ler um livro, cujo o gênero já conheciam, o cordel. Porém, aquela história ainda não havia lido. Ela informou novamente o que era o cordel e começou a ler. Fez a leitura de forma bastante clara e com uma entonação bastante forte, fazendo com que a leitura se tornasse bastante atrativa. Os resultados da atividade são comentados a seguir.
ANÁLISE E DISCUSSÃO
O gênero do cordel ainda não é amplamente conhecido apesar de ser uma ferramenta com várias possibilidades de aprendizagem. Em todo momento da atividade as crianças ficavam surpresas com as palavras diferentes que apareciam no texto e questionavam a professora sobre tal palavra. Outros aspectos que chamaram a atenção das crianças foram as rimas e a musicalidade. Elas notaram algo familiar no texto e muitas delas fizeram relação com uma aula que tiveram dias antes sobre poemas. Em todas as salas de aula, todas as crianças mostraram prazer, alegria e interesse na literatura de cordel, muitas delas prestaram atenção no tipo de desenho e acharam diferentes, mas apreciaram fortemente esse gênero. Após a leitura, as docentes fizeram várias perguntas sobre a história contada, sobre o desenho dos livros e das palavras, automaticamente, a atividade transformou-se em um debate, no qual as crianças tentavam entender algumas palavras e queriam saber de onde vieram estas palavras e por que elas eram diferentes. A curiosidade e a conversação estavam presentes nas três salas de aula observadas. Verificamos nessa pesquisa o quão importante é o gênero de cordel e como é uma ferramenta eficaz no desenvolvimento da oralidade da criança de cinco anos, pois se encontra num estágio que questiona, fala, expõe suas opiniões. O gênero cordel contribuiu para que isso ocorresse e estimulasse a criança a se comunicar. O que se tem percebido é que de alguns poucos anos para cá, as pessoas têm ouvido falar mais sobre o cordel. Talvez até devido a um meio de comunicação de massa extremamente utilizado pelos brasileiros, a televisão. A emissora Globo, em torno de 3 anos lançou a novela Cordel Encantado, que relatava uma história de amor, entre uma princesa europeia desaparecida e um nordestino. Acredito que aí tenha sido um grande salto, uma abertura para que os telespectadores soubessem o que é o cordel. A editora Globo também lançou livros de Arievaldo Viana, os contos infantis: A peleja de chapeuzinho vermelho com o lobo mau, O coelho e o jabuti e o João Bocó e o Ganso de Ouro. No RCNEI (1998), percebemos que há sim uma preocupação com a linguagem oral e escrita dos pequeninos. No referencial falam sobre as várias maneiras de influenciar a oralidade e a escrita das crianças, procedimentos, materiais a serem utilizados, porém, mais uma vez, a literatura de cordel fica de fora.
Como já dissemos, a proposta foi observar o comportamento das crianças, principalmente o modo como utilizavam a linguagem durante e após a leitura. As crianças ficaram extasiadas, curiosas, felizes ao ouvir as histórias e depois fazer perguntas e comentários. É preciso esclarecer que o interesse delas está vinculado ao professor, à boa vontade e à prática dessas docentes na hora da leitura. Durante o processo, os alunos: fizeram questão de tirar as dúvidas sobre as palavras: perceberam a rima e sua repetição; conseguiram relacionar o cordel com a história original - no caso, a narrativa (o conto). O resultado, portanto, foi o que esperávamos: o cordel pode e deve ser utilizado como ferramenta em eventos de letramento para o desenvolvimento da oralidade para crianças de 05 anos de idade, pois se encontram em um estágio que lhes permite compreender o funcionamento do gênero e sua relação com a cultura. Acreditamos que uma escola que tenha uma boa relação com sua equipe pedagógica, pode produzir eventos de letramento nos quais o gênero de cordel esteja envolvido. Não somente leituras e debates, mas a fabricação de livrinhos de cordéis, releitura de xilogravuras e saraus. É aproveitar essa fase propícia da criança, momento em que ocorre a ampliação do vocabulário e aprimorar ainda mais a comunicação e a expressão da criança.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Roberta M. Literatura de Cordel: Por que e para que trabalhar em sala de aula. Fórum Identidades. Sergipe, n. 4. p. 103-109. Jul / Dez 2008.
AUGUSTO, Silvana. As crianças e o universo dos Cordéis. Revista Avisa Lá. São Paulo, n. 22. p. 25-33, abr 2005.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BARROS, Célia Silva G. Psicologia e Construtivismo. 1 ed. São Paulo: Ática, 2002.
BRASIL, Literatura de Cordel e Escola. Brasília, DF, 2010.
BRASIL, Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. (3 Vols). Brasília, DF, 1998.
BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa. Brasília, DF,
BRASIL, Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Parecer CNE/CEB Nº: 20/2009.
CALHADO, Cynthia. Ler por prazer no ritmo do cordel. Revista Nova Escola. São Paulo, SP.
DALBEN, Ângela e outros (Org.). Coleção didática e prática de ensino. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. 632 p.
FERRAZ SANTOS, Carmi e outros (Org.). Diversidade Textual – Os Gêneros na sala de aula, 1 ed. Brasil, 2006. 134 p.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 23 ed. São Paulo: Cortez, 1989.
GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógica. 3 ed. São Paulo: Ática, 1995.
GOULART, Cecília Maria A. Letramento e modos de ser letrado: Discutindo a base teórico – metodológica de um estudo. Universidade Federal Fluminense.
JESUS DA SILVA, Marinês & VALIENGO, Amanda. O desenvolvimento da oralidade na educação infantil. Interfaces , Suzano, n. 2. p. 21-24, Out 2010.
KLEIMAN, Ângela B. (Org.). Os Significados do letramento: uma perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1995.
KLEIMAN, Ângela B. Preciso “ensinar” o letramento? Não basta ensinar a ler e a escrever? BRASIL, 2005 http://www.iel.unicamp.brcefielalfaletrasbiblioteca/professorarquivos5710.pdf acessado em 17/09/2013.
Leite, Francisco B. Mikhail Mikhailovich Bakhtin: breve biografia e alguns conceitos.
NOGUEIRA, Angela M. Origens e características da literatura de Cordel. 2009. Artigo (Licenciatura Plena em Letras / Inglês). Faculdade Integradas Ariquemes – FIAR.
OLIVEIRA GALVÃO, Ana Maria de & GOMES BATISTA, Antônio Augusto de. Oralidade e Escrita: Uma revisão. Minas Gerais, 2005.
OLIVEIRA GALVÃO, Ana Maria de. Cordel: leitores e ouvintes. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
RADINO, Glória. Oralidade, um estado de escritura. Maringá, PR, 2001.