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Documento traduzido por jorge maricato em 2013 apresenta os personagens e diálogo de 'as quinze linhas', uma peça de teatro escrita por anton chekhov. Os personagens incluem liubov andreevna ranévskaya, ania, varia, leônid andreiêvitch gaév, iermolai alexeiêvitch lopakhin, trofímov, boris borissovitch simeonov-pishchin, charlota ivanóvna, siméon panteleievitch epihodov, avdótya (duniasha), fiers, iacha, e fierson. O texto apresenta os personagens entrando e saindo da sala, falando entre si e realizando ações. Os personagens discutem o arranjo de terras, casamentos, jovens e velhos, e a vida em geral.
O que você vai aprender
Tipologia: Exercícios
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Versão: 1.
Escrito por Anton Tchékhov - 1904 Traduzido por Jorge Maricato - 2013
● LIUBOV ANDRÊIEVNA RANÉVSKAI (Madame RANÉVSKAI), a proprietária das terras ● ÂNIA, sua filha, 17 anos ● VÁRIA (BÁRBARA MIHAILÓVNA), sua filha adotada, 27 anos ● LEÔNID ANDREIÊVITCH GAÉV, Irmão de madame Ranévskai ● IERMOLAI ALEXEIÊVITCH LOPAKHIN, um comerciante ● PIOTR SERGEIÊVITCH TROFÍMOV (PÉTIA), um estudante ● BÓRIS BORISSOVITCH SIMEONOV-PISCHIN, um proprietário de terras ● CHARLOTA IVANÓVNA, uma governanta ● SÍMEON PANTELEIÊVITCH IEPIKHODOV, um escriturário ● DUNIACHA (AVDÓTIA FEDORÓVNA), uma criada ● FIERS, um velho servo, 87 anos ● IACHA, um servo novo ● Um vagabundo ● Um chefe de estação de trem ● Um carteiro ● Convidados ● Um servo
A peça ocorre no patrimônio de madame RANÉVSKAI.
LOPAKHIN. E você, Duniacha, traz para mim um kvass.
DUNIACHA. Está bem. [ Sai .]
IEPIKHODOV. Está um gelo essa manhã, três graus abaixo de zero e as cerejeiras estão todas floridas. Não posso aprovar nosso clima. [ Suspira ] Não posso. Nosso clima está contra nós até dessa vez. E, Iermolai Alexeiêvitch, permita-me mencionar apenas este tópico de suma importância, comprei essas botas há dois dias e eu garanto que elas rangem de uma maneira insuportável. O que eu deveria colocar nelas?
LOPAKHIN. Vá embora, não me aborreça.
IEPIKHODOV. Alguns infortúnios acontecem comigo todos os dias. Mas eu não reclamo. Eu me acostumei a eles e até sorrio. [DUNIACHA entra e traz o kvass de LOPAKHIN] Devo ir. [ Tromba em uma cadeira ] Olha... [ Triunfante ] Veja, foi só eu falar e aconteceu novamente, simplesmente indescritível. [ Sai. ]
DUNIACHA. Eu preciso lhe confessar, Iermolai Alexeiêvitch, que o Iepikhodov me pediu em casamento.
LOPAKHIN. Ah!
DUNIACHA. Eu não sei o que fazer a respeito. Ele é um rapaz bom, mas mesmo agora, desde sempre, quando ele começa a falar, eu não entendo uma palavra do que diz. Eu acho que gosto dele. Ele está louco de amor por mim. Que homem azarado, todo dia alguma coisa lhe acontece. Nós brincamos com ele sobre isso. Chamamos ele de “Vinte-e-duas desgraças”.
LOPAKHIN. [ Escuta ] Eles chegaram, eu acho.
DUNIACHA. Eles chegaram! O que eu tenho? Estou congelando.
LOPAKHIN. Eles estão aqui, finalmente. Vamos encontrar eles. Será que ela me reconhecerá? Não nos vemos há cinco anos.
DUNIACHA. [ Entusiasmada ] Eu vou desmaiar em qualquer instante... Oh, estou desmaiando!
Duas carruagens são ouvidas dirigindo-se para a casa. LOPAKHIN e DUNIACHA saem rapidamente. O palco está vazio. Um barulho começa na sala ao lado. FIERS , usando uma bengala, anda rapidamente atravessando o palco; ele vai de encontro a LIUBOV ANDRÊIEVNA_. Ele veste um antiquado uniforme e um chapéu grande, resmunga um monte, mas nenhuma palavra é entendida. O barulho fora do palco fica cada vez maior. Uma voz é ouvida: “Vamos entrar ali.”._
Entra LIUBOV ANDRÊIEVNA , ÂNIA , e CHARLOTA IVANÓVNA com um cachorrinho preso em uma corrente e todas usando roupas de viagem. VÁRIA entra usando um longo casaco e um lenço na
cabeça. Entram também: GAÉV , SIMEONOV-PISCHIN , LOPAKHIN , DUNIACHA com malas e guarda-chuvas, e um servo com bagagens - todos cruzam a sala.
ÂNIA. Venha, por aqui. Você se lembra deste quarto, mamãe?
LIUBOV. [ Alegremente, em lágrimas ] O berçário!
VÁRIA. Está muito frio! Minhas mãos estão dormentes. [ Para LIUBOV ANDRÊIEVNA] Seus quartos, o branco e o violeta, estão exatamente como eram, mamãe.
LIUBOV. Meu querido berçário, oh, que quarto maravilhoso... Eu costumava dormir aqui quando era um bebê. [ Chora ] E aqui é como se eu fosse uma garotinha novamente. [ Beija seu irmão, VÁRIA , e então, seu irmão novamente ] E Vária, igualzinha antigamente, como uma freira. E eu me lembro de você Duniacha. [ Beija-a .]
GAÉV. O trem se atrasou duas horas. E agora; onde está a pontualidade?
CHARLOTA. [ Para PISCHIN] Meu cachorro come nozes também.
PISCHIN. [ Surpreso ] Não acredito?!
Todos vão para os aposentos, saindo de cena, exceto ÂNIA e DUNIACHA_._
DUNIACHA. Nós te esperamos tanto!
Tira casaco e chapéu de ÂNIA_._
ÂNIA. Eu não dormi nada em quatro dias de viagem... Estou congelando.
DUNIACHA. Você foi embora durante a Quaresma, quando estava nevando e geando, mas agora? Querida! [ Ri e beija-a ] Nós tivemos que esperar por você, minha alegria, meu docinho... Eu preciso te dizer uma coisa, não posso esperar mais nem um minuto.
ÂNIA. [ Cansada ] Alguma coisa... Agora...?
DUNIACHA. O escriturário, Iepikhodov, pediu-me em casamento na Páscoa.
ÂNIA. Sempre o mesmo... [ Alisa o cabelo ] Eu perdi todos os meus grampos...
ÂNIA está muito cansada, e cambaleia enquanto anda.
DUNIACHA. Eu não sei o que pensar sobre. Ele me ama, ele me ama muito!
VÁRIA. Eu vi o miserável.
ÂNIA. E os negócios, como vão? Os juros já foram pagos?
VÁRIA. Sem chance de isso acontecer.
ÂNIA. Oh Deus, oh Deus...
VÁRIA. A propriedade será vendida em Agosto.
ÂNIA. Oh Deus...
LOPAKHIN. [ Põe a cabeça na porta e bale ] MÉÉÉÉ! [ Sai. ]
VÁRIA. [ Chorando ] Eu gostaria de… [ Balança o pulso, ameaçando-o. ]
ÂNIA. [ Envolve com os braços VÁRIA , carinhosamente ] Vária, ele te pediu em casamento? [VÁRIA nega com a cabeça ] Mas ele te ama... Porque vocês não acertam os ponteiros? O que você está esperando?
VÁRIA. Eu acho que isso não dará em nada. Ele é um homem ocupado. Não se importa comigo... Ele não presta atenção em nada que eu digo. Deus o abençoe, mas eu não quero vê-lo... Entretanto, todo mundo não para de falar do nosso casamento, todos me dão os parabéns e não existe nada entre nós, é como um pesadelo. [ Em outro tom ] Você tem um broche de abelha.
ÂNIA. [ Tristemente ] Mãe comprou. [ Caminha pelo quarto e fala fino, como uma criança ] Em Paris eu voei de balão!
VÁRIA. Minha querida voltou mesmo, minha lindinha está de volta! [DUNIACHA retorna com a cafeteira, VÁRIA fica de pé perto da porta ] Eu ando o dia todo pela casa, cuidando dela e pensando sempre, se você casasse com um homem rico, então eu seria feliz e poderia ir embora para outro lugar por conta própria, depois seguiria para Kiev... Até Moscou, partiria em uma jornada missionária de lugar para o outro. Magnífico!
ÂNIA. Os pássaros estão cantando no jardim. Que horas são?
VÁRIA. Deve ser quase três. Hora de dormir, querida. [ Entra no quarto de ÂNIA] Magnífico!
Entra IACHA com um xale xadrez e uma bagagem de viagem.
IACHA. [ Cruzando o palco delicadamente ] Poderia eu passar por aqui?
DUNIACHA. Eu mal reconheci você, Iacha! Você mudou muito no estrangeiro!
IACHA. Hm... E quem é você?
DUNIACHA. Quando você se foi, eu era apenas dessa altura. [ Mostrando com as mãos ] Eu sou Duniacha, a filha de Fiódr Kozoiédov. Você não se lembra!
IACHA. Oh, um pepinozinho!
Olha ao redor e agarra-a. Ela grita e derruba um pires. IACHA sai rapidamente.
VÁRIA. [ No corredor: com uma voz brava ] O que foi isso?
DUNIACHA. [ Em lágrimas ] Eu quebrei um pires.
VÁRIA. Tudo bem, pode trazer sorte.
ÂNIA [ Saindo do quarto dela ] Nós precisamos falar a mamãezinha que Pétia está aqui.
VÁRIA. Eu disse para não acordarem ele.
ÂNIA. [ Pensativa ] Papai morreu há seis anos, um mês depois, meu irmão Grisha se afogou no rio - um pequeno menino de sete anos! Mamãe não pôde aguentar isso; foi embora, para longe, sem olhar para trás... [ Estremece ] Como eu a entendo; se ela soubesse! [ Pausa ] E Pétia Trofímov era tutor de Grisha, ele deveria dizer a ela...
Entra FIERS com um paletó e colete branco.
FIERS. [ Vai até a cafeteira, nervoso ] A senhora comerá aqui... [ Coloca luvas brancas ] O café está pronto? [ Para DUNIACHA , severo ] Você! Onde está o creme?
DUNIACHA. Ai meu Deus...! [ Sai rapidamente ]
FIERS. [ Reclamando com a cafeteira ] Seu vale-nada... [ Resmunga para si mesmo ] De volta de Paris... O patrão veio de volta de Paris uma vez... Em uma carruagem... [ Ri ]
VÁRIA. Do que você está falando, Fiers?
FIERS. Perdão madame? [ Alegre ] A senhora está em casa novamente. Eu vivi somente para vê-la! Não me importo em morrer agora... [ Lágrimas de alegria. ]
Entra LIUBOV ANDRÊIEVNA, GAÉV, LOPAKHIN, e SIMEONOV-PISCHIN, este último com um longo casaco fino e roupas soltas. GAÉV entra movendo seus braços como se estivesse jogando bilhar.
LIUBOV. Deixe-me lembrar. A vermelha e azul no canto, a branca e verde no centro!
GAÉV. Ele escuta cada dia menos.
LOPAKHIN. Bem, preciso ir para Kharkiv no trem das cinco. Sinto muito! Eu deveria ficar mais, para colocar o assunto em dia... Você está bonita como sempre.
PISCHIN. [ Respira fundo ] Ainda mais bonita... Vestida como uma parisiense... Nos deixa até envergonhados.
LOPAKHIN. Seu irmão, Leônid Andreiêvitch, disse que eu sou um avarento, um agiota, mas eu não sou assim. Deixa eu falar. A única coisa que eu desejo é que confie em mim como antes, com aqueles olhos maravilhosos, que você me olhava antigamente. Deus todo poderoso! Meu pai serviu o seu avô, e seu próprio pai, mas você - mais do que todos - fez tanto por mim naquele tempo que eu esqueci absolutamente tudo e amo você como se pertencesse a minha família... Ou até mais.
LIUBOV. Eu não posso ficar sentada, não estou me aguentando. [ Pula e anda rapidamente e excitada ] Eu não vou sobreviver à essa felicidade... Você pode rir de mim; Eu sou uma mulher tola... Meu criado- mudo. [ Beija o criado-mudo ] Minha mesinha.
GAÉV. A babá morreu enquanto você estava fora.
LIUBOV. [ Senta-se e bebe café ] Sim, que Deus a abençoe. Fiquei sabendo por cartas.
GAÉV. E Anastássio morreu também. Piotr Kosoy me deixou e está morando na cidade com um Comissário de Polícia. [ Abre um pacote de jujubas e coloca na boca. ]
PISCHIN. Minha filha, Dachenka, manda lembranças.
LOPAKHIN. Eu quero dizer algo muito agradável, muito interessante, para você. [ Olha para seu relógio ] Eu estou indo embora, não tenho muito tempo... Mas preciso te dizer tudo, gastarei apenas uma ou duas palavrinhas. Como você já sabe, o cerejal será vendido para pagar suas dívidas, e a venda foi fixada para o dia 22 de agosto; mas você não precisa se preocupar, madame, pode dormir em paz; existe uma saída. Esse é meu plano, por favor, escute com atenção! Sua propriedade está apenas a vinte quilômetros da cidade, o trilho de trem passa por ela paralelamente, se dividirmos o cerejal e o terreno perto do rio em vários lotes e arrendarmos para casas de verão, pagarão pelo menos vinte e cinco mil rublos por ano.
GAÉV. Mas que absurdo!
LIUBOV. Eu não estou entendendo você, Iermolai Alexeiêvitch.
LOPAKHIN. Você terá vinte e cinco rublos por ano para cada três acres de cada arrendatário, no mínimo, escuta meu conselho! Eu aposto que você não terá um lote vago no outono; todos serão arrendados. Em uma frase: está salva. Eu lhe dou os parabéns. Mas, claro, você precisa começar a arrumar tudo, a preparar o terreno... Por exemplo, você terá que derrubar esses prédios velhos, essa casa, que não vale mais nada e terá que derrubar o cerejal...
LIUBOV. Derrubar? Meu caro amigo, você precisa me desculpar, mas eu não estou entendendo absolutamente nada. Se existe algo realmente interessante e impressionante em toda província, é nosso jardim das cerejeiras.
LOPAKHIN. A única coisa impressionante no cerejal, é que é muito grande. Ele só dá cerejas a cada dois anos, e então não tem nada para fazer com elas, ninguém compra nenhuma.
GAÉV. Esse Jardim é mencionado na Enciclopédia Russa.
LOPAKHIN. [ Olha o relógio ] Se não pensarmos em nada, nem fizermos nada, então no dia 22 de agosto, tanto o cerejal, quanto toda a propriedade, serão vendidos. Se decidam logo! Eu juro que não existe outra saída, eu juro.
FIERS. Antigamente, quarenta ou cinquenta anos atrás, eles secavam as cerejas, as embebiam e cortavam, faziam geleias, que eram usadas para...
GAÉV. Silêncio, Fiers!
FIERS. E agora, nós mandávamos cerejas secas para Moscou e Kharkiv. E dinheiro! E as cerejas secas eram tão macias, doces e tinham um aroma delicioso... Eles sabiam como fazer antigamente...
LIUBOV. E por que não fazem mais isso?
FIERS. Eles esqueceram. Ninguém mais se lembra.
PISCHIN. [ Para LIUBOV ANDRÊIEVNA] E sobre Paris? Em? Você comeu rãs?
LIUBOV. Comi crocodilos.
PISCHIN. Não acredito?!
LOPAKHIN. Antes, nas vilas, existiam apenas os aristocratas e os trabalhadores, agora as pessoas que vivem nas cidades chegaram. Todas cidades possuem vilas ao redor. As pessoas sentam-se na sua varanda e bebem chá, mas com o passar do tempo, vão querer cultivar seu próprio pedaço de terra, e então seu cerejal será um lugar mais feliz, rico, esplêndido...
GAÉV. [ Bravo ] Que ideia horrorosa!
Entra VÁRIA e IACHA.
VÁRIA. Tem dois telegramas para você, mamãezinha. [ Usa uma chave para abrir um antigo criado- mudo, a fechadura range alto ] Aqui estão.
LOPAKHIN. Com licença, Charlota Ivanóvna, não cumprimentei a senhora ainda. [ Tenta beijar sua mão. ]
CHARLOTA. [ Tira a mão ] Se eu deixar beijar minha mão, então irá querer beijar o cotovelo, ombros e então...
LOPAKHIN. Hoje é meu dia de sorte! [ Todos riem ] Mostre para nós um truque Charlota Ivanóvna!
LIUBOV. Charlota faça um truque.
CHARLOTA. Não será necessário. Vou para a cama. [ Saí. ]
LOPAKHIN. Bom, nos veremos em três semanas. [ Beija a mão de LIUBOV] Agora, tchau, hora de ir. [ Para GAÉV] Até logo. [ Beija PISCHIN] Au revoir. [ Beija a mão de VÁRIA , então para FIERS e IACHA] Eu não gostaria de ir embora. [ Para LIUBOV]. Se você pensar no loteamento e decidir sobre isto, me avise, eu consigo um empréstimo de cinquenta mil rublos de uma vez só. Pense seriamente sobre isto.
VÁRIA. [ Nervosa ] Vai logo embora!
LOPAKHIN. Estou indo, estou indo... [ Sai. ]
GAÉV. Pretensioso! Oh, perdão minha sobrinha... Vária se casará com ele, é o futuro noivo dela.
VÁRIA. Para de falar nisso, titio.
LIUBOV. Porque não, Vária? Eu ficaria bastante feliz. Ele é um bom homem.
PISCHIN. Para ser honesto... Ele é um homem rico... E minha Dachenka... Também disse... Ela disse um monte de coisas. [ Dorme, ronca e acorda novamente ] Mas ainda assim estimada madame, seria possível você me emprestar... Duzentos e cinquenta rublos... Preciso pagar minha hipoteca amanhã...
VÁRIA. [ Apavorada ] Nós não temos nada! Não temos!
LIUBOV. É verdade. Não temos nada.
PISCHIN. Tudo bem [ Ri ] Eu nunca perco a esperança. Eu costumava a pensar “Tudo está perdido agora, sou um homem morto”, quando veio o governo e construiu a trilha do trem bem nas minhas terras... Me pagaram por isso. Algo vai acontecer hoje ou amanhã. Danchenka pode ganhar vinte mil rublos... Ela tem um bilhete de loteria.
LIUBOV. O café acabou, podemos ir dormir.
FIERS. [ Escova as calças de GAÉV ; em um tom de insistência ] Você colocou as calças erradas de novo. O que eu faço com você?
VÁRIA. [ Sussurrando ] Ânia dormiu. [ Abre a janela silenciosamente ] O sol já nasceu; não está mais frio. Olhe mamãezinha: que árvores lindas! E o ar! Os pássaros já estão cantando!
GAÉV. [ Abre a outra janela ] O jardim está inteiro branco. Diz que você não esqueceu Luluba? Essa avenida, reta, reta como uma lança e que brilha em uma noite prateada de luar. Você se lembra? Você não se esqueceu não?
LIUBOV. [ Sai para o jardim ] Oh, minha infância, época da inocência! Nesse berçário eu costumava dormir; costumava a olhar daqui o jardim. A felicidade costumava me acordar toda manhã, e é exatamente como hoje em dia, nada mudou. [ Ri com muita alegria ] Está tudo branco! Oh, meu jardim! Depois dos outonos escuros e invernos frios, você feliz novamente, cheio de alegria, os anjos não te abandonaram... Se eu pudesse tirar o fardo pesado do meu peito e dos meus ombros, se eu pudesse esquecer o meu passado!
GAÉV. Sim, e será vendido este jardim para pagar as dívidas. É inacreditável!
LIUBOV. Olhe, é mamãe, morta indo para o jardim... Vestida de branco! [ Ri alegremente ] É ela.
GAÉV. Onde?
VÁRIA. Deus te abençoe mãezinha.
LIUBOV. Não tem ninguém ali; Pensei ter visto alguém. Na direita ali, perto da casa de veraneio, uma pequena árvore branca curvada, igualzinha uma mulher. [ Entra TROFÍMOV em um uniforme de estudante e com óculos ] Que jardim maravilhoso! Um montão de flores brancas, um céu azul...
TROFÍMOV. Liubov Andrêievna! [ Ela olha para ele ] Eu apenas queria dizer que estou por aqui e já vou embora. [ Beija as mãos de LIUBOV calorosamente ] Disseram para eu esperar até amanhã de manhã, mas eu não tive paciência. [LIUBOV ANDRÊIEVNA olha, surpresa. ]
VÁRIA. [ Chorando ] É o Pétia Trofímov.
TROFÍMOV. Pétia Trofímov, tutor do seu filho Grisha... Estou tão irreconhecível assim?
LIUBOV ANDRÊIEVNA o abraça e chora suavemente.
GAÉV. [ Confuso ] Já chega, já chega Luluba.
VÁRIA. [ Chorando ] Mas eu lhe disse Pétia, para esperar até amanhã.
LIUBOV. Meu Grisha... Meu menino... Grisha... Meu filho.
VÁRIA. [ Para IACHA] Sua mãe veio da vila; ela está sentada lá no quarto dos criados desde ontem, e quer vê-lo...
IACHA. Só o que faltava!
VÁRIA. Olha como fala, homem sem vergonha.
IACHA. Inútil a vinda dela tão cedo. Ela poderia ter vindo amanhã. [ Sai. ]
VÁRIA. Mamãe não se conserta, ela continua a mesma de sempre. Daria tudo que temos, sem dó, se essa ideia simplesmente passasse pela sua cabeça.
GAÉV. Sim... [ Pausa ] Eu particularmente acredito que: se para uma doença existem muitos remédios, pode ter certeza que é incurável. Eu penso noite e dia, tenho vários remédios, muitos, um monte, ou seja: nenhum. Poderíamos herdar uma fortuna de alguém, ou casar a Ânia com um rapaz bem rico, também seria interessante ir para Iaroslav e conversar com minha tia, a Condessa. Minha tia sim, é muito, muito rica.
VÁRIA. [ Chorando ] Só Deus para nos ajudar.
GAÉV. Não chore. Minha tia é muito rica, mas não gosta de nós. Minha irmã, em primeiro lugar, casou- se com um advogadozinho, não um homem nobre... [ÂNIA aparece na porta ] Ela não apenas se casou com um homem de classe inferior, mas ela mesma começou a se comportar de um jeito que eu nem descreveria como “apropriado”. Ela é adorável, gentil e charmosa, e sou muito apegado a ela, mas por mais que eu saliente suas virtudes, preciso admitir sua imoralidade, posso sentir em cada movimento dela.
VÁRIA. [ Sussurrando ] Ânia está na porta.
GAÉV. Sério? [ Pausa ] Nossa, que estranho, algo entrou no meu olho direito... Não estou enxergando bem... E na quinta, quando eu estava no tribunal...
Entra ÂNIA.
VÁRIA. Por que não está na cama, Ânia?
ÂNIA. Não consigo dormir.
GAÉV. Minha querida! [ Beija o rosto e as mãos de ÂNIA] Minha criança... [ Chorando ] Você não é minha sobrinha, é meu anjo, você é meu tudo... Diz que acredita, diz...
ÂNIA. Eu acredito em você, titio. Todo mundo te ama e respeita o senhor... Mas titio querido, você deveria ficar quieto, não falar tanto. O que você estava dizendo agora mesmo de minha mãe, sua própria irmã? Por que disse aquelas coisas todas?
GAÉV. Sim, sim [ Cobre seu rosto com as mãos de ÂNIA] Sim, realmente, foi horrível. Eu não tenho salvação. Agora mesmo, fiz um discurso para essa estante... Foi tão bobo! E somente quando eu terminei, percebi quão bobo estava sendo aquilo.
VÁRIA. Sim, titio querido, você deveria mesmo falar menos. Fica quietinho, é melhor.
ÂNIA. Você seria tão mais feliz se ficasse quieto.
GAÉV. Está certo, ficarei quieto. [ Beija as mãos de ambas ] Eu ficarei quieto. Mas falemos de negócios. Na quinta eu estava no tribunal e tinha um monte de gente lá, começamos a conversar disso, aquilo, daquele outro e agora eu acho que posso arrumar um empréstimo para pagarmos os juros do banco.
VÁRIA. Se Deus quiser!
GAÉV. Terça eu volto lá. Falarei com eles novamente. [ Para VÁRIA] Para de lamentar. [ Para ÂNIA] Sua mãe falará com Lopakhin, ele claro, não negará nada a ela... E você quando estiver descansada visitará a condessa em Iaroslav, sua tia-avó. Daremos três tacadas ao mesmo tempo, uma bola encaçapamos, estaremos seguros. Vamos pagar os juros, estou certo disso. [ Põe uma jujuba na boca ] Eu juro pela minha honra, ou qualquer coisa que quiserem, que essa propriedade não será vendida! [ Animadamente ] Eu juro pela minha felicidade! Aqui, está minha mão. Vocês podem me chamar de mal caráter, calhorda se essa casa for para leilão! Eu juro pelo meu último fio de cabelo!
ÂNIA. [ Calma e feliz novamente ] Você é tão bom e esperto, titio. [ Abraça ele ] Eu estou feliz agora! Estou feliz! Está tudo bem!
Entra FIERS_._
FIERS. [ Em tom de censura ] Leônid Andreiêvitch, não teme mais a Deus? Ainda não foi para a cama?
GAÉV. Estou indo, estou indo. Vai na frente, Fiers, eu me dispo sozinho. Bem, crianças, tchauzinho...! Eu darei todos os detalhes amanhã, mas vamos para a cama agora. [ Beija ÂNIA e VÁRIA] Eu sou um homem da década de oitenta, época do Czar Alexandre III... As pessoas não gostam muito daquele tempo, mas eu posso dizer que sofri pelo que eu acreditava. Os camponeses não me amam à toa, eu lhes garanto. Precisamos saber lidar com os camponeses! Devemos aprender a...
ÂNIA. Você está fazendo aquilo de novo, tio!
VÁRIA. Quietinho, titio!
FIERS. [ Irritado ] Leônid Andreiêvitch!
GAÉV. Estou indo, estou indo... Vou dormir agora. Três bolas bem na boca da caçapa! Eu me viro e me preparo para uma tacada...
No campo. Um antigo, santuário arqueado que está abandonado há um bom tempo; perto, existem grandes pedras, que aparentemente são velhos túmulos, e um velho banco no jardim. Na estrada, é possível ver a morada de GAÉV_. Em um dos lados existem vários álamos negros, neste ponto começa o jardim das cerejeiras. Á distância: uma porção de postes de telégrafos e longe, muito longe, no horizonte, sinais de uma grande cidade em névoa, que só poderá ser vista claramente em um dia ensolarado e claro. Está próximo do pôr do sol._ CHARLOTA , IACHA , e DUNIACHA estão sentadas no banco. IEPIKHODOV de pé, toca um violão; todos parecem pensativos. CHARLOTA veste um velho quepe; ela tem um rifle nos ombros e está apertando a fivela na cinta.
CHARLOTA. [ Pensativa ] Eu não tenho RG¹. Não sei quantos anos tenho, acho que sou nova. Quando eu era uma garotinha, meu pai e minha mãe costumavam a ir em feiras e faziam performances ótimas, eu costumava a fazer um salto mortal e várias outras coisinhas. Quando mamãe e papai morreram, uma senhora alemã me adotou e me ensinou tudo. Eu gostei. Cresci e virei uma governanta. De onde eu vim e quem eu sou, não sei... Quem meus pais eram - talvez eles não eram casados - não sei. [ Pega um pepino do bolso e come ] Não sei nada. [ Pausa ] Eu quero falar, mas não tenho ninguém para conversar... Não tenho ninguém mesmo.
IEPIKHODOV [ Tocando o violão e cantando ] “O que me importa o barulho do mundo, Ou quem são meus amigos ou inimigos?” Ah, como é prazeroso tocar esse bandolim.
DUNIACHA. Isso é um violão, não um bandolim. [ Passa pó de maquiagem em frente a um espelho. ]
IEPIKHODOV. Para um homem loucamente apaixonado, isso é um bandolim. [ Canta. ] “Oh, então o coração estava aquecido, Por todo o calor de uma paixão recíproca.”
IACHA canta junto.
CHARLOTA. Essas pessoas cantam terrivelmente mal... Foo! Parecem chacais uivando.
DUNIACHA. [ Para IACHA] Deve ser bom morar no exterior.
IACHA. Sim, certamente. Não posso discordar de você. [ Boceja e acende um charuto. ]
IEPIKHODOV. Isso é perfeitamente claro. No estrangeiro, todas as coisas estão na complexidade máxima.
IACHA. Certamente.
IEPIKHODOV. Sou um homem culto, já li livros incríveis, porém dúvida que sempre permeia meus pensamentos, hei-a: viver ou dar um tiro na cabeça? Em qualquer caso, eu sempre porto um revólver comigo, aqui está. [ Mostra o revólver. ]
CHARLOTA. Estou farta. Agora vou embora. [ Coloca o rifle no ombro ] Você, Iepikhodov, é um homem muito esperto e muito assustador; as mulheres devem cair de amores por você. Brrr!! [ Saindo ] Esses homens espertos são todos estúpidos. Eu não tenho ninguém para conversar. Estou sempre sozinha, sozinha; Não tenho ninguém mesmo... E eu não sei quem eu sou ou que é que estou fazendo ainda viva. [ Sai lentamente. ]
IEPIKHODOV. O fato é, independente de tudo, eu devo expressar minhas impressões, onde sob todos aspectos o destino tem sido impiedoso comigo, assim como uma tempestade é com um pequeno barco. Vamos supor, apenas como exercício de imaginação, que eu esteja errado. Então porque hoje de manhã, por exemplo, eu acordei em companhia de uma aranha desta monstruosa proporção no meu peito? [ Usa ambas as mãos para mostrar o tamanho ] Fui então beber um kvass, para me acalmar, e encontrei dentro da garrafa uma desprezível e inescrupulosa criatura, algo como um besouro? [ Pausa ] Já leram Buckle, o historiador inglês? [ Pausa ] Eu preciso lhe incomodar um minuto, Avdótia Fedoróvna, para duas palavrinhas.
DUNIACHA. Pode dizer.
IEPIKHODOV. Eu prefiro, falar com você a sós. [ Suspira ]
DUNIACHA. [ Envergonhada ] Muito bem, traga então meu casaco... Está na dispensa. Está um pouco úmido aqui.
IEPIKHODOV. Muito bem... Trá-lo-ei... Agora eu sei o que fazer com meu revólver. [ Sai com o violão, tocando. ]
IACHA. Vinte-e-duas desgraças! Só entre nós, mas ele é uma besta. [ Boceja. ]
DUNIACHA. Rezo a Deus para que ele não se mate. [ Pausa ] Estou tão nervosa, estou preocupada. Eu comecei a servir esta residência quando eu era bem pequena e agora, não estou mais acostumada à vida de servo comum. E minhas mãos são tão brancas, como as de uma dama. Sou tão delicada e sensível, com medo de qualquer coisa... Estou tão assustada. Eu não sei o que vai acontecer com meus nervos se você me enganar, Iacha.
IACHA. [ Beija-a ] Meu pepinozinho lindo! Claro, uma garota precisa se dar ao respeito; não existe nada que me causa mais desgosto do que uma mulher que não sabe se comportar!
DUNIACHA. Estou perdidamente apaixonada por você; você é educado e sabe falar sobre tudo. [ Pausa. ]