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Guias e Dicas
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Caracterização de Grupo Heterogêneo em Educação Infantil, Notas de aula de Materiais

A organização de um grupo de crianças em pré-escolar e as vantagens que ela traz para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças. O texto também apresenta as ideias teóricas que sustentam a organização heterogênea de grupos em idade e a importância da participação das famílias no processo educacional.

O que você vai aprender

  • Como a teoria da zona de desenvolvimento proximal pode ajudar as crianças a aprender?
  • Como a organização heterogênea de grupos em idade pode ajudar as crianças mais novas?
  • Quais são as necessidades mais importantes do grupo de crianças segundo a educadora cooperante?
  • Quais são as vantagens de organizar grupos heterogênes em idade em pré-escolar?
  • Quais são as três condições essenciais na ação pedagógica segundo o modelo MEM?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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O GRUPO HETEROGÉNEO NO MODELO
PEDAGÓGICO DO MOVMENTO DA ESCOLA
MODERNA
Priscila Zacarias Carvalho
Relatório de Prática Profissional Supervisionada
apresentado à Escola Superior de Educação de Lisboa para
obtenção de grau de mestre em Educação Pré-Escolar
2019-2020
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O GRUPO HETEROGÉNEO NO MODELO

PEDAGÓGICO DO MOVMENTO DA ESCOLA

MODERNA

Priscila Zacarias Carvalho

Relatório de Prática Profissional Supervisionada

apresentado à Escola Superior de Educação de Lisboa para

obtenção de grau de mestre em Educação Pré-Escolar

O GRUPO HETEROGÉNEO NO MODELO

PEDAGÓGICO DO MOVIMENTO DA ESCOLA

MODERNA

Priscila Zacarias Carvalho

Relatório de Prática Profissional Supervisionada

apresentado à Escola Superior de Educação de Lisboa para

obtenção de grau de mestre em Educação Pré-Escolar

Orientadora: Professora Especialista Ana Simões

RESUMO

No âmbito da formação do Mestrado em Educação Pré-Escolar, como resultado da Prática Profissional Supervisionada I, foi elaborado o presente relatório que ilustra todo o percurso vivenciado. A ação prática decorreu ao longo de quatro meses, do dia 07 de outubro de 2019 a 24 de janeiro de 20 20 , na valência de pré-escolar. A sala de atividades era composta por um grupo de vinte e quatro crianças com idades compreendidas entre os 3 e 5 anos. Neste processo da ação pedagógica, foi possível delinear as intencionalidades educativas, assim como intervir nas diversas dimensões do processo educativo, como a observação, documentação, planeamento, avaliação. Como instrumento da prática, foi construído um portefólio ao longo do processo, como forma de suporte para a reflexão sobre a prática, com notas de campo, reflexões diárias e semanais. Como parte da ação educativa, foi realizada uma investigação em jardim de infância sendo a problemática identificada sobre a composição heterogénea do grupo numa sala de atividades que se rege pelo Movimento da Escola Moderna. O estudo teve como principal objetivo compreender de que forma esta composição heterogénea do grupo influencia o desenvolvimento e aprendizagem das crianças. Através de uma metodologia de natureza qualitativa e do método de estudo de caso, recorreu-se às seguintes técnicas de recolha de dados: observação direta (participante e não participante), consulta documental, entrevista à educadora cooperante e a aplicação de um inquérito por questionário às famílias das crianças. Os resultados obtidos permitem chegar a algumas conclusões: através das observações realizadas, as crianças com diferentes idades têm uma interação de cooperação e entreajuda, i) nos momentos da higienização; ii) nos momentos da refeição; iii) nos vários tempos da rotina como nas atividades/projetos; e iv) por incentivo do adulto. Para os pais e para a equipa educativa, a constituição do grupo de forma heterogénea é uma mais valia para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças, pois esta fomenta a cooperação e entreajuda entre as crianças, justificando que estes princípios são essenciais para uma educação de qualidade.

ABSTRACT

As part of the training of the Master in Pre-School Education, as a result of Supervised Professional Practice I, this report was prepared that illustrates the entire experience. The practical action took place over the course of four months, from October 7, 2019 to January 24, 2020, in the preschool environment. The activity room consisted of a group of twenty-four children aged between 3 and 5 years. In this process of pedagogical action, it was possible to outline educational intentions, as well as to intervene in the various dimensions of the educational process, such as observation, documentation, planning, evaluation. As a tool for practice, a portfolio was built throughout the process, as a way of supporting the reflection of the practice, with field notes, daily and weekly reflections. As part of the educational action, an investigation was carried out in a kindergarten, the problem being identified about the heterogeneous composition of the group in an activity room governed by the Modern School Movement. The main objective of the study was to understand how this heterogeneous composition of the group influences children's development and learning. Through a qualitative methodology and a case study approach, the following data collection techniques were used: direct observation (participant and non-participant). The results obtained allow us to reach some conclusions: through the observations, children with different ages have an interaction of cooperation and mutual help, i) at the moments of hygiene; ii) at meal times; iii) in the various times of the routine as in the activities / projects; and iv) by adult incentive. For parents and the educational team, the formation of the group in a heterogeneous way is an asset for the development and learning of children, as this fosters cooperation and mutual assistance between children, justifying that these principles are essential for a quality education.

    1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................
    1. CARACTERIZAÇÃO DE UMA AÇÃO EDUCATIVA CONTEXTUALIZADA
    • 2.1. O contexto socioeducativo e o meio envolvente
    • 2.2. Equipa Educativa
    • 2.3. Ambiente Educativo
    • 2.4. Crianças
    • 2.5. Famílias............................................................................................................
    1. ANÁLISE REFLEXIVA DA INTERVENÇÃO EM JARDIM DE INFÂNCIA
    • 3.1. Intenções para a ação
      • 3.1.1. Para com as crianças
      • 3.1.2. Para com a equipa educativa
      • 3.1.3. Para com as famílias
    1. INVESTIGAÇÃO EM JARDIM DE INFÂNCIA
    • 4.2. Revisão da literatura.........................................................................................
      • 4.2.1. Pressupostos teóricos
      • 4.2.2. O grupo heterogéneo no MEM
      • Infância 4.2.3. Outras perspetivas sobre a heterogeneidade dos grupos em Jardim de
    • 4.3. Roteiro metodológico e ético
    • 4.4. Apresentação e discussão dos dados
      • 4.4.1. Resultados obtidos através da observação direta
      • das crianças 4.4.2. Resultados obtidos pela aplicação do inquérito por questionário às famílias
      • cooperante........................................................................................................... 4.4.3. Resultados obtidos pela realização do inquérito por entrevista à educadora
    • 4.5. Algumas conclusões da investigação
  • INFÂNCIA 5. CONSTRUÇÃO DA PROFISSIONALIDADE DOCENTE COMO EDUCADORA DE
  • CONSIDERAÇÕES FINAIS
  • REFERÊNCIAS
  • ANEXOS.....................................................................................................................
  • ANEXO A....................................................................................................................
  • PORTEFÓLIO DA PRÁTICA PROFISIONAL SUPERVISIONADA II
  • (documento noutro anexo, por razões de confidencialidade)
  • razões de confidencialidade) ANEXO B. Avaliação aprofundada de uma criança (documento noutro anexo, por
  • ANEXO C
  • Carta de Apresentação às famílias
  • ANEXO D.
  • Pedido de autorização para a construção do portefólio da criança
  • ANEXO E....................................................................................................................
  • Guião da Entrevista à Educadora Cooperante
  • ANEXO F
  • Guião do inquérito por questionário aplicado às famílias
  • ANEXO G
  • Plano Semanal da sala de atividades
  • ANEXO H.
  • Pedido de colaboração às famílias no âmbito do Projeto realizado.............................
  • ANEXO I.
  • Organograma da organização
  • ANEXO J.
  • Categorias para a análise das situações de cooperação e entreajuda observadas
  • ANEXO K.Planificações
  • ANEXO L.
  • Roteiro ético
  • Tabela ÍNDICE DE TABELAS
  • Rotina diária do grupo de crianças................................................................................
  • Nota de campo n.º 2: Tutoria na escrita do nome:
  • Nota de campo n.º 3: Ajuda na refeição
  • Nota de campo n.º 4: Cooperação na visita de estudo
  • Nota de campo n.º 5: Iniciativa de ajuda
  • Nota de campo n.º 6: Tutoria numa atividade
  • Nota de campo n.º 7: Apoio no momento de higiene
  • Nota de campo n.º 8: Imitação de comportamento
  • Figura
  • Plano semanal de sala................................................................................................
  • Figura
  • Organograma da organização
  • Figura
  • Sementes

A prática profissional do/a educador/a de infância implica várias dimensões; neste sentido, esta primeira etapa da formação em educação pré-escolar tem como objetivo proporcionar experiências educativas, nas valências de creche e de jardim de infância. O presente relatório diz respeito à experiência educativa em contexto de jardim de infância e proporcionou a integração dos saberes teóricos adquiridos até então, com a ação educativa que o/a educador/a deve ter. Como parte da construção deste relatório, consta um portefólio que foi construído ao longo de todo o processo, como forma de documentar, registar e refletir sobre a prática. Este instrumento reflete o dia a dia de toda a minha ação (cf. Anexo A. Portefólio da Prática Profissional Supervisionada em Jardim de Infância). O processo de prática ocorreu numa instituição particular de solidariedade social, localizada num bairro pertencente a uma freguesia do concelho de Lisboa. O grupo de crianças era constituído por vinte e quatro crianças com idades compreendidas entres os 3 e os 5 anos. Assim, este relatório está organizado em três partes que retratam todo o processo de ação educativa realizado. A primeira parte é referente às caracterizações do contexto socioeducativo, que abrange todos os intervenientes do processo educativo, o contexto socioeducativo, a equipa e o ambiente educativo, as crianças e as famílias das mesmas. Estas caracterizações foram realizadas com base nas observações, notas de campo e consulta dos documentos orientadores da organização e da sala de atividades. Como resultado de uma reflexão sobre as caracterizações, apresenta-se um segundo capítulo, em que é apresentada a análise reflexiva da intervenção, com o objetivo de planear a ação conforme o contexto envolvente. Assim, fazem parte deste capítulo uma explicação das planificações realizadas, as intenções para a ação para com as crianças, as famílias e a equipa educativa. Contém, ainda, a avaliação de uma criança do grupo realizada através de um portefólio individual (Cf. Anexo B. Avaliação aprofundada de uma criança) e a avaliação global das intenções educativas indicadas anteriormente, fazendo uma reflexão sobre a concretização das mesmas. O capítulo três aborda a investigação realizada em jardim de infância. São apresentados todos os processos de investigação: a identificação da problemática (o grupo heterogéneo no modelo pedagógico MEM) assim como a sua justificação e fundamentação teórica, baseada na revisão de literatura sobre a temática em estudo. São, também, apresentadas as opções metodológicas e éticas tomadas no decorrer do processo de investigação. O capítulo termina com a apresentação e discussão dos resultados da investigação.

A segunda parte deste relatório, o capítulo quatro, corresponde a uma reflexão sobre a construção da profissionalidade docente como educador/a de infância, tendo em conta todo o percurso de formação vivido, na creche e no jardim de infância. Num último capítulo, as considerações finais, refletem, de uma forma geral, as dimensões de todo o processo de aprendizagem realizado e que se vai construindo ao longo da vida. Por fim, apresentam-se as referências utilizadas em todo o trabalho e os anexos, com informação considerada complementar.

Neste capítulo, é apresentado um panorama dos aspetos relacionados com o contexto socioeducativo que está subjacente à organização onde foi realizada a PPS II. A recolha e análise da informação foram essenciais para realizar esta caracterização.

2.1. O contexto socioeducativo e o meio envolvente

Situada numa freguesia pertencente ao concelho de Lisboa, a organização socioeducativa foi fundada em 1975 com o objetivo de dar resposta socioeducativa às famílias daquela região pelo que, no decorrer dos anos, foi se desenvolvendo como uma organização de referência. É um estabelecimento privado sem fins lucrativos, com o estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social. A organização tem uma localização privilegiada no que diz respeito ao meio envolvente: é um bairro com uma composição residencial, com algum comércio local com pequenas lojas e mercearias, um Palácio, um mercado, um jardim botânico e, nas proximidades, existem diversos locais de exposição de artes, museus entre outros recursos culturais que são utilizados com regularidade pela organização. Existem, também, algumas parcerias como, por exemplo, com a junta de freguesia, com quem se realizam atividades em conjunto, como a festa de carnaval, a título de exemplo. A junta de freguesia, segundo consta no seu site oficial, tem uma “variedade de habitantes”. Para dar resposta à população mais carenciada, conta com parceiras como a Santa Casa da Misericórdia. Ainda sob a tutela da junta de freguesia, existem várias IPSS, sendo que se destacam a Associação Portuguesa de Pais e Amigos Cidadão Deficiente Mental, onde algumas pessoas com trissomia 21 que a frequentam vão até a organização socioeducativa realizar algumas atividades gerais. O contexto socioeducativo tem uma história de 44 anos, sendo que se encontram há 14 anos nas instalações atuais, localizadas na mesma freguesia. Este espaço atual foi remodelado para poder dar resposta às valências de creche e pré-escolar. Assim, a organização socioeducativa conta atualmente com uma sala de berçário com capacidade para dez bebés, quatro salas de creche, sendo duas salas direcionadas a crianças de um ano e duas salas para crianças de dois anos. Na valência de pré-escolar, tem três salas que recebem crianças entre os três e os cinco anos de idade, tendo uma capacidade para vinte e cinco crianças por cada sala. Relativamente à gestão da organização, conforme a consulta do organograma (cf. Anexo I. organograma da organização socioeducativa), há uma assembleia geral, a que se segue um conselho fiscal. A direção pedagógica é composta por duas diretoras

técnicas, uma responsável pela valência de creche e outra pela valência de jardim de infância. De acordo com Bush (2011), o modelo em que a organização está mais próxima é o modelo colegial, pois conforme o observado e a consulta documental realizada, a gestão procura partilhar objetivos, acordos e incentiva a participação de todos os atores envolventes da organização para chegarem a um consenso. A organização conta com 130 crianças, no total; todas as salas têm uma educadora e uma auxiliar de ação educativa, exceto o berçário que conta com duas auxiliares, para além da educadora. Existe uma auxiliar polivalente que dá resposta conforme a necessidade das salas. Relativamente aos outros serviços, há duas pessoas a colaborar nos serviços administrativos, duas colaboradoras dos serviços gerais e de limpeza, uma cozinheira e um auxiliar de cozinha. É importante referir os recursos físicos que a organização dispõe. O edifico é composto por quatro pisos, tendo uma secretaria, uma sala de berçário com uma copa, uma sala de repouso do pré-escolar, um gabinete da direção pedagógica, uma sala de reuniões, uma biblioteca e uma sala de arrumações. A valência de creche tem as salas e o espaço de recreio no piso - 1, e as salas de jardim de infância estão no piso - 2, todas as salas têm grande janelas de vidro e portas que têm acesso ao espaço exterior, o recreio. Há um refeitório para as salas de jardim de infância. Ainda no espaço exterior, há uma sala que é usada para as atividades de enriquecimento curricular. A organização dispõe de atividades de enriquecimento curricular, a partir das quais se desenvolve um projeto designado “Linguagens da Arte”. Consiste em oficinas que são dinamizadas por colaboradores da área. As oficinas são, “chuva de estórias”, “arte nas mãos”, expressão musical, “o corpo que fala” e a expressão e educação motora. No seu Projeto Educativo a organização apresenta três pilares que consideram fundamental e sobre os quais é pautada toda a sua prática, (I) inspiração no Movimento da Escola Moderna, (II) componente artística e (III) envolvimento parental. Desta forma, tendo como inspiração o modelo pedagógico do Movimento da Escola Moderna, é explícita a participação ativa da criança estando esta no centro do seu desenvolvimento e aprendizagem. A missão, os valores e metas apresentados no projeto educativo estão intimamente relacionados com alguns dos princípios deste modelo. A organização tem como missão “nutrir as crianças de pensamento crítico e estético” tendo uma prática pedagógica pautada na democracia e o respeito, a participação e a colaboração (Projeto Educativo, 2019, p. 6).

que possibilita uma interação de cooperação com o professor, assim como uma partilha e observação direta das crianças nestes tempos de enriquecimento curricular.

2.3. Ambiente Educativo

O ambiente educativo é o local onde decorrem as interações sociais entre adultos, adulto-criança, criança-criança, assim como também ocorrem as interações com o espaço, os objetos e os materiais. A organização do ambiente educativo é fulcral pois este “constitui o suporte do desenvolvimento curricular” (Silva, Marques, Mata & Rosa, 2016, p. 26). Para o modelo pedagógico MEM, o espaço é visto como “iniciação às práticas de cooperação e de solidariedade de uma vida democrática. Nela, os educandos deverão criar com os seus educadores as condições materiais, afetivas e sociais para que, em comum, possam organizar um ambiente institucional”. (Niza, 2007, p. 144). A organização do ambiente educativo da sala azul tem como base as diretrizes do modelo pedagógico adotado, o MEM. Tem como princípio fundamental ser um espaço onde “as crianças e a equipa pedagógica criam as condições necessárias para a aprendizagem de todos” (Projeto curricular de sala, 2019/2020, p. 5 ). A sala azul tem um espaço amplo, com iluminação natural, tem um vidro na parede que dá visibilidade para a casa de banho, outro vidro na parede que faz divisão com a sala ao lado. Ao fundo da sala, há várias janelas grandes e uma porta que dá acesso ao espaço exterior, o recreio do jardim de infância. Nas paredes da sala, há expositores onde são colocadas as produções das crianças assim como os projetos realizados. A sala de atividades é organizada por nove áreas de aprendizagem que estão bem identificadas e delimitadas, sendo elas, (I) área polivalente, (II) biblioteca, (III) oficina da escrita, (IV) atelier das artes plásticas, (V) laboratório das ciências, (VI) laboratório da matemática, (VII) atelier dramatização, (VIII) área das construções e (IX) área de organização e pilotagem. Estas áreas são organizadas segundo as características do grupo e os princípios do MEM. No projeto curricular de sala, a equipa salienta que a organização do espaço educativo não é fixa, pode ser modificada conforme for necessário, sendo flexível tanto na disposição como ao nível dos materiais. Todo o mobiliário está ao alcance das crianças, assim como os materiais disponíveis em todas as áreas; desta forma, as crianças têm autonomia para aceder a todos os recursos disponíveis da sala. A propósito dos materiais, estes são o mais próximo da realidade social, assim como é defendido pelo MEM que devem ser “em tudo

aproximado dos ambientes de organização das sociedades adultas” (Niza, 2007, p. 151). Os instrumentos de pilotagem (o plano semanal, o diário de grupo, comunicação das aprendizagens, mapa dos responsáveis, mapa de presenças, mapa do tempo, calendário, mapa da comunicação das famílias, tabela de idades e mapa dos aniversariantes) estão expostos nas paredes da sala de atividades, mais concretamente na área de organização e pilotagem. No decorrer da PPS II; a educadora acrescentou um instrumento de pilotagem – a lista de projetos. De acordo com Folque ( 2012 ), estes instrumentos são essenciais na construção do ambiente educativo, pois “todos estes instrumentos fazem parte da organização do grupo e ajudam as crianças a integrar as suas experiências individuais no conjunto do grupo” (p. 56). À entrada da sala, afixado na porta, encontra-se o calendário mensal onde estão registadas as visitas de estudo, os dias comemorativos, as atividades comuns na organização e os dias em que são realizadas as sessões do projeto “Linguagem das Artes”. Segundo Niza (2007), o tempo no jardim de infância é dividido em duas partes: “a etapa da manhã centra-se fundamentalmente no trabalho ou na atividade eleita pelas crianças e por elas sustentada desconcentradamente pelas áreas de atividade” (p. 153). Conforme podemos verificar pela consulta da Tabela 1 (cf. página seguinte), a rotina é organizada da seguinte forma:

habituadas a falarem, que partilhem com o grupo o que se esteve a fazer durante a manhã. Como metodologia de trabalho, educadora recorre à metodologia de trabalho de projeto, uma abordagem que procura ser “uma ação planeada mentalmente para responder a uma pergunta que fizemos” (Niza, 2013, p. 152). As OCEPE (Silva et. al., 2016) defendem a realização de projetos, na medida em que “estes, ao integrarem diferentes áreas de desenvolvimento e de aprendizagem e ao mobilizarem diversas formas de saber, promovem a construção de alicerces para uma aprendizagem ao longo da vida” (p. 11). Todo o ambiente educativo é organizado de modo a proporcionar o despertar e desenvolvimento do trabalho de projeto que é defendido pelo modelo - a criança no centro da sua aprendizagem. É organizado de forma a proporcionar a participação ativa das crianças, a cooperação entre adultos, adultos-crianças e crianças-crianças, num ambiente democrático e com inspiração artística.

2.4. Crianças

Para que a ação pedagógica seja adequada, é crucial conhecer o grupo de crianças com quem vamos trabalhar. Assim, através da observação direta e indireta, consulta dos documentos orientadores de sala e, principalmente, nas interações com as crianças, conversas informais e com a realização de entrevistas à equipa da sala azul, foi possível conhecer e caracterizar o grupo de crianças com quem decorreu a PPS II. O grupo da sala azul é composto por 24 crianças com idades compreendidas entre os 3 - 5 anos de idade, sendo 12 meninos e 12 meninas. No início do ano letivo, havia ainda algumas crianças que iriam completar os 3 anos de idade até dezembro. O grupo é composto por 8 crianças de 3 anos, 10 crianças de 4 anos e por 6 crianças de 5 anos. Das 24 crianças do grupo, apenas duas vieram de outra organização. O restante grupo já frequentava a organização, sendo que 15 das crianças estavam na sala azul no ano letivo passado e 7 transitaram da sala de 2 anos para o pré-escolar. Sobre o número de irmãos/as, 10 crianças do grupo têm irmãos/as mais velhos/as ou mais novos/as. Alguns destes irmãos frequentam outras salas da organização. Para o modelo pedagógico do MEM, a organização do grupo de crianças em pré-escolar com idades diferentes é uma das três “condições essenciais na educação de infância” (Folque, 2012). Essa organização tem como objetivo “enriquecer a aprendizagem social e cognitiva das crianças” (Folque, 2012, p. 53).

Desta forma, a partir desta organização heterogénea nas idades, uma das potencialidades das crianças do grupo é a entreajuda e a iniciativa em orientar as crianças mais novas, nomeadamente as que integraram a sala este ano letivo. Em conversa com a educadora, a mesma refere que “existe pelas crianças mais velhas uma proteção e interajuda para com as crianças mais novas”. A nota de campo que se segue pretende ilustrar a situação descrita pela educadora: O SP (3 anos) faz um jogo de encaixes; quando me vê, diz: “ Priscila, podes ajudar-me a fazer o jogo? ”. Antes que eu respondesse, a VT (4 anos) que também estava sentada a fazer um jogo, diz: “ Não é assim, eu mostro como é” Levantou-se e ficou ao lado SP a mostrar como se faziam os encaixes” (Nota de campo de 14/11/19). De facto, a adaptação das crianças que entraram para a sala de atividades este ano letivo – 2019/2020, ocorreu de um modo mais tranquilo. Sendo um grupo composto por crianças de diferentes idades, encontramos, ao nível do desenvolvimento e aprendizagem, uma diversidade de competências e interesses, pelo que enriquece ainda mais as interações neste ambiente educativo. As crianças com 5 anos já conseguem escrever o seu nome e algumas crianças de 4 anos também. Algumas crianças de 3 anos demonstram interesse em tentar escrever o seu nome, pois vão até à caixa com os cartões identificadores do nome e fazem garatujas na folha em que fizeram um desenho. Há algumas crianças que demonstram um maior interesse pela área da matemática, gostam de contar e de representar os números. Ao nível das atividades/projetos, as crianças que já frequentavam a sala azul, participam ativamente, demonstrando curiosidade e sugerindo questões para desenvolverem projetos. Muitas vezes, são um exemplo para as crianças mais novas. Depois de contar a história para o grupo, as crianças falam da transformação da lagartinha em borboleta, então algumas crianças colocam questões e elaboram hipóteses para explicar essa transformação, o DL (4 anos) diz “ comeu muito por isso virou borboleta !”. A CR (5 anos) diz “ podemos fazer um projeto sobre as lagartas! ” (Nota de campo de 29 /1 1 /19). O grupo demonstra, de um modo geral, interesse em histórias e contos; as crianças participam ativamente levando livros de casa para que possam ser lidos pela equipa e até mesmo pelas próprias crianças: “A IN trouxe um livro - A lagartinha Comilona ; depois da dinamização da manhã, sento-me para contar a história; a educadora diz que a IN pode ajudar-me a contar a história” (Nota de campo de 14 /11/19).