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Memórias de um Espectador: A Importância Emocional dos Filmês na Vida, Notas de aula de Construção

Heitor capuzzo reflete sobre a importância dos filmês na construção de memórias e na articulação de momentos importantes da vida. Ele compartilha experiências pessoais e analisa como as imagens em movimento podem revelar mundos reais e imaginários, solicitando do espectador o preenchimento de espaços e tempos propositadamente reservados. Capuzzo também discute a formação da linguagem cinematográfica e a influência dos filmês na sua formação pessoal.

O que você vai aprender

  • Como a formação da linguagem cinematográfica influenciou a vida de Heitor Capuzzo?
  • Como as imagens em movimento podem revelar mundos reais e imaginários?
  • Qual é a importância dos filmês na construção de memórias?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Bossa_nova 🇧🇷

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ABSTRACT
Motion Pictures reveal real and imaginary worlds,
asking for the public to fill spaces and times as
complicity act. Some scientists believe that dreams
are rehearsed memories. In this case, film can be
understood as a catalyst which allows to articu-
late moments of life as a narrative construction.
Life rehearsed by cinema offers another virtual
perception regarding the pragmatism of daily life.
Keywords: cinema, film editing
RESUMO
As articulações das imagens em movimento
revelam mundos reais e imaginários, solicitando
do espectador o preenchimento dos espaços e
tempos propositadamente reservados para que
a cumplicidade ocorra. Alguns cientistas conside-
ram que os sonhos sejam memórias ensaiadas.
Neste caso, o cinema pode ser compreendido
como um agente catalisador que permite arti-
cular momentos de vida, numa construção nar-
rativa mais consequente. A vida ensaiada pelo
cinema oferece virtualmente outra percepção
em relação ao pragmatismo do cotidiano.
Palavras-chave: filme, cinema, articulação fílmica
O grande amor de
nossas vidas
Professor Titular da School of Art, Design and Media da Nanyang Tech-
nological University – Singapore. Doutor em Cinema pela ECA-USP, com
pós-doutorado na School of Cinematic Arts da University of Southern Cali-
fornia, onde atuou como Professor Visitante. Dirigiu os curtas-metragens
Estranho sorriso, Boa noite e Pula Violeta. Foi crítico de cinema do Diário do
Grande ABC, entre 1980 e 1989 e publicou diversas obras sobre Cinema.
Heitor Capuzzo
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ABSTRACT

Motion Pictures reveal real and imaginary worlds, asking for the public to fill spaces and times as complicity act. Some scientists believe that dreams are rehearsed memories. In this case, film can be understood as a catalyst which allows to articu- late moments of life as a narrative construction. Life rehearsed by cinema offers another virtual perception regarding the pragmatism of daily life. Keywords: cinema, film editing

RESUMO

As articulações das imagens em movimento revelam mundos reais e imaginários, solicitando do espectador o preenchimento dos espaços e tempos propositadamente reservados para que a cumplicidade ocorra. Alguns cientistas conside- ram que os sonhos sejam memórias ensaiadas. Neste caso, o cinema pode ser compreendido como um agente catalisador que permite arti- cular momentos de vida, numa construção nar- rativa mais consequente. A vida ensaiada pelo cinema oferece virtualmente outra percepção em relação ao pragmatismo do cotidiano. Palavras-chave: filme, cinema, articulação fílmica

O grande amor de

nossas vidas

Professor Titular da School of Art, Design and Media da Nanyang Tech- nological University – Singapore. Doutor em Cinema pela ECA-USP, com pós-doutorado na School of Cinematic Arts da University of Southern Cali- fornia, onde atuou como Professor Visitante. Dirigiu os curtas-metragens Estranho sorriso, Boa noite e Pula Violeta. Foi crítico de cinema do Diário do Grande ABC, entre 1980 e 1989 e publicou diversas obras sobre Cinema.

Heitor Capuzzo

Pós: Belo Horizonte, v. 4, n. 7, p. xx - xx, maio, 2014. 200 Não são poucas as pessoas que foram tocadas profundamente pelo cine- ma. Assim como as canções e as fotografias, os filmes pontuam passagens importantes da vida, como se fossem índices da nossa memória afetiva. Os filmes mais densos propiciam compreensões virtuais do ato de viver. São como diários íntimos, escritos na luz, registrando a infinita gama de possibilidades para a expressão das emoções, sensações, sentidos, pensa- mentos e, sobretudo, aspirações. Estar frente ao ritual de se assistir a um filme é se expor, pois podemos sair dali transformados. Os filmes sugerem e a nossa mente constrói. Tudo irá depender desse poder de sugestão e da nossa capacidade de fruição. Po- demos estar protegidos pelo senso crítico e, simultaneamente, vulneráveis frente às sucessivas armadilhas da nossa percepção. O cinema, durante muitas décadas do século XX, reinou soberano entre as midias de massa. Como se fosse uma enorme janela de acesso ao território dos sonhos, a tela de projeção sempre foi preenchida com a imaginação. Os filmes são passaportes para essa fascinante viagem. Mais do que apenas um recurso de expressão, as articulações das ima- gens em movimento revelam mundos reais e imaginários, solicitando do espectador o preenchimento dos espaços e tempos propositadamente reservados para que a cumplicidade ocorra. Como em todo grande amor, não há explicações lógicas que possam dar conta do impacto desse pro- cesso tão subjetivo. Para muitas pessoas, essa sedução começa cedo, ainda na infância. Quero pedir licença ao leitor para continuar minhas especulações na pri- meira pessoa. A razão maior é o reconhecimento de que se trata aqui de uma reflexão a partir de experiências pessoais que, talvez, não devam ser generalizadas de forma imediata. O cinema tem se integrado sistematicamente em minha vida por mais de meio século. O inventário fílmico que carrego confunde-se com a minha linha do tempo. Os filmes indexam os meus sentidos e permitem que eu navegue na minha trajetória com certa precisão cronológica. Lembro-me do meu primeiro beijo na penumbra do cinema, assim como do filme a que estávamos assistindo. Essa precisão faz com que, até hoje, ao rever a esse mesmo filme, minha memória se integre com o que está sendo narrado na tela. Esse processo não impede que eu continue a apreciar o filme em questão; pelo contrário, é como se eu tivesse um confidente ao meu lado

Pós: Belo Horizonte, v. 4, n. 7, p. xx - xx, maio, 2014. 202 em preto-e-branco. No exemplo desse filme, considero intrigante que minha memória não tenha registrado a presença do herói Tarzan, tão famoso no imaginário das crianças – não só da minha geração. O que re- almente ficou marcado foram os poucos segun- dos da visualização daquele imenso cemitério e o consequente impacto na experimentação virtual da morte. Revisto hoje, o filme parece comprovar que aquele elefante é bem mais expressivo do que o ator Denny Miller que protagoniza o herói em questão. Cruel o destino daquele elefante. Deve ser mesmo insuportável viver quando se está rodeado de tanta inexpressividade. Mesmo assim, após tantos anos, essas imagens ainda me tocam. Rever esse filme foi uma experiência estranha. Fui constan- temente alertado pelo meu senso crítico de que se tratava de uma produção realmente medíocre. Entretanto, há uma história de vida por trás dessas imagens e, neste caso, sou eu o “protagonista”. Na televisão brasileira do início dos anos 1960, era comum a exibição de desenhos animados norte-americanos no idioma original em inglês. As crianças precisavam treinar a habilidade de deduzir as narrativas. Como essas animações eram constantemente reprisadas, lembro-me perfei- tamente das diversas interpretações que ousei imaginar para cada exibição do mesmo título. O mesmo ocorria com as histórias em quadrinhos. A grande dificuldade em ler os balões com os diá- logos e descrições exigia que as narrativas fossem também deduzidas pelas crianças muito novas, a partir dos índices visuais ali apresentados. Lembro-me de uma grande conquista, aos dez Por mais de 50 anos, procurei, sem sucesso, por esse filme. Apesar das muitas produções que se referem a cemitérios de elefantes, todos os títulos a que tive acesso não continham a sequência registrada em detalhes na minha memória. Eu sabia apenas que era um filme produzido para o cinema e que era a cores. Devo ter assistido a essa exibição entre 1959 e 1961, portanto, por volta dos seis anos de idade. Foi em um website australiano que pude encon- trar a informação de que o tema cemitério de elefantes fez parte de uma produção obscura chamada Tarzan, o filho das selvas (Tarzan, the ape man – EUA – 1959), de Joseph M. Newman, considerada por vários estudiosos como sendo o pior filme da longa série. Como o autor do website ofereceu gentilmente uma cópia do filme, pude rever a sequência que tanto se impregnara em minha memória. O interior da caverna com as gigantescas ossa- das foi produzido com o uso de pintura em vi- dro (matte painting) que, na pós-produção, foi composto por trucagem óptica com as imagens dos atores e do elefante originalmente filmadas pela câmera. A pintura é de Matthew Yuricich, um nome legendário entre os artistas dessa área, que participou em mais de 70 filmes, entre eles: Ben-Hur (EUA – 1959), de William Wyler; Intriga internacional (North by Northwest – EUA – 1959), de Alfred Hitchcock; O destino do Poseidon (The Poseidon adventure – EUA – 1972), de Ronald Neame; Contatos imediatos do terceiro grau (Clo- se encounters of the third kind – EUA – 1977), de Steven Spielberg; Blade Runner (EUA – 1982), de Ridley Scott. A produção é muito abaixo da média, sendo que foram enxertados descuidadamente trechos de outros filmes da série, além de feita colorização de material originalmente filmado

203 CAPUZZO, Heitor. O grande amor de nossas vidas. anos de idade. Finalmente, me surpreendi com a habilidade de ler todas as palavras das legendas dos filmes, antes que desaparecessem rapidamente da tela. Foi no lançamento da produção O Senhor da guerra (The war lord

  • EUA – 1965), de Franklin J. Schaffner, que me senti realmente confiante. Um novo universo se abriu. Os diálogos agora poderiam ser mais bem assimilados. Com isso, os filmes do grande cômico mexicano Cantinflas também me conquistaram. O curioso foi me deparar com esses impasses muitos anos depois, já na função de crítico de cinema. Os festivais internacionais apresentavam vários filmes sem legendas, nos mais variados idiomas. Cada vez que isso ocorria, minha memória trazia à tona aquela fase heróica da dedução de narrativas a partir das imagens sequenciais. Na minha formação, o fascínio e a paixão pelo cinema antecedeu qualquer visão crítica mais apurada. A questão da formatação dos filmes exigiu um tempo de aprendizado, principalmente pelas barreiras quanto à leitura das legendas. Imagino que se, para mim, o cinema brasileiro estivesse acessível na infância, esse período de aprendizado da linguagem cinematográfica teria sido bem distinto. Vale ressaltar que a telenovela brasileira só se estabale- ceu como programação diária a partir de 1963, sendo que foi na segunda metade dos anos 1960 que se tornou um fenômeno de grande público. Alguns canais de televisão apresentavam seriados norte-americanos le- gendados. Era uma tragédia, pois as cópias em 16 mm continham legendas opticamente impressas em branco na película. Quando as legendas apare- ciam com o fundo claro, era praticamente impossível a leitura. Várias cópias apresentavam um estado físico sofrível. As imagens e o som dos monitores tinham baixíssima resolução. Havia ainda muita interferência da transmis- são analógica, além dos enquadramentos originais serem reformatados, pois os monitores de televisão eram arredondados, cortando os cantos do enquadramento original. Em 1960, o ato de assistir, na televisão brasileira, ao produto audiovisual estrangeiro não dublado treinou por algum tempo a imaginação dos te- lespectadores. A televisão analógica involuntariamente despertou uma grande participação imaginária do público na autoria dramática dos pro- dutos estrangeiros apresentados. Ironicamente, a televisão digital procura incessantemente essa participação, sem o mesmo sucesso. Se, pela primeira vez em minha vida, o impacto da experiência virtual da

205 CAPUZZO, Heitor. O grande amor de nossas vidas. senhor contando os trocados. Entro na sala e me surpreendo: o perfume, as luminárias, as mil poltronas de madeira, tudo ainda estava lá, em estado precário, naquela atmosfera decadente. A sala, praticamente vazia, abrigava menos de uma dezena de fiés sentados. Todos pareciam orar, olhando de forma suplicante para uma enorme parede vazia pintada de branco. Outrora era ali o lugar da tela. Naquele local, muitos sonhos foram cultivados e, talvez, ainda se cultivem. Foi ali, no mesmo Cine Tangará, que pude assistir a Ben-Hur (EUA – 1959), de William Wyler, aos dez anos de idade, poucos meses depois da minha primeira comunhão. Foi com Ben-Hur que eu tive, pela primeira vez em minha vida, a sensação da existência de Cristo, embora o filme não revelasse inteiramente sua figura apenas sugerida. As luzes se acenderam e o público começou a se retirar daquela sala, tão lotada quanto elegante para os padrões da época. O facho de luz conti- nuava a sair da cabine de projeção, enquanto os créditos finais ainda estavam sendo exibidos. A imensidão da sala mal conseguia abrigar o som contundente daquela magistral trilha sonora. Lembro-me de mentalizar uma das imagens icônicas do catecismo: um raio de luz vindo do céu iluminando o anjo exterminador que abatia com a sua espada implacável o mal aos seus pés. O impacto daquela encenação frente aos meus olhos infantis transcendeu o entretenimento. A conjunção das narrativas anteriores, a vivência cotidiana com aqueles que nos tocam e o es- tímulo da virtualidade foram os agentes trans- formadores. Um fator importante na minha formação foi crescer num ambiente em que os filmes exibi- dos eram posteriormente descritos, contados e narrados pelas pessoas com quem convivi mais intensamente. O cinema era parte integrante do codidiano. Lembro-me que, num domingo, um amigo de infância convidou-me para a sessão de Spartacus (EUA – 1960), de Stanley Kubrick. Compromissos familiares não me permitiram acompanhá-lo. No dia seguinte, ele foi até minha casa e, muito impressionado, descreveu por quase uma hora os principais momentos do filme, com detalhes bem precisos, incluindo diálogos, gestos e efeitos musicais. Essa cuidadosa apresentação dos momentos chaves permitiu que minha mente visualizasse a grandiosidade da encenação. Após quase três anos, finalmente tive a oportunidade de assistir ao filme e pude conferir com muita precisão o quanto era apurada a descrição que meu amigo tão gentilmente me ofertara. Essa habilidade em visualizar narrativas é comum a todos os que gostam de cinema. Minha mãe descreveu vários filmes que a censura da época e minha imaturidade não permitiam ver. Refiro- -me a O silêncio (Tyrstnaden – Suécia – 1963), de Ingmar Bergman; Teorema (Itália – 1968), de Pier Paolo Pasolini, e Moscou contra 007 (From Russia with love – Reino Unido – 1963), de Terence Young, da série James Bond. Além do hábito da leitura, meus pais cresceram ouvindo novelas radiofônicas. Esse treinamento da mente em visualizar informações verbalizadas é uma característica importante daquela gera- ção. Aos 16 anos, quando tive minhas primeiras aulas formais de história do cinema, lembro-me que os professores precisavam descrever as se- quências. Assistimos a pouquíssimas projeções durante todo o curso, pois os filmes não estavam disponíveis.

Pós: Belo Horizonte, v. 4, n. 7, p. xx - xx, maio, 2014. 206 Aos 11 anos, solicitei aos meus pais permissão para estudar num colégio em São Paulo em regime de internato. Meus primos já se encontravam ali e estavam felizes com a opção. No colégio, não havia disponibilidade para se assistir aos programas de televisão. Tínhamos vários momentos de lazer. Quase sempre a prática de esportes preenchia esse tempo. Durante a noite, era comum sentarmos em roda para ouvir alguma história mais picante, quase sempre contada por um colega mais velho. Foi a primeira vez que me socializei com pessoas de outras partes do Brasil, vindas de realidades bem distintas. Um dos meus colegas estava ali por vários anos, sem nunca sair ou receber visitas, mesmo nas férias. Ele me contou que a mãe trabalhava numa fazenda no nordeste brasileiro e que o patrão a engravidara. O fazendeiro era casado, rico e resolvera matriculá-lo naquele colégio interno bem distante. Um dia, esse fazendeiro avisou que iria visitar meu colega que ficou em choque com a notícia e me pediu para acompanhá-lo. O diretor do colégio concordou com o pedido e me liberou para um rápido passeio que acabou resultando numa ida a uma lanchonete aonde comemos um sanduíche bem saboroso. Nós dois nos olhávamos com uma cumplicidade carinhosa. Ele estava feliz por sair um pouco do colégio, mesmo que ainda estivéssemos no próprio quarteirão. O fazendeiro praticamente não falou nada, além de perguntar se meu colega estava estudando direito. Uma hora e meia depois, ele nos acompanhou de volta ao colégio e foi embora numa despedida silenciosa. Era uma quarta-feira e, apesar de tudo, ainda estávamos animados. Era o dia da sessão semanal de cinema, sempre após a janta. Chegamos cedo ao auditório para conseguir um bom lugar. Após três jornais da tela desatuali- zados, começou finalmente o filme. Sempre era uma surpresa. As primeiras imagens surgiram na tela e houve certa decepção. Eram em preto-e-branco. O título: A guerra dos botões (La guerre des boutons – França – 1962), de Yves Robert. Quando percebemos que os atores principais eram da nossa idade, o inte- resse se renovou. A projeção continuou animada, conquistando a atenção de todos. Como os dois personagens principais são crianças completamente indisciplinadas, ao final, as famílias resolvem puni-los severamente. Como castigo absoluto pelo mau comportamento, ambos são mandados para o colégio interno. O silêncio naquele auditório foi total. Com os olhos umedecidos, notei

Pós: Belo Horizonte, v. 4, n. 7, p. xx - xx, maio, 2014. 208 A virtualidade das imagens em movimento parece endereçar possíveis es- tratégias para que possamos articular os fragmentos de nossas lembranças. No meu caso, o cinema é um catalisador de experiências intensas que o cotidiano apresenta e que, muitas vezes, se acumulam de forma esparsa em minha memória pela sua fragmentada constituição. Alguns cientistas consideram que os sonhos sejam memórias ensaiadas. Nesse caso, o cinema, para mim, pode ser compreendido como um agente catalisador que permite articular momentos de vida, numa construção nar- rativa mais consequente. A vida ensaiada pelo cinema oferece virtualmente outra percepção em relação ao pragmatismo do cotidiano. Sou muito grato a todas as pessoas que me acompanharam nessa jornada, assim como aos responsáveis por todos os filmes a que tive acesso, inde- pendentemente de qualquer julgamento crítico. Gostaria também de agradecer ao leitor pela atenção e, sobretudo, paci- ência ao permitir que fossem aqui narrados fragmentos esparsos do filme possível da minha vida.