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Guias e Dicas
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Gênero Relatório Técnico-Científico no Ensino: Análise e Desenvolvimento de Capacidades, Resumos de Construção

Este documento discute as contribuições do gênero relatório técnico-científico para o ensino, baseado na análise de valezi (2014) e outros autores. O texto aborda as características do gênero, sua importância na formação acadêmica e os recursos e estratégias para sua escrita efetiva. Além disso, são apresentadas etapas para trabalhar com o gênero no ensino de língua portuguesa.

O que você vai aprender

  • Como as características do gênero relatório técnico-científico podem ser utilizadas no ensino de língua portuguesa?
  • Qual é a importância do gênero relatório técnico-científico na área da construção civil?
  • Quais recursos e estratégias podem ser utilizados para escrever efetivamente no gênero relatório técnico-científico?
  • Que características definem o gênero relatório técnico-científico?
  • Por que o gênero relatório técnico-científico é importante na formação acadêmica?

Tipologia: Resumos

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Gustavo_G
Gustavo_G 🇧🇷

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O gênero relatório técnico-científico:
contribuições para seu ensino
Sueli Correia Lemes Valezi
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso
Lília Santos Abreu-Tardelli
Universidade Estadual Paulista
Elvira Lopes Nascimento
Universidade Estadual de Londrina
Resu mo: Este artigo objetiva apresentar u m modelo didático d o relatório
técnico-científico, a fim de a uxiliar o professor a instrumentalizar suas
ações didá ticas em cursos técnicos ou superiores. Para isso, parte de
uma síntese do s estudos desenvolvidos s obre esse gênero de modo
geral, tendo sido encontrados pr incipalmente pesquisas sobre relatório
de estágio e relatório técnico-científico. Faz também um levantam ento
bibliográfico em documentos prescritivos e elenca as características
contextuais e linguístico-enunciativas principais do gênero em foco. A
descrição do gênero selecionado baseia-se nas anális es feitas por Valezi
(2014) para construir as características das condições de produção, da
infraestrutura text ual, dos mecanismos de textualização e enunciativos ,
conforme o quadro de análise textual proposto p o r Bronckart (1999).
Essa caracterização do gênero ofereceu subsídios para a construção do
modelo didático desse instrumento semiótico apresentado neste artigo
e, consequent emente, pode auxiliar na elaboração d e sequências
didáticas (DOLZ, NOVERRAZ e SCHNEUWLY, 2004) para seu ensino.
Palavras-chave: Relatório técnico-científico; Modelo didático de gênero; Ensino.
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O gênero relatório técnico-científico:

contribuições para seu ensino

Sueli Correia Lemes Valezi Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso Lília Santos Abreu-Tardelli Universidade Estadual Paulista Elvira Lopes Nascimento Universidade Estadual de Londrina

Resumo: Este artigo objetiva apresentar um modelo didático do relatório técnico-científico, a fim de auxiliar o professor a instrumentalizar suas ações didáticas em cursos técnicos ou superiores. Para isso, parte de uma síntese dos estudos desenvolvidos sobre esse gênero de modo geral, tendo sido encontrados principalmente pesquisas sobre relatório de estágio e relatório técnico-científico. Faz também um levantamento bibliográfico em documentos prescritivos e elenca as características contextuais e linguístico-enunciativas principais do gênero em foco. A descrição do gênero selecionado baseia-se nas análises feitas por Valezi (2014) para construir as características das condições de produção, da infraestrutura textual, dos mecanismos de textualização e enunciativos, conforme o quadro de análise textual proposto por Bronckart (1999). Essa caracterização do gênero ofereceu subsídios para a construção do modelo didático desse instrumento semiótico apresentado neste artigo e, consequentemente, pode auxiliar na elaboração de sequências didáticas (DOLZ, NOVERRAZ e SCHNEUWLY, 2004) para seu ensino.

Palavras-chave: Relatório técnico-científico; Modelo didático de gênero; Ensino.

O gênero relatório técnico-científico: contribuições para seu ensino

242 Linguagem & Ensino, Pelotas, v.21, n.1, p. 241-272, jan./jun. 2018

Title: Technical-scientific report: contributions to its teaching

Abstract: This article aims to p resent a didactic model of the technical-scientific report in order to help teachers with their didactic actions in technical or undergraduate courses. In order to do this, it summarizes the researches on this genre, mainly on internship, and technical-scientific types. A bibliographical survey in prescriptive documents is conducted and the main contextual and linguistic-enunciative characteristics of the genre are also presented. The description of the genre is based on the textual analysis done by Valezi (2014), as she listed the characteristics of the context of production conditions, the textual infrastructure, the textualization and enunciative mechanisms, according to the textual analysis framework proposed by Bronckart (1999). This characterization of the technical-scientific report supported the construction of the didactic model presented in this paper and, consequently, it can guide the elaboration of didactic sequences (DOLZ, NOVERRAZ and SCHNEUWLY, 2004) for its teaching.

Keywords: Technical-scientific report; Didactic model; Genres and Portuguese teaching.

Introdução

Este trabalho objetiva apresentar uma síntese dos estudos desenvolvidos pelas pesquisadoras que visa à compreensão do gênero relatório técnico-científico, seus tipos e suas características contextuais e linguístico-enunciativas principais. Essa síntese tem o intuito de auxiliar os professores que solicitam esse gênero textual em cursos técnicos ou superiores a melhor instrumentalizá-los no conhecimento do gênero e em seu trabalho em sala de aula. Este estudo levou em consideração investigações desenvolvidas por outros pesquisadores sobre o gênero relatório de modo geral, tendo sido encontrados principalmente trabalhos sobre relatório de estágio e relatório técnico-científico. Nosso interesse no último deles deve-se ao fato de ser um gênero ainda bastante solicitado em áreas das ciências exatas e biológicas, tanto em nível técnico quanto superior, mas pouco trabalhado em relação a sua elaboração. Além dos estudos já realizados, apoiamo-nos também nas p rescrições sobre o

O gênero relatório técnico-científico: contribuições para seu ensino

estruturalmente como Relatórios Técnico-Científicos e que equivalem a Trabalhos de Conclusão de Curso, em substituição às monografias (MICHEL, 2005). De acordo com essa autora, estudantes de iniciação científica, mestrado e doutorado são solicitados a escreverem relatório da pesquisa realizada. Também são solicitados relatórios de estágio de regência e de observação de aulas, como evidencia Leurquin (2013). Segundo essa autora, os dois tipos de relatórios possuem pontos em comum em sua estrutura, mas com uma diferença: enquanto o relatório de estágio descreve e analisa o agir do próprio autor do relatório, sendo ele um professor em formação, o relatório de observação serve para descrever e analisar e o agir de um professor em uma escola de educação básica.

Geralmente, os relatórios são apresentados como uma tarefa a ser realizada para cumprimento de uma exigência acadêmica. Sua função sociocomunicativa é semiotizar, por meio de estruturas linguísticas descritivas e/narrativas, os resultados ou as ações desenvolvidas após uma atividade de trabalho relacionada às práticas linguageiras acadêmicas. E, assim como vários outros gêneros, os textos produzidos na esfera acadêmica são solicitados com a função sociocomunicativa de avaliar o desempenho do estudante para a progressão dele no curso ou mesmo sua conclusão, e muitas vezes, pouca ou nenhuma proposta pedagógica é proporcionada ao estudante para capacitá-lo a agir adequadamente nessas práticas linguageiras/de linguagem.

Oliveira e Trivelato (2013) e Melo e Brito (2014) analisam relatórios de estágio supervisionado. O primeiro refere-se ao trabalho desenvolvido com estudantes de Ciências Biológicas na disciplina Prática de Ensino e Estágio Supervisionado e analisa o gênero e as funções enunciativas de locutor, enunciador e autor, tomando como base conceitos da Análise de Discurso (AD) de linha francesa. O segundo, referindo-se a uma disciplina de língua inglesa, verifica as representações feitas por alunos-mestres pela mobilização da literatura de motivação para o registro de suas experiências como professor em formação, sobre o bom professor , com base nos estudos de Pêcheux, em diálogo com a perspectiva bakhtiniana da linguagem. Costa, Silva e Francelino (2013) também trabalham com

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relatórios de estágio e procuram entender a construção da identidade do professor em formação de um curso de Letras, na função social de aluno estagiário, mediante a identificação das marcas enunciativo discursivas presentes em seus relatórios, baseando-se na teoria dialógica da linguagem de Bakhtin e seu círculo.

Na mesma linha teórico-metodológica do presente trabalho, Lousada (2013), ao discutir sobre a questão dos textos que são utilizados na formação inicial de professores, focaliza seus estudos no relatório de estágio supervisionado. Os procedimentos de análise de dados adotados pela autora são propostos pelo ISD, quadro teórico e metodológico que defende a importância dos textos (orais ou escritos) como produto empírico de análise e interpretação do agir humano. A autora analisa diferentes componentes linguísticos da organização interna dos textos para identificar configurações linguísticas e discursivas correspondentes a formas de interpretação do agir qualificadas como figuras de ação.

Como postula Bronckart (2017), as figuras de ação funcionam como macrorrecortes interpretativos, ou seja, macrossignos que constituem indícios das representações do agir e, sobretudo, das condições de interpretação desse agir. Bueno (2009), por sua vez, também com o mesmo aporte teórico-metodológico, detecta as representações do trabalho do professor em textos produzidos na formação inicial do professor de língua portuguesa, pertencentes ao gênero projeto de intervenção. De maneira mais específica, a autora busca compreender como se realizam as relações entre linguagem e trabalho, materializadas nesse gênero de texto, assim como no documento que orienta sua produção.

No meio acadêmico, a prática de produção de relatórios é evidenciada tanto na formação inicial de professores, em cursos de graduação, como citam Lousada (2013, p.133) e Leurquim (2013, p.281), quanto em cursos de pós-graduação, ou ainda em pesquisas de iniciação científica. Apesar dos estudos apontados, verificamos uma ausência de pesquisas sobre relatórios técnico-científicos, mais solicitados em áreas acadêmicas.

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Compreendendo que diferentes esferas de atividade profissional são mediadas por instrumentos semióticos concebidos funcionalmente como relatórios, as instituições escolares − especialmente aquelas que ofertam cursos profissionais − incluem em seu currículo a produção desse gênero. Diante dessa demanda de aprendizagem, alguns livros didáticos também têm proposto atividades sobre o relatório, a exemplo de Abaurre et al. (2008) que, no volume 3, apresenta, em um de seus capítulos sobre produção textual, as características relacionadas ao contexto de produção, à estrutura e à linguagem desse instrumento semiótico. Assim, estamos diante de um constructo sócio-histórico que precisa ser transposto para os objetos a ensinar. O relatório técnico pode, então, ser considerado “como um instrumento psicológico" no sentido vygotskiano do termo, ou seja, no sentido em que o termo instrumento foi reinterpretado por Rabardel ( apud SCHNEUWLY, 2004, p.24). E é esse pressuposto que alicerça a tese de cunho didático de que os gêneros de texto devem ser o centro do processo de ensino de produção e compreensão. Algumas pesquisas apontam estudos nessa direção.

Gregório (2006) elaborou um projeto utilizando o relatório como instrumento mediador e tal escolha foi feita porque considera esse gênero de grande circulação social. A autora diz que tal projeto visou desenvolver especialmente a competência de relatar , mas também permitiu que o aluno reconhecesse as características do gênero de forma a produzir um texto de circulação real. Ela registrou a experiência de trabalho com o gênero relatório como um instrumento mediador, em aulas de língua portuguesa no Ensino Superior, com o objetivo de promover o desenvolvimento de capacidades relativas ao gênero discursivo relatório para a produção escrita dele.

Valezi (2014) organizou uma sequência didática tomando o gênero relatório como ferramenta mediadora no ensino de Língua Portuguesa, em uma turma do Curso Superior em Sistemas para Internet. Com esse trabalho concluiu que o gênero relatório é uma "ferramenta adequada para o ensino de línguas [...], pois promoveu tanto o desenvolvimento de capacidades docentes de ambos os agentes envolvidos no processo [...], quanto o desenvolvimento de capacidades de linguagem dos alunos". A

O gênero relatório técnico-científico: contribuições para seu ensino

autora ressalta que o ensino desse gênero pode ser reimplantado − fazendo as devidas adaptações ao contexto − em outros cursos de formação profissional (VALEZI, 2014, p.334).

Ainda segundo Valezi (2014), o relatório técnico comumente é tomado como um instrumento mediador das aulas de disciplinas da área de linguagens em cursos técnicos subsequentes e em cursos superiores de tecnologia, na instituição lócus de sua pesquisa, porque as disciplinas das áreas técnicas e tecnológicas utilizam esse gênero em suas mediações formativas. É muito comum os professores, especialmente aqueles responsáveis por disciplinas da área da construção civil e da eletroeletrônica, utilizarem o relatório técnico como instrumento de registro e de avaliação das aulas práticas desenvolvidas em campo ou em laboratórios. Segundo esses profissionais, é uma forma de transpor para a sala de aula as práticas de referência do mundo do trabalho em que atuam.

Assim, os cursos técnicos e tecnológicos propõem novas práticas discursivas a fim de atender às práticas sociais emergentes no mundo do trabalho. Se, até bem pouco tempo atrás, ler e escrever eram competências de intelectuais, hoje, com as novas exigências de um mercado de trabalho que não cessa de se renovar e demandar um processo de qualificação permanente, cada vez mais as habilidades de leitura, interpretação e produção de textos são exigidas também dos técnicos. Essa mudança no mercado de trabalho, em relação às capacidades exigidas por um profissional técnico, pode ser verificada pelo depoimento de um professor que revela mudanças nas práticas sociais e discursivas dos técnicos, a partir da década de 90, quando teve início a produção de pequenos documentos.

(...) Até a década de 70 se ele fosse analfabeto não faria diferença. (...) De qualquer jeito, trabalharia na área técnica. Ele precisaria ser, realmente, fazer as coisinhas que ele tinha que fazer lá. Na década de 90, o pessoal começou a produzir pequenos documentos, quase informais e aí a linguagem coloquial rolava e não tinha nenhum problema, as pessoas se entendiam. Mas da década de 90 pra cá o formalismo vem cada vez mais tomando conta das obras. E eu falo

O gênero relatório técnico-científico: contribuições para seu ensino

características composicionais do relatório como sendo as mesmas dadas pela NBR 10719, que regulamenta a produção desse gênero.

Assim, Furasté (2006) propõe que a arquitetura básica do relatório seja organizada da seguinte maneira: 1. Elementos do pré-texto que envolvem capa, folha de rosto, resumo e sumário; 2. Elementos do texto que incluem introdução, desenvolvimento e conclusão; 3. Elementos do pós-texto que basicamente é composto, obrigatoriamente, pelas referências bibliográficas. Essa estrutura, delimitada pela norma científica, pode ser também evidenciada no item 3.2 a seguir. Em relação às características linguísticas, Furasté (2006) especifica apenas aquelas consideradas genéricas, como objetividade e clareza.

Outros autores como Medeiros (2000) e Marconi e Lakatos (2006) descrevem o gênero relatório de pesquisa que, apesar de usarem nomenclatura distinta, apresenta os mesmos objetivos de um relatório técnico-científico, assim como a mesma organização arquitetônica. Medeiros define a função sociocomunicativa desse gênero como uma descrição objetiva dos fatos que ocorreram na pesquisa, análise de dados, conclusões e decisões. Já Marconi e Lakatos (2006) prescrevem-no como um registro de resultados de uma pesquisa após coleta de dados, codificação, tabulação, tratamento estatístico, análise e interpretação. Esses pesquisadores consideram que o relatório deve apresentar: capa, página de rosto, sinopse ( abstract ), sumário, introdução (justificativa, objeto e objetivo), revisão bibliográfica (trabalhos citados tanto no projeto inicial quanto identificados no decorrer da pesquisa), metodologia, embasamento teórico (repetição dos trabalhos apresentados no projeto), apresentação dos dados e sua análise, interpretação dos resultados, conclusões, recomendações, sugestões, apêndices, anexos e bibliografia. As características linguísticas apresentadas pelos autores referem-se àquelas que comumente são atribuídas aos textos científicos como: objetividade, clareza, precisão; linguagem técnica em seus aspectos estritos e rigorosos; rigor linguístico; fazer-se compreender.

Oliveira e Motta (2007) tratam de quatro tipos de relatórios: informativo, de pesquisa, de especificações técnicas e de gestão. O

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primeiro é concebido como "textos cuja função é proporcionar o necessário suporte para que pessoas ou grupos, com necessidades específicas, possam valer-se das informações neles contidas para implementar ou não determinadas ações" (p.101). O segundo é definido como um texto predominantemente descritivo, cuja função é registrar o "estágio em que se encontra uma determinada pesquisa em dado momento" (p.109). O terceiro compreende um tipo de produção em que se discute "a forma de construção e discriminam-se os materiais, as funções, as medidas, o modus operandi e o potencial de uso relativos a determinado produto" (p.112). E o quarto tipo de relatório é considerado um “documento complexo”, pois abrange "entrevistas, coleta minuciosa de informações, extenso trabalho de pesquisa bibliográfica e levantamento de dados em órgãos governamentais e organismos internacionais", sendo ele organizado por uma "vasta produção textual", com "quadros estatísticos, gráficos, tabelas e numerosos anexos" (p.114).

Esses autores descrevem apenas a organização arquitetônica dos relatórios de pesquisa e dos relatórios de gestão. Segundo eles, os elementos que compõem o primeiro tipo são: sumário, resumo, introdução, hipóteses, execução, resultados, avaliação, conclusão, recomendações, anexos, índices e referências bibliográficas. Já os elementos do segundo tipo são diferenciados conforme a esfera privada e pública. Os relatórios de gestão de empresa privada compõem-se de identificação da empresa, apresentação, mercado, empresa, conclusão. Os relatórios de empresa pública são organizados com: folha de rosto, apresentação, identificação da unidade, caracterização da unidade, plano de trabalho, conclusão e recomendações.

Garcia (2006, p.401) considera relatório como "um dos tipos mais comuns de redação técnica, dada a variedade de feições que assume". Para esse autor, o relatório circula em diferentes práticas discursivas: revistas científicas, empresas privadas e públicas, em sindicâncias e inquéritos. Esses documentos podem ser técnicos ou administrados e apresentam os seguintes elementos composicionais: descrição do objeto (mecanismo ou processo), narrativa minuciosa dos fatos ou ocorrências, explanação didática, sumário e muitas vezes uma argumentação ou ainda

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Quadro 1: Estrutura do Relatório Técnico-Científico, conforme NBR 10719/

Parte externa Capa (opcional)

Lombada (opcional)

Parte interna

Elementos pré- textuais

Folha de rosto (obrigatório) Errata (opcional) Resumo na língua vernácula (obrigatório) Lista de ilustrações (opcional) Lista de tabelas (opcional) Lista de abreviaturas e siglas (opcional) Lista de símbolos (opcional) Sumário (obrigatório) Elementos textuais

Introdução (obrigatório) Desenvolvimento (obrigatório) Considerações Finais (obrigatório)

Elementos pós- textuais

Referências (obrigatório) Glossário (opcional) Apêndice (opcional) Anexo (opcional) Índice (opcional) Formulário de identificação (opcional)

Todos os itens apresentados no quadro supracitado são caracterizados em sequências descritivas apresentadas em subitens ao longo da norma científica, a exemplo do item 3.13 (NBR 10719, 2015, p.2), definindo que elemento textual é a "parte em que é exposto o conteúdo do documento". São incluídas, ainda, na sequência dos subitens da norma, as regras gerais de apresentação, como: formato, paginação, numeração progressiva, títulos sem indicativo numérico, citações e notas de rodapé, siglas, equações e fórmulas, ilustrações, tabelas. Finalizando, é apresentado um anexo com a sugestão de um formulário de identificação do relatório.

Essa orientação dada pela norma apenas indica um plano organizacional dos conteúdos que devem ser apresentados no relatório.

O gênero relatório técnico-científico: contribuições para seu ensino

No entanto, não são apresentadas, por esse instrumento prescritivo, orientações relacionadas às características linguísticas para que o agente produtor desse gênero desenvolva os conteúdos de forma a apresentá-los coerentemente ao que se espera desse gênero. Mesmo que sejam dadas algumas prescrições quanto à linguagem do gênero na literatura que orienta a produção científica, como objetividade , precisão , clareza e coerência , elas não são suficientes, pois quais escolhas linguísticas devem ser levadas em consideração para que um texto apresente tais características?

Vemos então que todos os autores aqui mencionados, assim como a própria ABNT, salientam a estrutura organizacional do texto, ou a função a que ele se destina, no entanto não há um trabalho, nos manuais científicos, de escrita efetiva do gênero em questão. Na proposta que adotamos, esse trabalho é fundamental para o desenvolvimento das capacidades linguageiras que os estudantes necessitam para a elaboração seja de um relatório, seja de qualquer outro gênero. Sendo assim, pretendemos, nas seções que seguem, apresentar as características do gênero, tendo em vista sua interpretação para a detecção das representações em uma abordagem descendente-ascendente que parte do contexto para a organização interna do texto e suas unidades textuais (e vice-versa).

4 Uma análise do gênero relatório técnico-científico na abordagem do ISD

Os recursos e estratégias apontados pela Engenharia Didática (BRONCKART, 1999; SCHNEUWLY; DOLZ, 2004) para promover o foco do trabalho a partir do texto, na sua multiplicidade de gêneros orais e escritos, em diferentes suportes e usos, constituem os fundamentos da proposta do Grupo de Genebra, a qual tem, como foco, a transposição didática e as ferramentas de ensino, tais como os modelos didáticos de gêneros e sequências de atividades didáticas (NASCIMENTO, 2016).

O gênero relatório técnico-científico: contribuições para seu ensino

orientações da metodologia científica; (ii) a área da construção civil, com modelos de textos de alunos e de professores; (iii) e a área de informática, com modelos de texto de interações comerciais/empresariais e acadêmicas (VALEZI, 2014). Os subtópicos que seguem organizam as características do gênero conforme a divisão dada por Bronckart (1999): condições de produção, plano global do texto, mecanismos de textualização e mecanismos enunciativos^2.

4.1 Condições de produção do gênero relatório técnico-científico

As condições de produção referem-se ao nível macroestrutural do texto, o que envolve as capacidades de ação. Nesse processo, são mobilizadas representações do mundo físico (local de produção, momento da produção, agente-produtor enquanto pessoa física, receptor) e sociossubjetivo (lugar social – modo de interação do texto –; papel social do agente–produtor, posição social do receptor – papel social atribuído ao destinatário - e objetivo – o efeito que se produzirá no destinatário. Segundo Bronckart (1999, p.93), equivale ao "conjunto dos parâmetros que podem exercer uma influência sobre a forma como um texto é organizado". Nas atividades de análise dos textos, é possível estabelecer uma relação de interdependência entre os parâmetros do mundo físico e do mundo sociossubjetivo. Fazemos, dessa forma, uma análise do lugar socio-histórico em que o texto está inserido para construir os efeitos de sentidos e estabelecer as relações entre possibilidades do dizer e o gênero adequado para tal. O quadro a seguir traz os dados identificados como parâmetros das condições de produção dos textos analisados no corpus e podem ser considerados comuns ao gênero relatório técnico-científico. Ressaltamos, no entanto, que cada texto é um produto singular semiotizado por condições de produção também singulares. Sendo assim, os parâmetros referentes a essa macroestrutura textual podem ser identificados no processo de análise de cada texto em particular.

(^2) Sobre o modelo de análise textual, vide BRONCKART (1999).

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Quadro 2: Parâmetros do Contexto Sociossubjetivo do gênero Relatório Técnico

Parâmetros Dados identificados do contexto sociossubjetivo do corpus

Lugar social

Empresas privadas corporativas ou individuais; instituição acadêmica pública de formação profissional de nível médio e superior. Momento de Produção

Encerramento de atividades laboratoriais ou profissionais e/ou de visitas técnicas e/ou de campo.

Emissor

Engenheiro/tecnólogo contratado para a atividade profissional; empregado ou prestador de serviços; entidade privada/pública representada por um único indivíduo ou por um coletivo de trabalho; estudante de curso superior tecnológico.

Receptor

Empresa contratante da atividade profissional; empregador ou chefe/diretor de uma empresa; professor/orientador da área de formação técnica de uma instituição escolar de nível superior.

Suporte de circulação

Comumente apresentado em folha A4, na forma impressa ou digital, produzido com ferramentas de editoração de textos. Sua circulação pode ser restrita ao coletivo de trabalho de dois actantes ou se tornar uma publicação coletiva de acesso a coletivos mais amplos de actantes.

Objetivo

Registrar ou relatar, de forma sistemática e objetiva, os resultados obtidos com a realização de uma dada tarefa profissional ou acadêmica, a fim de finalizar uma contratação, persuadir o interlocutor para a compra de seu serviço ou produto, ou ainda registrar o desenvolvimento de suas capacidades de aquisição de habilidades técnicas e científicas. (VALEZI, 2014, com adaptações)

4.2 A infraestrutura geral do gênero relatório técnico-científico

A infraestrutura geral, segundo Bronckart (1999), refere-se à arquitetura interna dos textos e é constituída pelo plano geral, os tipos de discurso, a articulação entre os tipos de discurso e as sequências linguísticas. Em se tratando do plano geral, definido como organização do conjunto temático, os relatórios analisados por Valezi (2014) podem ser divididos em 2 grupos de textos, conforme suas esferas de interação:

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Quadro 3: Plano Geral do Relatório Técnico-Científico da Área da Construção Civil

Itens composicionais Definição Resumo visão geral do conteúdo (opcional) Sumário apresentação dos tópicos e subtópicos e paginação Introdução apresentação geral do conteúdo, justificativa e objetivos

Revisão bibliográfica

diálogo teórico com a literatura relacionada à atividade prática apresentada no relatório (item opcional, de acordo com a extensão do relatório ou da atividade prática)

Materiais e métodos

apresentação dos materiais e respectivas descrições; registro dos procedimentos metodológicos ou relato do processo de realização da atividade laboral. Nesse item, é possível encontrar também a exposição de uma norma científica que regulamenta a atividade laboratorial

Resultados e discussões

organização de informações resultantes da atividade laboral, incluindo possíveis variações no resultado, e sugestões para a resolução de problemas que poderão ser averiguados em novos experimentos. Resultados podem ser apresentados em imagens (figuras, fotos) que registram os passos da atividade ou os problemas identificados. Tabelas, fórmulas e quadros também podem ser incluídos para registrar dados numéricos referentes às análises realizadas

Conclusões

item composto de dados que finalizam a atividade prática, conforme o objetivo registrado na introdução. Inserem-se também comentários pertinentes sobre o trabalho efetivamente realizado.

Bibliografia listagem da literatura pesquisada e referenciada no relatório.geralmente apenas as citadas no texto.

Anexos

informações complementares para melhor compreensão do relatório (tabelas e gráficos mais complexos, fotos e imagens da atividade realizada) (VALEZI, 2014, com adaptações)

Já nos textos do modelo do gênero relatório da área da informática, identificamos que as prescrições dadas pela NBR 10719 não são seguidas em sua totalidade. Basicamente a planificação é organizada conforme está estabelecido no quadro 4.

O gênero relatório técnico-científico: contribuições para seu ensino

Quadro 4: Plano Geral do Relatório Técnico-Científico da Área da Informática

Itens composicionais Definição Sumário apresentação dos tópicos e suas respectivas páginas

Introdução

descrição do público-alvo, do produto apresentado; listagem de fontes de pesquisa para a elaboração do documento e de definições do léxico (termos, abreviações, acrônimos).

Descrição geral do produto

subdividida em: descrição do contexto e da origem do produto; funções do produto; classes de usuários e características, requisitos funcionais, requisitos não-funcionais, listagem de não- funções do produto descrito.

Aprovação item em que é apresentada a data e a(s) assinatura(s) do clientee da equipe de desenvolvimento do software.

Elementos não verbais Podem ser apresentadas listas, tabelas, gráficos, figuras, (VALEZI, 2014, com adaptações)

Sobre os tipos de discurso, Bronckart (1999) considera como segmentos contáveis e definidos por suas características linguísticas específicas, construídas com recursos de uma língua natural, que são finitos ou limitados, O autor identifica quatro tipos de discurso: relato interativo e narração que mobilizam representações do mundo do narrar ; e discurso interativo e discurso teórico que mobilizam representações do mundo do expor^3. Valezi (2014), em suas análises dos textos prototípicos, constatou que há predominância do discurso teórico, visto que os parâmetros estruturais e funcionais do gênero relatório aproximam-se dos do gênero monografia científica. Sendo assim, predominam as formas verbais na 3ª pessoa, com raras exceções de dêiticos em 1ª pessoa do plural. Essas unidades linguísticas funcionam como uma tentativa de distanciar o agente-produtor e estabelecer uma relação autônoma com a enunciação. Também é uma estratégia discursiva para não revelar o mundo subjetivo da voz do enunciador.

Esse distanciamento entre agente-produtor e leitor e a necessidade de centrar a atenção no objeto do discurso também são revelados pelos

(^3) Para melhor definição de tipos de discurso, ver Bronckart (1999, p.137-216).