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Este trabalho apresenta um estudo inicial sobre o gênero oral entrevista em estúdio produzida em telejornais, selecionando entrevistas de dois telejornais diferentes e analisando-as com foco em análise de discurso crítica e linguística sistêmico-funcional. O objetivo é estabelecer um diálogo entre as duas abordagens e contribuir para o debate sobre gêneros e gênero oral entrevista.
Tipologia: Notas de estudo
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Não perca as partes importantes!
Maria Aparecida Resende Ottoni (ILEEL/UFU)
Considerações iniciais
Este trabalho está vinculado ao Grupo de Pesquisa sobre Texto e Discurso (PETEDI) e ao Grupo de Pesquisas e Estudos em Análise de Discurso Crítica e Linguística Sistêmico-Funcional, ambos do Instituto de Letras e Lingüística (ILEEL), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Em 2008, nós, membros do PETEDI, definimos que as discussões do grupo girariam em torno do tema gêneros orais, em função do interesse da maioria e da escassez de trabalhos sobre esse tema. Primeiramente, fizemos um levantamento bibliográfico sobre gêneros orais. Depois, selecionamos alguns textos para discussão. Após a discussão desses textos, cada membro do grupo fez uma lista dos gêneros orais dos quais se lembrava. As listas foram discutidas em grupo e, em seguida, nós procuramos estabelecer as condições de produção de vários gêneros orais listados e discuti-las.
Posteriormente, cada pesquisador escolheu um dos gêneros elencados, a fim de realizar um estudo inicial para apresentação no grupo de trabalho Os gêneros orais em debate, coordenado pelas Profas. Dras. Elisete Maria de Carvalho Mesquita e Luísa Helena Borges Finotti, no XII SILEL - Simpósio Nacional de Letras e Linguística e II Simpósio Internacional de Letras e Linguística, realizado na Universidade Federal de Uberlândia.
Este trabalho representa o resultado de um estudo inicial do gênero oral por mim escolhido: entrevista em estúdio produzida em telejornais.
Foram selecionadas entrevistas em estúdio realizadas em dois telejornais diferentes: um local e um nacional, ambos da mesma emissora 1
Eu tenho observado que muitas das pesquisas realizadas sobre o gênero entrevista têm focalizado entrevistas impressas publicadas em jornais e revistas ou entrevistas de programas televisivos de auditório e têm sido feitas na área da Comunicação Social, cujo enfoque é diferente de uma abordagem linguístico- discursiva. Assim, uma pesquisa como esta, centrada no gênero entrevista em estúdio em telejornais,
. Para a abordagem do gênero escolhido, procuro estabelecer um diálogo entre a Análise de Discurso Crítica (ADC) e a Linguística Sistêmico-Funcional (LSF), o qual vem sendo muito profícuo em muitas pesquisas e estimulado pelo Grupo de Pesquisas e Estudos em Análise de Discurso Crítica e Linguística Sistêmico-Funcional. Baseio-me, principalmente, na discussão acerca de gêneros feita por Fairclough (2003) e na proposta de Hasan (1985, 1989) de análise da configuração contextual para identificação dos elementos que compõem um gênero.
1 Por questões éticas, não serão mencionados os nomes dos telejornais, da emissora, dos entrevistadores nem dos entrevistados. Pelo mesmo motivo, nas fotos das entrevistas, os rostos dos participantes foram encobertos.
mostra-se necessária e relevante. Ela pode contribuir para o debate sobre gêneros e sobre o gênero oral entrevista.
1. A análise de gêneros na perspectiva da Análise de Discurso Crítica
Para este artigo, vou me limitar à discussão sobre gênero proposta por Fairclough (2003), mas quero deixar claro que, para a abordagem de gênero na perspectiva da ADC, muitos outros teóricos poderiam ser aqui mencionados.
Fairclough (2003, p.65) define gêneros como “aspectos especificamente discursivos de modos de agir e interagir no curso de eventos sociais”. Segundo ele, quando analisamos um texto ou interação em termos de gênero, nós estamos perguntando como ele figura na ação social e interação em eventos sociais e como contribui com essa ação e interação.
Em seu livro de 2003, o autor apresenta uma discussão sobre as dificuldades com o conceito de gênero. Uma delas é que gêneros podem ser definidos em diferentes níveis de abstração. Considerando esses diferentes níveis, Fairclough distingue os pré-gêneros 2 (ex: narração, argumentação), os gêneros desencaixados (ex: entrevista) e os situados 3
Ele acrescenta em sua discussão sobre gêneros que algumas atividades são mais estratégicas (e menos comunicativas no sentido de Habermas)
(ex: entrevista etnográfica, entrevista de emprego). Ele discute ainda a definição de um gênero em termos dos propósitos da atividade. Ao contrário de alguns teóricos, para quem uma característica definidora de um gênero é o propósito comunicativo, Fairclough (2003) explica que um gênero particular pode ter vários propósitos, os quais podem ser hierarquicamente ordenados, e que os propósitos podem estar relativamente explícitos ou implícitos. Além disso, este pesquisador salienta que muitos gêneros não são claramente ligados a propósitos sociais amplamente reconhecidos, o que significa que há problemas em privilegiar muito o propósito na definição de gênero. Assim, a proposta de Fairclough é que deveríamos evitar centrar nossa visão de gênero no propósito.
4 que outras, o que tem relação com os propósitos, com os tipos de troca estabelecidos na interação, com as funções do discurso e os modos oracionais 5
2 Termo sugerido por Swales (1990) e adotado por Fairclough (2003).
(Halliday, 1994).
3 Sobre essa distinção, ver Fairclough (2003) e Ottoni (2007).
4 A ação comunicativa acontece em interações orientadas para a compreensão mútua como em uma conversa informal com um amigo, ao passo que a ação estratégica acontece em interações orientadas para a obtenção de resultados como em uma relação de compra e venda, em uma propaganda.
5 Segundo Halliday (1994, p. 69), de todas as coisas que nós fazemos com a linguagem, há quatro distinções-chave que explicam a comunicação interpessoal; ou seja, há quatro tipos de troca. Como falantes/escritores, nós podemos dar ou pedir. O que damos ou pedimos é ou bens e serviços ou informação/conhecimento. A troca de bens e serviços é orientada para uma ação não textual; seu foco é na atividade, nas pessoas fazendo coisas ou conseguindo que elas sejam feitas. Ela se constitui em uma proposta. Já na troca de conhecimento ou de informação, o foco está em obter e dar informação, fazer reivindicações, afirmar fatos, etc. Ela se constitui em uma proposição. Essas distinções dão origem, respectivamente, às quatro funções do discurso: oferta, ordem, afirmação e pergunta, e aos quatro modos oracionais: interrogativo modulado, imperativo, declarativo, interrogativo. Esses modos oracionais contribuem para elucidar as relações estabelecidas na interação, principalmente se pensarmos em quem está autorizado a usar determinado modo oracional ou as escolhas e trocas que pode realizar em um dado contexto.
na análise de gêneros, as variáveis que compõem o contexto de situação (registro): campo, relação e modo.
O campo é a atividade social (o que está acontecendo), o assunto. A relação diz respeito à natureza dos participantes, seus status e papéis; como se relacionam entre si; tipo de troca, como agem uns sobre os outros e sobre si mesmos. Já o modo refere-se ao canal da mensagem, à seleção das opções dos sistemas textuais como tema, informação, voz, modelos coesivos; ao status que o texto tem e sua função no contexto; aos recursos utilizados: não-verbais, verbais, multimodais.
Para Hasan, a partir da definição dos elementos da configuração contextual de cada texto, pode-se fazer predicações sobre as estruturas textuais propriamente ditas (HASAN, 1989, p. 56), sobre quais elementos da estrutura textual são obrigatórios, quais são opcionais e quais são recursivos ou iterativos, bem com sua sequência. Dessa forma, pode-se identificar a estrutura potencial do gênero (EPG).
É importante deixar claro que meu objetivo neste estudo inicial não é identificar uma EPG do gênero entrevista em estúdio produzida em telejornais, mas fazer uma análise das entrevistas tentando estabelecer um diálogo entre a proposta de Fairclough e a de Hasan, pois a a análise da configuração contextual de Hasan, que se pauta na análise das variáveis de registro, pode ser diretamente relacionada com o que sugere Fairclough (2003) para análise de gêneros individuais em um texto particular. Essa relação pode ser assim representada:
Atividade ↔ Campo
relações sociais ↔ relação
tecnologia de comunicação ↔ modo
Quadro 1: Relação entre a proposta de Fairclough (2003) e a de Hasan (1985, 1989) para análise de gênero
4. Sobre o gênero entrevista
A entrevista é um gênero primordialmente oral. Para Halperín (1995, p. 13), ela é “a mais pública das conversações privadas”. É uma conversação que segue regras do diálogo cotidiano, mas que se diferencia dele por ter em vista um público determinado capaz de influenciar o entrevistador e/ou a equipe editorial na escolha do tema da entrevista e do entrevistado.
O gênero entrevista faz parte de várias práticas sociais existentes em nossa sociedade como da prática social de procura de emprego, de consulta psicoterápica, de consulta médica, de produção do gênero reportagem, de produção de telejornais, dentre outras. As diferentes entrevistas produzidas nessas distintas práticas sociais, segundo alguns pesquisadores, apresentam algumas características em comum, em função de a entrevista ser uma prática de linguagem altamente padronizada. Sendo assim, há expectativas normativas específicas acerca dos papéis dos interlocutores: entrevistador e entrevistado.
Aquele é o responsável por abrir e fechar a entrevista, fazer as perguntas, orientar a interação, escolher o tópico discursivo, introduzir novos assuntos, incitar a transmissão de informações etc. Deste, espera-se que ele responda e forneça as informações solicitadas.
Para Schneuwly e Dolz (2004), a entrevista é um gênero jornalístico de longa tradição. “Seu lugar social de produção é a imprensa escrita, o rádio ou a televisão” (p. 86). É um gênero previamente planejado e organizado por meio de um roteiro escrito, que servirá de base à condução da entrevista.
Como resultado da observação dos gêneros presentes em jornais brasileiros, Marques de Melo (2003) agrupa os gêneros jornalísticos em duas categorias: a do jornalismo informativo e a do opinativo. Elas correspondem a dois núcleos de interesse: saber o que passa (informação) e saber o que se pensa sobre o que passa (opinião) e a duas modalidades assumidas pelo relato jornalístico: a descrição e a versão/avaliação dos fatos.
Marques de Melo insere o gênero entrevista na categoria do jornalismo informativo e conceitua o gênero como um “relato que privilegia um ou mais protagonistas do acontecer, possibilitando-lhes um contato direto com a coletividade” ( idem , p. 66). Essa inserção é questionada por Silva (2009, p. 46): “Tal classificação mostra-se bastante conflituosa, uma vez que, muitas vezes, há uma ‘opinião’ explícita do entrevistado, podendo-se situar esse gênero no agrupamento dos gêneros opinativos”.
Eu concordo com a autora quando ela diz que podemos ter a expressão de uma opinião além da informação na entrevista. Nesse sentido, o gênero entrevista situa-se na fronteira do informativo e do opinativo, uma vez que não tem o propósito apenas de informar, mas também o de apresentar a opinião do entrevistado e formar opinião de leitores/ouvintes/telespectadores.
Contudo, é preciso deixar claro que quando Marques de Melo fez sua categorização também chamou a atenção para uma questão relativa à natureza das duas categorias jornalísticas: “até que ponto o jornalismo informativo efetivamente limita-se a informar e até que ponto o jornalismo opinativo circunscreve-se ao âmbito da opinião?” (MARQUES DE MELO, 2003, p. 25). Ele deixa claro que a distinção entre as duas categorias corresponde a um artifício profissional e também político.
5. Procedimentos metodológicos
Para a constituição do corpus , inicialmente assisti a vários telejornais para identificar em quais eram exibidas entrevistas em estúdio e se havia um dia da semana em específico em que elas eram apresentadas. Observei que nos telejornais há muitas entrevistas realizadas fora dos estúdios, como parte do gênero reportagem, e que só em alguns telejornais e em determinados dias eram realizadas as entrevistas pelas quais eu tinha interesse.
Após identificar os telejornais e os dias da semana em que eram realizadas entrevistas em estúdio, iniciei as gravações por meio de programa especial de gravação por computador. Concomitantemente, fiz uma pesquisa na internet a fim de encontrar esse tipo de entrevista já gravada e disponível ao público. Do material coletado, selecionei quatro entrevistas em estúdio realizadas em dois telejornais diferentes: um local, o qual tem 45 minutos de duração, e um nacional, com duração de 50 minutos; ambos da mesma
durante a entrevista), e também o gênero propaganda, uma vez que se faz a divulgação de um produto, que é o show da dupla realizado na noite do dia em que a entrevista foi realizada.
Quanto à análise de um gênero individual em um texto particular, procuro tecer algumas considerações acerca dos três aspectos que podem diferenciar um gênero, segundo Fairclough, os quais relaciono às variáveis de registro que constituem a configuração contextual na perspectiva da LSF.
6.1. A atividade/o campo
Neste item, a análise se volta para o que as pessoas estão fazendo discursivamente, para o assunto tratado, para a estrutura genérica, os propósitos e para a observação do predomínio da ação comunicativa ou da ação estratégica.
Nas entrevistas, as pessoas, entrevistador/es e entrevistado/s, estão participando de um evento discursivo, numa situação de interação face a face (entrevistas 1, 2 e 3) e de interação face a face e também mediada por sistema de videoconferência (entrevista 4), em que todos os interlocutores – entrevistador/es e entrevistado/s - partilham um mesmo sistema referencial de tempo e espaço (entrevistas 1, 2 e 3), ou alguns partilham apenas um mesmo sistema referencial de tempo e outros o de tempo e de espaço, como na entrevista 4, em que dois dos entrevistadores estão em um estúdio no Rio de Janeiro e uma entrevistadora e o entrevistado estão em um estúdio em Brasília.
Isso se dá em função de que as entrevistas em estúdio, em telejornais, podem ser produzidas:
1ª entrevista 3ª entrevista
9 Os rostos foram encobertos.
4ª entrevista
Estúdio no Rio de Janeiro Estúdio em Brasília
Em todas elas, os participantes encontram-se sentados e, na interação entre eles, estabelece-se uma conversa regrada cujo tema foi previamente escolhido pela equipe editorial do jornal e sobre o qual o entrevistado (ou entrevistados) convidado é considerado apto a falar. Essa interação é orientada por um roteiro previamente elaborado pelo entrevistador/jornalista e/ou pela equipe editorial. Contudo, o discurso vai sendo construído na imediaticidade da interação e a conversação vai-se estabelecendo de acordo com o ritmo e a necessidade da comunicação. Essa interação estrutura-se, basicamente, pela alternância do par pergunta-resposta.
O conteúdo das entrevistas diz respeito a assuntos diversos e atuais que se supõe ser de interesse dos telespectadores: show musical, gripe suína e retorno às aulas na UFU, novo acordo ortográfico, como evitar o contágio da gripe suína e quais ações o governo está desenvolvendo para combatê-la.
Como um gênero oral, as entrevistas apresentam características básicas da conversação (MARCUSCHI, 2001): interação entre pelo menos dois falantes; ocorrência de pelo menos uma troca de falantes; presença de uma seqüência de ações coordenadas; execução numa identidade temporal e envolvimento numa “interação centrada”.
Na estrutura das entrevistas em estúdio, identificamos os seguintes elementos:
ENTREVISTADORA PC: Ah, ê:::! O som é bem interessante, hein::: Me conta uma coisa, esse projeto Quinta de Primeira, ele já anda há algum tempo em Uberlândia, é uma oportunidade pros artistas do local, de Uberlândia, da região. Como que funciona? ( entrevista 1, jornal local)
ENTREVISTADO SN – Olha, eu acredito que sim. Eu fui contra a reforma o tempo todo, hoje eu estou mais ou menos convencido que vai ser um bem para a nossa língua portuguesa. Ela está sendo revitalizada. As pessoas estão preocupadas. E, como as mudanças não são tantas quanto se imagina, eu acredito que será um belo divertimento. Teremos um bom ano pela frente em termos de mudança. E mudar faz bem. (entrevista 3, jornal nacional)
ENTREVISTADA MF – cantora: Obrigada.
ENTREVISTADORA PC: Obrigada pela presença de vocês.
ENTREVISTADA MF – cantora: Esperamos todos lá hoje à noite.
ENTREVISTADORA PC: Com certeza. Bom show pra vocês. Só lembrando que MF e BR se apresentam hoje no Vinil Cultura Bar, a partir das 10 da noite. Não dá para perder né?
ENTREVISTADA MF – cantora: Não, de jeito nenhum.
ENTREVISTADORA PC: Tá certo. Obrigada, gente (fala dirigida aos telespectadores). ( entrevista 1, jornal local)
ENTREVISTADO JGT: [eu que agradeço
ENTREVISTADORA SZ (estúdio em Brasília): [no (nome do
jornal) (entrevista 4 , jornal nacional)
Com relação aos propósitos do gênero, foi possível identificar que as entrevistas em estúdio produzidas em telejornais têm diferentes propósitos. A entrevista 1 tem os propósitos de: a) informar o público sobre o show que será realizado pelo grupo do qual a dupla entrevistada faz parte e sobre as mudanças no grupo; b) divulgar o show e o trabalho dos entrevistados; c) incentivar o público a comparecer ao espetáculo (ver trechos 1, 5 e 7). A entrevista 2 tem o propósito de informar o público sobre quais ações serão desenvolvidas e como serão desenvolvidas pela Universidade Federal de Uberlândia contra a gripe suína, a fim de oferecer segurança aos alunos, professores e técnico-administrativos e possibilitar o início das aulas no 2º semestre, como exemplificado no trecho a seguir (ver também trecho 2).
8. ENTREVISTADO VF: Nós vamos montar pelo menos uma previsão de 100 pontos com álcool em gel para as coordenações de cursos e para os locais de grande atendimento. Vamos manter os banheiros, o tempo todo alimentados com papel e com sabão, porque a orientação vai ser para a lavagem frequente das mãos. Distribuir cartazes, folders, outdoors e orientações técnicas a todos os nossos professores e funcionários e alunos para que evitemos o contágio. Todo aluno que estiver com gripe será orientado a não comparecer na universidade. (entrevista 2, jornal local)
Quanto à terceira e quarta entrevistas, dois propósitos foram identificados em relação a cada uma na análise: o de informar o público e o de apresentar a opinião de um especialista sobre o assunto, o que pode contribuir, direta ou indiretamente, para formar a opinião pública acerca do assunto. Na entrevista 3, há o propósito de informar o público sobre as mudanças efetuadas em função da nova reforma ortográfica e, na entrevista 4, informá-lo sobre como evitar o contágio da gripe suína e sobre quais ações estão sendo desenvolvidas pelo governo para combatê-la. Para ilustrar, vejam os trechos 3, 4, 6 e estes dois outros:
9. ENTREVISTADO PROF. SN – [exato! Anti-horário mantém o hífen em anti-horário, por causa do h. Eu vejo, no caso do hífen, até uma melhoria. Não é o ideal. O ideal era acabar com o hífen, mas já que ele conseguiu sobreviver, pelo menos temos que observar pelo lado positivo. Eu sou muito positivo. Eu acho que houve uma simplificação. Por exemplo, os prefixos e falsos prefixos – não importa se vêm do latim ou do grego – terminados em vogal, a grande massa só terá hífen a partir de agora se for h ou vogal igual. Dá até para decorar a regra. Então, anti-horário vai ficar com hífen, perfeito? Anti-inflamatório - que não deveria ter, mas as pessoas já usavam – passa oficialmente a ter hífen, porque a vogal é igual. Anti termina em i, e inflamatório começa com i. Esta regra é muito interessante. E, vai causar estranheza? Vai. Por exemplo, no caso do s que vai ter que dobrar, como é o caso autosserviço e antissocial, ficar com dois esses. Os dois erres, também vai ter que dobrar, como em autorreforma. Vai dar um pouco de dor de cabeça. (entrevista 3, jornal nacional)
produto. E como a única arma que nós temos nesse momento, veja, nós ainda não temos a vacina, ela ta sendo testada. Então a única arma que nós temos é o medicamento. Nós temos que preservar, cuidar esse medicamento. (entrevista 4 , jornal nacional)
6.2 Relações
Neste item, a análise se volta para a natureza dos participantes, seus status e papéis; como se relacionam entre si; tipo de troca, como agem uns sobre os outros e sobre si mesmos.
Apesar de alguns autores, como Charaudeau (2006), considerarem a existência de um “dispositivo triangular” do qual participam entrevistador, entrevistado e “um terceiro-ausente, o ouvinte” (p. 214), neste estudo inicial vou-me limitar a tratar da relação estabelecida entre entrevistador/es e entrevistado/s.
Com base no material analisado, é possível dizer que no gênero entrevista em estúdio produzida em telejornais pode haver: um só entrevistador e um só entrevistado, como na entrevista 2; ou um só entrevistador e mais de um entrevistado, como na entrevista 1; ou mais de um entrevistador e um só entrevistado, como nas entrevistas 3 e 4.
Independente dessa diferença de número de entrevistador ou de entrevistado, eles desempenham papéis socialmente determinados e padronizados. O primeiro é quem escolhe sobre o que se vai falar e define em parceria com a equipe editorial quem será o entrevistado convidado, faz a abertura da entrevista, tem o direito de perguntar, direciona a conversação, faz a distribuição de turno, conserva o turno por menos tempo e faz o fechamento. O segundo, em primeiro lugar, aceita o convite e representa, na situação de interação, a pessoa que tem algo importante a dizer à coletividade e que deve responder as perguntas feitas pelo entrevistador. Dessa forma, é também aquele que conserva o turno por mais tempo e é considerado o participante de maior importância na tela.
Segundo Marcuschi (2001), os papéis representados tanto por entrevistador quanto por entrevistado resultam em uma interação de caráter assimétrico, uma vez que cabe ao entrevistador o domínio no processo interativo. Contudo, como afirmam Fávero & Andrade (1998, p. 162), é preciso considerar que:
O conceito de assimetria interacional está relacionado não só as funções dos interlocutores na situação comunicativa, mas principalmente a seus papéis sociais e as suas características individuais. Há casos em que a importância social do entrevistado leva à inversão do equilíbrio da entrevista: o entrevistado seleciona os tópicos e decide quando passar o turno. Por sua vez, há entrevistadores peculiares que dominam a entrevista e não deixam ao entrevistado nem mesmo os turnos que lhe são devidos.
Isso significa dizer que, independentemente de ser o entrevistador ou o entrevistado o participante que domina a interação na entrevista, ela tende a ser uma relação assimétrica. Isso porque, como afirmam Fowler et alii (1979, p. 63), as relações comunicativas são geralmente assimétricas dado que um participante tem mais autoridade do que o outro. Para esses autores, as aparências de intimidade, solidariedade e cooperação em eventos sociais são “ilusórias”.
No que diz respeito aos tipos de troca, nas interações entre os participantes estabelecidas nas entrevistas em análise, o tipo de troca predominante é a de conhecimento ou de informação (HALLIDAY,
6.3. Tecnologias de comunicação/modo
Neste item, a análise poderia ser voltada para diferentes aspectos como a observação: de qual tecnologia depende a atividade que as pessoas estão desenvolvendo; qual tipo de comunicação se tem; da seleção das opções dos sistemas textuais como tema, informação, voz, modelos coesivos; do status que o texto tem e sua função no contexto; dos recursos utilizados (não-verbais, verbais, multimodais). Contudo, neste estudo introdutório do gênero entrevista em estúdio produzida em telejornais, limito-me a apresentar apenas uma breve e superficial análise de alguns aspectos relativos às tecnologias de comunicação e à variável de registro modo.
Como se trata de um gênero televisivo, produzido para ser exibido em um telejornal, seu consumo está atrelado diretamente a algumas tecnologias de comunicação, pois é preciso para se efetivá-lo que se tenha uma televisão, ou internet (com programa de vídeo disponível), ou celular com acesso a TV.
A comunicação estabelecida entre entrevistador/es e entrevistado/s pode ser, nos termos de Fairclough (2003), dialógica não-mediada: interação face a face (entrevistas 1, 2 e 3) e dialógica não- mediada: interação face a face mais dialógica mediada por sistema de videoconferência (entrevista 4). Além disso, considerando a especificidade do gênero em análise, tem-se ainda uma comunicação monológica mediada ou uma interação quase medidada, nos termos de Thompson (1998), em que há uma separação dos contextos, uma disponibilidade estendida no tempo e no espaço e uma orientação para um número indefinido de receptores potenciais.
A entrevista em estúdio produzida em telejornais trata-se de um gênero multimodal, pois se vale de recursos verbais tanto na modalidade oral quanto na escrita e não-verbais (som, imagem, gestos). Os elementos visuais, em algumas entrevistas como a 1, 3 e 4, contribuem para a representação de um espaço privado (sala, com poltronas coloridas, próximas, mesa no centro da sala). Esse recurso tem sido muito utilizado na televisão como uma forma de fazer com que o telespectador sinta que aquilo a que está assistindo faz parte de seu cotidiano, de seu espaço privado.
Como afirma Fairclough (2003, p. 68), tem havido uma tendência à informalização societal e uma ‘conversacionalização’ do discurso público. Nas entrevistas, percebe-se o uso de uma linguagem informal, em alguns momentos, e a criação de uma situação de informalidade na interação. Tem-se assim uma
11Ver nota 5.
MARQUES DE MELO, J. Jornalismo opinativo: gêneros opinativos no jornalismo brasileiro. 3 ed. rev. e ampliada. Campos do Jordão: Mantiqueira, 2003.
OTTONI, M.A.R. Os gêneros do humor no ensino de Língua Portuguesa : uma abordagem discursiva crítica. Uberlândia, MG. Tese (Doutorado em Linguística), Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas, Universidade de Brasília, 2007.
SCHNEUWLY, B. , DOLZ, J. et. al .. Gêneros orais e escritos na escola. Trad. e org. Roxane Rojo e Galís S. Cordeiro. Campinas,SP:Mercado de Letras, 2004.
SWALES, J.M. Genre analysis. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.
SILVA, N. R. da. O gênero entrevista pingue-pongue : reenunciação, enquadramento e valoração do discurso do outro. São Carlos: Pedro e João Editores, 2009.
THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade : uma teoria social da mídia. Petrópolis: Vozes, 1998.