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Este ensaio resulta de reflexões sobre pesquisas realizadas pelo diretório de pesquisa o jovem e a mídia, que investigou a construção de campos de problematização moral dos jovens, com ênfase no contexto cultural. A pesquisa começou em 1999, questionando jovens universitários sobre valores e problemas da juventude atual. Posteriormente, em 2002, a pesquisa tomou uma nova questão central: saber que tipo de articulação poderia haver entre o que o jornal oferece em suas notícias e a posição dos jovens em relação ao campo da problematização moral. Para responder a essa questão, foram tomados dois caminhos metodológicos: análise dos assuntos predominantes na mídia e verificação da opinião dos jovens em relação à possível influência da mídia em suas próprias posições. A pesquisa se concentrou no jornal o globo, analisando todas as edições diárias impressas nos três meses que antecederam a pesquisa exploratória.
Tipologia: Exercícios
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Maria Apparecida Campos Mamede-Neves Professora Titular do Departamento de Educação – PUC-Rio Stella Maria Peixoto de Azevedo Pedrosa Doutoranda em Educação - PUC-Rio Bolsista CNPq Flavia-Nizia da Fonseca Ribeiro Doutoranda em Educação - PUC-Rio Bolsista CAPES Ana Valeria de Figueiredo-da-Costa Doutoranda em Educação - PUC-Rio Bolsista VRAC-PUC-Rio
Apresentação da base deste ensaio
Este ensaio é resultado de algumas reflexões que vimos encontrando em pesquisas realizadas por nosso diretório de pesquisa O jovem e a mídia , cujo tema central tem sido a construção dos campos de problematização moral dos jovens, nas quais o contexto cultural tem se mostrado muito significativo quando pensamos na construção de valores e problemas da juventude.
Na verdade, esses estudos começaram quando, numa pesquisa iniciada em fins de 1999, perguntamos a um grupo expressivo de jovens recém entrados na universidade^1 , quais eram, para eles, os principais valores e problemas da juventude nos tempos atuais. 2
Interessante notarmos que essa pesquisa levantou um elenco de valores e problemas que ia muito além de uma mera lista, já que se articulavam entre si em diversas modalidades. Na verdade, verificamos que valores e problemas se punham como sendo um em contraponto ao outro. Ou seja, os jovens viam a urdidura dos valores morais intensamente articulada à vivência dos problemas, guardando assim correspondência entre eles. (^1) O contingente estudado foi de 1202 jovens universitários, regularmente matriculados nos primeiros semestres, da PUC-Rio pertencentes aos três Centros que compõem a estrutura acadêmica da PUC-Rio: CCS (Centro de Ciências Sociais), CTC (Centro Técnico Científico) e CTCH (Centro de Teologia e Ciências Humanas). Para maior conhecimento desta pesquisa remetemos oleitor ao trabalho de MAMEDE-NEVES, M. A. C., VIDAL, F. e WILMER, C. Problemas e valores apontados por jovens universitários pertencentes a "sociedades emergentes": um estudo sobre a Barra da Tijuca, ALCEU: revista de comunicação, cultura e política. v.4, n.7, jul-dez 2003. Rio e Janeiro: PUC-Rio, Departamento de Comunicação Social. (^2) MAMEDE-NEVES, M. A. C., WILMER, C., PEDROSA, S. M. P. A. Campos de problematização moral do jovem Psicopedagogia: revista da ABPp , n. 63, 2003 São Paulo: ABPp [ISSN 0103-8486]
Importante assinalarmos, também, que esta pesquisa foi replicada em 2001, dentro do mesmo universo estudantil, encontrando-se uma constância de resultados, quando confrontados com os da pesquisa anterior e garantindo-se assim a consistência estatística dos dados coletados. Por outro lado, nessa mesma época, os resultados de uma pesquisa realizada pelos órgãos ANDI/IAS/UNESCO sobre "Os jovens na mídia" mostraram uma grande sintonia com nossos dados. 3
Seguindo este curso investigativo, já em 2002, voltamos a, dentro desse mesmo campo empírico, ouvi-los agora sobre que fatores consideravam mais decisivos nessa construção moral. Ao lado da importância da família e de seus grupos de convivência, esses jovens apontaram, de forma significativa, a mídia em geral e, dentro dela, o jornal em todas as suas formas.
Estávamos, assim, diante de uma situação que merecia ser pesquisada, e, nesse caso, era importante sabermos, para confirmação do que afirmavam, se encontrávamos alguma relação entre os valores e os problemas apontados por eles e as manchetes dominantes na mídia, no momento em que esses jovens emitiram suas opiniões.
Foi, portanto, a partir daí, que a investigação tomou uma nova questão central: saber que tipos de articulação poderia haver entre o que o jornal oferece em suas notícias e o posicionamento dos jovens em relação ao campo da problematização moral.
Para dar conta de respondê-la, foram tomados dois caminhos metodológicos: a análise dos assuntos predominantes na mídia no momento da pesquisa de campo, procurando-se verificar se as matérias publicadas nas diferentes seções do jornal tinham alguma relação com as temáticas levantadas pelos jovens e a verificação da opinião dos jovens em relação à possível influência, sobre suas próprias posições quanto ao que estava sendo discutido na mídia.
A pesquisa sobre as matérias do jornal
Escolhendo o jornal O Globo como objeto de estudo, na medida me que ele se mostrou como sendo o de maior circulação entre os alunos, dedicamo-nos à tarefa de analisar todas as edições diárias impressas desse jornal, nos três meses que antecederam à pesquisa exploratória.
Verificamos primeiro a predominância das matérias e encontramos o seguinte resultado: cidadania, drogas, desigualdade social, dificuldade financeira, desemprego/emprego, estética, família, justiça/injustiça/impunidade, lazer, fome, liberdade, melhoria de vida, publicidade,
(^3) Trabalho de pesquisa Os jovens na mídia , uma publicação digital à disposição no site www.andi.org.br em 2001.
seções, a preferência por certas editorias ou assuntos mas, sobretudo as manchetes que se estampam na capa do jornal.^7
Na verdade, essa constatação quanto ao fato das matérias publicadas na capa possuírem maiores chances de chamar a atenção das pessoas, para que leiam todo o conteúdo do jornal, partes dele ou somente as chamadas não é fato novo. A obra de José Ferreira Junior ‘Capas de Jornal’^8 é uma excelente referência para estudo desse tema. Mas o que queremos salientar é que nossos jovens universitários declararam ter consciência de uma grande oferta de bancas de jornal por toda a cidade do Rio de Janeiro, nas quais os jornais ficam expostos diariamente com as novas manchetes e lê-las, mesmo que apressadamente, a caminho da universidade ou do trabalho, é uma forma de se atualizarem, de inteirar-se, ainda que superficialmente, sobre principais acontecimentos do momento em que vivem. Portanto a capa é essencial. Como nos aponta Lage (1993 p. 18):
Muitos leitores continuam sensíveis às manchetes fortes, aos fios pesados, à arrumação das páginas em camadas horizontais. O pressuposto de que tais elementos não têm função é meia verdade: racionalmente seriam desnecessários; emocionalmente, não são (...) A supressão de componentes emocionais no projeto gráfico supõe um domínio da razão, uma “frieza” que é superficial (...) O equilíbrio de formas é, por um lado, arbitrariamente apoiado na numerologia pitagórica (...) por outro, nega espaço à expressão de admiração e espanto, que continua sendo decisivo para o consumo de informações jornalísticas.
Assim sendo, partindo das representações e problematizações dos jovens consultados, destacamos um elemento que nos pareceu muito importante a ser aprofundado dentro da configuração da capa do jornal: o fato na foto.
É dele que vamos tratar na seção seguinte.
O trabalho de comparação das capas
Como pano de fundo deste trabalho, recolhemos as capas dos jornais O Globo e Extra na semana de 06 a 12 e abril de 2004. A escolha do jornal Extra como contraponto do O Globo se deu porque desejávamos ter em mãos dois diários pertencentes ao mesmo grupo, impressos com a mesma tecnologia, ambos usando fotos coloridas, mas que têm sua diferença, em princípio, determinada pelo preço 9 e pelo projeto gráfico.
(^7) MAMEDE-NEVES, M. A. C., SANTIAGO, I. E. e BERTON, J. O jornal na ótica de jovens universitários. Vertentes. São João Del Rei: FUNREI, 2004. (no prelo) (^8) FERREIRA JUNIOR, J. Capas de jornal, a primeira imagem e o especo gráfico-visual. São Paulo: SENAC, 2003. (^9) O jornal O Globo custa R$ 2,00 e o jornal Extra custa R$ 0,90.
Com o total de 15 capas, pois de algumas tiragens do Extra foram recolhidas duas edições, procedemos à análise do material que descrevemos a seguir.
Observando as capas dos jornais em questão, pudemos ressaltar alguns pontos que nos chamaram a atenção, tais como as cores, os tamanhos das fotos e os espaços ocupado por elas, os boxes , até a tipografia empregada nos títulos dos dois jornais.
No O Globo , a cor predominante é o azul; no Extra , as cores empregadas praticamente em toda a primeira página são o preto e o vermelho, o que poderia ser interpretado simbolicamente por alguns como as cores do Flamengo, um time carioca, mas de grande torcida nacional; vermelho e preto, cores de movimentos sociais populares e tradicionais, assim por diante.
No Extra , as notícias vêm acompanhadas de tarjas coloridas que delimitam o texto. Ao contrário, no O Globo , o uso de cores é mais restrito e, mesmo usando tarjas, em sua maioria azul, estas não têm a função de delimitar a parte escrita. Esse emprego de cores faz com que o Extra torne- se mais chamativo, dando maior leveza à capa.
Uma imagem nunca é um inocente retrato desprovido de significação. Partindo dessa idéia, em se tratando de um jornal, veículo que pretende informar, também formando opiniões, as fotografias que ali estão apresentam-se como texto, como mais um ‘flash’ de informação, às vezes muito mais intricado e revelador que o próprio texto.
Com relação às imagens, não há uma diferença significativa entre o número de fotos de capa dos dois jornais analisados, porém é maior o espaço que elas ocupam no Extra. Tomando a percepção da capa como um todo em ambos os jornais, vimos que em O Globo predomina a tipografia, enquanto que no Extra, a pregnância maior é da imagem, incluindo-se sua própria logomarca 10 , o que torna visual de capa mais lúdico.
Ainda em relação ao jornal Extra , observamos que muitas das fotos são emolduradas por um fundo colorido. Este fundo colorido não é exclusivo das fotos, mas nele sempre há um apelo visual (pequena figura ou desenho), sendo que a cor do fundo indica o caderno onde pode ser encontrada a matéria referente à chamada.
Dentre as fotos de capa, vamos aqui destacar aquelas que achamos mais pertinentes para o propósito deste trabalho, estabelecendo uma breve comparação entre os dois jornais.
(^10) Entende-se por logotipo: marca composta apenas por tipografia, como é a do jornal O Globo ; logomarca: além da tipografia utiliza também símbolos, imagens etc., como é a do jornal Extra.
corresponde mais imaginário, mais espetáculo, menos seriedade. Daí vem a conseqüência de que os ‘sérios’ como Le Monde continuem pura letra, sem uma foto.”^16
O Extra do dia 7 de abril abre a seqüência de fotos de capa com duas pequenas imagens de carro anunciando uma atração a mais nesse dia: o caderno Motor Extra , que divulga assuntos ligados à parte automobilística. Dispõe mais quatro fotos em tamanhos semelhantes, dando maior destaque às fotos do ator Fernando Almeida, que foi assassinado, e da governadora do Rio de Janeiro, Rosinha Matheus deixando o hospital, acompanhada de seu marido. Logo abaixo, uma foto de um casal de artistas se beijando e, ao lado, um jogador do Vasco, um time de futebol carioca.
Nesse aparente ecletismo visual, podemos ver que, apesar de aparentemente díspares, as fotos apresentam certa sintonia. Assim sendo, mesmo que a disposição das imagens possa não ter sido conscientemente proposital, essa arrumação das fotografias ilumina a fala de Kossoy^17 quando alerta que
A fotografia tem uma realidade própria que não corresponde necessariamente à realidade própria que envolveu o assunto, objeto do registro, no contexto da vida passada. Trata-se da realidade do documento, da representação: uma segunda realidade, construída, codificada, sedutora em sua montagem, em sua estética, de forma alguma ingênua, inocente, mas que é, todavia, o elo material do tempo e espaço reservado, pista decisiva para desvendarmos o passado.
No mesmo dia 07 de abril, a capa da 1ª edição do Extra traz no lugar da foto da governadora, a foto da grande ganhadora do BBB4, Cida, fazendo as vezes de Cinderela pós-moderna, o que nos faz suspeitar que essa imagem seja mais popular do que a da outra capa.
Em O Globo do dia 9 de abril, as fotos impressas são duas, da Guerra do Iraque e, logo abaixo, a de um grupo de sem-terras. Na parte inferior, em tamanho menor, duas fotos ilustram a chamada sobre a briga de um popular ator de novelas com um fotógrafo. Na edição do Extra , a foto desse mesmo ator aparece em destaque ao lado da do fotografo com sua câmera fotográfica destruída. O que nos chama a atenção é que, em O Globo, o ator aparece ao longe, fotografado de costas, falando ao telefone, enquanto no outro jornal, o ator aparece caracterizado como o personagem que representa na novela, um bombeiro, fotografado de frente. Interessante observar que o mesmo fato da vida real ocorreu em um capítulo da novela com o personagem representado pelo ator. A vida imita a arte ou a arte imita a vida?
O Globo em sua edição do dia 11 de abril estampa fotos sobre a ‘Guerra do Tráfico’ na Rocinha, uma grande favela do Rio de Janeiro, em três momentos: a foto maior retrata os policiais
(^16) MARTIN-BARBERO, J. Ofício de Cartógrafo: travessias latino-americanas da comunicação na cultura. São Paulo: Loyola, 2004. p. 94. (^17) KOSSOY, B. Realidades e Ficções da Trama Fotográfica. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2002, p.22.
invadindo a favela; a foto ao lado mostra moradores fugindo de moto levando seus pertences. Interessante notar-se que abaixo há uma pequena foto com um menino contemplando flores sobre uma sepultura, o que remete o leitor à legenda que esclarece que se trata de sua mãe, morta em conseqüência dessa guerra urbana. Na mesma data, no jornal Extra , surpreendentemente não ha nenhuma foto que se refira ao fato. Nesse jornal, as imagens da capa nesse dia apresentam dois jogadores de futebol, Cida, a vencedora do BBB4, e, a maior delas, a de uma mulher exibindo roupas e acessórios antigos, insinuando uma situação sensual.
Em suma, nas capas observadas parece-nos que, realmente os fatos estão nas fotos, porém nem todo fato tem uma imagem correspondente e vice-versa. De certo que as fotos veiculadas nas capas dos jornais são um forte apelo para a leitura do jornal, mas nem sempre retratam fielmente um acontecimento.
Em muitas capas, as fotos têm ‘vida própria’, criando realidades que, em alguns casos, contradizem o texto escrito, situação em que a foto é mero atrativo, chamariz que atrai o leitor.
Arriscamo-nos a afirmar que as imagens são tão informativas quanto as palavras, embora, às vezes contraditas pelas palavras. Fotos de jornal são instantâneos da vida cotidiana, transportadas para lugar de destaque onde chamam a atenção exatamente por estarem descoladas no momento vivido: “a vida não são detalhes significativos, instantes reveladores, fixos para sempre. As fotos sim”. 18
(^18) SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. p. 96.