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Este capítulo apresenta os conceitos básicos do desenvolvimento humano, identificando os domínios do desenvolvimento, suas influências e os principais desenvolvimentos em cada período da vida. O texto também aborda a importância do contexto histórico e cultural no desenvolvimento.
Tipologia: Notas de estudo
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pontos principais
você sabia?
Não há nada permanente, exceto a
mudança.
Desenvolvimento humano: um
campo em constante evolução
Desde o momento da concepção, tem início nos seres humanos um processo de transformação que continuará até o final da vida. Uma única célula se desenvolve até se tornar um ser vivo, uma pessoa, que respira, anda e fala. E embora essa célula única vá se tornar um indivíduo único, as transforma- ções que as pessoas experimentam durante a vida apresentam certos padrões em comum. Os bebês crescem e se tornam crianças, que crescem e se tornam adultos. Igualmente, as características huma- nas têm padrões em comum. Por exemplo, entre 10 e 15% das crianças são coerentemente tímidas, e outras 10 a 15% são muito ousadas. Outras influências podem modificar esses traços, mas eles tendem a persistir, pelo menos em grau moderado, especialmente em crianças que estão em um extremo ou em outro. Isso é discutido com mais detalhes no Capítulo 8. O campo do desenvolvimento humano concentra-se no estudo científico dos processos siste- máticos de mudança e estabilidade que ocorrem nas pessoas. Os cientistas do desenvolvimento (ou desenvolvimentistas) – indivíduos empenhados no estudo profissional do desenvolvimento humano
ESTUDANDO O CICLO DE VIDA Os cientistas do desenvolvimento reconhecem que o desenvolvimento humano é um processo que dura a vida toda – um conceito conhecido como desenvolvimento do ciclo de vida. Estudos mais
O que é desenvolvimento humano e como o seu estudo evoluiu?
indicad r
desenvolvimento humano Estudo científico dos processos de transformação e estabilidade ao longo de todo o ciclo de vida humano.
desenvolvimento do ciclo de vida Conceito sobre o desenvolvimento humano como um processo que dura a vida toda e que pode ser estudado cientificamente.
indicadores
de estudo
antigos como os Estudos de Stanford sobre Crianças Superdotadas, que acom- panharam o desenvolvimento de pessoas que haviam sido identificadas como tendo uma inteligência bem acima do normal desde a infância até a velhi- ce, os Estudos de Crescimento e Orientação de Berkeley e o Estudo sobre Crescimento (do Adolescente) de Oakland nos têm dado muitas informações sobre o desenvolvimento a longo prazo. Mais recentemente, a abordagem ao desenvolvimento do ciclo de vida de Paul B. Baltes, que veremos mais adiante neste capítulo, fornece um abrangente arcabouço conceitual para esse estudo.
O DESENVOLVIMENTO HUMANO HOJE
À medida que o campo do desenvolvimento humano tornava-se uma disciplina científica, seus objetivos passaram a incluir descrição, explicação, previsão e intervenção. Por exemplo, para descrever quando a maioria das crianças pro- nuncia sua primeira palavra ou qual o tamanho de seu vocabulário numa certa idade, os cientistas do desenvolvimento observam grandes grupos de crianças e estabelecem normas, ou médias, para o comportamento em várias idades. Eles procuram assim explicar como as crianças adquirem a linguagem, e por que al- gumas crianças aprendem a falar mais tarde do que o usual. Com esse conheci- mento podem-se prever comportamentos futuros, tais como a probabilidade de uma criança ter sérios problemas com a fala. Finalmente, o conhecimento de como a linguagem se desenvolve pode ser utilizado para intervir no desenvol- vimento, por exemplo, disponibilizando terapia fonoaudiológica para a criança. O estudo científico do desenvolvimento humano está em constante evolução. As questões que os cientistas tentam responder, os métodos que utilizam e as explicações que propõem são mais sofisticados e mais diversificados do que eram há dez anos. Essas mudanças refletem progresso no entendimento à medida que novas investigações questionam ou se apoiam naquelas que as antece- deram. Também refletem avanços na tecnologia. Instrumentos sensíveis que medem os movimentos dos olhos, ritmo cardíaco, tensão muscular e coisas do gênero estão revelando interessantes conexões entre funções biológicas e inteligência infantil. A tecnologia digital e os computadores permitem aos pesquisadores escanear as expressões faciais em busca dos primeiros sinais de emoções e analisar como mães e bebês se comunicam. Avanços nas técnicas de imageamento possibilitam sondar os mistérios do temperamento ou comparar o cérebro de um idoso com o cérebro de uma pessoa com demência. Quase desde o começo, o estudo do desenvolvimento humano tem sido interdisciplinar. Alimen- ta-se de um amplo espectro de disciplinas que incluem psicologia, psiquiatria, sociologia, antropologia, biologia, genética, ciência da família (estudo interdisciplinar sobre as relações familiares), educação, história e medicina. Este livro traz descobertas de pesquisas em todas essas áreas.
O estudo do desenvolvimento humano:
conceitos básicos
Os cientistas do desenvolvimento estudam os processos de mudança e estabilidade em todos os domí- nios, ou aspectos, do desenvolvimento durante todos os períodos do ciclo de vida.
DOMÍNIOS DO DESENVOLVIMENTO
Os cientistas do desenvolvimento estudam os três principais domínios , ou aspectos, do eu: físico, cog- nitivo e psicossocial. O crescimento do corpo e do cérebro, as capacidades sensoriais, as habilidades motoras e a saúde fazem parte do desenvolvimento físico. Aprendizagem, atenção, memória, lin- guagem, pensamento, raciocínio e criatividade compõem o desenvolvimento cognitivo. Emoções, personalidade e relações sociais são aspectos do desenvolvimento psicossocial. Embora neste livro tratemos separadamente do desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial, esses domínios estão inter-relacionados: cada aspecto do desenvolvimento afeta os outros. Como já
O que os cientistas do desenvolvimento estudam?
indicad r
desenvolvimento físico Crescimento do corpo e do cérebro, incluindo os padrões de mudança nas capacidades sensoriais, habilidades motoras e saúde. desenvolvimento cognitivo Padrão de mudança nas habilidades mentais, tais como aprendizagem, atenção, memória, linguagem, pensa- mento, raciocínio e criatividade. desenvolvimento psicossocial Padrão de mudança nas emoções, per- sonalidade e relações sociais.
As técnicas de imageamento cerebral, como a resso- nância magnética funcional (fMRI), a tomografia por emissão de pósitron (PET) e o eletroencefalograma (EEG), são usadas para mapear a localização de cer- tos processos mentais nesse órgão.
verificador você é capaz de... Dar exemplos de aplicações práticas de pesquisas sobre desenvolvimento humano? Identificar quatro metas do estudo científico do desenvol- vimento humano? Citar pelo menos seis discipli- nas envolvidas no estudo do desenvolvimento humano?
raciocinar e, portanto, são lenientes quando os filhos choram ou ficam bravos. Mas os pais da ilha de Tonga, no Pacífico, costumam bater nas crianças de 3 a 5 anos, cujo choro é atribuído à teimosia. O conceito de adolescência como um período único de desenvolvimento nas sociedades indus- triais é bem recente. Nos Estados Unidos, até o começo do século XX, os jovens eram considerados crianças até deixarem a escola, casarem ou arranjarem um emprego e entrarem no mundo adulto. Por volta da década de 1920, com a criação de escolas de ensino médio para satisfazer às necessidades de uma economia em crescimento, e com mais famílias capacitadas para sustentar uma educação formal ampliada para seus filhos, a fase da adolescência tornou-se um período distinto do desenvolvimento (Keller, 1999). Em algumas sociedades pré-industriais, como a dos índios chippewa, o conceito de ado- lescência não existe. Os chippewa têm apenas dois períodos na infância: do nascimento até quando a criança começa a andar, e daí até a puberdade. Aquilo que chamamos de adolescência faz parte da vida adulta (Broude, 1995). Conforme veremos no Capítulo 16, os gusii do Quênia não têm nenhum conceito de meia-idade. Neste livro, seguimos uma sequência de oito períodos geralmente aceitos nas sociedades indus- triais ocidentais. Depois de descrever as mudanças cruciais que ocorrem no primeiro período, antes do nascimento, traçamos todos os três domínios do desenvolvimento na primeira infância, segunda infância, terceira infância, adolescência, início da vida adulta, vida adulta intermediária e vida adulta tardia (Tabela 1.1). Para cada período após a primeira infância, combinamos o desenvolvimento físico e o cognitivo num único capítulo. As faixas etárias mostradas na Tabela 1.1 são aproximadas e um tanto arbitrárias. Isso é verda- deiro especialmente em relação à idade adulta, quando não há referenciais sociais ou físicos bem definidos, tais como o ingresso na escola ou a entrada na puberdade, para sinalizar a passagem de um período para o outro. Embora existam diferenças individuais na maneira como as pessoas lidam com eventos e ques- tões características de cada período, os cientistas do desenvolvimento sugerem que certas necessi- dades básicas precisam ser satisfeitas e certas tarefas precisam ser dominadas para que ocorra um desenvolvimento normal. Os bebês, por exemplo, dependem dos adultos para comer, vestir-se e obter abrigo, além de contato humano e afeição. Eles formam vínculos com os pais e cuidadores, que também se apegam a eles. Com o desenvolvimento da fala e da autolocomoção, os bebês tornam-se mais autoconfiantes; eles precisam afirmar sua autonomia, mas também precisam da ajuda dos pais para estabelecer limites ao seu comportamento. Durante a segunda infância, as crianças passam a ter mais autocontrole e maior interesse por outras crianças. Durante a terceira infância, o controle sobre o comportamento aos poucos se desloca dos pais para os filhos e os colegas tornam-se cada vez mais importantes. A tarefa central da adolescência é a busca da identidade – pessoal, sexual e ocupacional. À medida que os adolescentes amadurecem fisicamente, passam a lidar com necessidades e emoções conflitantes enquanto se preparam para deixar o ninho parental. Durante o início da vida adulta, um período exploratório que vai do início a meados dos vinte anos, muitas pessoas ainda não estão prontas para se dedicar às tarefas típicas de jovens adultos: estabelecer estilos de vida independentes, ocupações e famílias. Por volta dos 30 anos, a maioria dos adultos já cumpriu com sucesso essas tarefas. Durante a vida adulta intermediária, é provável a ocor- rência de algum declínio nas capacidades físicas. Ao mesmo tempo, muitos indivíduos de meia-idade encontram entusiasmo e desafios nas mudanças de vida – uma nova carreira e filhos adultos –, en- quanto outros enfrentam a necessidade de cuidar de pais idosos. Na vida adulta tardia, as pessoas pre- cisam enfrentar a perda de suas próprias faculdades, perdas de entes queridos e os preparativos para a morte. Se elas se aposentarem, deverão lidar com a perda de relacionamentos ligados ao trabalho, mas poderão sentir-se satisfeitas com as amizades, a família, com o trabalho voluntário e a oportunidade de explorar interesses antes negligenciados. Muitas pessoas idosas tornam-se mais introspectivas, buscan- do significado para suas vidas.
Influências no desenvolvimento
O que torna cada pessoa única? Embora os estudiosos do desenvolvimento estejam interessados nos processos universais de desenvolvimento vivenciados por todos os seres humanos normais, eles tam-
verificador
você é capaz de... Identificar os três domínios do desenvolvimento e dar exemplos de como eles estão inter-relacionados? Citar oito períodos do de- senvolvimento humano e relacionar várias questões ou tarefas fundamentais de cada período?
Que tipos de influência fazem uma pessoa ser diferente da outra?
indicad r
Faixa etária Desenvolvimento físico Desenvolvimento cognitivo Desenvolvimento psicossocial
Período Pré-natal (da concepção ao nascimento)
Ocorre a concepção por fertili- zação normal ou por outros meios. Desde o começo, a dotação gené- tica interage com as influências ambientais. Formam-se as estruturas e os órgãos corporais básicos: inicia- -se o surto de crescimento do cérebro. O crescimento físico é o mais ace- lerado do ciclo de vida. É grande a vulnerabilidade às in- fluências ambientais.
Desenvolvem-se as capacidades de aprender e lembrar, bem como as de responder aos estí- mulos sensoriais.
O feto responde à voz da mãe e desenvolve preferência por ela.
Primeira Infância (do nascimento aos 3 anos)
No nascimento, todos os sentidos e sistemas corporais funcionam em graus variados. O cérebro aumenta em comple- xidade e é altamente sensível à influência ambiental. O crescimento físico e o desenvol- vimento das habilidades moto- ras são rápidos.
As capacidades de aprender e lembrar estão presentes, mes- mo nas primeiras semanas. O uso de símbolos e a capacidade de resolver problemas se de- senvolvem por volta do final do segundo ano de vida. A compreensão e o uso da lingua- gem se desenvolvem rapida- mente.
Formam-se os vínculos afetivos com os pais e com outras pes- soas. A autoconsciência se desenvolve. Ocorre a passagem da dependên- cia para a autonomia. Aumenta o interesse por outras crianças.
Segunda Infância (3 a 6 anos)
O crescimento é constante; a apa- rência torna-se mais esguia e as proporções mais parecidas com as de um adulto. O apetite diminui e são comuns os distúrbios do sono. Surge a preferência pelo uso de uma das mãos; aprimoram-se as habilidades motoras finas e ge- rais e aumenta a força física.
O pensamento é um tanto ego- cêntrico, mas aumenta a com- preensão do ponto de vista dos outros. A imaturidade cognitiva resulta em algumas ideias ilógicas so- bre o mundo. Aprimoram-se a memória e a lin- guagem. A inteligência torna-se mais pre- visível. É comum a experiência da pré- -escola; mais ainda a do jardim de infância.
O autoconceito e a compreensão das emoções tornam-se mais complexos; a autoestima é global. Aumentam a independência, a iniciativa e o autocontrole. Desenvolve-se a identidade de gênero. O brincar torna-se mais imaginati- vo, mais elaborado e, geralmen- te, mais social. Altruísmo, agressão e temor são comuns. A família ainda é o foco da vida social, mas outras crianças tornam-se mais importantes.
Terceira Infância (6 a 11 anos)
O crescimento torna-se mais lento. A força física e as habilidades atlé- ticas aumentam. São comuns as doenças respira- tórias, mas de um modo geral a saúde é melhor do que em qualquer outra fase do ciclo de vida.
Diminui o egocentrismo. As crian- ças começam a pensar com lógica, porém concretamente. As habilidades de memória e lin- guagem aumentam. Ganhos cognitivos permitem à criança beneficiar-se da instru- ção formal na escola. Algumas crianças demonstram necessidades educacionais e talentos especiais.
O autoconceito torna-se mais complexo, afetando a autoes- tima. A corregulação reflete um deslo- camento gradual no controle dos pais para a criança. Os colegas assumem importância fundamental.
bém estudam as diferenças individuais nas características, influências e consequências do desenvol- vimento. As pessoas diferem em gênero, altura, peso e compleição física; na saúde e nível de energia; em inteligência; e no temperamento, personalidade e reações emocionais. Os contextos de suas vidas também diferem: os lares, as comunidades e sociedades em que vivem, seus relacionamentos, as escolas que frequentam (ou se elas de fato vão para a escola) e o trabalho que fazem, e como passam seu tempo livre.
HEREDITARIEDADE, AMBIENTE E MATURAÇÃO Algumas influências sobre o desenvolvimento têm origem principalmente na hereditariedade : tra- ços inatos ou características herdadas dos pais biológicos. Outras influências vêm em grande parte do ambiente : o mundo que está do lado de fora do eu, e que começa no útero, e a aprendizagem relacionada à experiência. Qual desses dois fatores causa maior impacto sobre o desenvolvimento? A questão da importância relativa da genética (hereditariedade) e do ambiente (influências ambientais antes e depois do nascimento) gerou historicamente um intenso debate. Atualmente, os cientistas encontraram meios de medir com mais precisão, numa determinada população, o papel da hereditariedade e do ambiente no desenvolvimento de traços específicos. Quan- do, porém, consideramos uma determinada pessoa, a pesquisa relativa a quase todas suas característi- cas aponta para uma combinação de hereditariedade e experiência. Assim, embora a inteligência seja fortemente influenciada pela hereditariedade, a estimulação parental, a educação, a influência dos amigos e outras variáveis também a afetam. Teóricos e pesquisadores contemporâneos estão mais inte- ressados em descobrir meios de explicar como genética e ambiente operam juntos do que argumentar sobre qual dos fatores é mais importante. Muitas mudanças típicas da primeira e da segunda infância, como a capacidade de andar e falar, estão vinculadas à maturação do corpo e do cérebro – o desdobramento de uma sequência natural de mudanças físicas e padrões de comportamento. À medida que as crianças tornam-se adolescentes e depois adultos, diferenças individuais nas características inatas e na experiência de vida passam a desempenhar um papel mais importante. Durante a vida toda, porém, a maturação continua influen- ciando certos processos biológicos como, por exemplo, o desenvolvimento do cérebro. Mesmo nos processos a que todas as pessoas estão submetidas, os ritmos e os momentos do desenvolvimento variam. Ao longo deste livro, falamos sobre as idades médias para a ocorrência de certos eventos: a primeira palavra, o primeiro passo, a primeira menstruação, a emissão noturna, o desenvolvimento do pensamento lógico e a menopausa. Mas essas idades são apenas médias, e há uma grande variação entre as pessoas com respeito a essas normas. Somente quando o desvio da média for extremo é que devemos considerar o desenvolvimento como excepcionalmente adiantado ou atrasado. Para entender o desenvolvimento humano, portanto, precisamos considerar as características herdadas que dão a cada pessoa um ponto de partida especial na vida. Também precisamos levar em conta os muitos fatores ambientais ou experienciais que afetam o desenvolvimento, especial- mente contextos importantes como família, vizinhança, nível socioeconômico, raça/etnia e cultu- ra. Precisamos considerar como a hereditariedade e o ambiente interagem. Precisamos entender quais dos processos de desenvolvimento são principalmente maturacionais e quais não são. Neces- sitamos observar as influências que afetam muitas ou a maioria das pessoas em determinada idade ou em determinado momento histórico, e também aquelas que afetam apenas certos indivíduos. Finalmente, precisamos observar como o momento da ocorrência pode afetar o impacto de certas influências.
CONTEXTOS DO DESENVOLVIMENTO Seres humanos são seres sociais. Desde o começo, desenvolvem-se dentro de um contexto social e histórico. Para um bebê, o contexto imediato normalmente é a família, que, por sua vez, está sujeita às influências mais amplas e em constante transformação da vizinhança, da comunidade e da sociedade.
diferenças individuais Diferenças nas características, nas influências ou nos resultados do desen- volvimento.
hereditariedade Traços ou características inatas herda- das dos pais biológicos. ambiente Totalidade das influências não heredi- tárias ou experienciais sobre o desen- volvimento.
maturação Desdobramento de uma sequência natural de mudanças físicas e compor- tamentais.
Spiegel, 1985
Família A família nuclear é uma unidade que compreende pai e mãe, ou apenas um deles, e seus filhos, sejam eles biológicos, adotados ou enteados. Historicamente, a família nuclear com pai e mãe tem sido a unidade familiar dominante nas sociedades ocidentais. Hoje, no entanto, a família nuclear é diferente do que costumava ser. Em vez de uma grande família rural em que pais e filhos trabalha- vam lado a lado na propriedade da família, agora vemos famílias urbanas menores em que tanto o pai quanto a mãe trabalham fora de casa e os filhos passam boa parte do tempo na escola ou na creche. O número cada vez maior de divórcios também afetou a família nuclear. Filhos de pais divorciados talvez morem na casa da mãe ou do pai, ou poderão deslocar-se entre uma e outra. O lar dessa família pode incluir um padrasto ou madrasta e meios-irmãos, ou o companheiro ou a companheira do pai ou da mãe. Há um número cada vez maior de adultos solteiros e sem filhos, pais não casados e lares de gays e lésbicas (Hernandez, 1997, 2004; Teachman, Tedrow e Crowder, 2000). Em muitas sociedades da Ásia, África e América Latina, e entre algumas famílias norte-america- nas que remontam sua linhagem a países desses continentes, a família extensa – uma rede multige- racional que inclui avós, pai e mãe, tios, primos e outros parentes mais distantes – é a forma tradicio- nal de família. Muitas pessoas vivem em lares extensos , onde têm contato diário com os familiares. Os adultos geralmente compartilham o sustento da família e as responsabilidades na criação dos filhos, e os filhos mais velhos são responsáveis pelos irmãos e irmãs mais novos. Geralmente, esses lares são chefiados por mulheres (Aaron et al., 1999; Johnson et. al., 2003). Hoje, lares extensos estão se tornando cada vez menos comuns em muitos países em desenvol- vimento devido à industrialização e à migração para os centros urbanos (Brown e Gilligan, 1990; Gorman, 1993; Kinsella e Phillips, 2005). Enquanto isso, nos Estados Unidos, pressões econômicas, escassez de moradias e crianças geradas fora do casamento ajudaram a alimentar uma tendência de lares de famílias com três e até quatro gerações. Em 2008, aproximadamente 16% dos lares podiam ser caracterizados como multigeracionais (Pew Research Center, 2010b). Lares multigeracionais tornaram-se mais comuns nos últimos anos por diversas razões. Primeiro, porque tanto homens quanto mulheres estão casando com mais idade, e assim continuam morando em casa por mais tempo do que de costume. Isso passou a ser comum com as recentes crises na eco- nomia norte-americana. Segundo, por causa do influxo de populações imigrantes desde 1970. Esses imigrantes estão mais propensos do que as famílias nativas a procurar lares multigeracionais por razões de praticidade e também de preferência. De fato, mesmo entre os não imigrantes, raça e etnia influen- ciam. Latinos, afro-americanos e asiáticos estão mais propensos a viver em famílias multigeracionais do que os brancos. Além disso, as pessoas agora vivem mais, e pais idosos às vezes se beneficiam da inclusão na casa de seus filhos (Pew Research Center, 2010b).
Nível socioeconômico e vizinhança O nível socioeconômico (NSE) baseia-se na renda da família e nos níveis educacional e ocupacional dos adultos da casa. Neste livro, examinaremos
família nuclear Unidade econômica e doméstica que compreende laços de parentesco en- volvendo duas gerações e que consiste em pai e mãe, ou apenas um dos dois, e seus filhos biológicos, adotados ou enteados.
família extensa Rede de parentesco envolvendo muitas gerações e formada por pais, filhos e outros parentes, às vezes vivendo juntos no mesmo lar.
nível socioeconômico (NSE) Combinação de fatores econômicos e sociais que descreve um indivíduo ou uma família, e que inclui renda, educa- ção e ocupação.
O lar de uma família extensa pode incluir avós, tias e primos.
A composição da vizinhança também afeta as crianças. Para quem vive numa vizinhança pobre, com grande número de desempregados, é menos provável encontrar suporte social adequado dispo- nível (Black e Krishnakumar, 1998). Ainda assim, o desenvolvimento positivo pode ocorrer apesar de sérios fatores de risco. Considere a escritora Maya Angelou, ganhadora do Prêmio Pulitzer, a cantora Shania Twain e o ex-presidente Abraham Lincoln. Todos eles cresceram na pobreza (Kim-Cohen et al., 2004). A riqueza, porém, nem sempre protege as crianças contra riscos. Algumas crianças de famílias ricas são pressionadas para alcançar sucesso e frequentemente são deixadas sozinhas em casa por pais ocupados. Essas crianças apresentam altas taxas de abuso de substâncias químicas, ansiedade e depres- são (Luthar e Latendresse, 2005). Embora as famílias pobres geralmente sejam menos otimistas sobre a vizinhança e se sintam menos seguras nela, vários pontos positivos podem ser encontrados no con- texto da família imediata. Os pais afirmam estar mais próximos de seus filhos, frequentam a igreja com sua família, sentem-se seguros em casa e na escola e fazem as refeições juntos com mais frequência do que as famílias mais ricas. Talvez a comunidade científica tenha se concentrado exageradamente nos efeitos negativos da pobreza, sem prestar a devida atenção aos pontos positivos e às resiliências encontradas em lares de baixo NSE (Valladares e Moore, 2009).
Cultura e raça/etnia A cultura refere-se ao modo de vida global de uma sociedade ou grupo, que inclui costumes, tradições, leis, conhecimento, crenças, valores, linguagem e produtos materiais, de ferramentas a trabalhos artísticos – todo comportamento e todas as atitudes aprendidas, comparti- lhadas e transmitidas entre os membros de um grupo social. A cultura está em constante mudança, geralmente mediante contato com outras culturas. Hoje, o contato cultural é incrementado por com- putadores e pelas telecomunicações. O e-mail , ou endereço eletrônico, e as mensagens instantâneas oferecem uma comunicação quase imediata em todo o planeta, e serviços digitais como o iTunes dão a pessoas do mundo inteiro um fácil acesso a músicas e filmes. Um grupo étnico consiste em pessoas unidas por determinada cultura, ancestralidade, religião, língua ou origem nacional, tudo isso contribuindo para formar um senso de identidade, atitudes, cren- ças e valores comuns. Até 2040, a projeção é que a população de grupos minoritários étnicos cresça até 50% (Hernandez, Denton e Macartney, 2007). A proporção de crianças pertencentes aos grupos minoritários aumenta ainda mais rápido; elas formarão mais da metade da população infantil até 2023, de um total de 44% em 2008. Até 2050, a projeção é que 62% das crianças pertençam àqueles grupos que agora são mino- ritários, e a proporção de crianças hispânicas ou latinas – 39% – irá superar os 38% de brancos não hispânicos (U.S. Census Bureau, 2008a; Figura 1.2a e 1.2b). Quase um quarto dos alunos do jardim de infância nos Estados Unidos e um quinto de todos os alunos até o 3º ano do ensino médio são his- pânicos (U.S. Census Bureau, 2009b, 2009c). Os padrões étnicos e culturais afetam o desenvolvimento por sua influência na composição de uma família, nos recursos econômicos e sociais, no modo como seus membros agem em relação uns aos outros, nos alimentos que comem, nos jogos e nas brincadeiras das crianças, no modo como aprendem, no aproveitamento escolar, nas profissões escolhidas pelos adultos e na maneira como os
cultura O modo de vida global de uma so- ciedade ou de um grupo, que inclui costumes, tradições, crenças, valores, linguagem e produtos materiais – todo comportamento adquirido que é trans- mitido dos pais para os filhos.
grupo étnico Grupo unido por ancestralidade, raça, religião, língua ou origens nacionais, que contribuem para formar um senso de identidade comum.
Schug, Yuki e Maddux, 2010
(a) De acordo com as proje- ções da Agência de Recen- seamento (Census Bureau), os grupos minoritários raciais/ét- nicos chegarão a 54% da po- pulação dos Estados Unidos, excedendo a proporção de pessoas brancas não hispâni- cas até 2050. (b) Também até 2050 espera-se que crianças de menos de 18 anos perten- centes às “minorias” formem 62% da população infantil.
250
200 150
Milhões
100
50
2010 2020 2030 2040 2050 Ano (a) Projeções para a população
0
brancos não hispânicos outros
Idades até 17 anos (^2008 )
(b) Porcentagem de crianças pertencentes a grupos minoritários
Fonte: U.S. Census Bureau, 2008a.
membros da família pensam e percebem o mundo (Parke, 2004). Por exemplo, nos Estados Unidos, os filhos de imigrantes têm uma probabilidade quase duas vezes maior de viver em famílias extensas do que as crianças nascidas naquele país, e uma probabilidade menor de que suas mães trabalhem extradomiciliarmente (Hernandez, 2004; Shields e Behrman, 2004). Os Estados Unidos sempre foram uma nação de imigrantes e grupos étnicos, mas a principal origem étnica da população imigrante deslocou-se da Europa e Canadá para a Ásia e a América Latina (Hernan- dez, 2004). Em 2007, mais de 20% da população era de imigrantes ou filhos de imigrantes (Quadro 1.1). A maioria dos imigrantes veio do México, 40%, e os restantes 60% vieram de nações do Caribe, do leste e do oeste da Ásia, Austrália, Américas Central e do Sul, Indochina, antiga União Soviética e África.
para o mund
CRIANÇAS DE FAMÍLIAS DE IMIGRANTES
Os Estados Unidos sempre foram uma nação de imigrantes e grupos étnicos, mas a principal origem étnica da população imi- grante deslocou-se da Europa e Canadá – terras natais de 97% dos imigrantes em 1910 – para a América Latina, Caribe, Ásia e África, que agora respondem por 88% de todos os imigrantes. Quase um quarto (24%) das crianças nos Estados Unidos vi- via em famílias de imigrantes, em 2007. Crescendo mais rápido que qualquer outro grupo de crianças no país, elas lideram a futura mudança de status dos grupos minoritários raciais e ét- nicos para a condição de maioria. Enquanto antigamente as on- das de imigrantes eram quase inteiramente formadas por bran- cos e cristãos, mais de um terço (37%) das crianças de famílias de imigrantes tem pais não brancos. Muitas dessas famílias são confucionistas, budistas, hindus, judias, muçulmanas, xintoístas, siques, taoístas ou zoroastrianas e, embora predominantemen- te de língua espanhola, falam diversas outras línguas. A maioria dos imigrantes vem do México (40%) (Hernandez e Macartney, 2008). Estima-se que cinco milhões de crianças nascidas no México ou filhas de pais mexicanos vivam nos Es- tados Unidos. Muitos desses pais trabalham em subempregos nos setores de alimentação, manutenção, construção, na agri- cultura e nas indústrias de manufaturados, ganhando menos de 20 mil dólares por ano, trabalhando em tempo integral. Com o recrudescimento dos sentimentos contrários à imi- gração, pais de família sem documentos vivem sob um medo constante de perderem o emprego (quando conseguem en- contrar um) e de serem deportados (Children in North America Project, 2008). Quase metade de todas as crianças de famílias de imigrantes (47,9%) vive na pobreza (Hernandez, Denton e Macartney, 2007), e muitas não têm seguro-saúde apesar de terem direito, mesmo seus pais trabalhando duro para susten- tar a família. A maior parte dos filhos de imigrantes vive com pais casados ou que vivem juntos. Mas há uma probabilidade quase duas
vezes maior de essas crianças, comparadas às outras, viverem em famílias de lares extensos com os avós, outros parentes e mesmo não parentes, geralmente em moradias com excesso de pessoas. A probabilidade de filhos de famílias de imigrantes terem pais que não concluíram o ensino médio é mais de três vezes maior que a dos filhos de famílias nativas (40% compara- do a 12%). Pais imigrantes geralmente têm grandes aspirações educacionais para seus filhos, mas faltam-lhes conhecimento e experiência para ajudá-los a serem bem-sucedidos na escola. (Questões que envolvem a educação de filhos de imigrantes são discutidas em capítulos posteriores.) Um fato pouco conhecido é que quase 1 entre 4 filhos de famílias de imigrantes (24%) tem o pai ou a mãe nascidos nos Estados Unidos, e em quase metade (48%) dos casos o pai ou a mãe é cidadão naturalizado. Mais de 2 de cada 3 (68%) têm pais que vivem nos Estados Unidos há 10 anos ou mais, e quase 4 de cada 5 crianças (79%) nasceram nos Estados Unidos. De fato, quase 2 de cada 3 crianças (63%) que vivem com pais sem docu- mentos são elas mesmas nascidas nos Estados Unidos. Como a imigração gera mudanças dramáticas na população dos Estados Unidos, questões de desenvolvimento que afetam crianças de famílias de imigrantes serão temas cada vez mais importantes para a pesquisa. Fonte: A não ser quando diferentemente citada, a fonte para este quadro é Hernandez, Denton e Macartney (2008).
qual a sua opinião
Você (ou algum membro da sua família) é imigrante ou filho de imigrantes? Em caso positivo, quais os fatores que favo- receram ou dificultaram sua adaptação à vida no país em que você mora? Como você imagina a vida dos filhos de imi- grantes daqui a 40 anos?
JANELA
o
Influências normativas reguladas pela idade (ou etárias ) são muito semelhantes para pessoas de uma determinada faixa etária. O tempo de ocorrência de eventos biológicos é razoavelmente previsí- vel dentro de uma faixa normal. Por exemplo, as pessoas não passam pela experiência da puberdade aos 35 anos ou da menopausa aos 12. Influências normativas reguladas pela história são eventos significativos (tais como a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial) que moldam o comportamento e as atitudes de uma geração histórica : um grupo de pessoas que passa pela experiência do evento em um momento formativo de suas vidas. Por exemplo, as gerações que se tornaram maiores de idade durante a Depressão e a Segunda Guerra tendem a mostrar um forte senso de interdependência e confiança social, que declinou entre as gerações mais recentes (Rogler, 2002). Dependendo de quando e onde vivem, gerações inteiras podem sentir o impacto da escassez de alimentos, das explo- sões nucleares ou dos ataques terroristas. Nos países ocidentais, os avanços da medicina, bem como os aperfeiçoamentos na nutrição e no saneamento reduzi- ram dramaticamente a mortalidade infantil. Hoje, à medida que as crianças vão crescendo, são influenciadas por computadores, televisão digital, internet e outras inovações tecnológicas. As mudanças sociais, como o aumento da presença de mães no mercado de trabalho e de lares de pais ou mães solteiros alteraram, e muito, a vida familiar. Uma geração histórica não é a mesma coisa que uma coorte etária – um grupo de pessoas nascido aproximadamente na mesma época. Uma geração histórica pode conter mais de uma coorte, mas as coortes fazem parte de uma geração histórica somente se passa- rem pela experiência de importantes eventos históricos em um mo- mento formativo de suas vidas (Rogler, 2002). Influências não normativas são even- tos incomuns que causam grande impacto na vida dos indivíduos por perturbarem a sequência esperada do ciclo de vida. Po- dem ser eventos típicos que acontecem num momento atípico da vida (como a morte de um dos pais quando a criança é pequena) ou eventos atípicos (por exemplo, sobreviver a um acidente aéreo). Algumas dessas in- fluências estão além do controle da pessoa e podem apresentar raras oportunidades ou sérios desafios, e são percebidos como momentos decisivos na vida. Por outro lado, as pessoas às vezes ajudam a criar seus próprios eventos não normativos – digamos, ao decidirem ter um bebê, ou ao se interessarem por hobbies perigosos como praticar skydiving – e assim participar ativamente de seu próprio desenvolvimento. Juntos, esses três tipos de influência – normativa regulada pela idade, nor- mativa regulada pela história e não normativa – contribuem para a complexidade do desenvolvimento humano, bem como para os desafios que as pessoas vivenciam ao tentar construir suas vidas.
CRONOLOGIA DAS INFLUÊNCIAS: PERÍODOS CRÍTICOS OU SENSÍVEIS Em um estudo muito conhecido, o zoólogo austríaco Konrad Lorenz (1957) fez com que patinhos recém-nascidos o seguissem como o fariam com a mamãe pata. Lorenz mostrou que patinhos recém- -chocados instintivamente vão seguir o primeiro objeto em movimento que eles virem, seja um mem- bro de sua espécie ou não. Esse fenômeno chama-se imprinting , e Lorenz acreditava que fosse automático e irreversível. Geralmente, a ligação instintiva é com a mãe; quando o curso natural dos eventos for perturbado, porém, outros vínculos, como aquele estabelecido com Lorenz – ou nenhum vínculo – podem se formar. O imprinting , dizia Lorenz, é o resultado de uma predisposição à apren- dizagem : a prontidão do sistema nervoso de um organismo para adquirir certas informações durante um breve período crítico no começo da vida.
Staut, 2010
geração histórica Grupo de pessoas que, durante seu período de formação, recebeu forte infuência de um importante evento histórico. coorte Grupo de pessoas nascidas aproxima- damente na mesma época. não normativo Característico de um evento incomum que acontece com uma determinada pessoa ou de um evento típico que ocorre fora de seu período usual.
verificador
você é capaz de... Dar exemplos de influências normativas reguladas pela ida- de, normativas reguladas pela história e não normativas?
imprinting Forma instintiva de aprendizagem em que um filhote de animal, durante um período crítico no início de seu desen- volvimento, estabelece um vínculo com o primeiro objeto que ele vê em movimento, geralmente a mãe.
O uso disseminado dos computadores é uma influência norma- tiva sobre o desenvolvimento da criança, regulada pela histó- ria, e que não existia nas gerações anteriores.
Período crítico é um intervalo de tempo específico em que um determinado evento, ou a sua ausência, causa um impacto específico sobre o desenvolvimento. Se um evento necessário não ocorrer durante um período crítico de maturação, o desenvol- vimento normal não ocorrerá; e os padrões anormais poderão ser irreversíveis (Knudsen, 1999; Kuhl et al., 2005). No entanto, a ex- tensão de um período crítico não é absoluta- mente fixa; se as condições de criação de patinhos forem alteradas para desacelerar seu crescimento, o período crítico usual para o imprinting poderá ser estendido e o próprio imprinting talvez seja até revertido (Bruer, 2001). Seres humanos passam por períodos críticos como os patinhos? Se uma mulher é submetida a raios X, ingere certos medicamentos ou contrai doenças em determinados períodos durante a gravi- dez, o feto poderá apresentar efeitos nocivos específicos, dependendo da natureza do choque, do mo- mento em que ocorreu e das características do próprio feto. Se um problema muscular que interfere na capacidade de focar os dois olhos no mesmo objeto não for corrigido durante um período crítico no início da infância, os mecanismos do cérebro necessários para a percepção binocular de profundidade provavelmente não se desenvolverão (Bushnell e Boudreau, 1993). No entanto, o conceito de períodos críticos nos seres humanos é polêmico. Como muitos aspectos do desenvolvimento, mesmo no domínio físico, mostraram plasticidade , ou desempenho passível de modificação, talvez seja mais útil pensar em termos de períodos sensíveis , quando uma pessoa em desenvolvimento é especialmente receptiva a certos tipos de experiências (Bruer, 2001). São cada vez maiores as evidências de que a plasticidade não é apenas uma característica geral do desenvolvimento que se aplica a todos os membros de uma espécie, mas que também há diferenças individuais na plasticidade de respostas aos eventos do ambiente. Parece que algumas crianças – espe- cialmente aquelas de temperamento difícil, altamente reativas e portadoras de determinadas variantes de genes – podem ser mais profundamente afetadas pelas experiências da infância, sejam positivas ou negativas, do que outras (Belsky e Pluess, 2009). Essa nova pesquisa sugere que características suposta- mente negativas – como temperamento difícil ou reativo – talvez sejam altamente adaptativas (positivas) quando o ambiente apoia o desenvolvimento. Por exemplo, um estudo recente descobriu que crianças que eram altamente reativas a eventos do ambiente apresentavam, como era de se esperar, respostas ne- gativas como agressão e problemas comportamentais quando diante de fatores estressores como o confli- to conjugal em suas famílias. Surpreendentemente, contudo, quando os níveis de adversidade da família eram baixos, crianças altamente reativas apresentavam perfis ainda mais adaptativos que as crianças de baixa reatividade. Essas crianças altamente reativas eram mais pró-sociais, mais participativas na escola e demonstravam níveis menores de externalização de sintomas (Obradovic et al., 2010). Pesquisas como essa mostram claramente a necessidade de redefinir a natureza da plasticidade nas primeiras fases do desenvolvimento, atentando para as questões da resiliência e do risco. O Quadro 1.2 discute como os conceitos de períodos críticos e sensíveis se aplicam ao desenvolvimento da linguagem.
período crítico Intervalo de tempo específico em que um determinado evento ou sua ausência causa um impacto específico sobre o desenvolvimento.
plasticidade Variação da modificabilidade do de- sempenho. períodos sensíveis Momentos do desenvolvimento em que a pessoa está particularmente re- ceptiva para certos tipos de experiência.
verificador
você é capaz de... Diferenciar período crítico e período sensível e dar exemplos?
Derringer et al., 2011
Patinhos recém-nascidos seguiam e apegavam-se ao primeiro objeto em movimento que viam, no caso o etnólogo Konrad Lorenz. Lorenz chamou esse comportamento de imprinting.
Agora que você teve uma breve introdução ao campo do desenvolvimento humano e a alguns de seus conceitos básicos, é hora de ver mais de perto as questões que atraem o interesse dos cientistas do desenvolvimento e como eles fazem seu trabalho. No Capítulo 2, discutiremos algumas teorias influentes de como o desenvolvimento ocorre e os métodos de investigação normalmente utilizados para estudá-lo.
verificador
você é capaz de... Fazer um resumo dos sete princípios da abordagem de Baltes ao desenvolvimento do ciclo de vida?
resumo e palavras-chave
Desenvolvimento humano: um campo em constante evolução
O que é desenvolvimento humano e como o seu estudo evoluiu?
desenvolvimento humano (36) desenvolvimento do ciclo de vida (36)
O estudo do desenvolvimento humano: conceitos básicos
O que os cientistas do desenvolvimento estudam?
desenvolvimento físico (37) desenvolvimento cognitivo (37) desenvolvimento psicossocial (37) construção social (38)
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