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Guias e Dicas
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Análise do Discurso de Natureza em Histórias em Quadrinhos do Personagem Chico Bento, Notas de estudo de Cultura

Uma dissertação de mestrado sobre o discurso de natureza em histórias em quadrinhos do personagem chico bento. A pesquisa identifica dois enunciados potentes que auxiliam na constituição do discurso de natureza por meio das hqs: a natureza constituída nos deslocamentos operados pelas diferenças culturais entre as realidades rural e urbana e um ideal romântico de natureza produzido pela visibilidade e enunciabilidade das hqs do chico bento. A análise explora as formas como as hqs contribuem para nos pensarmos sobre educação ambiental.

O que você vai aprender

  • Qual é o objetivo da pesquisa em relação às histórias em quadrinhos do personagem Chico Bento?
  • Como as histórias em quadrinhos do Chico Bento contribuem para nos pensarmos sobre educação ambiental?
  • Como o ideal romântico de natureza é produzido pela visibilidade e enunciabilidade das HQs do Chico Bento?
  • Quais são os dois enunciados potentes que auxiliam na constituição do discurso de natureza por meio das HQs?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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usuário desconhecido 🇧🇷

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE FURG
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
SÉRGIO RONALDO PINHO JUNIOR
O DISCURSO DE NATUREZA NAS HQS DO CHICO BENTO:
PROVOCAÇÕES AO CAMPO DE SABER DA EDUCAÇÃO
AMBIENTAL
Rio Grande
2015
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Baixe Análise do Discurso de Natureza em Histórias em Quadrinhos do Personagem Chico Bento e outras Notas de estudo em PDF para Cultura, somente na Docsity!

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE – FURG

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

SÉRGIO RONALDO PINHO JUNIOR

O DISCURSO DE NATUREZA NAS HQS DO CHICO BENTO:

PROVOCAÇÕES AO CAMPO DE SABER DA EDUCAÇÃO

AMBIENTAL

Rio Grande

2015

SÉRGIO RONALDO PINHO JUNIOR

O DISCURSO DE NATUREZA NAS HQS DO CHICO

BENTO: PROVOCAÇÕES AO CAMPO DE SABER DA

AMBIENTAL

Dissertação de Mestrado apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação Ambiental, Programa de Pós- Graduação em Educação Ambiental, Universidade Federal do Rio Grande – FURG.

Orientadora: Profª. Dra. Paula Corrêa Henning

Rio Grande, 2015.

Dedico esta dissertação aos meus pais, Sérgio e Maria, por tudo que eles significam na minha vida; ao meu irmão, Elton, pela amizade e carinho que nos une; á minha esposa, Juliana, pela força e pelo amor que ela tem demonstrado sempre; aos amigos, que fazem parte da minha história e a minha orientadora, prof. Paula Henning, decisiva nas escolhas que fiz e um exemplo que tenho como referência.

É preciso acolher cada momento do discurso em sua irrupção de acontecimento; na pontualidade em que ele aparece e na dispersão temporal que lhe permite ser repetido, sabido, esque- cido, transformado, apagado até em seus menores traços, enter- rado, bem longe de qualquer olhar, na poeira dos livros. (FOUCAULT, 2013, p.95).

RESUMO

O presente estudo refere-se a uma Dissertação de Mestrado em Educação Ambiental (EA) a qual teve como objetivo estabelecer um diálogo em torno do conceito de nature- za a partir da análise das formas desse discurso veiculadas nas histórias em quadrinhos (HQs) do personagem Chico Bento e suas relações com as concepções presentes no campo de saber da EA. Com a intenção de problematizar a forma como as HQs, através do discurso de natureza, vêm contribuindo para pensarmos sobre EA, selecionaram-se HQs do Chico Bento publicadas entre os anos de 2009 e 2013 e que fazem referência à natureza. Apoiado em autores como Michel Foucault, Isabel Carvalho, Leandro Belina- so Guimarães, Maria Lúcia Castagna Wortmann, Mônica Meyer, Keith Thomas, Ray- mond Williams, entre outros, a pesquisa analisou as enunciações de natureza que com- puseram o corpus de análise desta investigação. O caminho metodológico selecionado para operar com o material empírico trata especificamente de algumas ferramentas da Análise do Discurso, a partir de Michel Foucault. Na análise do material posto em sus- penso, a pesquisa apontou para dois enunciados potentes, os quais vêm auxiliando na constituição do discurso de natureza por meio das HQs: a natureza constituída nos des- locamentos operados pelas diferenças culturais entre as realidades rural e urbana e um ideal romântico de natureza produzido pela visibilidade e enunciabilidade das HQs do Chico Bento. Com isso, evidenciou-se que as HQs analisadas entram na ordem do dis- curso verdadeiro no campo da EA. Sendo assim, ressalta-se a importância de atentarmos para os gibis e suas histórias, como um artefato cultural potente que vem nos auxiliando a olhar para o dispositivo da EA. Tal dispositivo interpelando-nos a constituir modos de ser e de viver, diante de saberes e verdades produzidas na e pela cultura, pois, diante dos significados travados por meio da cultura, vamos engendrando nossos modos de vida, bem como estabelecendo relações com o mundo em que vivemos.

Palavras-chave: Natureza; Histórias em Quadrinhos; Educação Ambiental; Análise do Discurso.

LISTA DE ABREVIATURAS

EA – EDUCAÇÃO AMBIENTAL

HQS – HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

GEECAF – GRUPO DE ESTUDOS EM EDUCAÇÃO, CULTURA, AMBIENTE E

FILOSOFIA.

MSP – MAURÍCIO DE SOUSA PRODUÇÕES

SUMÁRIO

  • Capítulo I
  • de natureza em HQs do Chico Bento 1. Adentrando na seara da educação ambiental: modos de constituir um discurso
    • 1.1. Introdução: para começar a conversa
    • 1.2. Diagrama da pesquisa: problema, justificativa e delimitações
    • 1.3. Implicações teóricas na fundamentação do objeto de pesquisa
  • Capítulo II
    1. A natureza como problema teórico
    • 2.1. Introdução
    • Paradigma da Modernidade 2.2. Demarcando fronteiras teóricas: os modos de olhar e narrar a natureza no
  • Capítulo III....................................................................................................................
  • Chico Bento 3. A natureza entre o rural e o urbano: fabricação de um discurso nas HQs do
  • Capítulo IV
    1. Um ideal romântico de natureza: o dito e o visível nas HQs do Chico Bento
    1. Considerações Finais
    1. Referências
    1. Anexo

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modos como produzimos uma certa EA a partir da materialidade dos fatos que se constituem no cenário atual. Evidentemente, é urgente o apelo à EA, pois, de acordo com Garré (2015), podemos afirmar que atualmente ela é um dispositivo que mobiliza os atores sociais. No entanto, interessa-nos problematizar como vamos nos constituindo sujeitos, sendo disciplinados a partir de discursos que instituímos como verdadeiros em tempos de formação de educadores ambientais. De acordo com Gomes:

[...] Enquanto mostram, as mídias disciplinam pela maneira do mostrar, enquanto mostra ela controla pelo próprio mostrar. É em relação à disciplina que se diz que se não passou pelas mídias, não há poder de reivindicação; é em relação a controle que se diz que se não passou pelas mídias não existe. (GOMES, 2003, p. 77).

Assim, as catástrofes ambientais, a poluição, a produção de lixo, o desenvolvimento industrial e o estímulo ao consumo se relacionam e complementam as propostas que circulam em torno de uma economia verde, sustentável, ecologicamente praticável a serviço das “necessidades” humanas como único fim. Com isso, os modos de ser sujeito no mundo contemporâneo aparecem limitados por um conjunto de ordenações pontuais, fragmentadas dentro de uma perspectiva histórica que vai definindo como ser e estar no mundo cotemporâneo. Entendo que os discursos que fabricamos como verdadeiros no mundo atual são produzidos através de desejos, intenções e, evidentemente, relações de poder que se imiscuem na vida social. As mídias, foco de análise do Grupo de Pesquisa ao qual pertenço, também auxiliam na fabricação de tais verdades. Como desdobramento e produção do GEECAF, esta pesquisa analisa o discurso de natureza contido nas HQs do Chico Bento com o intuito de interrogar as certezas ali apresentadas. Assim, as HQs foram tomadas como artefato midiático e cultural potente para a educação de sujeitos na contemporaneidade, visto que as histórias desse personagem circulam em mais de 120 países, entre eles: Itália, Portugal, Rússia, China, etc., além do Brasil. Nesse sentido, o personagem Chico Bento apresenta singularidades bem definidas pela sua relação com a realidade rural e a vida no campo, enunciando, a partir de atravessamentos culturais do mundo contemporâneo, formas de ver a natureza bastante limitadas, demarcadas pelos problemas ambientais que, destacados nos discursos científicos, políticos, econômicos, sociais e culturais, constituem o modo de ser dos sujeitos na atualidade.

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Diante desses dados, gostaria de apresentar resumidamente a Turma da Mônica e as características peculiares do personagem Chico Bento. Assim sendo, a Turma da Mônica é uma série de HQs cujos personagens começaram a ser criados pelo jornalista Maurício de Sousa no início da década de 1960. Naquele momento, eram tirinhas publicadas no jornal, cujos principais personagens eram Bidu e Franjinha. Somente no final dos anos 60 e início dos anos 70 é que a série de HQs passou a ser vista como Turma da Mônica e publicada a partir de 1970 pela editora Abril, com o título provisório de Mônica e sua turma. Foi durante esse período, com o aparecimento em comerciais e revistas, que os protagonistas passaram a ser os personagens Mônica e Cebolinha. A maior parte das histórias da turma da Mônica giram em torno das aventuras da Mônica e seus amigos no bairro Limoeiro. Porém, o título Turma da Mônica se refere, também, a outros personagens criados por Maurício de Sousa, derivados de outras séries de HQs, entre eles, o Chico Bento, a Tina, a Turma da Mata, o Penadinho, o Piteco, o Astronauta, o Horácio e vários outros. No entanto, meu interesse, nesta dissertação, se volta para o personagem Chico Bento e suas histórias. Em virtude disso, apresento singularidades que caracterizam esse personagem. Ele surge em 1963, publicado em tirinhas de jornal, que desde 1961 eram conhecidas como “Zezinho e Hiroshi”, cujos, personagens principais eram Zé da Roça e Hiro. Em pouco tempo, Chico Bento foi se popularizando e se tornou o personagem principal das tirinhas. O cenário de suas histórias é a fictícia Vila Abobrinha, cidade tipicamente caipira localizada no interior do Estado de São Paulo, onde ele vive junto com seus amigos. O personagem se destaca por ser um menino da roça (caipira), que anda descalço, usa roupas simples e chapéu de palha. Frequenta a escola, mas não gosta de estudar. Sua fala é apresentada contendo erros ortográficos, com o objetivo de reproduzir um dialeto caipira. Representando um estilo de vida rural ideal, Chico Bento acorda antes do sol nascer para ajudar o pai na roça, vive tentando roubar as goiabas do nhô Lau, brinca com os demais personagens da turma e ainda namora Rosinha. É acomodado, às vezes preguiçoso e eventualmente mentiroso. Além disso, gosta de aventuras e, apesar de seus defeitos e travessuras, é um menino bondoso, generoso, que ama a natureza e os animais. Chico Bento é idealizado como um representante natural do povo interiorano brasileiro. O personagem foi inspirado na figura de um tio de Maurício de Sousa.

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licenciados que movimentam cerca de 2 bilhões de dólares por ano. Além disso, devido à popularidade de suas revistas e gibis, Maurício de Sousa é considerado o maior formador de leitores do Brasil. Só as revistas da Turma da Mônica representam mais de 80% do mercado editorial de quadrinhos brasileiros. Além de ser a maior produtora de animação para cinema do Brasil, a MSP conta também com o maior estúdio de quadrinhos existente em nosso país. Assim, enquanto um meio de entretenimento que veicula determinadas informações e se propõe a educar a partir de fatos dados, as histórias em quadrinhos do Chico Bento apresentam a natureza como única, universal, com problemas que a atravessam e são os mesmos em todos os lugares para todas as pessoas. Penso que essa perspectiva explicita a vontade de universalizar o sujeito, desconsiderando singulariades culturais produzidas pelos deslocamentos e diferenças da própria Natureza, que é múltipla. Diante disso, as enunciações analisadas expressam atitudes resistentes, românticas, saudosistas e, em algumas situações, conservadoras quando confrontadas com os parâmetros de desenvolvimento considerados modernos. Desta forma, analisar o discurso sobre natureza desse personagem é importante, porque ele articula percepções sobre práticas culturais, identificadas com a constituição de um determinado tipo de sujeito. Um sujeito ecológico que deve ser reconhecido por práticas que vão ao encontro das formas de EA reconhecidas. Em muitas de suas HQs, Chico Bento expõe os seus dilemas e as diferenças culturais de um “menino do campo” diante da natureza única. Com isso, tais histórias nos ensinam os comportamentos e as singularidades diante daqueles sujeitos identificados com a vida urbana, mais interessados pela realidade modernizada, pelos rumos da sociedade entendida como “desenvolvida”. De acordo com Amaral:

A identidade moderna foi e continua sendo construída através dos processos de produção de identidade que invariavelmente reforçam o antropocentrismo e criam as ferramentas teóricas e sociais que autorizam o ecocídeo. O olhar hegemônico sobre a natureza, construído através das representações dominantes de natureza que habitam os livros de História e contos, os livros didáticos, as revistas científicas e os meios de comunicação de massa continuam a construir uma identidade social que vê na natureza o diferente, o oposto da cultura (AMARAL, 2004, p. 146). Essa forma de entendimento cria imagens que classificam a natureza relacionando-a a termos como primitivo, selvagem, perigo, aventura, riqueza, ou então, beleza, tranquilidade, paisagem/paraíso. Tais nomes indicam uma natureza construída

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como alheia, distinta e distante do cotidiano humano moderno; como o outro da cultura (AMARAL, 2004). Com isso, o personagem Chico Bento dá visibilidade a um conjunto de experiências que se confrontam, demonstrando o limite das formas de perceber e viver a natureza dentro das perspectivas de EA conhecidas pela cultura capitalista no mundo ocidental. Seu comportamento inocente e crítico, ou experto e desastrado, aponta para destruições e poluições de todos os tipos, sejam elas espaciais, sonoras ou visuais, passando ao leitor a necessidade de ver os sujeitos modernos como arquitetos do caos no meio da ordem natural perfeita. Essa preocupação, visível nas HQs, acontecem a partir de desdobramentos presentes numa realidade maior. Seus discursos são aqui analisados como uma dobra, um posicionamento moral que parte de valores predispostos nas práticas políticas e culturais contemporâneas direcionadas pelas preocupações ambientais. Desta forma, enquanto ferramenta midiática, as HQs fazem parte da indústria cultural contemporânea e têm um alcance, muitas vezes, mais penetrante do que instituições como a escola, por exemplo. Tais condições permitem afirmar que a criatividade temática das HQs são constituintes de tendências cujas expressões definem as formas e as práticas culturais contemporâneas diante dos problemas aceitos como verdadeiros, cujas soluções são cruciais para a preservação e o desenvolvimento da vida em sociedade. Assim, a natureza e a EA, como ação educativa, produzem sentidos reconhecidos nas histórias do Chico Bento quando aparecem relacionadas ao que Amaral (op. cit.) resume como visões antropocêntricas. Ainda de acordo com a autora, essa perspectiva pode demonstrar certo utilitarismo vinculado à produção de determinados artefatos tecnológicos associados à indústria de bens de consumo ou reduzindo o indivíduo à passividade, quando prioriza as características contemplativas e românticas, exaltando a beleza, a pureza e a perfeição do mundo natural sem a presença humana. Considerando essa perspectiva, por fazer parte desse momento histórico, a EA consolida-se atravessada pelo paradigma da modernidade. Para Isabel Carvalho:

[...] O valor da natureza enquanto reserva estética e moral que se pode encontrar no naturalismo e nas chamadas novas sensibilidades para com a natureza parece reeditar-se como espécie de memória mítica dos educadores ambientais, remontando a um mito de origem do próprio ecologismo. No imaginário ecológico, muitas vezes, a natureza, como contraponto da vida urbana e sua inscrição em uma visão arcádica, aparece combinada com o sentimento romântico de contestação. O repúdio romântico à uniformidade da razão, ao seu caráter instrumental, ao individualismo racionalista, pode ser observado em certas inspirações do ideal societário ecológico que se afirma

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Nesta pesquisa, priorizo a análise de determinadas ações afirmativas no mundo contemporâneo no que se refere aos modos possíveis de praticar EA. Vejo essas HQs como um entretenimento endereçado a um público infanto-juvenil, mas que vai além disso e chega a inúmeros outros leitores, exercendo o poder no sentido de provocar opiniões, posicionando-os sobre determindas situações, seja através de críticas sutis e bem humoradas ou comparando atitudes humanas diante do que é considerado “Natural”. Na análise desse material midiático, me interessa ver como a natureza é descrita, considerando as projeções que possibilitam a emergência crescente de um saber sobre a natureza, que afirma a importância da EA para a salvação do planeta. Inclusive, tal discussão vem sendo incorporada nas ações políticas propostas pelos organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Tratarei, a seguir, de forma breve, de algumas condições de emergência da EA que vêm compondo a pauta de discussão em diferentes espaços sociais, políticos, econômicos e culturais.

1.2. Diagrama da pesquisa: problema, justificativa e delimitações

Assumindo a EA como dispositivo ativo em nosso mundo contemporâneo (GARRÉ, 2015), esta Dissertação partiu das seguintes questões de investigação: 1- Quais enunciações do campo de saber da EA vêm sendo fabricadas e tomadas como verdade nas HQs analisadas?; 2- Como a natureza é enunciável e visível nos materiais investigados? 3- Que enunciados podem ser criados/fabricados a partir das enunciações que propõem modos de existir e conviver com a natureza nos gibis do Chico Bento? Assim, foram selecionados como fonte para esta pesquisa os gibis do Chico Bento publicados pelo grupo Maurício de Souza Produções (MSP) e editados pela Panini Comics desde 2007. As HQs analisadas no corpus empírico a seguir foram escolhidas entre publicações de janeiro de 2009 até dezembro de 2013. São edições publicadas em três versões: Chico Bento (edição mensal), Almanaque do Chico Bento (edição bimestral) e Chico Bento (Turma da Mônica coleção Histórica - bimestral). Tratam-se de três séries de gibis com HQs constantemente direcionadas por temas relacionados à natureza e que são visíveis de diferentes formas.

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O período cronológico definido para analisar as séries dos gibis foi estabelecido a partir de acontecimentos que desencadearam a crescente necessidade da produção de um discurso ambiental como pauta indissociável de práticas de organismos internacionais como a ONU, a UNESCO e a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), além de estados, governos, Organização Não- Governanentais (ONGs), empresas e agentes políticos vinculados a partidos, movimentos sociais ou ao movimento ambientalista. Além desses espaços, é recorrente circular nas mídias, de um modo geral, formas contemporâneas de vivenciar os dilemas constituídos pela Modernidade; dentre eles, o da urgência de uma EA. Desta forma, ações sustentáveis tidas como conscientes são determinadas com o objetivo de preservar o meio ambiente, instituir preceitos morais e justificar iniciativas que afirmam a importância de “sujeitos verdes” no mundo contemporâneo (GUIMARÃES, 2012). Neste contexto, desde a 15ª conferência da ONU sobre mudanças Climáticas (COP 15), realizada em Copenhague, na Dinamarca, em 2009, notabilizada pelo grande número de participantes depois da Eco-92, no Rio de Janeiro, os chefes de Estado e governos de 192 países estiveram reunidos para definir uma Agenda Ambiental. No Brasil, nesse mesmo ano, o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva sancionou a medida provisória (MP) nº 458 que regulariza terras na chamada Amazônia Legal. Em seguida, com a realização da COP 16, em 2010, no México, em Cancún, houve a criação do fundo Verde, que até 2020 deverá liberar 100 bilhões de dólares por ano para apoiar os países em desenvolvimento. A ONU elegeu 2010 como o “Ano Internacional da Biodiversidade” e, no Brasil, foi sancionada a Política Nacional de Resíduos sólidos (PNRS), regulamentada pela lei 12.305. Algumas tragédias foram marcantes durante o ano de 2010, pois o terremoto no Haiti, em Porto Príncipe, resultou em 326 mil mortos, 350 mil feridos e 1,5 milhão de flagelados; no golfo do México, quase 5 milhões de barris de petróleo vazaram e 11 pessoas foram vitimadas, um dos maiores desastres ambientais do mundo. Em 2011, o tsunami que passou pelo Japão devastou o país e 27 mil mortes foram registradas. No Brasil, as enchentes na região da serra do Estado do Rio de Janeiro produziram milhares de mortos e desabrigados. Além desses fatos, os ministros do Brasil, África do Sul, Índia e China reuniram-se em Belo Horizonte/MG, em um encontro preparatório para a COP 17, que aconteceu em Durham, na África do Sul, em 2011, com o objetivo de estabelecer um consenso em torno da prioridade do protocolo de Kioto. Na reunião preparatória de Bonn, na Alemanha, todas as questões ficaram suspensas. Ainda em 2011, o governo brasileiro aprovou o novo código