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Uma análise do discurso de edir macedo no livro orixás, caboclos e guias, onde se tratam do discurso e retórica utilizados pela igreja universal do reino de deus (iurd) para falar sobre as religiões afro-brasileiras e mediúnicas. O estudo destaca a criação de estigmas e a colocação em descrédito de outras religiões consideradas concorrentes da iurd, originando uma 'guerra santa' no cenário religioso brasileiro. Além disso, o documento busca aprofundar o conhecimento da realidade atual do cenário religioso brasileiro e explicar e analisar uma literatura considerada um fenômeno de venda entre os evangélicos pentecostais.
Tipologia: Notas de estudo
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Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião para obtenção do Grau de Mestre
Orientador: Prof. Dr. Leonildo Silveira Campos
Maria Augusta Conceição dos Santos. Mãe, companheira, minha musa inspiradora.
Jovino Vieira dos Santos (in memorian)
Valdemir, Lúcio, Elza, Luciana, Thiago, Rafael e Fernanda
Raimundo Domingos Silva. Migrante nordestino, por sua incansável luta por justiça e por sua contribuição no meu processo de formação intelectual.
Lúcia, Manfredo e aos demais amigos que compartilharam com esse processo de aprendizagem.
Aos que se sentem indignados com toda forma de injustiça, intolerância e violência.
Esta dissertação é uma análise do discurso de Edir Macedo no livro Orixás, Caboclos e Guias. Deuses ou Demônios? Nosso estudo trata do discurso e retórica que Macedo e a Igreja Universal do Reino de Deus utilizam para falarem a respeito das religiões afro-brasileiras e mediúnicas nesse livro. Elegemos este livro como objeto de estudo por causa da presença constante desse tema no discurso e nas práticas da Igreja Universal; pelo sucesso dessa publicação, com mais de quatro milhões de exemplares vendidos; em função da polêmica provocada pelo discurso demonizador das religiões afro-brasileiras e mediúnicas. Procuramos analisar o discurso de Macedo e de sua Igreja a luz dos impactos e impasses causados por eles no cenário religioso brasileiro. Relacionamos o discurso e a retórica de Macedo ao sucesso e a criação de uma identidade própria de sua Igreja. Nosso estudo diferencia-se das demais investigações já publicadas ao relacionar a criação de identidade religiosa e o uso de mecanismos acusatórios como instrumento eficaz para convencer e transmitir ideologias que favoreçam a expansão da Igreja Universal. Procuramos também, trazer para a discussão acadêmica que a análise de discurso de uma literatura religiosa pode ser uma referência para se estudar uma instituição religiosa, seus mecanismos de construção identitaria, legitimação e expansão no cenário religioso.
Palavras chaves: discurso, retórica, intolerância, construção identitária, estigma, demonização, Edir Macedo.
O que faz com que a literatura seja literatura, que a linguagem escrita em um livro seja literatura, é uma espécie de ritual prévio que traça o espaço da consagração das palavras. (FOUCAULT).
Esta dissertação intitulada O discurso de Edir Macedo no livro Orixás, Caboclos e Guias. Deuses ou Demônios?: Impactos e impasses no cenário religioso brasileiro analisa o discurso e a retórica que Macedo e a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) utilizam para falar das religiões afro-brasileiras e mediúnicas no livro Orixás, Caboclos e Guias. Deuses ou Demônios? Pretendemos nela buscar uma melhor compreensão da potencialidade e funcionalidade do sistema relacional que se constrói a partir do uso de um discurso verbalizado ou não, empregado para se falar a respeito de outra religião como o faz Macedo e sua Igreja. Escolhemos esse tema por que consideramos não haver estudos que relacionem o discurso literário de Edir Macedo e os rituais discriminatórios contra os cultos afros, kardecismo e o catolicismo popular. Até onde pudemos pesquisar não há investigações que relacionem a criação de identidade religiosa e o uso de mecanismos acusatórios tão explícitos no campo religioso como ocorre com o discurso da Igreja Universal e de seu Bispo Primaz tal como aparece no livro Orixás, Caboclos e Guias. Deuses ou Demônios? Pretendemos com este estudo contribuir para a discussão desse tema tentando relacionar o sucesso alcançado pela IURD ao discurso, considerado por nós como intolerante.
Já na realização do levantamento bibliográfico preliminar encontramos uma extensa lista de livros, teses, dissertações, artigos e publicações diversas que tratam de temas muito próximo do objeto desta pesquisa, como por exemplo, do discurso de Edir Macedo sobre as religiões afro-brasileiras. Quanto a pesquisas que envolvem temas relativos à Igreja Universal do Reino de Deus, de acordo com Ari Pedro Oro (in: SILVA, 2007:31-32), elencados pelo Banco de Teses no site da Capes, “somente no período que compreende os anos 1995 a 2003 aparece em 16 teses de doutorados, 59 dissertação de mestrado (defendidas em diferentes áreas das ciências), uma tese foi defendida nos Estados Unidos, uma na França e uma na Suécia; cinco livros foram dedicados à Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil e, cinco livros publicados no exterior”. Autores como Leonildo Silveira Campos, Ricardo Mariano, Wagner Gonçalves da Silva, Antonio Flávio Pierucci, Ari Pedro Oro, Ronaldo de Almeida, Patrícia Birman entre outros, também, têm produzido uma vasta pesquisa nesse campo. Nosso estudo, embora se concentre na produção relacionada à IURD não deixa de levar em conta outros estudos apresentados em inúmeras outras pesquisas. A nossa, no entanto, difere dessas outras por trazer para a academia uma análise do discurso de Edir Macedo a partir de uma
literatura como o livro Orixás, Caboclos e Guias... Compreende-se que nesse estudo há uma possibilidade de ampliar a pouca produção acadêmico que trate de obras literárias como possíveis instrumento de legitimação identitária de um grupo religioso; por produzir um discurso, que consideramos intolerante e disseminador de violências simbólicas, desencadeando violência física, por reproduzir mecanismos de estigmatização e perseguição a outros grupos religiosos.
Assim ao analisar o discurso de Macedo, a partir da perspectiva da intolerância o fazemos considerando “intolerância” as práticas diversas de violência e preconceito contra os que se apresentam como se fossem o diferente ou o outro, o concorrente. Intolerância é entendida como uma atitude mental, verbalizada ou não, mas praticada quando há desrespeito a diferentes culturas, raças, etnias e crenças religiosas. A intolerância, fundada em sentimentos e crenças religiosas, desde o princípio das civilizações está presente nas relações humanas de diversas formas. Nesse sentido, o discurso demonizador de Macedo e da IURD contra as religiões afros atinge tanto os que praticam tais ritos e têm tais crenças religiosas como aqueles que compartilham as heranças culturais de origem africana, que foram assimiladas à cultura e religiosidade brasileira.
Este estudo é o resultado de uma análise do discurso de Edir Macedo, um dos fundadores e principal liderança da IURD. Macedo é a pessoa na qual está centralizado o comando de todos os empreendimentos que compõe a instituição religiosa iurdiana^1. Ele é o homem que controla com “mãos-de-ferro” a produção e a distribuição de bens simbólicos religiosos naquela Igreja, assim como a circulação de bens reunidos em bancos, empresas, editoras, emissoras de rádios e TVs, setores imobiliários, entre outros empreendimentos que formam o “império iurdiano”, e que distingue a IURD de algumas outras igrejas evangélicas brasileiras. Foi eleito como objeto de estudo, o discurso de Macedo, no livro Orixás, Caboclos e Guias. Deuses ou Demônios? , por causa da presença constante desse tema no discurso e nas práticas da IURD; pelo sucesso dessa publicação, com mais de quatro milhões de exemplares vendidos; em função da polêmica provocada pelo discurso desse livro demonizador das religiões afro-brasileiras e mediúnicas.
(^1) O termo iurdiano (a) é usado para identificar os que freqüentam assiduamente a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), os que passam pelo rito de iniciação do batismo por imersão e ao que mantém uma identificação, mesmo que parcial, com o sistema de crenças e práticas. São aqueles que colaboram financeiramente, através de doações em diversas espécies (roupas, alimentos, imóveis, etc.), ajudam como voluntariado nas instituições e programas sociais, freqüentadores dos templos. CAMPOS (1997).
leitura? Procuramos também compreender, a forma como o discurso elaborado e transmitido por um líder religioso é interpretado e acolhido pelos fiéis, bem como os motivos desse discurso ser agressivo, justamente com as religiões que são doadoras de seus próprios referenciais simbólicos. Fez-se necessário, como parte integrante da análise do discurso, identificar a relação entre o discurso contido no livro e o discurso religioso, presente nos ritos e cultos diversos da IURD, a saber, no modo mais explícito, objetivado nas “sessões de descarrego”.^2 Outra possibilidade analítica que esse discurso prevê é a incorporação e legitimação da prática de intolerância religiosa por parte dos pastores, obreiros e fiéis.
Relacionada às questões aqui expostas há outras perguntas que foram sendo formuladas como imprescindível para a compreensão do discurso ediurdiano^3. Quem é Edir Macedo? Que livro é Orixás, Caboclos e Guias. Deuses ou Demônios? Que visão dos cultos afro-brasileiros e do Espiritismo kardecista esse livro apresenta?; Que intenções tem Macedo com a publicação desse livro?; Por que o autor estigmatiza os cultos afro-brasileiros com mais força do que outros grupos religiosos de porte protestante? Por que apesar de demonizar os cultos afro-brasileiros, ele não nega seus rituais ressignificando-os em sua Igreja? De que forma a análise de discurso pode nos ajudar na compreensão do crescimento da IURD no Brasil e no mundo?; O discurso de Macedo é o discurso da IURD em jornais, programas televisivos e nos cultos realizados em seus templos?; Quem são os inimigos e os adversários de Macedo? Que importância eles têm para a criação da identidade iurdiana?
Supomos que o discurso de Macedo, conseqüentemente da IURD, considerado por nós como intolerante, é mais rigoroso contra o Candomblé a Umbanda e o catolicismo popular do que com relação aos outros sistemas religiosos. A razão deste rigor estaria relacionada à necessidade da IURD em criar uma identidade própria, que a diferencie dos sistemas religiosos dos quais ela muito se aproxima. Isso porque, ela toma emprestado dessas religiões, crenças, rituais, práticas mágicas e ritos diversos, com os quais compõe o seu próprio sistema religioso. As representações que Macedo tem elaborado e explicitado em seu discurso, a respeito do mal e do demônio, no livro Orixás, Caboclos, Guias..., apresenta novidades e rupturas com modelos de estigmatização já existentes e utilizadas por outras
(^2) Sessão de descarrego é uma reunião específica, que ocorre na terça-feira, e destina-se a exorcizar e combater o diabo, tido como causador de todos os males. (^3) O termo “discurso ediurdiano” é um neologismo que propomos para designar o discurso elaborado e pronunciado por Edir Macedo e compartilhado pelos bispos e fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus.
religiões. Portanto, o discurso empregado nessa literatura possivelmente seja um instrumento utilizado para des-construir a imagem, a identidade e a eficácia de seus concorrentes, mantendo-se ela como um empreendimento de sucesso entre as demais religiões. Assim sendo, o discurso de Macedo também pode ser analisado como uma forma de coação e de manipulação, tentativas de se obter vantagens e adesão do público ao qual ele destina. Por meio da análise do discurso pretende-se também, compreender como o discurso elaborado e transmitido por Macedo é interpretado no discurso religioso e acolhido pelos fiéis nas relações cotidianas. Nesse sentido foi proposta a análise de significados e de que eficiência assume o discurso de um líder religioso no imaginário de seus leitores; explicar como o discurso contido num dos livros de Macedo pode ser utilizado como instrumento de construção identitária por parte de lideranças e seguidores; avaliar como esse discurso é representativo na elaboração de concepções que os fiéis fazem a respeito das imagens e representações do demônio.
Quanto às crenças, ritos e símbolos das religiões afros, a IURD se diferencia dos demais evangélicos, pois, muitos deles, não reconhecem qualquer eficácia positiva ou negativa nas práticas da igreja. Edir Macedo e a IURD reconhecem, porém atribui-lhe um sinal negativo. A tática utilizada por Macedo e pela IURD é negar-aceitando, isso é ressematizando-as^4 , e até mesmo supervalorizando os bens simbólicos dessas religiões. Esta realidade é constatada observando como procede na IURD à utilização do sal grosso, sessões de descarrego, utilização de vestuários brancos, o uso de velas, arruda, rosas, cânticos, óleos e unção dos fiéis. Esses são alguns dos elementos que muito aproxima a IURD das religiões combatidas por ela. Outra característica está no perfil do público freqüentador da IURD e das religiões afro-brasileiras que apresentam visões de mundo muito similares. Entre algumas singularidades encontramos: a busca por soluções mágicas, crença na intermediação de espíritos e valorização no uso de objetos considerados “sagrados”, cuja função pode ser terapêutica ou protecionista.
(^4) O conceito de “ressematização” utilizado por nós refere-se ao que Ari Pedro Oro (in: SILVA, 2007:33) explicita: o processo de ressematizar ocorre quando conteúdos das religiões de origem, vindas de fora, são alterados por conteúdos das localidades e dos grupos que os adotam.
inspirado em Pierre Bourdieu (2008). A teoria de Bourdieu se fundamenta na crítica do modelo saussuriano e seus pressupostos. Ao tratar do discurso demonizador e da intolerância religiosa, os trabalhos de pesquisa desenvolvidos por Vagner G. da Silva (2002, 2005, 2007), Ricardo Mariano (1995, 2003, 2005), Ari Pedro Oro (1999, 2003), entre outros autores da sociologia e antropologia, nos estimularam a pensar nos impactos e impasses que o discurso de intolerância religiosa provoca no campo religioso brasileiro. Já a noção de dramatização presente nos cultos e ritos religiosos, e a supervalorização do emotivo no discurso e performance religiosa, criando a noção de “templo e teatro”, tendo em vista a exacerbação do discurso a respeito do demônio, das religiões afro-brasileiras e mediúnicas são conceito utilizado por Leonildo S. Campos (1997) que orientou esse trabalho.
A metodologia utilizada na investigação empreendida foi a pesquisa bibliográfica e a observação participante. Quanto à pesquisa bibliográfica em primeiro lugar se fez necessário primeiramente uma leitura da fonte primária composta pelas três edições do livro Orixás, Caboclos e Guias. Deuses ou Demônios? , editados respectivamente em 1993, 2001 e 2006. Priorizou-se essas três edições porque a pesquisadora não teve acesso as demais edições do livro de Edir Macedo publicados anteriores ou posteriores a estas aqui informadas. Por outro lado, no decorrer da pesquisa julgou-se suficiente as edições citadas porque elas forneceram os dados suficientes para compreensão do objeto da pesquisa que é o discurso de Edir Macedo sobre os cultos afro-brasileiros.
Não interessou para a pesquisa a discussão da autoria desse livro se ele é de J. Cabral e não de Edir Macedo. Porém, o orientador desta pesquisa, Leonildo Silveira Campos, conheceu pessoalmente o pastor José Cabral de Vasconcelos, que por anos trabalhou para a Igreja Universal como teólogo e escritor. Campos a partir de informações que lhe foram passadas por Cabral trabalha com a hipótese de que o conteúdo do livro Orixás Caboclos e Guias. Deuses ou Demônios? , se aproxima muito dos escritos e preocupações de J. Cabral, especialmente no período em que ambos foram colegas na docência de Filosofia na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Nesse caso, para Campos, há uma identificação de Cabral com esse livro de uma forma muito íntima.
Todo o levantamento bibliográfico teve por objetivo desvendar, recolher e analisar as principais contribuições de pesquisas já realizadas sobre esta temática. Este processo foi realizado por meio do levantamento de contribuições em livros, trabalhos científicos publicados em artigos, teses, dissertações, revistas, jornais e vídeos, sites na internet. A
bibliografia contemplou temas como: análise de discurso; análise de retórica; biografia de Edir Macedo; estudos a respeito da Igreja Universal do Reino de Deus; intolerância religiosa; candomblé; umbanda; kardecismo; campo religioso; formação identitária; processos de estigmatização e sistemas acusatórios. Na observação participante, o ápice foi à participação em alguns cultos na IURD, com maior freqüência nas sessões de descarrego, em um dos templos localizado em Ribeirão Pires. Além dessa participação nos valemos também de escutas de programas televisivos, radiofônicos, a visualização de documentários em CDs e Vídeos referentes à programação da IURD e das religiões afro-brasileiras. Outras impressões e aproximação com o objeto de pesquisa deu-se a partir de diálogos informais com membros da IURD, da umbanda e do kardecismo, moradores de Ribeirão Pires e Santo André.
O desenvolvimento deste estudo foi organizado e agora é apresentado em três capítulos. No primeiro capítulo há um breve ensaio biográfico de Edir Macedo, autor do livro Orixás, Caboclos e Guias... Destacamos alguns elementos que consideramos significativos para a compreensão de sua trajetória religiosa. O trânsito religioso entre catolicismo, espiritismo, umbanda e pentecostalismo, fato esse que não é uma particularidade do principal líder religioso da IURD, mas foi resultado de uma adesão familiar. Foi na Igreja Nova Vida que Macedo tornou-se um evangélico pentecostal. O modelo pentecostal norte-americano trazido pelo pastor Robert McAlister (1931-1993), fundador da Igreja Nova Vida, influenciou sensivelmente o futuro discurso e a cosmovisão de Macedo a respeito do bem e do mal, do demônio e das religiões afro-brasileiras e mediúnicas. Nesse sentido, Macedo não tem sido muito criativo no discurso a respeito do demônio e das religiões afros. Sua retórica, basicamente tem sido uma repetição das crenças e discursos de McAlister. Nesse ponto, o discurso de Macedo aparece como uma continuidade, do que já fora dito por outros lideres pentecostais. Ao compararmos o livro Mãe-de-Santo, de McAlister e o livro Orixás, Caboclos e Guias..., de Macedo, não seria exagero dizer que o segundo é praticamente um plágio do primeiro.
No segundo capítulo, o leitor encontra uma análise mais detalhada do livro Orixás, Caboclos e Guias... Levamos em consideração o conteúdo, o uso de imagens, e as técnicas de design gráfico, assim como os mecanismos e estratégias de marketing de venda, utilizado por Macedo e pela editora da IURD. As considerações de produção do pensamento e do livro de Macedo apareceram em alguns retalhos reunidos em uma biografia autorizada O Bispo. A História Revelada de Edir Macedo (TAVOLARO, LEMOS, 2007). Detalhes que a primeira
justificar que o “silêncio” das vítimas pode também ser uma estratégia para “melhorar sua própria imagem e legitimidade social” como afirma Oro (in: SILVA, 2007:67).
No Brasil apesar da pluralidade de crenças que compõem o cenário religioso o cristianismo ainda permanece como religião majoritária, segundo o Censo de 2000 os fiéis cristãos estão contemplados em dois grandes grupos: 73,8% são católicos e 15,4% são evangélicos. A intolerância religiosa desde a chegada dos primeiros cristãos-católicos que foram os colonizadores europeus tem sido uma constante. Neste sentido o discurso de Edir Macedo a respeito das religiões afro-brasileiras, que consideramos como intolerante, é um discurso que há 500 anos tem se repetido nas igrejas cristãs. Em alguns períodos o discurso de demonização das religiões afros e mediúnicas foi mais agressivo entre os católicos, em outro entre protestantismo clássico, porém é no neopentecostalismo iurdiano que esse discurso torna-se o discurso central de uma Igreja, como é o caso da Igreja Universal do Reino de Deus.
Este capítulo apresenta a trajetória de Edir Macedo, visto aqui como autor de um discurso religioso, que se consubstanciou no livro “Orixás, Caboclos e Guias...”, e na pergunta portadora de uma retórica desafiante e polemista: “Deuses ou Demônios?”. Para uma melhor compreensão do autor, de uma obra literária e suas concepções teológicas, achamos por bem começar nossas investigações com as origens religiosas de Edir Macedo, um carioca, filho de pais que vieram do nordeste, nascido em Rio das Pedras (RJ), em 1945. Macedo era católico até a adolescência, como o restante de sua família. No decorrer dessa fase da vida freqüentou centros espíritas, até que no início dos anos 1960 começou a freqüentar as reuniões do pastor canadense Walter Robert McAlister (1931-1993). O discurso contra o Espiritismo ou contra toda e qualquer crença na comunicação com deidades, entidades ou espíritos diversos tem ocupado grande parte do programa de doutrinação e evangelização de Edir Macedo. É possível que a insistência nessa temática esteja relacionada as experiências que ele fez como freqüentador de religiões mediúnicas antes de sua conversão ao pentecostalismo.