Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Desenvolvimento da Comédia Antiga no Sistema Democrático Ateniense no Século V a.C., Provas de Teatro

Este texto apresenta a evolução do gênero cômico na atenas democrática do século v a.c., com ênfase na importância política e social de suas obras. O autor discute a relação entre comédia e oratória, a origem dos diálogos e debates, e a participação ativa dos autores na obra. O texto também aborda a importância ritual da comédia e sua função denunciativa.

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Luiz_Felipe
Luiz_Felipe 🇧🇷

4.4

(175)

222 documentos

1 / 14

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
O desenvolvimento da comédia antiga no sistema
democrático ateniense no séc. V a. C.
Luiz Henrique Bonifacio Cordeiro
1
Drama, mímesis e diálogo: estas são palavras que podem
ser utilizadas para definir reduzidamente o teatro e mais
especificamente o teatro grego ateniense do culo V a. C.
Contudo, o teatro grego é apenas mais uma das composições do
vasto campo artístico dos antigos gregos ao longo de séculos de
produção cultural. Esse vasto campo literário dos gregos possui
em sua estrutura uma forte originalidade, tal como afirma Edward
Capps
2
. Para esse autor, não houve uma tradição literária anterior
que permeasse o início da produção literária entre os gregos e a
capacidade de criação deles resultou em conscientes esforços para
representar os temas requeridos em forma artística, fazendo com
que fossem revestidos de características universais. Capps
defende ainda que os gregos instituíram um progresso que visava
à perfeição e, por isso, houve um desenvolvimento dos gêneros
literários com sua consequente transformação, que fora tratada
por aqueles como "crescimento normal"
3
.
A emergência da literatura entre os gregos conta com a
participação ativa dos acontecimentos políticos e sociais que
acometeram seu território desde tempos recuados, ainda no
segundo milênio a. C. Tal como afirma Capps
4
, as vicissitudes
de grupos humanos que tinham o mínimo de estabilidade social e
política passaram a ser refletidas em formas não concretas de
descrever aquele mundo.
O significado da mímesis é central para compreender a
relação da estrutura literária dos gregos com o mundo que a
rodeia, ou seja, para melhor entender o ethos no qual ela se insere.
A origem de mímesis de Platão e Aristóteles vem de poiesis, que
significa criar/fazer e deriva de uma transposição de mundo. Para
Luiz Costa Lima
5
, poiesis quer dizer uma ação social
simbolicamente investida na arte mimética, que é dependente da
linguagem estética, indireta e conotativa, isto é, metafórica. Lima
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Desenvolvimento da Comédia Antiga no Sistema Democrático Ateniense no Século V a.C. e outras Provas em PDF para Teatro, somente na Docsity!

O desenvolvimento da comédia antiga no sistema democrático ateniense no séc. V a. C.

Luiz Henrique Bonifacio Cordeiro^1

Drama, mímesis e diálogo: estas são palavras que podem ser utilizadas para definir reduzidamente o teatro e mais especificamente o teatro grego ateniense do século V a. C. Contudo, o teatro grego é apenas mais uma das composições do vasto campo artístico dos antigos gregos ao longo de séculos de produção cultural. Esse vasto campo literário dos gregos possui em sua estrutura uma forte originalidade, tal como afirma Edward Capps 2. Para esse autor, não houve uma tradição literária anterior que permeasse o início da produção literária entre os gregos e a capacidade de criação deles resultou em conscientes esforços para representar os temas requeridos em forma artística, fazendo com que fossem revestidos de características universais. Capps defende ainda que os gregos instituíram um progresso que visava à perfeição e, por isso, houve um desenvolvimento dos gêneros literários com sua consequente transformação, que fora tratada por aqueles como " crescimento normal " 3. A emergência da literatura entre os gregos conta com a participação ativa dos acontecimentos políticos e sociais que acometeram seu território desde tempos recuados, ainda no segundo milênio a. C. Tal como afirma Capps 4 , as vicissitudes de grupos humanos que tinham o mínimo de estabilidade social e política passaram a ser refletidas em formas não concretas de descrever aquele mundo. O significado da mímesis é central para compreender a relação da estrutura literária dos gregos com o mundo que a rodeia, ou seja, para melhor entender o ethos no qual ela se insere. A origem de mímesis de Platão e Aristóteles vem de poiesis , que significa criar/fazer e deriva de uma transposição de mundo. Para Luiz Costa Lima 5 , poiesis quer dizer uma ação social simbolicamente investida na arte mimética, que é dependente da linguagem estética, indireta e conotativa, isto é, metafórica. Lima

Luiz Henrique Bonifacio Cordeiro

18 Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.9, Outubro de 2015

concebe este raciocínio em conformidade com a " filosofia das formas simbólicas ", de Ernst Cassirer 6 , para quem o homem é um ser que atua simbolicamente em seu meio. Para esse filósofo, a arte e a linguagem se assemelham por serem movidas simbolicamente; ou seja, a percepção delas torna-se sensível através de seu valor simbólico. A mímesis , em suma, é um processo de construção social e envolve comunicação, compreensão e linguagem. Tal como afirma Aristóteles 7 , contemplamos com prazer imagens reprováveis para assim identificar aquilo que deve ser considerado como correto ou exato: “nós contemplamos com prazer as imagens mais exatas daquelas mesmas coisas que olhamos com repugnância, por exemplo, [as representações de] animais ferozes e [de] cadáveres”.

Nesse sentido, a mímesis é responsável por um julgamento das experiências sensíveis do cotidiano. A literatura, assim, nunca deixou de ser relacionada ao universal. A referência à oralidade, obtida com as epopeias homéricas, somada à importância ritual e valorização individual das poesias dentro da coletividade, são exemplos desse caráter da estrutura literária dos gregos. É com estas configurações que o teatro emerge na Atenas do século VI a. C., fundamentado em uma cultura baseada na oralidade, com forte cunho social e político, e com cada vez mais importância da palavra individual na coletividade. Consolidado em festas rituais em homenagem ao deus Dioniso, o teatro tem funções nítidas e específicas, mas que marcam sua relação com outras formas literárias anteriores. Além disso, é no teatro que há uma sublimação das outras artes gregas, tal como afirma Aristóteles 8 , pois há uma conjunção entre poesia, música e dança, com o objetivo de mimetizar ações de agentes, ou seja, ocorre ali a apresentação de um drama. O teatro em Atenas, desde sua emergência, esteve relacionado a festas e rituais religiosos. Os ditirambos e os cantos fálicos, que foram a base da tragédia e da comédia,

Luiz Henrique Bonifacio Cordeiro

20 Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.9, Outubro de 2015

As possíveis origens geográficas da comédia, apontam Cancela 14 e Albin Lesky 15 , são várias. A Magna Grécia, a Lacedemônia e a Ática fazem referência a uma possível origem. Os cantos falofórios têm, certamente, participação na origem da comédia, havendo ou não uma origem geográfica única 16. Independentemente de ter uma ou mais origens espaço-temporais, segundo Cancela 17 , desde os dramas de Epicarmo e de Fórmis, a comédia já estava revestida de elementos peculiares como vulgaridades e fala popular, uso do falo, jogos de palavras, paródias, nomes próprios significativos, entre outras características que demonstravam uma continuidade e função coesa do gênero. Para Lesky 18 , isto é resultado dos gêneros literários e cultos anteriores que promoveram a comédia como uma transfiguração destes em um fenômeno de maior envergadura. Uma grande diferença, por exemplo, entre Aristófanes (final do século V a. C.) e Epicarmo (final do século VI a. C.), é que neste a peça era um drama bem mais curto e dificilmente aludia a acontecimentos contemporâneos, enquanto que o jogo aristofânico se alonga quase tanto quanto uma tragédia e se reveste quase que totalmente de acontecimentos atuais. Voltando-se à origem da comédia antiga nos dramas megarenses de Epicarmo, Wilfred afirma que "Epicarmo fez uso do diálogo e, assim, abriu a porta para cenas de debate [...]. O drama ateniense faz uso extensivo de debate formal, e a comédia ateniense, em especial, direciona explicitamente o debate para instituições filosóficas e políticas [...]" 19. Uma vez que nosso foco neste artigo é apresentar a relação entre comédia e política, não refletimos sobre a questão da origem geográfica do gênero, e por isso a citação de Wilfred se faz importante para salientar a importância política dos argumentos cômicos. Como afirma Adrados 20 , devido aos debates, havia um espírito democrático nos gêneros literários atenienses no século V a. C., entre eles, os dramas da comédia antiga. Segundo Lesky 21 , a comédia, que passou a ser apresentada como um dos rituais institucionalizados nas Grandes Dionísias pelo menos a partir de 486 a. C. (quando Quiônides teria sido o

O desenvolvimento da comédia antiga

ISSN 1414-9109 21

vencedor do concurso de comédias), passou um longo tempo como resultado de improvisações. No entanto, vemos que de meados do século V a. C. em diante ela passa a ter um caráter generalista. O destaque à atuação dos atores é um exemplo das transformações ocorridas na comédia: no início do século, as apresentações cômicas eram bem próximas aos cortejos que as originaram e eram desempenhadas por cenas corais de zombaria cômica; na década de 440 a. C., porém, o coro já tinha uma participação menor e havia o debate entre dois atores. As cenas agonais ( agôn - debate), portanto, gradativamente foram ganhando mais espaço no jogo cômico, em detrimento dos episódios corais; o resultado dessas transformações foram comédias que dedicavam mais atenção à técnica literária que as produziu, permitindo à historiografia a expressão "teoria literária da comédia", com relação aos dramas da comédia antiga ateniense 22. Essas transformações a que esteve exposta a comédia antiga são consequência da conjuntura política e social em que ela esteve inserida. Segundo Adrados 23 , o impacto da democracia nos gêneros literários provocou modificações e desaparecimentos, inclusive no teatro. Em conformidade com a teoria desse autor está a de Jorge Ferro Piqué, para quem o teatro de Atenas se transformou junto ao desenvolvimento da pólis, pois era uma experiência não apenas religiosa, mas política.

O teatro ateniense passa a ser cada vez mais o rosto mais atrativo que a cidade mostra de si mesma, símbolo de sua importância cultural diante de seus vizinhos e, de certa forma, parte da política hegemônica ateniense na área do Mediterrâneo oriental [...] 24.

Com relação à comédia especificamente, o herói cômico serve-se das ações conflituosas para seu desenvolvimento e, segundo Cancela 25 , participa de um universo de zombarias, constituindo uma atmosfera de fantasias para atingir o êxito. A

O desenvolvimento da comédia antiga

ISSN 1414-9109 23

A comédia, por este viés, pode ser considerada um gênero que se preocupou em agir de maneira restauradora ao transpor a ordem. As burlas cômicas, tal como afirma Lesky 32 , serviram de julgamentos para com questões mal resolvidas. O real vivido pelo poeta foi preponderante na sua produção, sendo a base de seu texto. As questões do momento funcionaram como relações de força com argumentos convincentes, suscitando lembranças que fazem parte da memória coletiva sobre valores, acontecimentos, lugares e personagens. Exemplos destas lembranças são os argumentos que Aristófanes utiliza para caracterizar a Guerra do Peloponeso em suas comédias, disforizando as decisões dos líderes atenienses, acusando-lhes de serem mal feitores da pólis (^33). É importante salientar que à época em que Aristófanes começa

a criticar a guerra (a partir de 425 a. C., em Acarnenses ), Atenas começa a sofrer as consequências do desastre militar que estava por vir, por isto, a guerra foi um elemento desencadeador de suas críticas. Dentre as especificidades da comédia está a função denunciativa. Como afirma Maria de Fátima Silva 34 , a comédia tinha a função de denunciar mazelas sociais. Segundo Maria Regina Candido 35 , “o dramaturgo usa o teatro como espaço de denúncia, visando a promover o debate e a reflexão para educar o cidadão”. Já para Francisco Oliveira 36 , a comédia no geral e mais especificamente a de Aristófanes é “definida por privilegiar a temática política, e [...] desde cedo utilizou a sua capacidade de censura e sátira para flagelar os poderosos nominalmente”, baseando-se no riso pelo ridículo, já que a sociedade da época tinha um forte “sentimento de vergonha e posição social”, o que demonstra as características pedagógicas formativas do jogo dramático cômico. O drama cômico da época de Aristófanes possuía, no aspecto literário e textual, partes bem definidas que facilitavam a representação e a compreensão no espaço de atuação, o teatro. No entanto, a comédia não foi sempre um gênero coeso e linear, mas foi se transformando, se adaptando às necessidades literárias, políticas e sociais. Com base nisso, Cancela 37 afirma que na

Luiz Henrique Bonifacio Cordeiro

24 Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.9, Outubro de 2015

segunda metade do século V a. C. os poetas cômicos passaram a ter mais consciência dos elevados fins da obra que produziam. O comediógrafo, nesse sentido, produzia direcionando sua arte para o interlocutor que apreciava o drama, de forma a produzir algo que, no mínimo, era esperado e compreensível. Isso nos remete a uma característica da estrutura literária entre os gregos já relatada anteriormente, o valor da tradição. As inovações que o gênero cômico trouxe ao campo literário dos gregos estiveram intimamente relacionadas à tradição e são justificadas também com base nela. O jogo cômico no tempo de Aristófanes, que é o modelo de comédia antiga que temos, era composto no geral por prólogo , coro , agôn , parábase e êxodo^38. Como afirma Jane Kelly de Oliveira 39 , o grande número de pessoas que estiveram envolvidas todos os anos nas produções do teatro fez com que os interlocutores se tornassem um "público especialista em teatro", atento às performances do drama, pois os indivíduos ali presentes provavelmente teriam alguma vez participado de representações dramáticas, sendo assim habilitados a analisar o desempenho das obras. Esta especialização de pelo menos parte da audiência fez com que gradativamente a comédia de Aristófanes passasse a privilegiar críticas à composição literária de outros autores em suas caricaturas, como foi o caso de Êupolis, seu grande rival nas comédias, e do autor trágico Eurípides. Nesse sentido, Aristófanes passou a exercer uma função que a comédia do início do século não desempenhou, sendo um crítico literário, como podemos ver, por exemplo, em As Vespas (422 a. C.), As Aves (414 a. C.) e As Rãs (405 a. C.). Antes da metade do século V a. C., a comédia era ainda um gênero em formação e as subdivisões do jogo cômico não eram tão claras como na época de Aristófanes. Após 440 a. C., o prólogo da comédia antiga pode ser compreendido, tal como afirma Cancela 40 , como um quadro inicial, que tem a função de atrair a atenção do público e é composto por efeitos cômicos diretos. Em seguida, ocorre um discurso expositivo, geralmente feito pelo personagem central, no qual já se vê um cunho político

Luiz Henrique Bonifacio Cordeiro

26 Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.9, Outubro de 2015

um mediador ou um dos agentes do debate, como no debate entre os semicoros de Lisístrata (411 a. C.). A parábase é considerada como uma interferência extra dramática e é mais uma consequência direta do que Adrados expressou como "espírito democrático", pois era uma participação ativa do autor da comédia sobre temas variados, tendo ou não a ver com a obra, o contexto sociopolítico do momento ou obras anteriores. Essa participação poderia ser executada na figura do próprio autor (fantasiado e mascarado ou não) ou na figura do corifeu ou mesmo no conjunto coral. A parábase funcionou, na comédia do século V a. C., como um depoimento de seu autor. Sob reflexões da filóloga especialista nas parábases aristofânicas Adriane da Silva Duarte 45 , consideramos que a parábase é algo como um termômetro moral, literário, artístico, político e pedagógico entre o poeta, seu coro e atores e os espectadores, pois essa autora afirma que a parábase possui função e preocupação didática e política por parte do autor. Geralmente festivo, com final feliz, o encerramento das comédias é denominado de êxodo. A comédia era uma proposta menos desafiadora emocionalmente do que a tragédia e agia de forma lúdica sobre as questões abordadas. Gradualmente, seu mecanismo lúdico foi sendo preenchido por argumentos políticos, uma exigência da conjuntura do sistema democrático em que se situava Atenas àquela época. Ao final do século, com o sistema político da pólis se fragmentando, o jogo cômico da comédia foi deixando de lado seu caráter politizado, beneficiando cada vez mais um riso doce, ao invés do riso amargo de anos anteriores. Com isso, podemos ver a diferença entre os argumentos das comédias de Aristófanes e de Menandro, ou mesmo a diferença entre as próprias obras aristofânicas da década de 420 a. C. e as comédias pós 405 a. C. Como afirma Edward Capps 46 , "de Aristófanes a Menandro, a comédia não cessa de desenvolver-se em resposta às transformadoras condições sociais e políticas de Atenas e às demandas da arte literária". Portanto, desde a comédia antiga, passando pela comédia média e até a nova, o que observamos é

O desenvolvimento da comédia antiga

ISSN 1414-9109 27

um desenvolvimento em constante atualização. Em conformidade com esta abordagem está a teoria de Marcus Mota 47 , para quem o teatro ateniense é um processo de contínua experimentação e monumentalização e seu contexto performativo deve ser levado em conta para serem analisadas as pluralidades a que ele esteve exposto. As experiências políticas do período democrático em Atenas estiveram enraizadas no desenvolvimento do gênero cômico e por isso é que Aristófanes teve condições de ser o poeta que mais se destacou, pois suas caricaturas eram marcadas por práticas comuns em seu cotidiano.

Notas de Referência

(^1) Mestre em História Política, PPGH-UERJ. Membro do NEA-UERJ e do Leitorado Antiguo-UPE. (^2) CAPPS, Edward. From Homer to Theocritus: a manual of greek literature. New York; Chicago; Boston: Charles Scribner's Sons, 1901, p. 2. (^3) "Talvez, a mais instrutiva característica da literatura grega, considerada em seu desenvolvimento, é o fato que este progresso em direção à perfeição foi um crescimento normal [ normal growth ]" (CAPPS, op. cit., p. 3, tradução livre). (^4) Op. cit., p. 10. (^5) LIMA, Luiz Costa. A ficção e o poema. São Paulo: Companhia das Letras,

(^6) CASSIRER, Ernst. Filosofia das formas simbólicas I a linguagem. Tradução de Marion Fleischer. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. (^7) ARISTÓTELES. Poética. Tradução de Eudoro de Souza. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2003, 1448b, 14.9. (^8) Op. cit., 1447a. (^9) Vários autores partilham desta concepção; entre eles, citamos: ADRADOS, Francisco Rodríguez. Del teatro grego al teatro de hoy. Madrid: Alianza Editorial, 1999; e ASHBY, Clifford. Classical Greek Theater: new views of an old subject. Iowa: University Iowa Press, 1999. (^10) Op. Cit. (^11) CANCELA, Elina Miranda. Comedia, teoria y público en la Grecia clásica. Havana: Ediciones Alarcos, 2010, p. 7. (^12) OBER, Josiah. Mass and elite in Democratic Athens: rhetoric, ideology and the power of the people. Princeton University Press, 1989.

O desenvolvimento da comédia antiga

ISSN 1414-9109 29

Não negligenciamos, no entanto, os apontamentos do filósofo, uma vez que ele foi um dos precursores da crítica literária e da gramática. (^29) As carnavalizações da ordem nos usos cômicos, aborda Lesky (1989, p. 261, tradução livre), "a todo tempo expressam uma agitada plenitude de vida e aspiram a favorecer por todos os meios o jovem crescimento. Os impropérios, entre alegres e grosseiros, que trocam os participantes são um elemento indefectível". (^30) Op. cit., p. 28. (^31) De fato, como afirma Aristóteles (Op. cit.), o teatro tinha a função de purificar as emoções e as ações humanas, por isso seu fim pedagógico. (^32) Op. cit. (^33) A crítica personalizada feita por Aristófanes ao estrátego Cléon na comédia

Os Cavaleiros (424 a. C.) teria lhe rendido um processo jurídico por atentar contra a imagem daquele, o que mostra o caráter político das abordagens da comédia. (^34) Op. cit. (^35) CANDIDO, Maria Regina. "Teatro, Memória e Educação na Atenas Clássica". In: LESSA, Fábio de Souza e BUSTAMANTE, Regina Maria da Cunha (orgs.). Memória & Festa. Rio de Janeiro: Mauad, 2005, pp. 625-628, p. 625. (^36) OLIVEIRA, Francisco de. "Teatro e poder na Grécia". In: Humanitas. Vol. XLV. Coimbra, 1993, pp. 69-94, p. 75. (^37) Op. cit., p. 29. (^38) Levamos em consideração aqui a comédia de Aristófanes como o modelo da

comédia antiga ateniense por alguns motivos: primeiramente, é o único autor de quem há uma documentação relevante para o estudo do gênero; em segundo lugar, toda a historiografia concernente ao tema da comédia antiga considera que sua obra foi a de melhor qualidade entre os cômicos do século V a. C. Cancela (Op. cit., p. 37), inclusive, chega a afirmar que Aristófanes provavelmente foi o autor mais "metateatral" de todos os poetas cômicos e que sua obra é um expoente na história teatral e literária entre os gregos. Aristófanes produziu comédias entre o início da década de 420 e a década de 380 a. C., todavia, a virada entre os dois séculos marcou um importante declínio político em Atenas e, consequentemente, suas produções artísticas imbuídas de cunho político, como a comédia, foram afetadas. Assim, consideramos que a produção aristofânica, como modelo para o estudo da comédia antiga, prevalece apenas nos últimos 25 anos do século V a. C. (^39) OLIVEIRA, Jane Kelly de. As funções do coro na comédia de Aristófanes [Tese de doutorado]. Araraquara: UNESP, 2009, p. 25. (^40) Op. cit., p. 53. (^41) Em Lisístrata (411 a. C.), por exemplo, a ilusão dramática provocada por Aristófanes é a de que as mulheres de todo o mundo grego irão ludibriar seus

Luiz Henrique Bonifacio Cordeiro

30 Dia-Logos, Rio de Janeiro/RJ, n.9, Outubro de 2015

maridos e atingir o poder político de suas póleis, para acabar com os flagelos da guerra. (^42) THEML, Neyde. Público e privado na Grécia do VIII° ao IV° séc. a.C.: O Modelo Ateniense. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998, p. 20. (^43) Op. cit. (^44) Op. cit., p. 262. (^45) DUARTE, Adriane da Silva. O dono da voz e a voz do dono: a parábase na comédia de Aristófanes. São Paulo: Humanitas/ FFLCH/ USP: FAPESP, 2000, p. 13. (^46) Capps apud Cancela, op. cit., p. 10. (^47) MOTA, Marcus. "Teatro grego: novas perspectivas". In: ________. Cinco ensaios sobre a antiguidade. São Paulo: Annablume, 2011, p. 45-66, p. 54-55.