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Este documento discute a hipótese de que o desenho pode ter sido uma das primeiras formas de comunicação humana. Apesar de ser utilizado há milhares de anos, os adultos apresentam dificuldades criativas ao desenhar. O princípio do 'ditado visual' pode facilitar o acesso à criatividade e melhorar a comunicação entre adultos. Aplicado a diferentes grupos, o 'ditado visual' gerou rica troca de informações e contribuiu para discursos criativos e transposição de línguas, especialmente música a partir de desenhos.
Tipologia: Notas de estudo
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Luci Vilanova Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa Resumo O Desenho pode ser considerado uma forma de expressão inerente ao ser humano. Há também uma suspeita de que essa prática possa ter sido utilizada como uma das primeiras formas de comunicação humana no mundo. Ainda hoje, utilizamo-nos desse meio de comunicação, porém, os adultos tendem a apresentar bloqueios criativos quando lhes é solicitado que desenhem. A prática do ditado visual pode facilitar o acesso à Criatividade, impulsionar e fortalecer a comunicação entre adultos. Aplicado em distintos grupos, o Ditado Visual proporcionou rica troca de informações entre os envolvidos. Além da comunicação que foi gerada a partir das imagens, estas ainda contribuíram para discursos criativos e transposição de linguagens, especificamente, música a partir de desenho. Ao acessar a imaginação os adultos puderam ser criativos numa atividade que antes julgavam ser inteiramente lógica e objetiva. Palavras-Chave: Ditado Visual; desenho; linguagem; criatividade. Abstract Drawing can be considered a form of expression inherent to the human being. There is also a suspicion that this practice may have been used as one of the earliest forms of human communication in the world. Even today, we use this form of communication, but adults tend to present creative blocks when asked to draw. The practice of visual dictation can facilitate access to Creativity, boost and strengthen communication between adults. Applied in different groups, the Visual Dictation provided a rich exchange of information among those involved. Besides the communication that was generated from the images, these still contributed to creative discourses and transposition of languages, specifically music from drawing. Upon entering the imagination the adults could be creative in an activity which they thought to be entirely logical and objective. Keywords: Visual Dictation; drawing; language; creativity. O Desenho como Linguagem - Práticas com Ditado Visual Segundo Pignatti, “o desenho sempre existiu, desde que existe a humanidade”. Esta relação revela que além do ato de desenhar ser uma forma de expressão inerente ao ser humano, há uma suspeita de que essa prática do Desenho possa ter sido utilizada como uma das primeiras formas de comunicação humana no mundo. Genevieve Von Petzinger
expõe num TED^14 , sua pesquisa acerca dos sinais geométricos encontrados em cavernas da Espanha, França, Portugal e Sicília. Ela acredita que os “artistas” que marcaram as formas encontradas nas cavernas tinham a intenção de o assim fazerem, ou seja, todo registo feito por eles foram escolhas intencionais, isto porque os símbolos produzidos, de 30 a 40 mil anos atrás, se repetiram por muito tempo e em muitos lugares distintos. Petzinger afirma ainda que esses desenhos, provavelmente, eram formas de comunicação entre os indivíduos que ali habitavam. Isto fortalece a ideia de que o Desenho é uma forma de comunicação natural do ser humano, e ainda hoje, é utilizado para este fim, principalmente durante a infância. Todas as pessoas passam pelas mesmas fases de rabiscar, por exemplo, “as crianças, independentemente de raça, localidade, posição social, por volta de dois anos, iniciam os movimentos circulares, que vão atingir seu ápice aos três anos, aproximadamente” (Rabello, 2014, p. 50) Desenhar faz muito mais parte do quotidiano infantil do que do adulto. O ser humano em desenvolvimento expressa-se por meio de desenhos naturalmente e pode ser que os desenhos produzidos por ele sejam considerados como uma via de comunicação com o mundo exterior. Quando a criança começa a registar a forma circular, ela está a afirmar-se finalmente como um indivíduo, ou seja, deixa de se ver como uma extensão do corpo materno. Posteriormente, em relação ao ato de desenhar, as crianças continuam a desenvolver fases idênticas, “mas é importante ressaltar que cada criança tem um traçado individual, traz em seus desenhos sua realidade, traz seu traçado único e peculiar” (Rabello, 2014, pp. 53-54). Edwards em seu livro Desenhando com o lado direito do cérebro afirma que “por volta dos quatro ou dos cinco anos, as crianças utilizam os desenhos para contar histórias ou resolver problemas” (Edwards, 2000, p. 92). A partir daí o indivíduo passa a ter autonomia diante dos seus traços e provavelmente sua cultura poderá influenciar ao realizar os seus desenhos (Rabello, 2014). Na infância, torna-se mais fácil e faz parte da rotina criar desenhos e ler histórias a partir de ilustrações, pois ainda não se tem a formação para utilizar o sistema de escrita e leitura, que nada mais é que uma organização de símbolos uniformizados. Porém, “um meio de comunicação não nega o outro” (Dondis, 2007, p. 86), pois tanto a linguagem como o meio visual informam mensagens ao qual estão destinados. Enquanto a escrita e leitura dependem de uma formação prévia para que a pessoa seja capaz de decifrar os códigos, Dondis diz que “a reprodução da informação 14 TED – Organização de Conferências que ocorrem em diversos países do mundo. A apontada nessa pesquisa é a fala da paleontologista, pesquisadora de arte rupestre e, na altura, TED Bolsista Sénior Genevieve Von Petzinger que fez parte do TED, em 2015.
quiséssemos. Um exercício para ativar a criatividade a partir de uma imagem abstrata que surgiu por meio do Ditado Visual. Alguns meses depois, tornei-me professora de História da Arte e Consciência Estética no curso de Pós-Graduação em Arteterapia da Pomar, no Rio de Janeiro. Os grupos com os quais me deparava, eram formados por pessoas licenciadas nas mais diversas áreas. Apenas dois fatores lhes eram comuns: O fato de todas estarem matriculadas na mesma Pós-Graduação e não terem a prática do desenho inserida nas suas vidas. Entre médicos, professores, psicólogos, advogados, e outros profissionais, a maioria também não tinha desenvolvido o alfabeto visual. Resolvi adotar o exercício do Ditado Visual, com algumas adaptações, para ser o primeiro contato com o grupo. Com papeis Kraft tamanho A2 e bastões de carvão vegetal, convidava-os a registarem os itens ditados por mim. A indicação era que marcassem o papel à medida em que eu dava comandos e que cada item fosse feito de acordo com a percepção de cada um. Antes da atividade iniciar, deixei claro que não havia certo ou errado e muito menos apelo estético para o que seria produzido. Os comandos eram ditos com intervalos bem pequenos, propositalmente, para não haver tempo de contemplação da imagem que estava sendo formada. Assim, não poderiam pensar em termos de composição. O tempo que eu lhes dava era suficiente apenas para processarem o que aquele comando representava para eles e, instantaneamente, marcarem o papel sem preocupação com a escolha do melhor sítio para cada elemento. Após cerca de dez comandos seguidos, as imagens formadas nas folhas que estavam presas às paredes, continham todo o material necessário para que eu pudesse passar aos estudantes noções acerca da linguagem e alfabeto visuais, como por exemplo, noções de enquadramento, equilíbrio e harmonia, que constavam no programa da disciplina. Ao continuar essa experiência, pedia para que se retirassem e formassem uma fila no corredor, enquanto os informava que adentraríamos uma exposição raríssima de novos artistas para apreciarmos obras singulares no mundo. A diferença é que ao retornarem à sala, era pedido que ficassem à frente de imagens alheias. Quando todos já estavam posicionados, informava-os que teríamos um guia para cada “obra de arte”, por serem tão especiais. Em meio a desconfortos, risos e suspiros, iniciava-se o discurso de cada um deles a tentar explicar a imagem abstrata do colega. Cada fala carregava percepções ingênuas na interpretação das formas e traços marcados no papel. Falava-se, nesse momento, do quanto somos seres únicos e como um mesmo comando poderia gerar tantas possibilidades diferentes, assim como leituras diversificadas das mesmas (Imagem 01).
Imagem 01. Algumas imagens produzidas a partir do mesmo Ditado Visual , 2018. Registos feitos pela equipa do projeto, no interior de Minas Gerais (Brasil). Fonte: Arquivo pessoal. Durante dois anos consecutivos, apliquei o Ditado Visual em turmas da Pós-Graduação da Pomar, e essa atividade revelou-se como uma impulsionadora de diálogos entre os estudantes, assim como dos mesmos com a professora. Eles debatiam suas semelhanças e diferenças que estavam contidos nas imagens que produziram. Trouxeram emoções e características específicas individuais, sendo todas fundamentadas e sustentadas por meio do desenho riscado no papel. Funcionou como uma apresentação de cada estudante, porém feita por um colega, e pude entender como funcionavam as dinâmicas de cada grupo. Outra ocasião em que utilizei essa prática do Ditado Visual foi num projeto de formação de professores de escolas municipais do interior de Minas Gerais (Brasil). Nesses grupos, como não era necessário cumprir um programa de conteúdos teóricos, a proposta apenas era tentar gerar diálogo entre eles por meio das imagens que seriam desenhadas e trocarem informações uns com os outros, principalmente, a nível emocional e psicológico. No fim dessa experiência, surgiu a ideia em experimentar, junto com o professor de música Vini Couto, que trabalharia a percussão corporal com os grupos, ler algumas das imagens produzidas como se fossem partituras. Eram atribuídos sons a cada elemento visual que compunha a figura abstrata a ser lida. Por exemplo, um triângulo invertido representava uma palma. Ao ler uma partitura, ou qualquer tipo de notação musical, leva-se em conta quatro características principais para a reprodução sonora: Intensidade, timbre, altura e duração. Nesse caso, mesmo fora do sistema convencional de escrita musical, não era necessário explicar previamente que uma forma determinada, quando representada em grande dimensão seria um som forte e quando representada em pequena escala seria um
culturalmente pré-estabelecida de que, anteriormente, ao desenharem estariam num momento criativo. No fim da prática, perceberam que de fato o que ocorria era o oposto. Antes, por estarem a seguir meus comandos do Ditado Visual , estavam ativamente racionalizando as informações para que se cumprissem todas as etapas. Inclusive, finalizei o debate com a sugestão de uma transposição de linguagens (desenho e som), tal e qual havia feito em Minas Gerais. Sendo a linguagem musical mais acessível a todos, nesse contexto, essas novas possibilidades criativas livres de amarras e condicionamentos metódicos e técnicos foram acessadas mais facilmente. Esta mudança de percepção sobre o que era subjetivo e objetivo dentro do processo fez com que muitos repensassem suas teses teórico-práticas, principalmente os conteúdos que envolviam a criatividade. O Ditado Visual pode ser um meio para impulsionar, facilitar e fortalecer a comunicação entre adultos. Ao ser aplicada em distintos grupos proporcionou rica troca de informações entre os envolvidos, mas tenho a convicção de que esta é apenas uma das amplas possibilidades a partir desta prática. Outras experimentações com outros grupos e condições, principalmente, nos que seus integrantes estejam ligados ao desenvolvimento da Criatividade, poderão revelar novos recursos de transposição do desenho como linguagem. Referências Bibliográficas Aimone, S. (2009). Espressive Drawing. Nova Iorque, USA: Lark Crafts. Dondis, D. A. (2007). Sintaxe da linguagem visual. São Paulo, Brasil: Martins Fontes. Edwards, B. (2000). Desenhando com o lado direito do cérebro. Rio de Janeiro, Brasil: Ediouro. Furth, G. M. (2004). O mundo secreto dos desenhos. São Paulo, Brasil: Editora Paulus. Martins, D. (2018). Arte-Terapia – Criatividade e Simbolismo. Lisboa, Portugal: Espiral Editora. Nachmanovitch, S. (1993). Ser Criativo. São Paulo, Brasil: Summus Editoral. Ostrower F. (2012). Criatividade e Processos de Criação. Petrópolis, Brasil: editora Vozes. Ostrower F. (2013). Universos da Arte. Campinas, Brasil: editora da Unicamp.
Philippini, A. (2009). Linguagens e materiais expressivos em Arteterapia: Uso, indicação e propriedades. Rio de Janeiro, Brasil: Wak. Pignatti, T. (1982). O Desenho de Altamira a Picasso. São Paulo, Brasil: Livros Abril. Rabello, N. (2015). O Desenho do idoso – As marcas e os simbolismos que o tempo traz. Rio de Janeiro, Brasil: Wak Editora. Rabello, N. (2014). O Desenho infantil – entenda como a criança se comunica por meio de traços e cores. Rio de Janeiro, Brasil: Wak Editora. Rodrigues, C. de A. (2013). Breves considerações sobre o desenho, a memória e o pensamento. In C. G. Terra (Ed.), Arquivos da Escola de Belas Artes, nº 21. (pp.99-107). Rio de Janeiro, Brasil: EBA publicações. Vilanova, L. (2016). Rabiscos Terapêuticos - Como os doodles podem auxiliar na Arteterapia. Rio de Janeiro, Brasil: Livros Ilimitados SITES Petzinger, G. Von (2018/11/12). Why are these 32 symbols found in caves all over Europe. TED agosto de 2015. Retrieved from https://www.ted.com/talks/genevieve_von_petzinger_why_are_these_32_symbols_foun d_in_ancient_caves_all_over_europe?language=pt#t- 111066