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Influência do Comunismo Soviético na Arte e Arquitetura Russa, Notas de aula de Arquitetura

Este documento aborda como o contexto do comunismo soviético influenciou uma geração de artistas, particularmente na área da arquitetura. A noção de 'condensador social' é discutida em relação à associação de arquitetos contemporâneos e à arquitetura na rússia na década de 1930. Além disso, o papel da arte na revolução russa e a relação entre arte e modernização são explorados.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Amanda_90
Amanda_90 🇧🇷

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A Arquitetura Russa nos Primeiros anos da Revolução: o Construtivismo e a noção de
“condensador social”
Gabriel Rodrigues da Cunha
Mestrando do Programa de Pós-graduação em
Teoria e História de Arquitetura
USP – São Carlos
Resumo
O presente trabalho pretende discutir, numa perspectiva historiográfica, questões
relacionadas à produção arquitetônica soviética e o contexto revolucionário bolchevique,
dos anos de 1920. Procurará levantar algumas idéias a respeito de como o contexto do
Comunismo Soviético, em seus primeiros momentos, influenciou uma geração de artistas
que, motivados pelas possibilidades abertas pela nova realidade política e econômica,
propuseram uma nova visão da Arquitetura, sintetizada pela idéia de “condensador social”.
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A Arquitetura Russa nos Primeiros anos da RevoluÁ„o: o Construtivismo e a noÁ„o de ìcondensador socialî Gabriel Rodrigues da Cunha Mestrando do Programa de PÛs-graduaÁ„o em Teoria e HistÛria de Arquitetura USP ñ S„o Carlos

Resumo

O presente trabalho pretende discutir, numa perspectiva historiogr·fica, questıes relacionadas ‡ produÁ„o arquitetÙnica soviÈtica e o contexto revolucion·rio bolchevique, dos anos de 1920. Procurar· levantar algumas idÈias a respeito de como o contexto do Comunismo SoviÈtico, em seus primeiros momentos, influenciou uma geraÁ„o de artistas que, motivados pelas possibilidades abertas pela nova realidade polÌtica e econÙmica, propuseram uma nova vis„o da Arquitetura, sintetizada pela idÈia de ìcondensador socialî.

A Arquitetura Russa nos Primeiros anos da RevoluÁ„o: o Construtivismo e a noÁ„o de ìcondensador socialî

ìdeclaramos que en la Època de la construcciÛn del socialismo, el papel del arquiteto es sobre todo el de inventar nuevos tipos de arquitectura, nuevos condensadores de la vida socialî

A noÁ„o de arquitetura como ìcondensador da vida socialî apresentada pela Osa (AssociaÁ„o de Arquitetos Contempor‚neos) na revista russa Sa (Arquitetura Contempor‚nea), em 1931, demonstra uma forma de conceber a arquitetura por um viÈs que leva em conta, principalmente, a sua relaÁ„o com as atividades humanas no espaÁo e na HistÛria.

Visto isoladamente o termo ìcondensadorî pode ter v·rias definiÁıes possÌveis: a de tornar algo denso ou mais denso, resumir, engrossar, compactar, tornar mais resistente. Quando na citaÁ„o este termo È relacionado ‡ vida social para com isto criar uma noÁ„o de arquitetura, o significado mais plausÌvel para esta definiÁ„o parece ser o de um ambiente no qual as atividades humanas s„o adensadas, para onde elas convergem, com a finalidade de permitir e potencializar esta vida social. Entretanto, no contexto histÛrico da U.R.S.S. tal noÁ„o adquire significados mais amplos.

Para compreender melhor esta idÈia È necess·rio levar em conta alguns aspectos do momento histÛrico em que ocorrem os debates arquitetÙnicos soviÈticos e verificar porque a noÁ„o de arquitetura como condensador social est· diretamente relacionada com o contexto russo, ainda que n„o seja exclusiva dele. Dito de outra forma, dentre as semelhanÁas existentes entre as propostas das vanguardas artÌsticas do inÌcio do sÈculo XX, sobretudo ‡s que dizem respeito ‡ Arquitetura, cabe-nos discutir e esclarecer quais foram as particularidades arquitetÙnicas russas.

Pode-se dizer, grosso modo, que a noÁ„o de arquitetura como condensador social surge na U.R.S.S, por volta do final dos anos 20. Tal noÁ„o sintetizava, naquele momento, o pensamento da vanguarda construtivista russa empenhada com a construÁ„o do socialismo e significava que cada obra realizada deveria ser, ao mesmo tempo, a imagem do modo de vida futuro e um instrumento de edificaÁ„o deste modo de vida novo, baseado na vivÍncia

da arquitetura soviÈtica. … neste momento que T·tlin elabora, em 1919, o famoso ìMonumento ‡ Terceira Internacionalî.

Tal monumento, n„o construÌdo, trazia em sua concepÁ„o novos valores muito ligados ao momento de popularizaÁ„o da arte, como a oposiÁ„o da concepÁ„o conformista do monumento-est·tua e negaÁ„o ‡ exaltaÁ„o da personalidade singular em nome da coletividade. Este sentido coletivo que o monumento exalta È um reflexo, segundo seu autor, dos tempos modernos, da vida metropolitana:

ìel monumento moderno debe refletar la vida social de la ciudade; m·s a˙n, la prÛpria ciudad debe vivir em Èl. Solo el ritmo de la metrÛpolis, de las f·bricas y de las m·quinas, sÛlo la organizaciÛn de las masas puede impulsar el nuevo arte; por eso, las obras pl·sticas de la revoluciÛn deben brotar del espÌritu del colectivismoî 1.

O movimento da espiral È, ainda segundo T·tlin, o sÌmbolo mais eficaz dos tempos modernos. Um dinamismo ìeternamente tensoî correspondente ao dinamismo do mundo moderno, estudado por teÛricos como Georg Simmel^2.

E È o tema da modernidade quem caminhar· ao lado da busca da express„o de uma arte socialista no centro do debate artÌstico. Dos artistas que passam a se organizar em grupos como o Proletkult (Cultura Prolet·ria), fundado antes da RevoluÁ„o de Outubro e que acabou reagrupando correntes diversas ñ e a Lef (Frente de Esquerda das artes) que acolheu as vanguardas, nos anos 20, ambos respons·veis por muitas das teses do construtivismo, v·rios temas do moderno comparecem para alÈm do tema do socialismo, como a presenÁa do car·ter de organizaÁ„o das forÁas coletivas e produtivas.

A Lef, ao contr·rio do Proletkult n„o teve um fim r·pido e na verdade acabou se apoiando, segundo DE FEO, no construtivismo, que se tornou o movimento artÌstico mais forte do paÌs. Cabe lembrar que a elaboraÁ„o gradual do construtivismo como ideologia È anterior a constituiÁ„o da Lef, estando teorizada em dois manifestos de 1920: o manifesto do ìrealismo-construtivismoî de Gabo e Pevsner e o manifesto ìprodutivistaî do grupo de T·tlin. Em linhas gerais o conte˙do destes dois manifestos tem sentidos opostos, pois de

(^1) T·tlin, apud De FEO, Vittorio. Op. Cit., p.27. (^2) WAIZBORT, Leopoldo. As aventuras de georg simmel. S„o Paulo: Ed. 34, 2000.

um lado est· o idealismo e o fundamento estÈtico do realismo-construtivismo, e do outro um materialismo e a negaÁ„o da arte dos produtivistas.

Contudo, o gesto concreto que sancionou a afirmaÁ„o do construtivismo foi realizado em 1922, por v·rios artistas sob a direÁ„o de T·tlin. Estes artistas desenvolvendo as idÈias anteriores, desde o cubofuturismo ao produtivismo, e em nome da tÈcnica renegam uma produÁ„o artÌstica cujo fim È ela mesma e se comprometem com a arte aplicada, express„o da cultura industrial, enfim, a arte do construtivismo.

A cultura industrial, como se sabe abrangeu muitos paÌses europeus e marcou a arte de muitos deles. FER (1998) quando discute ìa linguagem da construÁ„oî mostra como a idÈia de ìconstruÁ„oî permeou a linguagem da arte no perÌodo entre-guerras, que envolvia uma vis„o particular da modernidade, tanto no sentido do que era considerado ìmodernoî em arte, quanto como a arte moderna estava associada a uma cultura racionalizada e moderna. A vinculaÁ„o da arte com os processos mais amplos de modernizaÁ„o como a ind˙stria, a ciÍncia e a tecnologia era um ponto de aproximaÁ„o entre linguagens artÌsticas de diferentes paÌses, como a R˙ssia, a Alemanha e o ImpÈrio Austro-H˙ngaro. PorÈm, a arte russa com seus valores prÛprios se constitui, ainda que por um perÌodo limitado um novo pÛlo de atraÁ„o. Segundo, FER (1998), em 1920, para muitos artistas da esquerda o ˙nico ou mais significativo ponto de referÍncia n„o era mais a vanguarda parisiense, mas as conotaÁıes revolucion·rias da construÁ„o, tomando a R˙ssia revolucion·ria como o novo sÌmbolo de cultura avanÁada. No entanto, as diferenÁas existiam e uma das principais era o car·ter ambÌguo de negaÁ„o da produÁ„o de obras de arte, existente na concepÁ„o dos russos e apresentado linhas acima.

A exposiÁ„o realizada em Moscou, em Maio de 1921, intitulada ìtrabalhos de laboratÛrioî ilustra bem esta concepÁ„o. Ela apresentava v·rias construÁıes cujo sentido n„o era o de que fossem vistas como obras de arte, tal qual as pinturas de cavalete ou esculturas decorativas, mas sim como experimentos, construÁıes. Tais trabalhos ìexperimentavamî os materiais b·sicos e os elementos espaciais da construÁ„o e tinham como premissa investigar cientificamente a sua aplicaÁ„o no trabalho utilit·rio.

Esta recusa da arte foi cada vez mais questionada apÛs a RevoluÁ„o de 1917, porque era vista como produto de sociedades individualistas e burguesas e inadequada para uma sociedade organizada em bases coletivas e prolet·rias. Com isto os construtivistas tinham como meta realizar, nas palavras do Primeiro Grupo de Trabalho dos Construtivistas ìa

que pudesse dar espaÁo a novos condensadores sociais, o conte˙do dessa afirmaÁ„o se remete a este amplo e complexo debate artÌstico que ocorre ao longo dos anos 20.

A aposta no desenvolvimento industrial soviÈtico, as concepÁıes construtivistas com relaÁ„o ‡ cultura e ‡ arte comeÁam a dar coloraÁıes especÌficas ‡ arquitetura. O contexto revolucion·rio que se sucedeu no paÌs valorizava e incentivava o car·ter antecipador destes ìartistas-construtoresî. Empenhados com a construÁ„o do socialismo atribuÌam ‡ arquitetura um valor utÛpico concebendo cada obra realizada, ao mesmo tempo, como a imagem do modo de vida futuro e um instrumento de edificaÁ„o deste modo de vida novo, baseado na vivÍncia coletiva e planejada.

O valor artÌstico da arquitetura passa a ser, assim, alterado. Seguindo ‡ lÛgica da tecnologia e do progresso cientÌfico-tecnolÛgico, o objeto arquitetÙnico se via desprovido dos valores tradicionais de uma estÈtica prÈ-industrial para dar lugar a uma nova concepÁ„o funcionalista, produtiva. A arquitetura soviÈtica pretendia apresentar a sua vers„o da ordenada utopia Taylorizada, ideal bastante difundido na Europa.

Mas, por v·rios motivos a materializaÁ„o dos in˙meros projetos arquitetÙnicos deste perÌodo n„o foi muito volumosa. Uma boa parte deles n„o saiu da prancheta. Parte dos motivos se deve ‡ din‚mica do processo de industrializaÁ„o soviÈtico, das dÈcadas seguintes. Segundo Sharf 3 , a heranÁa tecnologicamente primitiva da R˙ssia czarista foi um obst·culo ‡ concretizaÁ„o destas idÈias avanÁadas. A outra parte dos motivos est· relacionada ‡s divergÍncias a respeito da arte, bem como seus vÌnculos polÌticos que n„o deixaram de existir. O desfecho deste momento do debate arquitetÙnico soviÈtico culminou com o fim destas propostas abstratas e ìinternacionalistasî cedendo espaÁo a uma Arquitetura acadÍmica e posteriormente ao Realismo Socialista, este ˙ltimo mais adaptado ‡ concepÁ„o stalinista da construÁ„o do Socialismo.

(^3) SCHARF, Aaron. ì Construtivismo î. In: STANGOS, Nikos. Conceitos da arte moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991.

Bibliografia

FER, Briony / BATCHELOR, David / WOOD, Paul. Realismo, racionalismo, surrealismo ñ a arte do entre-guerras. S„o Paulo: Cosac Naify, 1998. DE FEO, Vittorio. La arquitectura en la U.R.S.S., 1917-1936. Madri: Alianza Editorial,

GRAMSCI, Antonio. Os Intelectuais e a OrganizaÁ„o da Cultura. Rio de Janeiro: CivilizaÁ„o Brasileira, 1979. KOPP, Anatole. Arquitetura e urbanismo soviÈticos de los aÒos veinte. Barcelona: L˙men,

LODDER, Christina. El constructivismo ruso. Madri: Alianza Editorial, 1988. PI—”N, Helio. PrÛlogo: Perfiles Encontrados. In: B‹RGUER, Peter. Teoria de la vanguardi , Barcelona: PenÌnsula, 1987. STANGOS, Nikos. Conceitos da arte moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1991. TAFURI, Manfredo. Projeto e utopia. Lisboa: Editorial PresenÁa, 1985. WAIZBORT, Leopoldo. As aventuras de Georg Simmel. S„o Paulo: Ed. 34, 2000.