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Conceito de Liquidez: Definição, Tipos e Importância, Notas de estudo de Evolução

Este documento discute o conceito de liquidez, sua representação gráfica, sua importância e as diferentes formas de obter uma maior liquidez. O texto aborda a liquidez de ativos, sua relação com a certeza e a solvência, e a importância da liquidez no sistema econômico. Além disso, são discutidos os tipos de liquidez e a importância de instituições financeiras na obtenção de liquidez.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Nazario185
Nazario185 🇧🇷

4.7

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oCONCEITO DE LIQUIDEZ
MARIA JOSÉ VILLAÇA
Sumário: 1 .
Liquidez
no
seu sentido amplo: evo-
luçào
do
conceito.
2.
A liquides individual
e
da,
emprêsas. 3.
Liquides bancária.
4.
Liquidez
inter-
nacional.
5.
Conclusão.
É
nosso objetivo neste artigo discutir o conceito de liqui-
dez. Os livros de texto de teoria monetária, ao cuidarem
do assunto, atêm-se quase sempre ao sentido keynesiano
do têrmo, no seu aspecto macroeconômico, de procura de
moeda pelos vários motivos - transação, precaução e
especulação. No capítulo relativo à rêde bancária, tratam
da relação entre ativo e passivo, encaixe e depósitos, etc.;
em outros casos, referem-se meramente à solvência; uma
série de nuanças, todavia, se apresenta nos diversos
enfoques.
1.
LIQUIDEZ NO SENTIDO AMPLO: EVOLUÇÃO DO CONCEITO
O estudioso de problemas econômicos que se propuser a
analisar tal conceito terá de enfrentar uma série de difi-
culdades. Um levantamento feito nos livros de teoria
monetária e de finanças mostra que, realmente, o apareci-
mento da expressão liquidez data da década dos trinta.
quando se deu a publicação do Relatório
MACMILLAN
e
dos trabalhos mais importantes de
KEYNES.
Há, no entan-
to, entre os vários autores que tratam do assunto, diver-
gências quanto ao uso da palavra.
Para alguns, a liquidez é uma questão de grau que se aplica
a todos os ativos negociáveis ou àqueles sôbre os quais os
MARIA
JOSÉ
VILLAÇA -
Professôra Assistente-Docente da Faculdade de Ciên-
cias Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo.
R. Adm. Emp., Rio de Janeiro, 9 (1): p. 33-53, jan.-mar. 1969
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o CONCEITO DE LIQUIDEZ

MARIA JOSÉ VILLAÇA

Sumário: 1. Liquidez no seu sentido amplo: evo- luçào do conceito. 2. A liquides individual e da, emprêsas. 3. Liquides bancária. 4. Liquidez inter- nacional. 5. Conclusão.

É nosso objetivo neste artigo discutir o conceito de liqui- dez. Os livros de texto de teoria monetária, ao cuidarem do assunto, atêm-se quase sempre ao sentido keynesiano do têrmo, no seu aspecto macroeconômico, de procura de moeda pelos vários motivos - transação, precaução e especulação. No capítulo relativo à rêde bancária, tratam da relação entre ativo e passivo, encaixe e depósitos, etc.; em outros casos, referem-se meramente à solvência; uma série de nuanças, todavia, se apresenta nos diversos enfoques.

  1. LIQUIDEZ NO SENTIDO AMPLO: EVOLUÇÃO DO CONCEITO O estudioso de problemas econômicos que se propuser a analisar tal conceito terá de enfrentar uma série de difi- culdades. Um levantamento feito nos livros de teoria monetária e de finanças mostra que, realmente, o apareci- mento da expressão liquidez data da década dos trinta. quando se deu a publicação do Relatório MACMILLAN e dos trabalhos mais importantes de KEYNES. Há, no entan- to, entre os vários autores que tratam do assunto, diver- gências quanto ao uso da palavra. Para alguns, a liquidez é uma questão de grau que se aplica a todos os ativos negociáveis ou àqueles sôbre os quais os MARIA JOSÉ VILLAÇA - Professôra Assistente-Docente da Faculdade de Ciên- cias Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo.

R. Adm. Emp., (^) Rio de Janeiro, 9 (1): p. 33-53, jan.-mar. 1969

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indivíduos têm o direito de propriedade e dêles podem dis- por, transformando-os em caixa. A liquidez seria, pois, a propriedade de um ativo, governada pela relação entre o tempo e o preço alcançado, considerando-o livre de todos os custos decorrentes da venda. O seu preço total seria o conseguido após um dado período de tempo, uma vez que certas medidas fôssem tomadas no preparo de sua venda. Quanto menor o espaço de tempo decorrido, uma vez admi- tido um período ótimo para se alcançar o preço total, quando certas medidas são tomadas no preparo da venda, menor será a contrapartida conseguida na troca. Uma casa, por exemplo, pode ser vendida em questão de dias por um preço bem menor do que alcançaria se se esperasse uma adequada preparação da venda, mediante publicidade e possibilidade de visita pelos interessados. Haverá um lapso de tempo que tornará possível conseguir um preço maior. A liquidez assim entendida poderia ser gràficamen- te representada: no eixo das abscissas estaria colocado o elemento tempo e no das ordenadas, a porcentagem do preço total alcançado e a curva, que relaciona estas duas variáveis, seria a da liquidez (Gráfico 1).

% do preço total alcançado

100

50

L (^) A

o~------~~--------------------- L A tempo

36 CONCEITO^ DE^ LIQUIDEZ^ R.A.E.^ 1/

futuro em transações julgadas convenientes ou necessárias. Tanto os fatôres produtivos como a moeda podem, real- mente, ser conservados, não por causa apenas do rendi- mento que permitem obter mas também como reserva de valor. Isto explica o cuidado de NEWLYN 3 - cuja posição analisaremos em outra oportunidade - ao estudar a li- quidez, de procurar mostrar a necessidade de serem con- siderados outros aspectos além do rendimento e do risco, êste mais diretamente ligado à questão da reserva de valor. BRONFENBRENNER, no seu trabalho acima mencionado, ao pretender generalizar a teoria da liquidez e ligá-la à teoria do valor, atribuiu tal capacidade a qualquer mercadoria cuja liquidez fôsse bastante elevada, de tal forma que todos os indivíduos de uma dada sociedade desejassem guar- dá-la para uma troca futura, tendo em vista a obtenção de outros bens não especificados de antemão. Desta maneira, determinados bens conservados como reserva de valor, pos- sibilitando a aquisição de outros previamente escolhidos, fazem parte da liquidez total da comunidade, juntamente com o seu saldo de caixa. É, todavia, condição imprescindí- vel, para que tal ocorra, que êsse bem seja geralmente aceito por todos os indivíduos nas trocas.

A liquidez nesse seu sentido amplo, porém, apresenta algu- mas características. A primeira delas é a disponibilidade, isto é, a possibilidade que um estoque de bens duráveis ou moeda apresenta de ser utilizado quando necessário; aliás, esta condição não é nova porque já nos familiarizamos com ela ao tratarmos da noção de bens em economia.

Se um conjunto de bens é conservado como reserva de va- lor, dando ao seu possuidor a faculdade de trocá-lo, no futuro, por outros bens, é preciso que haja inalterabilidade na sua capacidade aquisitiva, fato êste prêso à conservação do valor. De que nos valerá guardar os bens se êstes, no

/I BROFENBRENNER, M. Some Fundamentais in Liquidity Theory in The Quar- terly Journal oi Economics, Vol. 59. 1944/45, 405 a 426.

R.A.E. 1/69 (^) CONCEITO DE LlQUIDEZ (^37)

decorrer do tempo, não nos possibilitarem a aquisição do mesmo volume de bens e serviços que no momento pre- sente esperamos obter em troca?

Se um bem qualquer é conservado à disposição de seu pos- suidor por representar uma reserva de valor, tendo em mira trocas futuras para que complete a sua função, é preciso, tal como a moeda, que seja de aceitação geral; que os membros da sociedade o aceitem fàcilmente dada a sua capacidade de, a qualquer momento, liberar dívidas. O poder liberatório que apresenta, pois, decorrerá, em algu- mas sociedades, do uso e costume. Será o grupo que, após uma seleção natural, terá optado por uma ou outra merca- doria que mais adequadamente preencheu as suas funções peculiares; noutros casos, essa capacidade não é espontâ- nea, não decorre do consenso do grupo, mas, sim, é forma- lizada por lei. Graças ao seu poder de compra indiscrimi- nado, o conjunto de bens conservados pelos indivíduos ou grupos, em uma dada sociedade, para ser utilizado futura- mente, em transações convenientes ou necessárias, permite que a escolha seja momentâneamente suspensa e que os pagamentos sejam diferidos, isto é, que prestação e contra- prestação estejam separadas no tempo, havendo uma an- tecipação de uma em relação a outra.

  1. A LIQUIDEZ INDIVIDUAL E DAS EMPRÊSAS

Ao considerarmos uma economia fechada, simplificada, deixando de lado as trocas internacionais e preocupando- nos apenas em analisar a situação da liquidez dos seus componentes - as unidades familiares ou de consumo e as emprêsas - teremos os seguintes problemas: do ponto de vista da unidade de consumo, da liquidez individual e doméstica, o acúmulo dêsses bens, transformados em ver- dadeiros saldos de caixa, representa a suspensão da escolha do consumidor. Um aumento da liquidez média de um indivíduo pode ser conseguido de, pelo menos, três formas: pela transformação de ativos em caixa, ou seja, pela mo- netização dos bens que constituem a sua riqueza disponí- vel; pela transformação dos ativos vencíveis a longo prazo

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Para tornar a nossa abordagem mais geral, devemos levar em consideração uma situação mais próxima da realidade, isto é, uma economia aberta que dê lugar às trocas inter- nacionais. Além dos demais elementos por nós considera- dos anteriormente, devemos citar novos itens que consti- tuem a liquidez internacional. Na época em que vigorava o padrão ouro clássico, com a circulação da moeda de ouro, a moeda nacional e internacional eram efetivamente a mesma; uma teoria que se aplicasse à moeda mercadoria, ou já à moeda metálica, teria aplicação geral. As trocas internacionais seriam, simplesmente, uma questão de des- locamento do estoque de mercadorias metálicas de um lugar para outro. Não haveria problema especial de liqui-

dez internacional. A medida que os sistemas monetários

internacionais se foram tornando mais complexos e se afastando do padrão ouro puro, o problema da liquidez internacional tomou novos aspectos que analisaremos mais adiante. A liquidez internacional torna-se necessária por- que as transações e débitos são expressos em moeda es- trangeira. Tendo em vista o objetivo de chegarmos a uma definição mais restrita de liquidez, aplicável à moeda e ao crédito, uma vez que temos falado em bens duráveis, moeda e ati- vos, precisamos distinguir os ativos reais dos ativos finan- ceiros. Os ativos reais são constituídos pelos bens de con- sumo duráveis dos quais se obtém diretamente uma uti- lidade, ou pelos fatôres de produção, cuja utilidade é in- direta. Os ativos financeiros são essencialmente direitos de haver, títulos. Ao cuidarmos da liquidez no seu sentido amplo englobamos os ativos reais e financeiros, e dentre êstes últimos, particularmente a moeda, na sua evolução, desde a moeda metálica até a nota bancária e os depó- sitos à vista, que dão origem à moeda escrituraI. Uma das maiores dificuldades inerentes à compreensão das discussões de política monetária implícita no Relatório RADCLIFFEdecorre, segundo seus relatores, do uso abusivo do conceito de liquidez, abrangendo conceitos bastante distintos. Ao mencionarmos, no início dêste artigo, o pro-

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blema da escolha de ativos, já apresentamos um dos con- ceitos de liquidez que relaciona aos ativos a certeza de, num dado período, obter-se um certo valor. Neste caso, o conceito do risco seria parte integral da definição de li- quidez. Sua vantagem decorre do fato de estar em har- monia com o conceito de liquidez que aparece na teoria bancária tradicional e com o que aparece no Treatise on Money, de KEYNES.^5 Apresenta, porém, dois inconvenien- tes. A medida da certeza aplicada aos preços futuros dos ativos é um problema muito subjetivo. O status da liqui- dez variará com a certeza esperada dos valôres. Por outro lado, procura fazer da liquidez uma propriedade objetiva de um ativo que, provàvelmente, estará relacionado a fatô- res objetivos, tais como a facilidade de troca por meios de pagamentos e graus de perfeição ou imperfeição dos mer- cados em que são negociados. A negociabilidade está real- mente ligada à liquidez, mas· não se confunde com ela; existem graus de negociabilidade que afetam a liquidez dos títulos. Há, portanto, divergências quanto a se consi- derar o risco ou a negociabilidade como desempenhando papel central no conceito de liquidez. Ao tratarmos dessas diferentes acepções estamos aproximando-nos do conceito que maior interêsse apresenta para êste trabalho. Os agen- tes econômicos, indivíduos, as unidades de consumo e em- prêsas, apresentam condição de liquidez quando uma elevada porcentagem de seus ativos, de seus recursos financeiros, pode ser utilizada no futuro, conforme as decisões de quem os possui ou detém.

Na constituição do atual conceito de liquidez podemos perceber uma evolução a partir do conceito puramente monetário que se prendia exclusivamente a um tipo espe- cial de ativo, a moeda. Dada a crescente complexidade das sociedades humanas e a diversificação nos meios de pagamentos e formas sob as quais a riqueza é conser- vada, foi-se ampliando o campo da escolha. Passamos a considerar títulos com diferentes prazos de vencimento;

5 KEYNES, J. M. Treatise on Money, 2 vols., Nova Iorque, Ed. The MacMil- Ian Co., 1930.

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adquirir fundos necessários para saldar suas dívidas na época do vencimento. A liquidez do instrumento repousa, em última análise, no crédito do comprador e na negocia- bilidade da mercadoria; depende da existência de merca- dos imediatos, com cotações tão freqüentes de preços de forma a torná-los fácil e definitivamente determináveis e a própria mercadoria suscetível de ser convertida em di- nheiro por meio da venda, a qualquer momento.

Há um tipo diferente de liquidez, quando o instrumento apresenta, como garantias colaterais, títulos que podem ser vendidos ràpidamente, mas não se originam de uma venda no curso da produção e comercialização, não possuem um período de vencimento relacionado, de qualquer forma, ao movimento total de bens e representam, provàvelmente, um crédito especulativo. A liquidez de tais empréstimos repousa no desenvolvimento da organização de um mer- cado para as garantias colaterais: volume de clientela - de compradores e vendedores - freqüência de vendas e conseqüente continuidade do mercado; estandardização da mercadoria, dos têrmos de venda, da possibilidade de venda a curto prazo, e da compra e venda para entrega futura e com lucro. O melhor exemplo dêsses tipos de empréstimos é o realizado, em grandes centros financei- ros, por corretores e garantido por ações e obrigações.

Outro tipo de liquidez baseia-se na possibilidade de dispor sem reservas, pela venda ou desconto, dos instrumentos de crédito. Esta forma requer um mercado de papéis alta- mente organizado, elevado montante de recursos para compras de tais títulos e instrumentos de crédito padroni- zados, apresentando uma forma conveniente e com certas denominações. Nesse mercado, o portador pode dispor, imediatamente, do documento de crédito a um preço equi- valente ao seu valor nominal, descontado o correspondente à taxa de juros. Alguns autores atualmente preferem con- siderar o grau de transferibilidade e não de liquidez dêsses títulos.

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Para um instrumento de crédito a curto prazo, a liquidez é garantida pela existência de um amplo mercado de des- conto, suprido, geralmente, pelo Banco Central, e de um mercado de aceitação e de papéis comerciais emitidos por emprêsas grandes e conceituadas, negociados por intermé- dio de corretores ou bancos, representando aplicação de recursos de fundos excedentes.

A liquidez de uma emprêsa, pois, depende da liquidez de seus ativos ou, mais especificamente, da direção financeira que garante um fluxo regular de fundos, de modo a fazer face às obrigações assumidas por ocasião' da época do ven- cimento. Uma emprêsa comercial ou industrial venderá seus bens em condições de igualar os vencimentos aos com- promissos resultantes das compras de materiais, suprimen- tos, etc. A distribuição dos prazos de vencimentos de todos os ativos financeiros existentes ou a sua distribuição de acôrdo com as datas de encaixe previstas constitui, se- gundo NEWLYN, 6 um dos três conceitos por êle analisados. A resistência financeira, ou seja, a soma das contribuições de todos os gastos privados potenciais que representam o comando sôbre recursos reais adicionais, pressupondo-se que seus ativos financeiros e empréstimos potenciais sejam realizáveis, constitui o segundo conceito. O terceiro, já bem mais comum, da disponibilidade, é constituído pela quan- tidade de moeda existente em relação ao nível de tran- sações. Tais conceitos são de grande importância para a teoria monetária e estão claramente interrelacionados, mas não são de forma alguma idênticos e muita confusão pode re- sultar do emprêgo indiscriminado dos três.

  1. LIQUIDEZ BANCÁRIA Alternativas líquidas à moeda corrente, assim como esta mesma, são criadas pelas instituições financeiras que se colocam como intermediárias entre credores e devedores, dando origem, algumas, a meios de pagamentos e, outras,

6 NEWLYN, W. T. T'heory oi Money, Oxford, Clarendon Press, 1962, capo X, p.119.

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rá o conflito básico entre o rendimento e a liquidez. Em geral, quanto mais líquido o ativo, mais baixo o rendimento e, inversamente, quanto mais difícil convertê-lo em moeda corrente ou em outros, cujo grau de liquidez seja maior, maior será a taxa de juros, ou seja, o rendimento auferido.

O banco será totalmente líquido apenas se o equivalente total de seus compromissos fôr mantido em caixa. Essa equivalência desaparece, automàticamente, logo que fôr consumada a primeira transação de crédito. A redução da liquidez abaixo de cem por cento não significa, evidente- mente, que ela caia a zero. A experiência pode indicar que, durante certos períodos, não mais de vinte por cento das obrigações pendentes devem ser reembolsados. Nessas con- dições, o banco poderia continuar a fornecer crédito até que sua liquidez tivesse sido reduzida, digamos, a trinta

por cento. Não seria sensato ir mais além, uma vez que,

neste caso, um ligeiro aumento nas solicitações normais de reembôlso esgotaria ràpidamente seu encaixe, forçando-o a cerrar as portas.

A necessidade de conservar uma reserva para atender à liquidez repousa na variabilidade da vida econômica e varia, diretamente, com esta; a presença de flutuações cíclicas, sazonais e irregulares, requer, de tempos em tem- pos, a conversão de ativos em caixa para enfrentar altera- ções fortuitas nas circunstâncias econômicas.

O problema da liquidez das emprêsas agrícolas, industriais ou comerciais é fàcilmente resolvido quando existe uma rêde bancária bem estabelecida; ativos que no momento não podem ser vendidos, mas podem ser utilizados como garantia suficiente para um empréstimo bancário. Em regra, uma instituição bancária preocupa-se muito mais com a liquidez do que qualquer outro estabelecimento; isto é conseqüência direta da natureza das operações dos bancos, particularmente os comerciais, em que a procura de passivos é contrabalançada, em larga proporção, por ativos que vencem a curto prazo. A liquidez dos bancos é um pré-requisito da liquidez de tôdas as outras emprêsas da comunidade.

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Com base na experiência, estabelece-se certa porcentagem de liquidez considerada suficiente para proteger o banco contra surprêsas desagradáveis. Essa porcentagem indica- ria o grau mínimo de liquidez que poderia ser mantido sem perigo. A liberdade de ação do banco depende da diferença entre o seu grau real de liquidez, em determinada época, e sua liquidez mínima. O banco terá maior disposição de abrir crédito à medida que a diferença mencionada, isto é, o excesso de liquidez fôr maior. Se os bancos possuem alta liquidez, diz-se que o mercado creditício é fácil. No caso contrário, é restrito. Um banco pode satisfazer a condição de liquidez ao con- servar caixa, isto é, moeda corrente no seu cofre e depósi- tos no Banco Central - particularmente os que consti- tuem a reserva legal - ou em bancos correspondentes, nos maiores centros financeiros. No entanto, nem o encaixe, nem tampouco os depósitos à vista em outros bancos dão algum rendimento; constituem verdadeiro pêso morto. Enquanto isto, os depósitos a prazo que vencem juros po- dem ser usados apresentando um certo grau de liquidez. Por que razão, então, os bancos conservam tais depósitos diversificados? Qual a razão econômica disto? Em geral, a resposta varia de banco a banco. Cada um deve estudar o saldo diário resultante da entrada e saída de fundos e conservar um montante extra para fazer face à procura extraordinária e prever variações sazonais. Se ocorrer excesso de caixa, poderá comprar títulos a curto prazo e vendê-los ràpidamente, caso haja necessidade. Mais difíceis são os problemas que podem resultar de uma procura imprevista, súbita, de caixa. Para enfrentar neces- sidades excepcionais de liquidez, os bancos se valem das reservas secundárias - investimentos de proteção - constituídas de ativos que podem ser vendidos a curto prazo - em questão de minutos, nos grandes centros financeiros - sem risco de apreciável perda de valor. O comprador pode ser um outro banco que, por ventura,

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Por fim, um banco membro de tôda a rêde poderá tomar emprestado do Banco Central para fazer frente à deficiên- cia temporária nas suas reservas.

No decorrer da nossa exposição, pudemos perceber gradati- vamente a evolução do conceito de liquidez. Inicialmente,

estava prêso à própria moeda, tal como o imaginara KEY-

NES ao estudar a preferência pela liquidez, construindo as curvas de procura de moeda como sucedâneo dos demais ativos e variando inversamente com o rendimento dêstes. Depois, ao cuidarmos dos vários agentes econômicos e da sua situação de liquidez, aproximamo-nos do conceito mais amplo, que abrange tôda uma gama de títulos, cujo grau de liquidez vai de 100% e rendimento. nulo até alcançar graus menores, rendimentos e riscos maiores, em função dos mercados em que são negociados. Foi assim que, ao passarmos para a rêde bancária, chegamos à observação de que a sua liquidez se tornou agora mais um fenômeno social, institucional; depende, geralmente, da liquidez do sistema. Em condições normais, os fundos não são man- tidos inativos fora dos bancos e quando nêles depositados são ràpidamente utilizados, em grande parte, em emprés- timos e investimentos. Conseqüentemente, quando um banco contrai seu volume de aceites e papéis comerciais, o devedor deve reduzir seu saldo para pagar o título ou encontrar um comprador para o mesmo. Se o banco re- correr a um intermediário, êste encontrará um outro to- mador que fornecerá os recursos para pagar o banco. Se houver necessidade de venda de uma garantia colateral, o comprador de título reduzirá seu saldo, levando seu banco a contrair seus recursos ou a tomar um empréstimo em qualquer lugar para pagá-los. Se um banco reforçar sua posição de caixa tomando emprestado de um correspon- dente, êste último terá talvez de realizar outro empréstimo, vender títulos ou fornecer parte de sua própria caixa. Por isso, o aumento de liquidez de um banco pode reduzir a liquidez de outros; além disso, uma simultânea liquidação de empréstimos, a curtíssimo prazo, de papéis comerciais ou de outros ativos por todos os bancos, simultâneamente,

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é impossível sem um sacrifício nos seus valôres de merca- do. Numa época de dificuldade no mercado de título, a sua venda provocaria uma baixa com conseqüências desas- trosas, tanto para os clientes, quanto para os próprios bancos.

No mercado financeiro temos o ponto de reunião onde os bancos que compõem o sistema fornecem, mutuamente, créditos a curto prazo. Os bancos que possuem excesso de liquidez temporária podem auxiliar outros que estejam enfrentando dificuldades momentâneas, comprando papéis do Tesouro ou títulos comerciais, ou seja, títulos de boa qualidade e aceitáveis pelo mercado.

Para resolver os problemas decorrentes da liquidez insu- ficiente da rêde bancária, surgiu, nos últimos trinta anos, a figura do Banco Central com suas funções bem delimi- tadas, coordenando e fiscalizando tôda a rêde bancária e demais instituições financeiras. Além de ser o responsável pela criação da moeda corrente, por deter o monopólio da emissão, uma das funções primordiais do Banco Central é manter a reserva bancária do país num dado nível e em condições de suficiente liquidez. Isto é, em relação ao cré- dito bancário da nação, deverá procurar manter o que é considerado uma reserva de caixa adequada, devendo esta ser conservada no cofre do Banco Central ou nos dos de- mais bancos; realizar a defesa do estoque metálico do país, procurando evitar uma drenagem decorrente da sua expor- tação ou um excesso, da importação; manter uma emissão adequada de notas conversíveis em crédito bancário, por intermédio de depósitos que podem ser transformados em moeda, a qualquer momento. A experiência tem mostrado que, a fim de desempenhar suas funções, êsse organismo central deve ter o poder de suprir ou criar fundos no decorrer de suas operações que, em última instância, representem reservas dos demais bancos. Isto é feito graças ao monopólio de emissão num montante tal que permite a formação de reservas dos de- mais componentes na rêde bancária. O mesmo é consegui-

R.A.E. 1/69 CONCEITO^ DE^ L1QUIDEZ^51

O conceito na esfera internacional, bem como à importância

da ação dos bancos centrais e dos demais organismos res- ponsáveis pela sua manutenção, nas diferentes formas.

  1. LIQUIDEZ INTERNACIONAL

o comércio internacional é financiado não graças à exis- tência de um tipo especial de moeda internacional, mas, sim, por um sistema interno de bancos que utilizam as moedas dos importadores e exportadores. Portanto, a liqui- dez internacional é o têrmo com que se denomina a pro- visão mundial de reservas em ouro ou em moedas que podem ser livremente usadas no comércio internacional ou tomadas em empréstimos. Se a liquidez internacional fôr adequada, os países encontrar-se-ão em situação de permi- tir que o comércio internacional se desenvolva livremente; se houver liquidez insuficiente, muitos países ver-se-ão na necessidade de restringir suas importações. A liquidez internacional compreende, em grande parte, as moedas nacionais, mas que se devem encontrar como reserva dos demais países não responsáveis pela sua emissão. Assim, por exemplo, os dólares não constituem parte da reserva internacional dos Estados Unidos da América do Norte, mas sim, constituem parte da liquidez internacional en- quanto em poder dos outros países, dando-lhes a possibili- dade de efetuarem transações no mercado exterior.

A segunda forma típica de liquidez internacional - a possibilidade de tomar reservas e empréstimo - é igual- mente importante e se enquadra no conceito mais amplo por nós tratado. O comércio pode se dar livremente com qualquer país que possa pagar suas importações fazendo empréstimos de divisas em outros centros ou entidades. Êstes podem ser ou um govêrno estrangeiro ou uma insti- tuição privada em outro país, uma instituição internacional, como o Fundo Monetário Internacional ou o Fundo Eu- ropeu - criado pela Comunidade Econômica Européia - ou, ainda, por uma das instituições que financiam o desen- volvimento, tal como o Banco Internacional de Reconstru- ção e Desenvolvimento.

52 CONCEITO^ DE^ LIQUIDEZ^ R.A.E.^ 1/

o aumento da liquidez internacional pode resultar, em primeiro lugar, do crescimento das reservas-ouro, decor- rente de nova produção, ou da venda realizada por alguns países. Já a parcela representada pelas reservas em moeda dos vários países tem a sua variação determinada pela situação dos balanços de pagamentos; as políticas e práti- cas dos vários países que mantêm relações de troca, por- tanto, influem neste montante de moedas. Se todos os países que se tornassem credores no comércio internacional insistissem no pagamento em ouro, não haveria possibili- dade de uso de outras moedas e a liquidez internacional limitar-se-ia às reservas mantidas em ouro. Os problemas referentes à liquidez internacional compreendem, pois, questões relativas à provisão de ouro, aos meios de aumen- tar a sua proporção como reserva, ao papel desempenhado pelas moedas como reservas internacionais e às possíveis maneiras das instituições internacionais de contribuírem para a liquidez.

  1. CONCLUSÃO

Da análise do processo econômico como um todo, a partir das unidades de consumo ou famílias - em função das quais a atividade econômica existe - passando pelo setor da produção e distribuição com tôdas as suas emprêsas, alcançando as instituições financeiras e a rêde bancária, não deixando de lado as organizações governamentais e as estrangeiras - cuja existência decorre da necessidade das trocas internacionais - sentimos a necessidade de alargar o conceito de liquidez.

Partimos, inicialmente, da existência dos instrumentos mo- netários, em regra empregados nas transações, resul- tantes da especialização da produção e de uma seleção dentre o conjunto de bens à disposição da coletividade; assim, tivemos a escolha da moeda metálica, das notas bancárias e dos depósitos a vista, à medida que fomos passando dos sistemas monetários representativos para os fiduciários. Com a extensão do conceito às poupanças reco- lhidas pelas instituições creditícias, todo o sistema bancário