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Este documento explora o conceito de arte na filosofia de aristóteles, utilizando a transliteração grega téchne. O autor discute a diferença entre téchne e episteme, ambos conceitos relacionados às atividades humanas e às conhecimentos universais. O texto também aborda a relação entre a experiência, a arte e a ciência, e as diferenças entre a geração pela natureza, pela arte e pelo acaso.
O que você vai aprender
Tipologia: Trabalhos
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Faculdade de São Bento São Paulo, 2020 Wellington Batista Silva de Aquino O CONCEITO DE ARTE NA METAFÍSICA O conceito de τεχνή , utilizado por Aristóteles em sua filosofia e traduzido como arte para o português, possui, no entanto, uma significação muito mais ampla que o termo pelo qual foi traduzido. Utilizaremos ao longo desse trabalho a transliteração da palavra grega para o alfabeto latino: téchne. Esta palavra foi, na Grécia Clássica, utilizada por muitos autores, tais como Platão, Tucídides e Sófocles, como sinônima de ἐπιστήμη ( epistéme )^1. Aristóteles, no entanto , buscou diferenciar estes conceitos, muito embora os tenha tratado, por vezes, como sinônimos (cf. PUENTES, 1998, p. 130). Correntemente, o conceito de téchne tinha significação de habilidade de um especialista, mas continha também a dimensão teórica, sendo considerado como uma forma de conhecimento. Daí a familiaridade dada pelos autores entre este termo e epistéme. Ambos os conceitos se referem a atividades exclusivas da espécie humana, e ambos se referem ao universal, enquanto as demais faculdades cognitivas se referem ao particular. Atesta Aristóteles: “A arte se produz quando, de muitas observações da experiência, forma-se um juízo geral e único passível de ser referido a todos os casos semelhantes” ( Met. 981a5-7). Assim, a arte é um conceito universal produzido acerca da experiência dos particulares. Em seguida, ele explica essa relação utilizando um exemplo médico. Saber que um remédio faz bem a um indivíduo constitui somente uma experiência particular, mas saber que este mesmo remédio serve para todos os homens que sofrem do mesmo mal, já é uma téchne. Torna-se assim, uma conjectura universal: para todo indivíduo que sofre do mal x , o remédio y faz bem. Além de ser gerada pela experiência, a arte se diferencia desta por mais algumas características. Por se referir somente ao particular, a experiência nada mais sabe do que o fato, o “o quê” da coisa. Já a arte é capaz de avançar e descobrir o seu “porquê”, atingindo o conhecimento da causa da coisa, e não só o que ela é. Como o conhecimento das causas é mais elevado, por isso aquele
possui a arte é considerado mais sábio do que aquele que possui a mera experiência. O arquiteto, que possui a arte da construção civil e sabe o porquê se construir de um determinado modo, é considerado mais sábio que o pedreiro que possui a experiência e sabe de que modo se deve construir, mas sabe somente que é assim, mas não sabe o motivo disso. O fato de os trabalhadores manuais agirem sem saber o porquê, assemelha esses homens aos seres inanimados (cf. Met. 981b1-5), e a arte assim se torna também uma distinção entre a espécie humana e os demais seres. Mas embora seja um conhecimento mais elevado, quem possui somente a teoria sem qualquer experiência possui grandes chances de erro, pois todas as ações se referem ao particular (cf. Met. 981a13-17). E como a experiência deriva diretamente de nossas percepções sensíveis, ela é privada e não pode ser ensinada, mas a arte sim, assim como a ciência. A diferença entre elas se dá pelo caráter prático da arte, que busca suprir as necessidades da vida e o bem-estar. Já a ciência não tem preocupações práticas, mas busca o saber pelo saber, sendo reconhecida assim também como mais elevada que a arte. Aristóteles afirma que a matemática surgiu no Egito por lá haverem homens libertos de preocupações práticas (cf. Met. 981b24-25). Assim a arte ganha uma nova função: a de intermediar a experiência e a ciência, uma puramente voltada ao prático e ao particular, e outra puramente voltada ao teórico e ao universal. Além desta função de mediação, a arte também é preparatória e essencial para o surgimento da ciência, pois enquanto as necessidades práticas não são supridas, o homem não tem liberdade de se voltar ao teórico e à contemplação pura. “Tudo o que se gera gera-se ou por natureza ou por arte ou por acaso. E tudo que é gerado por algo deriva de algo e torna-se algo” ( Met. 1032a12-14). Nesse trecho fica evidente novamente a força criadora da arte, que assim como a natureza, tem o poder de gerar as coisas. Puentes comenta ainda que em certo trecho da Física , Aristóteles diz que a arte imita a natureza, e ressalta que esse trecho deve ser tomado com cuidado, tendo clara a noção grega de phýsis^2 , que carrega também uma força criadora. “O que Aristóteles quer dizer é que a téchne imita a phýsis ao produzir uma união entre uma forma (êidos) e a matéria ( hýle )” (PUENTES, 1998, p. 133). A diferença, é que, naturalmente, algo pode produzir-se a si mesmo, mas algo produzido artisticamente depende sempre de um outro. “A arte é princípio de geração extrínseco à coisa gerada; a natureza é princípio de geração intrínseco à
(^1) Palavra grega para o conceito de ciência. (^2) Transliteração da palavra grega para o conceito de natureza. (^3) Aqui, fortuna ganha uma conotação semelhante à do acaso ou sorte.